
Segundo vários especialistas, o que faz o erotismo é a transgressão. O segredo erótico da moda feminina é ocultar e simultaneamente sugerir o que é proibido. Fruto proibido é o mais desejado.
Se a teoria estiver certa, Portugal é o país mais erótico do mundo. Há leis e proibições para todos os gostos, que toda a gente se entretém a transgredir com gozo e alarde. O fenómeno generalizou-se tanto que ficou sem graça: todos se orgulhavam de fugir aos impostos, de não pagar aos credores, de faltar ao trabalho, de chegar com atraso. Era preciso acabar com isto.
À falta de melhor, o último reduto do erotismo é a estrada. Sabe-se que as grandes velocidades são tão orgásticas quanto perigosas, mas o erotismo inofensivo pode-se cultivar a velocidades menores. Quem é que dispensa o pequeno prazer de andar a 70 à hora quando o limite é 60? Ainda por cima é inofensivo.
Claro que as autoridades já toparam o esquema. Aliás, elas também têm direito ao seu pequeno gozo erótico, em geral mais virado para a variante sádica. Assim, quando devem colocar o limite de 60, elas põem uma placa de 50. E, já se sabe, os automobilistas, que também topam as autoridades, transgridem, mas não andam a mais de 60 quilómetros. De um lado e doutro, todos ficam felizes com a sua pequena dose de perversão. O pior é para aqueles para quem a rodovia não tem nada a ver com a sexualidade.
J.L. Pio Abreu
3 comentários:
Só quero transcrever um trecho notável do Prof. Óscar Lopes, a propósito do erotismo: “Pode, é certo, objectar-se que Eros [que o erotismo] não tem fixação definitiva, que é sempre descobrimento, revelação, ou, colhendo estas palavras à letra, é um levantar dos sete véus do pudor, é um desnudamento, quer assuma a forma de um jogo de situações afectivas e sociais entre homem e mulher, quer seja um jogo de corpos nus, porque, precisa e necessariamente, algo se esconde sempre de muito mais importante quando se pretende ter chegado ao descobrir do último véu, do último pudor, do segredo aparentemente último e, enfim, desnudado [do último segredo finalmente desnudado]” (Óscar Lopes, Um lugar de nome Aquilino, in Uma arte de música e outros ensaios, 1986, p. 60); [Um lugar de nome “Aquilino”, in Cifras do Tempo, 1990, p. 175]; Um lugar de nome Aquilino, in Colóquio, Letras, nº 85, Maio de 1985, p. 12.
Fantásticas analogias!
O engraçado, é que só se anda a 50 quando se está precisamente em frente do leitor de velocidade.
Logo a seguir, é vê-los acelerar...
Na minha opinião, ou se aumenta o limite, ou se colocam identificadores de 10 em 10m.
Assim acabava-se com o prazer sublime de transgredir.
Enviar um comentário