A leitura de um artigo de Bárbara Wong, publicado no jornal Público de ontem, dia 22 de Outubro, permitiu-me saber que a Iniciativa Novas Oportunidades foi recentemente objecto de avaliação externa, realizada por uma equipa da Universidade Católica Portuguesa, coordenada pelo ex-Ministro da Educação Roberto Carneiro.
Os dados dignos de atenção (e de um questionamento profundo) são vários e, ao que percebi, todos positivos, ao ponto de se ter sublinhado a necessidade de se continuar a apostar no alargamento do programa e de os peritos internacionais convidados pela Agência Nacional para a Qualificação terem declarado as “Novas Oportunidades” “uma boa prática, um exemplo a seguir por outros países”.
Destaca o artigo que as pessoas que passaram por esse contexto (que não sei como designar se educativo, se formativo...) referiram, no inquérito que lhes foi distribuído, que ele teve um impacto na melhoria da sua vida profissional, no seu salário e regalias laborais, no seu nível de literacia e de inclusão, no uso que passaram a fazer das novas tecnologias, no alargamento de “competências pessoais e sociais, cívicas e culturais”, na vontade que lhe despertou para prosseguirem estudos.
Aqui devo notar que, tratando-se de um inquérito, ele apura percepções, concepções, representações que as pessoas, na sua subjectividade e tendo em conta a lógica de passagem referem... Mas não apura o que efectivamente acontece.
De entre todos os dados acima referidos há um que me preocupa de modo particular e que já tinha visto invocado por diversas vezes: a evidência de sentimentos de "auto-estima", de "segurança" e de "extroversão” por parte dessas pessoas.
Ora, tanto quanto sei, estas são categorias psicológicas e não pedagógicas, que, nessa medida, requerem métodos próprios de medição (que os há devidamente validados), aplicados por técnicos especializados em psicologia. Assim, não podem ser identificadas com segurança através de respostas a itens dipersos num inquérito que, presumo, pretendia medir estas e várias outras categorias pedagógicas e profissionais.
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5 comentários:
Cara Helena Damião,
Basta ler o currículo das pessoas que realizaram o estudo para conhecer as conclusões sem as ler...
Há aqui uma grande contradição, ou o milagre das rosas em nova versão, ou nova oportunidade.
Há falta de trabalho, como os media não se cansam de proclamar, mas da forja da Novas Oportunidades não falta trabalho para ninguém. Mal saem da última aula entram logo a ganhar, arranjam logo emprego.
Agora pergunto para que andam os nossos jovens a estudar durante 12 anos, mais uns tantos estudos bolonheses, e depois alinharem ao lado dos desempregados ?
As Novas Oportunidades é uma afronta a esses jovens que ficam a pensar que o melhor é saltar, a meio do percurso escolar, para essas Novas Oportunidades, porque há empregos à espera deles.
Há por detrás de tudo isto, uma história mal contada, sem lógica nem racionalidade, porque é um descrédito total e uma depreciação aos anos de estudo escolar. Um convite para não prosseguir e entrar na banca da Dona Branca, perdão Novas Oportunidades (até a designação soa a falso, a ludíbrio, a propaganda).
Dá para entender ?
Que ninguém me explique porque é inexplicável.
Certeiro, caro João Boaventura.
Cara H. Damião,
A sua observação é excelente. R. Carneiro prestou um mau contributo ao país.
Agora parece que vão ser chamados 250 mil aos CNO. Acredite que mais do 20% deles vão sair (rapidamente) sem saber tão-só o significado da palavra "literacia".
Envio a todos os leitores um vídeo sobre as "Gandas Oportunidades" (para um final de Domingo não há melhor:
http://www.youtube.com/watch?v=jZSq-YUmU98
Muito bom o argumento da (in)diferenciação das categorias psicológicas e pedagógicas. Vergonha metem estes Doutores da Mula Russa, cuja indigência intelectual só é comparável, em termos de dimensão, ao respectivo oportunismo.
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