sexta-feira, 29 de novembro de 2024

UMA ESTRATÉGIA DE MARKETING EM ASCENSÃO: ESTUDOS DE EMPRESAS E FUNDAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO

Atente o leitor nos seguintes títulos do Público (aqui) e do Diário de Notícias (aqui)

  

Abstraindo-se da alusão à importância do brincar na infância, algo lhe causa estranheza?

Talvez sim...

Talvez tenha notado como estranho o mesmo que eu noto sempre que vejo títulos congéneres, aludindo a estudos científicos (aqui seriam precisas aspas) sobre temas educativos realizados por empresas e  fundações ligadas a empresas. Em Portugal começam a abundar.

Acontece que, por muito neutros que esses estudos se apresentem, a verdade é que não podem deixar de estar vinculados à "filosofia" das entidades que os financiam, mesmo que elas confiram a maior liberdade aos investigadores (que, tacitamente, saberão até onde podem ir). Além disso, a sua realização e (amplíssima) divulgação estão, como é natural, incluídas nas estratégias de marketing das ditas entidades. Não será, em primeiro lugar, o velho amor desinteressado ao conhecimento que as move.

Não me parece, pois, que se possam considerar estudos científicos, no sentido mais nobre que esta expressão tem. Com isto não quero dizer que os estudos produzidos nas academias e centros de investigação públicos estejam acima de qualquer suspeita, até porque a relação entre empresas/fundações e academias/centros de investigação vê-se progressivamente reforçada, além de que as lógicas comerciais não estão apenas à porta destas últimas entidades, já entraram.

E devo dizer que há estudos e... estudos promovidos por empresas/fundações. Se uns apresentam dados que, muito em função de quem os assina, poderemos considerar confiáveis, outros são obviamente para afastar.

Quanto a este que mobilizou a imprensa internacional (verifiquei e assim é), valerá a pena passar os olhos pelo relatório (aqui e aqui). As imagens (confesso que não dei muita atenção ao texto) são... tão óbvias!


7 comentários:

Anónimo disse...

A importância da brincadeira, nomeadamente na infância, é fundamental. Algo totalmente diferente, e nocivo, na minha ótica, é a infantilização do ensino, a que vimos assistindo em Portugal, desde os jardins de infância até às Universidades. Ainda ontem, num dos últimos dias do mês de novembro, ao lusco-fusco, fui testemunha acidental de um espetáculo degradante da chamada "Queima das Fitas" que se desenrolou perante os meus olhos incrédulos, na entrada do parque de estacionamento do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto). Meia dúzia de "doutores", trajados a rigor de capa e batina, quais estudantes UNIVERSITÁRIOS, urravam, sem parar, para uma vintena de caloiros, vestidos de batas brancas de estudantes da primária e com chapéus de orelhas de burro, que
respondiam em uníssono às ordens dos seus mestres engenheiros doutorados. Quero dizer, o ensino para o conhecimento de que nos falam, entre outros, a Doutora Helena Damião e o Doutor Galopim de Carvalho, já lá vai! Atualmente, as escolas e, cada vez mais, os politécnicos e as universidades, são espaços de acantonamento de adolescente e jovens, para que não andem nas ruas a fazer asneiras, onde o ensino do conhecimento vai sendo substituído pelas brincadeiras de bom e de mau gosto. Assim, os professores, destituídos da sua nobre função de ensinar, vão sendo substituídos por empresas e pessoas com formação de base na área do espetáculo e do entretenimento.

Anónimo disse...

Está a ver? Caloiros cheios de sorte! Eu cá, depois de tantos anos, continuo com a bata branca da primária, debaixo das minhas looooooooongas orelhas, a urrar e a zurrar para os doutores lá de cima, os UNIVERSITÁRIOS, pararem de ser feios, porcos e maus e de destruir o ensino e a escola pública!

Anónimo disse...

Agora até estou um bocadinho contente porque, como o tempo de serviço aumentará em 2026 (66 anos e 9 meses), terei mais 2 meses para zurrar, o que farei de forma amplificada a plenos pulmões. De bata politecnicamente branca.

Helena Damião disse...

Estimado Leitor Anónimo
Presumo que seja professor, sendo nesse pressuposto que lhe respondo como professora.
Estou perfeitamente consciente de que a educação escolar está orientada para a aquisição de competências funcionais e não para a integração de conhecimentos poderosos, capazes de, com o trabalho de ensino aprendizagem, desenvolver a inteligência. Orientação que conta com mais de um século (se atendermos ao Movimento da Educação Nova e à Revolução behaviorista), tendo sido reforçada no pós Segunda Grande Guerra.
A questão que, como professores, temos o dever de colocar é a seguinte: isso está certo ou está errado? Se está certo, ainda bem que assim é; se está errado (e no meu entender está) temos de explicar e tudo fazer para que o conhecimento não desapareça do horizonte das crianças, jovens e adultos que estão na escola e na universidade.
Uma coisa é a realidade que temos - e tendo a dar-lhe razão na retrato que dela faz -; outra coisa é a realidade que desejável, por beneficiar quem está num processo educativo.
Acrescento: os professores têm sido, de facto, destituídos da sua nobre função de ensinar, como é dito em letra de lei, mas o pior é serem eles próprios a fazerem-no.
Cordiais cumprimentos,
MHDamião

Anónimo disse...

Claro que sim. Pena estar farta do politicamente correto, conceito que Zizek, o Slavoj, explica soberbamente. Demasiada preocupação com retratos e pouca consistência na resolução dos problemas. Uma pessoa transforma-se em Trinita, o cowboy insolente, com os pés pousados em cima da secretária…
Atentamente e cordialmente. Cumprimentos

Anónimo disse...

Dr.a Helena Damião,

Estou aqui, e só aqui, a agradecer-lhe o artigo e a resposta magistral ao meu comentário.

Bem haja!

Helena Damião disse...

Obrigada e peço desculpa pelas gralhas que o meu comentário tem. A pressa... MHD

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