Texto para a exposição que a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra vai abrir a 15 de Novembro em todo o edifício da Biblioteca Joanina, pela primeira vez aberto ao público (na gravura, o médico Jacob de Castro Sarmento):
No dia 30 de Novembro de 1660, há 350 anos, doze homens reuniram-se na cidade de Londres para ouvir uma conferência do arquitecto Christopher Wren. Na discussão que se seguiu decidiram criar uma nova sociedade para aprofundar o estudo experimental da Natureza. Em 15 de Julho de 1662, o rei da Inglaterra e da Escócia Carlos II, que em 1661 tinha casado com a portuguesa Catarina de Bragança, filha do rei D. João IV (a cerimónia realizou-se em 21 de Maio de 1662), decidiu que essa sociedade se tornasse Sociedade Real. É a mais antiga sociedade científica do mundo em actividade. Foi seu Presidente desde 1703 até à sua morte, em 1727, Sir Isaac Newton, e por ela passaram os grandes cientistas que compreenderam a evolução (Charles Darwin), o electrão (J. J. Thomson), o DNA (Francis Crick e James Watson), etc. As Philosophical Transactions foram publicadas pela Royal Society desde 1665 até aos nossos dias (a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra possui a colecção completa), sendo o jornal científico mais antigo.
Foram 25 até hoje os membros portugueses da Royal Society, a grande maioria dos quais no século XVIII. Logo em 1668, quando reinava em Portugal D. Afonso VI , entrou para a Royal Society o primeiro português: o arquivista António Álvares da Cunha. Mas foi no longo reinado de D. João V, o construtor da Biblioteca Joanina (iniciada em 1717, ficou pronta em 1728), que entraram para a sociedade mais portugueses: doze, entre os quais o astrónomo de origem italiana João Baptista Carbone, o médico Jacob de Castro Sarmento (que de Londres, refugiado para fugir à Inquisição, enviou para a Universidade de Coimbra um dos primeiros microscópios a chegar a Portugal) e o físico e engenheiro Bento de Moura Portugal, conhecido por o “Newton português”. Alguns diplomatas portugueses em Londres tiveram também a honra de entrar para a instituição, o mais famoso dos quais foi em 1740 Sebastião José de Carvalho e Melo, que havia de ser o Marquês de Pombal. No reinado de D. José I (1750-1777), quando pontificou a figura do Marquês, entraram como sócios mais sete portugueses, alguns dos quais “estrangeirados”, isto é, homens de cultura que se exilaram. Entre eles destacam-se João Chevalier, astrónomo que havia de chegar a Director da Real Academia Belga, Teodoro de Almeida, o primeiro físico experimental português e também o primeiro divulgador da ciência entre nós, e João Jacinto Magalhães, talvez o mais famoso de todos os cientistas portugueses que foram membros da Royal Society. Magalhães, um descendente do navegador Fernão de Magalhães, conviveu com os maiores cientistas da sua época (Watt, Priestley, Volta, Franklin, etc.) e foi o autor de instrumentos científicos, alguns dos quais pertencentes hoje às colecções do Gabinete de Física Experimental do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. O mais importante diplomata português que entrou nessa época na Royal Society foi D. João de Bragança, 2.º Duque de Lafões, exilado para fugir ao regime pombalino.
Durante o reinado de D. Maria I (1777-1792, quando foi substituída pelo Regente D. João) entraram na Royal Society mais três portugueses, o mais notável dos quais foi o Abade Correia da Serra, botânico e diplomata que, em Washington, se tornou amigo do presidente Jefferson. Foi em 24 de Dezembro de 1779 que foi fundada pelo Duque de Lafões e pelo Abade Correia da Serra a Academia de Ciências de Lisboa, a análoga portuguesa da Royal Society. O último dos 25 portugueses que até hoje entraram para a Royal Society foi, em 1819, no reinado de D. João VI (1792-1826, até 1816 só como Regente), o matemático Garção Stoeckler. Esse facto diz bem do atraso da ciência portuguesa no século XIX e grande parte do século XX.
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1 comentário:
Professor,
A Editora Novavega (www.novavega.pt) possui uma biografia de Jacob Sarmento. (http://www.novavega.pt/Book.aspx?id=319)
João Moreira
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