quarta-feira, 20 de outubro de 2010

UMA TERRA CHAMADA CoRoT-7b


Nova crónica de António Piedade saída no "Despertar":

“Tenho boas razões para pensar que o planeta de onde o Principezinho tinha vindo era o asteróide B612”, escreveu Antoine Saint-Exupery, em O Principezinho, sobre a origem dessa bela e misteriosa personagem por ele imaginada.

O nome “asteróide”, provém do grego “aster”, que significa estrela, e do sufixo “oide” que indica semelhança. Assim, um asteróide refere-se a um corpo celeste que, por brilhar, se assemelha a uma estrela, sem o ser. Segundo as indicações que o “Principezinho terá dado a Saint-Exupery na noite cálida do deserto, o planeta de onde teria vindo era fácil de encontrar, uma vez que o seu brilho era bem visível à vista desarmada de qualquer telescópio. Seria então um asteróide, mas como tinha embondeiros e rosas não era com certeza uma estrela como o é o nosso Sol.
Por outro lado, e segundo a actual classificação dos corpos celestes, o asteróide B612 só seria um planeta se possuísse um tamanho e uma massa suficiente para que, sob acção da força da gravidade, fosse aproximadamente esférico e se, igualmente importante para a classificação, o seu caminho orbital em redor de uma estrela se apresentasse desimpedido de outros corpos celestes. Se encontrar na sua órbita outros asteróides, o corpo celeste é designado por planeta anão. Ceres (na cintura de asteróides) e o reclassificado Plutão (na cintura de Kuiper) são disso exemplos no nosso sistema solar.

Adianta o escritor-aviador que, e à data em que escreveu “O Principezinho (1943), o asteróide B612 “tinha sido visto com o telescópio uma única vez, em 1909, por um astrónomo turco”. Desde essa altura até hoje, a nossa capacidade tecnológica para observar a abóbada cósmica evoluiu de forma tão espantosa como é espantoso e admirável o que temos encontrado para além do brilho do céu estrelado.

No imaginário colectivo, lavrado pela ficção, existem inúmeros planetas e sistemas solares, povoados por outros seres que não só o menino e pequeno príncipe. E nesse imaginário não estamos sós e muitas são as possibilidades de viver em outros planetas semelhantes à Terra.
Na altura em que Saint-Exupery encontrou o frágil Principezinho, não se conheciam outros planetas que não fossem os do nosso sistema solar. Hoje, a realidade conhecida e permitida pela ciência e tecnologia espaciais, apresenta cerca de 500 exoplanetas ou planetas extra-solares, isto é, planetas que orbitam outras estrelas que não o “nosso” Sol (aqui). Alguns deles, pelo tamanho, massa e distância à estrela que orbitam, assemelham-se ao planeta Terra e, por isso, alimentam expectativas de que possam albergar alguma forma de vida. Pelo menos, a descoberta de exoplanetas semelhantes à Terra protege-nos de alguma forma da imensa ignorância e solidão cósmica.

Na procura de exoplanetas parecidos com a Terra, é de referir o trabalho da missão CoRoT (aqui) da ESA (Agência Espacial Europeia). O satélite artificial CoRoT, não mede mais do que 30 cm, mas detecta, através do seu telescópio incorporado, exoplanetas rochosos várias vezes maiores do que a Terra.

Os dados captados pelo satélite CoRoT desde o seu lançamento, a 27 de Dezembro de 2006, tem permitido detectar flutuações no brilho de algumas estrelas, que são causadas pela passagem à sua frente de planetas que a orbitam, e distingui-las de outras flutuações causadas por actividade sísmica da própria estrela.

Foi assim que CoRoT descobriu o CoRoT-7b, em Fevereiro de 2009, o exoplaneta rochoso mais parecido com a Terra que se conhece até à data. Possui, segundo alguns cientistas (há alguma controvérsia: aqui), cerca de cinco vezes a massa da Terra e um raio 1,9 maior. Até a estrela que orbita, catalogada por CoRoT-7 e situada a 500 anos-luz de distância na constelação de Monoceros, é muito semelhante ao nosso Sol.

Contudo, CoRoT-7b orbita demasiado próximo da sua estrela (órbita inferior á de Mercúrio), pelo que tem temperaturas demasiado elevadas e desagradáveis para a vida humana. Por outro lado, a sua órbita faz com que um ano tenha a duração de 20 horas terrestres. Ou seja, a cada volta de um relógio passariam anos em vez de dias!

Entretanto, a missão CoRoT identificou mais dois planetas no sistema de CoRoT-7 (aqui): o 7c e o 7d. Enquanto os dados recolhidos são estudados e discutidos pela comunidade internacional de astrónomos, observemos o céu estrelado e procuremos, com imaginação encantada, o Principezinho no seu asteróide B612.

António Piedade

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