sexta-feira, 12 de outubro de 2007

WHAT IS A "DERRAPAGEM"?


Minha crónica do "Público" de hoje

O termo português "arguido" anda hoje nas bocas do mundo, mas há outros termos nossos que merecerão semelhante sorte por não serem de fácil tradução. É o caso da palavra "derrapagem", que voltou a ser usada esta semana, em que se anunciou a abertura próxima da linha do metro que passa pelo Terreiro do Paço, em Lisboa, e em que se inaugura a Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Ambas as obras "derraparam"!

Em Portugal é normal que as obras derrapem. Todas derrapam. As grandes obras, então, derrapam muito. E não há nada a fazer, tanto faz ser obra sacra como profana, nem a Virgem nem o Governo conseguem evitar o pior. Se a nova linha do metro não derrapasse (custou 300 milhões de euros, 30 euros por cada português, em vez dos previstos 150 milhões), seria caso para colocar o ministro das Obras Públicas no cavalo de D. José. Se o novo templo de Fátima não derrapasse (custou 80 milhões de euros, em vez dos planeados 40 milhões), isso sim seria um verdadeiro milagre.

No top ten das grandes derrapagens nacionais encontram-se outras grandes obras como a Casa da Música e o Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, a Ponte Europa em Coimbra (este recorde da derrapagem foi rebaptizado em ponte Rainha Santa Isabel por quem, não deixando obra, deixou nome de obra), o Centro Cultural de Belém, o túnel do Marquês e o túnel ferroviário do Rossio, todos estes em Lisboa. O total destas derrapagens bem poderia dar para aliviar o nosso enorme défice. Ou, porventura, transformar o défice em lucro.

Eu, que em princípio nada tenho contra os modernos confortos que o TGV e a Ota vão proporcionar, angustio-me ao pensar nas gigantescas derrapagens que haverá nesses empreendimentos. Os custos previstos são de sete mil milhões e de três mil milhões de euros, respectivamente, mas poderão subir para o dobro. Não consigo imaginar esses números, ou melhor, consigo pensá-los tanto quanto consigo pensar no número de grãos de areia na praia da Figueira da Foz ou no número de estrelas na galáxia de Andrómeda.

Por que é que o verbo derrapar se conjuga entre nós mais do que noutros lados? Por várias razões. Primeiro, somos avessos a planos. Depois, quando os fazemos, fazemo-los mal feitos. Depois ainda, mesmo quando os temos bons, somos incapazes de os seguir. Finalmente, porque o "chico-espertismo" (outra palavra intraduzível) serve-se de todas as formas para enriquecer: e tanto é chico-esperto o dono da obra que subavalia o seu custo para a lançar depressa, mesmo sabendo que não tem orçamento para o total, como é chico-esperto o empreiteiro, que faz um lance baixo para ganhar a obra e, uma vez na sua posse, fica tão ligado a ela que não a quer largar de maneira nenhuma. Para não falar no "já agora" (de novo uma expressão lusitana), que serve para ir improvisando à medida que a obra avança.

Deslizamos nos custos e deslizamos nos prazos. A nova igreja de Fátima foi relativamente rápida, mas, mesmo assim, não conseguiu estar pronta a tempo dos 90 anos das aparições. Já a estação de metro do Terreiro do Paço está há mais de dez anos a marcar passo. Quanto ao túnel do Rossio, ainda nem se vê a luz ao fundo. E, quanto ao TGV e à Ota (seja lá onde for a Ota), indicar prazos é tarefa tão difícil como dizer quando é que o aquecimento global vai afogar a praia ou quando é que a próxima supernova vai explodir. "Quando for, logo se vê..." (de novo português de lei).

O que mais me preocupa é a aceitação resignada dos factos consumados pelo Governo e pela justiça. Era ver o ministro das Obras Públicas com um tom tão justificativo que só lhe faltava dizer que estava muito contente com o custo e com o atraso. Não lhe passará pela cabeça que podia ser de outra maneira? Que devia ser doutra maneira? E preocupa-me também a aparente impunidade dos responsáveis (que os deve haver) pelos prejuízos. O Tribunal de Contas não devia ver em tempo útil as contas das grandes obras públicas? Ou será que em Portugal não se fazem contas, mas sim e tão-só faz-de-contas?

30 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Com o túnel da Praça do Comércio passou-se uma coisa curiosa:

Li, em vários jornais, a notícia, incluindo custo e "derrapagem".

Mas só num (por sinal um "gratuito") é que li o mais importante:

O Tribunal de Contas analisou a derrapagem e, apoiado num parecer do LNEC, afirmou que os problemas eram previsíveis, pelo que não se tratou de "acidente" mas sim de "incúria".

Na C.S. não é preciso mentir para manipular. Basta omitir.

Anónimo disse...

Meu Caro Professor: Acaba de pôr o dedo na ferida, ou melhor, na verdadeira chaga nacional que são as "derrapagens" nas obras públicas sem que apareça um servofreio que minore os seus efeitos nefastos. Todos nós, os contribuintes deste país, que pagam atempadamente os seus impostos, o devem louvar por isso e ficarem-lhe gratos pela sua coragem pública.

Obviamente, as propostas apresentadas nesses concursos tomam em linha de conta essas derrapagens para poderem sair vencedoras. As propostas honestas ficam-se pelo caminho.Essas derrapagens seriam evitáveis à partida se não fose a entidade contratante - o Estado, ele próprio - a pactuar com elas, "ab initio".Claro que entre o começo e a finalização de uma obra há que ter em linha de conta o fenómeno decorrente da inflacção. Nada mais!

Será esta medida de difícil execução se as entidades contratantes forem pessoas de bem? Ou haverá aqui factos subjacentes que escapam a uma análise demasiado
simplista ou mesmo ingénua? Se os há, eles que sejam tornados públicos. Um estado democrático tem essa obrigação para com os seus cidadãos e os cidadãos o dever de o exigir.

Bruce Lóse disse...

É com grande prazer que salto para esta galera.
Governos e amiguinhos alimentam o glaucoma da desinformação, as derrapagens orçamentais integraram o imaginário colectivo como uma pestilência tão alheia e inelutável com qualquer outra, promessas eleitorais saltam directamente para o anedotário nacional sem passar pelo esforço sofrido e "mal remunerado" dos que nos governam (nem conhecemos quem nos governa). Amiga Democracia, razão tinha Borges. Assim não dá.

Lembrei-me de um sóbrio graffiti do Castelo do Queijo: Mau Maria !

Anónimo disse...

Conhece a anedota dos 3 empreiteiros (Alemão, Americano e Português)?
Há uma obra para fazer e o "Presidente da Junta" chama primeiro o alemão que diz fazer a obra por 100 de forma simples e durável. Depois vem americano que diz fazer por 200 mas com alta tecnologia. Depois vem o Tuga que faz por 300. "Como assim? Um exagero!! Como justifica esse preço?". " Sr. Dr. são 100 para mim, 100 para si e 100 para o parolo do alemão fazer a obra".
E ´tá tudo explicado.
Por alguma razão o Cravinho está "exilado".

Anónimo disse...

Aqui está um motivo para continuar a votar neles.

Anónimo disse...

É claro que cada um trata (e utiliza) a língua portuguesa como quer, ou pode.

No entanto, persistir na ideia de que o termo «arguido» não é «de fácil tradução», parece-me um simplismo, aliás muito pouco científico.

O termo tem óbvias raízes no latim (e na jurisprudência), que, de resto, são comuns à língua inglesa, onde o verbo «to argue» (cujos sentidos principais são debater, discutir) partilha da mesma origem que o verbo português (latino) «arguir». «O arguido» português seria assim, muito naturalmente, «the arguee» em inglês; do mesmo modo que «o arguente» seria «the arguer».

Isto não deveria ter novidade nenhuma, se pensarmos que até nos júris académicos há «arguentes» - são aqueles que interpelam o candidato, sendo este, com toda a evidência, quem aí faz o papel de «arguido».

A língua que temos é a língua que usamos. E como é com a linguagem que se constrói o mundo, fazê-lo com uma linguagem reduzida traz-nos, como consequência inevitável, um mundo bem pequenininho.

Q. Rico

Anónimo disse...

Portiugal é a Nacinha que faz a ponte entre a Europa e África, e para se sentir um pouco mais Justificada e ligeiramente superior tende para África e adopta a postura da generalidade do Negro Continente, daí o florescimento do "Chico-espertismo" que sofre geralmente o seguinte comentário: Ainda bem para eles, EU se podesse fazia (gamava) o mesmo!
Termino com outro lugar comum, adoptado pela Nacinha, utilizado por todos, Laicos, religiosos, Governo, oposição, ricos, pobres...
É A VIDA!

Anónimo disse...

Carlos, eu também não gosto de derrapagens e acho que ninguém gosta. Não pareces um físico ao dizer que as derrapagens acontecem mais em Portugal! Um gajo deve sempre testar a teoria e ir ver o que se passa lá fora. Parece que na Alemanha e em Inglaterra há derrapagens tão grandes como as nossas, por exemplo. Li há uns tempos num jornal estrangeiro uma teoria sobre as derrapagens, que era qualquer coisa assim: os políticos sabem bem que a obra vai ficar mais cara mas tentam convencer o pessoal que a coisa vai ser mais barata para conseguirem fazer as obras.
Eu acho esta teoria um bocado ridícula, mas pronto.
Lá fora também se derrapa e muito, ora vai lá informar-te.
luis

Anónimo disse...

A Economia Pública ou “A Tal e Tanto Mais da Coisa Deles” (Uns Lembretes)

Quando desde há anos, longos e repetidos exaustivamente, vamos falando sobre as derrapagens das obras públicas (das privadas não rezo aqui porque essas são pagas privadamente por accionistas e/ou clientes), que começam ainda nas terraplanagens e até mesmo mais remotamente nos próprios esquiços arquitectónicos, tendemos a não chamar em abono da explicação racional – isto é da “ratio” que substanciam esses desvios financeiros vultuosos – uma escola do pensamento económico, já devidamente nobilitada pela sueca academia, que define os parâmetros decisionais dos agentes da chamada “escolha pública” (“public choice”, em original). Ora, as escolhas e acções dos agentes públicos que definem, autorizam e pagam as obras públicas (em nome do nosso “Super-Estado”), e que carecem, aos mais altos níveis, de ser reeleitos de acordo com os calendários dos respectivos ciclos eleitorais democraticamente estabelecidos, obedece fundamentalmente à alma mater que é a garantia (ou tentativa denodada) da sua reeleição atempada. Assim, entre nós portugueses, vindos de um regime ditatorial em que ninguém contestava o Estado e as suas autoridades e decisões, para um regime desbragado de Estado magnânimo e “socialisticamente” definido e dirigido – os fracassos do liberalismo em Portugal são de todo o século XX (vide crónicas e textos de Vasco Pulido Valente) – as responsabilidades desse mesmo Estado esplendoroso e dos seus agentes ficou sempre “na gaveta da história”. Não é pois possível ainda hoje, já neste novo Milénio, apresentar orçamentos para cumprir, vigiá-los e atribuir quaisquer responsabilidades que contem – é ver sobre isso, muito recentemente, as lágrimas derramadas pelo Presidente do Tribunal de Contas do nosso “Cantinho”. E quanto maiores são as obras maiores são os milhões de euros de derrapagens, agora recentemente realimentadas na legislação revista, depois de grandes debates retóricos no burgo, e que permite para futuro tanto maiores percentuais de desvio quanto maior é o orçamento de adjudicação de cada pública obra.
Claro está que o nosso querido “Ministro das Públicas Obras” estava telegenicamente satisfeito por ter inauguração para fazer porque ela é-lhe fundamental a ele e ao seu Primeiro-Ministro para a reeleição de 2009. Os custos, o vil metal, essa “dinheirama” que não se sabe de quem era e de onde provém, nada disso entra na história. Nesta, que é de há anos de apagada e vil tristeza, ficará o “Senhor Ministro” (se entretanto sobreviver no Gabinete) e o seu “Primeiro”, nobilitados por concluírem tão grande projecto para o devir da populaça. Um verdadeiro projecto de “economia subterrânea” (como se nomeia nos livros esta parte da economia que passa fora das contas habituais que nós fazemos em casa). Um projecto do “Metro”, mais um, pago principescamente ao quilómetro.
Acontece também que os milhões estarão em bolsos grandes, tão eloquentemente engrandecidos, das empresas de construção que assim medram, medram, medram até não caberem cá no Jardim e arejarem por essas Europas e Áfricas.
Será que se pode terminar em Portugal com estes verdadeiros “tesourinhos deprimentes”? A mim parece-me que os interesses estabelecidos, aqueles que decidem e dirimem estas contendas, estão envolvidos de tanta maneira e vontade neles que, como sabiamente diz a “teoria económica da escolha pública”, estabelecerão o denominado “interesse público” do modo como a legislação recentemente revista tão eloquentemente acautelou.
Aos pagadores de impostos desta e das próximas gerações – porque estas sem o seu acordo e consciência já estão submergidas nas taxas a liquidar por muitos e bons ou maus anos vindouros – só lhes restará a “revolta” decorrente da respectiva contínua indignação.

Anónimo disse...

Aqui está a diferença entre:

EFICÁCIA: concluir uma obra sem olhar a gastos, com os habituais descuidos de cálculos e de prazos;
e
EFICIÊNCIA: concluir uma obra com os cálculos correctos, sem derrapagens, e no tempo previsto.

CONCLUSÃO:
Portugal prima e opta pela EFICÁCIA: dá menos trabalho a fazer cálculos, e dispõe do tempo que o tempo dá, quer no Metro quer em Fátima.

SATANUCHO disse...

Ao ler este post lembro-me do tunél do santana, fez-se em muito menos tempo (embora tb atrasado, obrigado sá fernandes) com uma «derrapagem» consideravelmente menor mas com muito mais barulho. afinal o metro não caiu, o tunel não ruiu, a inclinação «abominavel» nem se nota (passo lá todos os dias) os passeios de que os comunas de serviço (tambem conhecidos por bombeiros) reclamavam são 3 vezes mais largos que os do tunel da joão XXI.
Isto é que é um exemplo de má comunicação social, dez anos para fazer aquilo e ninguem pia.

daqui mando um obrigado ao Santana, que me tornou a vida mais facil e por muito menos dinheiro.

Carlos Medina Ribeiro disse...

As características do túnel actual não são as que estavam previstas inicialmente. E quando se diz que, afinal, o túnel está bom e oferece segurança, está-se a elogiar os que, com as suas reclamações, obrigaram a que - AGORA! - assim seja.

Quando se diz que «afinal o metro não caiu, o tunel não ruiu», é verdade. E é verdade, porque o troço do túnel que podia cair (o que tem saída para a A. A. Aguiar, e que passa a escassos centímetros!! do Metro) é, precisamente, o que ainda não abriu. E mantém-se fechado porque é preciso reforçar o túnel do Metro, feito em betão não-armado, uma obra que nunca mais começa.

Anónimo disse...

Já Eça de Queiroz escrevia nas "Farpas" que no Tribunal de Contas também se faziam contas...

SATANUCHO disse...

não interpretem a minha posta como politiquice barata, é que a porra do tunel dá mesmo um jeito do caraças cá à minha pessoa...

Anónimo disse...

Um post totalmente verdadeiro e que coloca o dedo "numa" ferida...

Mas antes de falar na resignação do Governo e da justiça (e porque não dos cidadãos) perante estas "derrapagens", deixem-me questionar as resignações de muitos universitários perante determinadas situações, tais como, docentes que estão encostados "à sombra da bananeira" de cargos vitalicios, projectos em que muito pouco se faz, burocracia às resmas, abusos do estatudo de "bolseiros", valores de bolsas extremamente baixos, concursos públicos "muito pouco claros", etc....


Por isso, acho que seria positivo antes de se "atirar pedras aos outros" que se tentasse eliminar "os telhados de vidro".

Anónimo disse...

Excelente artigo sobre um conceito que também me fascina :) a Derrapagem!
Chego a pensar se esta característica dos portugueses, podendo não ser exclusiva dos portugueses, não será, como direi, uma qualidade que emana desta nossa raça lusitana.

Somos treinados a esperar colisões ou despistes como resultado das derrapagens, mas no caso português, esse pressentimento confunde-se com belas cerimónias de inauguração e pomposos descerramentos de lápides.

Algo com que eu discordo é a associação directa da derrapagem com as médias ou grandes obras públicas nacionais. Seria bom que refreássemos este instinto. Na minha opinião, esta potencialidade nacional vai paulatinamente alastrando a diversos sectores da nossa actividade. Proliferação lenta, é certa, mas sólida e consistente.

Uma das últimas investidas que corroboram esta minha ideia, deixou-me deveras pasmado: trata-se do exemplo do que se passou com a eliminação da doença do pinheiro provocada pelo Nemátodo da madeira.

A eliminação deste problema (pelo corte das árvores afectadas) que se tem manifestado a sul do Tejo estava previsto custar 3,6 milhões de euros. Depois dos trabalhos concluídos a empresa que os realizou veio dizer que os trabalhos efectuados eram no valor de 70 milhões de euros (sem confusão de vírgulas), mas que não se importava de receber só 30 milhões.

Curioso o que um simples insecto vector pode fazer pela economia! Será que neste caso poderemos falar da "derrapagem do insecto vector"?

O senhor ministro da agricultura, e bem na minha opinião, veio dizer: - Alto e pare o baile! Não pago coisa nenhuma, sem primeiro investigar a epidemia, os agricultores e a empresa que fez o trabalho. Sr. ministro, atenção, não derrape a investigação!

E o défice, viram como ele derrapou há uns anos?

Será que, quando falamos de Derrapagem, não estaremos nós a abordar uma das essências da alma lusa? Sem euforias nem cepticismos, se concordarem :)

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

A inauguração da Igreja de Fátima também é muito interessante. Nesta altura do campeonato fazermos a quarta maior igreja do mundo também é obra!

Possivelmente, não tão ambicioso como fazer os dez estádios do euro, mas com a certeza que não será obra para ficar às moscas como tem acontecido com a maioria dos estádios. E deus me livre se tal acontecesse, ser eu a propor a sua utilização para os festivais de Verão.

E mais que o nosso pib é fraquinho, o nosso poder de compra uma lástima e os vencimentos envergonham-nos comparativamente ao resto da Europa... Pelo que se vê, é tudo tretas!

Diz-se que por norma as crianças não gostam de sopa. Falso, o segredo é saber dá-la!

Artur Figueiredo

PS Já que se falou de Fátima, será que posso deixar um pedido aos senhores jornalistas para não nos massacrarem, como costuma ser hábito, com aquelas tristes imagens das mazelas das caminhadas e do pagamento das promessas?

Anónimo disse...

Merece ser deixada aqui uma frase de Groucho Marx:

"Politics is the art of looking for trouble, finding it, misdiagnosing it and then misapplying the wrong remedies."

Digam lá que isto não é exacto...

Anónimo disse...

"Mau, Maria!" - tu disseste
Quando a trança te caía.
Qual "Mau, Maria", Maria!
"Má Maria"' "Má Maria!"

Fernando Pessoa

Anónimo disse...

O atraso na canonização dos pastorinhos é uma boa notícia. O Papa subiu uns pontos na minha consideração. Num país em que as crianças das escolas públicas são enfiadas em contentores sem casa de banho (se querem vir fazer chi-chi arriscam-se a apanhar uma molha), estar a construir uma igreja com 9000 lugares, que figura entre as 4 maiores do mundo, além de profundamente anacrónico só me faz acreditar que o 13 é mesmo número do azar (e os cientistas que me perdoem por esta cedência à superstição!).
Sim, derrapagem é um termo que há muito me prende a atençao: a metáfora que incorpora é interessante, porque a fonte é essa mania estúpida que é costume praticar-se nas auto-estradas que construímos por todo o lado, e que depois ficamos a pagar chorudamente com dinheiro roubado a funções vitais que devia ser desempenhadas pelo estado. Curiosamente, nesse contexto já custa bem mais falar em «derrapagem». Há uma espécie de «efeito-tabu» que bloqueia a metáfora.
Quanto ao arguido: saber se é ou não um termo adequado, e necessário, supõe saber o que se entende, afinal, por argumentação. Em Portugal há por vezes uma fronteira fluida entre argumentação e censura ou mesmo difamação, parece-me. Pode até não ser intencional, ou sequer consciente. Diria que há também muito chico-espertismo argumentativo.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

(Quando não devia ter tempo para bloggar sou rápida demais a ver-me livre dos textos, e depois surgem as gralhas ou omissões relevantes. Aqui vai de novo, à pressa, porque tempo é coisa que não há.):

O atraso na canonização dos pastorinhos é uma boa notícia. O Papa subiu uns pontos na minha consideração. Num país em que as crianças das escolas públicas são enfiadas em contentores sem casa de banho (se querem vir fazer chi-chi arriscam-se a apanhar uma molha), estar a construir uma igreja com 9000 lugares, que figura entre as 4 maiores do mundo, além de profundamente anacrónico só me faz acreditar que o 13 é mesmo número do azar (e os cientistas que me perdoem por esta cedência à superstição!).
Sim, derrapagem é um termo que há muito me prende a atenção: a metáfora que incorpora é interessante, porque a fonte é essa mania estúpida que é costume praticar-se nas auto-estradas que construímos por todo o lado, e que depois ficamos a pagar chorudamente com dinheiro roubado a funções vitais que deviam ser desempenhadas pelo estado. Curiosamente, nesse contexto (o das auto-estradas) já custa bem mais falar em «derrapagem». Há uma espécie de «efeito-tabu» que bloqueia a metáfora.
Quanto ao arguido: saber se é ou não um termo adequado, e necessário, supõe saber o que se entende, afinal, por argumentação. Em Portugal há por vezes uma fronteira fluida entre argumentação e censura ou mesmo difamação, parece-me. Pode até não ser intencional, ou sequer consciente. Diria que há também muito chico-espertismo argumentativo.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

O mais interessante é que começo a acreditar em «milagres» :-) :-) : torci um pé na sexta à noite (não conseguia andar) e isto está a curar a uma velocidade inaudita, como nunca na vida me tinha acontecido! O milagre não é da Virgem Maria mas parece ser, em vez disso, o facto de eu de há uns tempos a esta parte comer alho e azeite no pão, em vez de manteiga. É a pura verdade.
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

A tendência para a derrapagem em Portugal vem de há muito tempo. Bem previu o Velho do Restelo a mais grave de todas. Portugal, ou seja, o povo português, nada ganhou e muito perdeu com o empreendimento das Descobertas. Uma das razões esteve no simples facto de que, dos cerca de dois mil corpos e almas que faziam parte da corte de D. Manuel, se passou para os cinco mil no tempo de D. João III. Agora a corte é outra, mas também pesa.

zazie disse...

O Sr. Carlos Fiolhais é capaz de afirmar que a igreja de Fátima foi construída com dinheiros públicos?

É apenas esta a pergunta que fica.

O efeito da intenção desta mistura tem aqui a prova, nos comentários.

Anónimo disse...

Zazie, se reparar bem não está escrito no artigo do Sr.Prof. Carlos Fiolhais que a Igreja de Fátima foi construída com dinheiros públicos. Apenas é referida aqui como mais um exemplo de derrapagem de uma obra pública...

Anónimo disse...

Que tenha ou não sido construída com dinheiros públicos é irrelevante para o caso. É uma megalomania sem sentido, num momento de extremas dificuldades para imensa gente. Mais uma. Ao menos podiam ter gasto o dinheiro a recuperar a Sé Velha de Coimbra...
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

A Igreja da santissima trindade em Fátima foi construída com o objectivo de albergar a multidão que assistia às missas no recinto ao sol, à chuva, ao frio, ao calor... Foi muito pensada a decisão de a construir e foi construida com o dinheiro dos peregrinos. Porquê que quem lá não vai está tão preocupado?

zazie disse...

Claro que eu reparei bem que não escreveu isso claramente. Pois reparei. Por isso mesmo é que digo que não havia necessidade de tomar as pessoas por parvas.

Meteu a igreja juntamente com um artigo a falar de despesas públicas para quê? que outros exemplos existiam lá, para além da igreja, que não fossem derrapagens públicas?

Nenhum

Mas o problema não é meu. Cada um escolhe a maneira de se descredibilizar por desonestidade intelectual.

È assim, uns têm fés mansas, outros fezadas ateias doentias.

zazie disse...

Estão sempre preocupadíssimos com o que não lhes interessa e no que não acreditam.

È estranho mas é assim.

Anónimo disse...

Estive há tempos na Sé Velha, em Coimbra, e vi o estado em que está o claustro. O mesmo acontece com muitas outras igrejas antigas, a precisar de restauro, que é caríssimo, e que deve ser feito com muitíssimo cuidado e saber (ou mais vale estar quieto). Para mim esse património é mais importante do que o mito de Fátima e o ego de qualquer arquitecto (ou bispo). Quanto a ir a Fátima, até não me importava um dia de o fazer - mas não, nunca por IPs! E nunca pelo sacrifício da coisa, antes por outras razões, que são também as que levam cada vez mais pessoas a Santiago. Estão enganados aqueles que acham que critico apenas por criticar.
Adelaide Chichorro Ferreira

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