segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O QUE SEI SOBRE AS MULHERES?


Rubrica da revista "Pública", suplemento dominical do jornal "Público", saída ontem. Autoria de Ana Sousa Dias a partir de uma entrevista comigo.

Confesso que sei pouco. E nem sequer estou certo de saber todo o pouco que sei. Tenho, porém, a certeza que as mulheres são diferentes dos homens. E acho fantástica essa diferença.

Mesmo sabendo pouco, sei mais sobre o assunto do que Einstein. O génio da Física não sabia nada sobre mulheres. Declarou um dia que dissuadiria uma eventual filha sua de estudar física porque poucas mulheres eram criativas. Madame Curie era, para ele, a excepção que confirmava a regra. Hoje, num mundo em que as mulheres conquistaram posições de proa em todos os ramos da ciência, sei que é um mito sem qualquer base essa visão einsteiniana. Sobre as mulheres sei que podem atingir os picos maiores da inteligência, seja lá o que isso for. Tem havido controvérsia sobre as diferenças de género no QI, mas dizem que o maior QI pertence a uma mulher, a escritora norte-americana Marilyn vos Savant. A propósito, está a sair um livro ("Fragments") com escritos inéditos da mais conhecida Marilyn, a Monroe, revelando que ela, além de actriz e modelo, era poeta e intelectual...

Julgo saber – seja lá pelo DNA ou pelas hormonas – que o cérebro feminino é diferente do masculino. Como o sexo está, em grande parte, na cabeça, se há dois sexos haverá também um cérebro feminino e um cérebro masculino. Essa diferença tem vindo a ser estudada pelas modernas neurociências, gerando controvérsia na praça pública. Não penso que diferença signifique desnivelação. Ou, se significa, será justo reconhecer que as mulheres são mais perfeitas que os homens. Por exemplo, elas funcionam melhor em paralelo, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, enquanto os homens são mais sequenciais.

Mas é mister uma nota pessoal, para que se percebam porque sei pouco sobre mulheres. Na minha família somos três irmãos. A única mulher lá em casa era, portanto, a minha mãe (infelizmente, ela já nos deixou, originando uma perda irreparável). A minha mãe viveu num tempo em que as mulheres eram discriminadas e não pôde, por isso, estudar. Apesar de ter apenas a instrução primária, era inteligentíssima. Conseguia, por exemplo, compreender intuitivamente situações difíceis, procurando resolvê-las por antecipação. Era dona de fino humor. Se por vezes me assiste algum, é decerto um legado dela. Andei numa escola primária masculina e num liceu também masculino. A segregação de sexos não era apenas na escola: na viagem de finalistas liceais, nas vésperas de 1974, o hotel não deixava que rapazes e raparigas permanecessem no mesmo quarto. Na Faculdade encontrei raparigas, mas no final do meu curso de Física só havia uma. Como é que uma pessoa pode saber sobre mulheres se elas, logo à partida, me foram tão escassas? Mais tarde, durante o doutoramento na Alemanha, partilhei o gabinete com uma colega alemã, apesar de nessa altura não haver muitas (Portugal, na proporção de mulheres cientistas, pede meças à Alemanha, nalguma coisa temos de ser os maiores!). Mas eu mal a consegui enxergar, pois permanecia envolta numa cortina de fumo. E o meu conhecimento sobre o mundo feminino nem aí progrediu muito.

Enfim, vim depois a conhecer, com gosto, algumas mulheres. Namorei, casei e namorei outra vez. Percebi que as mulheres têm coisas em comum: elas reparam, por exemplo, em coisas que os homens não reparam. Que eu, pelo menos, não reparo (por exemplo, não reparo bem nas cores: sou daltónico, mas quase nenhuma mulher o é). Sem ter feito nenhuma experiência científica sobre o assunto, diria que os cérebros masculino e feminino são diferentes pois operam as câmaras dos olhos de maneira diferente e fazem diferentes gravações de imagens. Olhamos para coisas diferentes ou olhamos para as mesmas coisas em momentos diferentes. Quando os homens vêem o panorama, as mulheres observam um pormenor, em geral importante. Uma amiga minha diz que as mulheres são mais práticas porque não se podem dar ao luxo de ser teóricas. Não há nenhum mal nessa diferença. Pelo contrário, até há bem: é por isso que as relações entre os sexos são tão animadas e imprevisíveis. Gosto de mulheres porque gosto do desconhecido.

2 comentários:

Anónimo disse...

É bem sabido que o Einstein era mulherengo, sendo abertamente infiel à sua segunda mulher. Quanto à sua relação com os seus filhos, é melhor nem cuidarmos de saber muito e seguir o exemplo do Fiolhais que de história e filosofia da ciência sabe pouco.

Anónimo disse...

Será que os homens reparam nos sapatos das mulheres? Eu reparo, normalmente, nos dos homens, quando tenho tempo, por diversão e para tentar adivinhar... Também tento adivinhar o tipo de roupa interior e tirar conclusões. Por entretenimento. Mas, naqueles tempos antigos, em que costumava ficar estúpida e daltónica, eu fechava os olhos aos pormenores. Felizmente ninguém me apanhou nesses tempos. O meu oftalmologista já me avisou que estou a esgotar o tempo limite em que posso ter filhos e dar continuidade à espécie. Não foi outro médico, foi mesmo o oftalmologista, que se preocupa com essas coisas. Eu respondi-lhe que era uma "solteira da moda", apesar de já nem ser muito moda por sermos bastantes. Mudou muita coisa nos últimos 36 anos, que é a minha idade, como do 25 de Abril. As mulheres não precisam de homens para sobreviver e os homens, ao que parece, ainda não se adaptaram.
PS: Adoro o vosso blog
Ana

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