Newton, ou o Exílio
Alargando o compasso,
ele organiza o mundo,
parece repetir,
correcto e lento,
o que a razão calcula revelar
E assim exila para sempre
o sonho
Mas nessa correcção
premeditada,
não há sossego, nem sequer amor:
só tempo aprisionado
a solidão, a paz trocada por paz
_ igual a lento esvoaçar
Sem asas
Alheio é-lhe o fulgor
da criação coincidente à queda
alheio é-lhe também o erro
mais terrível:
a glória de sentir nas mãos um fio de terra,
sustendo um fio de luz
À luz de um sol perfeito e frio,
calcula,
os pontos do compasso
medindo e limitando,
e acerta, exato,
o mundo
Deixará descendentes
será mestre
dos que hão-de vir
em hordas pelos tempos,
o compasso nas mãos,
cobiçando por jardas as fronteiras
rente à periferia do olhar
Mas não virá dragões
nem faunos, nem sereias,
nem terá unicórnios a seu lado,
nem saberá bordar tapeçarias
em sépias de explodir pupila e mares
nem nunca tecerá a dor e a alegria
E nunca serão suas profecias,
nem lerá revoadas de estorninhos
em dança inter-estelar
Frio e ausente,
emoldurado a frio,
será dele o compasso
_ e a solidão
Só _ pulsará no tempo
o coração
daquele que o criou
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