quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mostra sobre Gracia Nasi (1510-1569) e outros judeus portugueses


Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra com a descrição de alguns livros expostos na mostra sobre a judia portuguesa Grácia Nasi e outros judeus portugueses:

1.
USQUE, Samuel, séc. 16, Consolacam as tribulacoens de Ysrael. [2ª ed.]. Empresso en Ferrara : en casa de Abraham aben Usque, 5313 da criaçam. 27 de Setembro [i.e. 1553], R-19-28

Samuel Usque, judeu português que sofreu as vicissitudes e perseguições de que foram alvo os judeus portugueses no período renascentista, nasceu provavelmente em Lisboa, tendo aí permanecido até pouco antes da instalação da Inquisição. Viveu durante algum tempo em Ferrara e, mais tarde, na Palestina. Exilado em Ferrara publicou, em 1553, a obra Consolação às tribos de Israel que dedica a Dona Gracia Nasi que, à data da impressão do livro, se encontrava já em Constantinopla (actual Istambul), assumindo-se claramente judia. No terceiro dialogo Consolo humano nas tribulações de Israel , Samuel Usque refere-se à justa Gracia Nasi (…) Esta no principio da viagem, aos teus necessitados filhos a quem a pouca fazenda enfraquecia pêra sayr do foguo e acometer hum tam longuo caminho, muito esforço, lhe deve sua esperança. Esta aos que jaa sahiam, e em frandes [Flandres], e noutras partes chegavam vencidos da pobreza, desconsolados do mar, e em perigo de nã[o] passar adiante, cõ[m] dinheiro e muitos outros remédios e co[n]fortos a suas minguoas com maõ liberalíssima socorreo(…), numa alusão aos esforços que despendeu para ajudar os seus correligionários a fugirem às perseguições da Inquisição e a instalarem-se em Veneza, Ferrara e Istambul lugares de maior tolerância religiosa. Nesta fuga, a rede de ajuda que se estendia de Portugal à Turquia, dirigida por Dona Grácia e João Micas, teve um papel determinante no salvamento e resgate dos seus correligionários como o revelam as múltiplas dedicatórias referindo-se à sua acção de salvamento e apoio.

Obra essencial para robustecer as crenças judaicas inspirada nos textos bíblicos, na literatura sagrada, conta a história do povo judaico, mártir e perseguido e ao mesmo tempo declara a esperança dos Judeus em atingir a Terra Santa, tem por objectivo consolar os irmãos do infortúnio e de os aproximar da fé, ao relatar-lhes as perseguições que tinham sofrido. A obra que foi reimpressa em Amesterdão, em 1599, apresenta um carácter vincadamente apologético do judaísmo e narra o sofrimento e as perseguições de que fora alvo o seu povo desde os tempos bíblicos até às opressões de que o próprio autor fora vítima.

2 e 3.USQUE, Samuel, séc. 16, Consolaçam ás tribulaçoens de Israel. Coimbra : França Amado, 1906-1908. V.T-6-1-13 e RB-37-23. Edições mais recentes.

4. PANTALEÃO, de Aveiro, fl. 15- Itinerario da Terra Sancta e suas particularidades. Em Lisboa : em casa de Simão Lopez, 1593, J.F.-37-2-20

Frei Pantaleão de Aveiro no Itinerario da Terra Sancta (1593) no cap. LXXXII De Cana de Galilea, & do mar de Tiberiade, & outros lugares faz o seguinte relato (…) Tinha aquela judia Portuguesa grandissimas riquezas, … com as quais fugio de Portugal (…) Fugio esta molher de Portugal com outra sua irmãa também viúva, como ella & ambas forão ter a Veneza, onde estando algu[n]s annos, esta de que vou tratando, cujo sobrenome era Luna, se passou a Constantinopla com suas riquezas, com as quaes por feitores seus se meteo a tratar por todas aquellas partes, em especial polas marítimas, com fazer copia de nãos segundo me affirmou em hu[m]a certa parte um judeu natural de Lisboa, muito seu familiar … dos quaes foi bem favorecido & ajudado. (…) A judia, q[eu] deu consigo em Constantinopla, & estava de caminho para Tiberia, fez se tão poderosa, q[ue] os judeus não a nomeão por seu nome próprio, mas chamão-lhe a Señora.

5. PANTALEÃO, de Aveiro, fl. 15- Itinerario da Terra Sancta e suas particularidades. 7ª ed. rev. Coimbra : Imp. da Universidade, 1927. 9-(4)-13-2-38. Edição mais recente.

6. AMATO LUSITANO, pseud. Amati Lusitani ... Curationum medicinalium centuriae septem, varia multiplicique rerum cognitione referte, & in hac ultima editione recognitae & valde correcte … Burdigalae : ex typographia Gilberti Vernoy, 1620. 4 A-2-8-8

Amato Lusitano, judeu português natural de Castelo Branco, nasceu em 1511 (para o ano assinalam-se os 500 anos) com o patronímico João Rodrigues de Castelo Branco. Estudou medicina em Salamanca e exerceu durante vários anos em Lisboa. Perseguido pela Inquisição vai para Antuérpia, partindo depois para Itália, vive em Veneza e Ferrara, em cuja Universidade assiste a aulas públicas de Anatomia. Mais tarde estabelece-se em Ancona, onde fica até 1555. De forma a evitar as perseguições do Papa Paulo IV parte para Pesaro, depois de passar algum tempo em Ragusa (actual Dubrovnick) vive em Salónica onde morre em 1568.

Amato Lusitano notabilizou-se não só como médico mas também como escritor, a quinta Centúria da obra Curatorium medicinalium centuriae septem, é dedicada a Joseph Nasi, de quem foi amigo e médico. Nessa dedicatória diz que … tendo de publica ras suas quinta e sexta Centurias não teve de deliberar por muito tempo sobre a pessoa a quem as devia dedicar. Ocorrera-lhe imediatamente o nome de José Nasci, não só porque era douto, mas grande e admirável favorecedor dos doutos … Em humanidade ninguém o excedia e a ela acrescia insigne liberalidade que sempre costuma acompanhar outras virtudes … Por estas reazões lhe pede que aceite aquele livro e lhe deseja venturas e prosperidades, assim como à ilustríssima Gracia.

7. LEMOS, Maximiano, 1860-1923 Amato Lusitano : a sua vida e a sua obra. Porto : Eduardo Tavares Martins, 1907. 9-(4)-13-2-29

8. APIAN, Petrus, 1495-1552 Cosmographia, sive Descriptio universi orbis, Petri Apiani & Gemmae Frisii, mathemathicorum insignium, iam demùm integrati suae restituta ... Antuerpiae : ex officinal Ioannis Withagij, 1584. R-40-6

Na passagem por Antuérpia Diogo Pires deixa um poema a acompanhar a edição da Cosmographia, sive Descriptio universi orbis , Petri Apiani & Gemmae Frisii, ali publicada em 1584, dedicado a Gemma Frisius (1508-1555) médico e matemático holandês que estudou medicina em Lovaina e naquela universidade provavelmente terá sido contemporâneo de Diogo Pires.

9. QUINTUS, Smyrnaeus, 03..-03.. Quinti Calabri derelictorum ab Homero libri quatuordecim. Jodoco Velareo [sic] interprete ; Coluti Thebani raptus Helenae eodem interprete. Editio prima. Antuerpiae : apud Joannem Steelsium, 1539. 1-3-1-34

Diogo Pires (1517-1599) nasceu em Évora e como muitos outros judeus, fugiu de Portugal na primeira metade do séc. XVI. Em 1535 foi estudar primeiro na Universidade de Salamanca e depois em Lovaina. Cerca de 1540 encontra-se em Itália, permanecendo algum tempo em Ferrara. É em Ferrara que encontra Amato Lusitano, diversos membros da família Abravanel, D. Grácia Nasi e ainda Samuel e Abraão Usque. Em finais de 1556 vai para Ragusa (actual Dubrovnick), na altura uma pequena república independente que fazia a ponte entre a Europa e o Império Turco, passando a adoptar o nome hebraico Isaías Cohen, aí permanece quarenta anos vindo a falecer em 1599.

Diogo Pires ou Didacus Pyrrhus Lusitanus, símbolo da diáspora lusitana, foi um humanista e excelente poeta da língua latina, grande parte da sua poesia canta a saudade de Portugal e a tristeza do exílio forçado. Durante a estadia em Itália relaciona-se com os principais nomes do Humanismo italiano a quem dedica versos. Dedicou as suas poesias aos amigos Amato Lusitano e André de Resende e ao poeta épico grego Quinto de Esmirna, numa elegia no final da obra, em seu louvor.

10. CARDOSO, Isac, 1615-1680 Las excelencias de los hebreos. Por el doctor Yshac Cardoso. Impresso en Amsterdam : en casa de David de Castro Tartas, 1679. V.T.-17-7-17

Isac Cardoso ou Fernando Cardoso nasceu em 1615 em Portugal. Estudou Filosofia e Medicina em Salamanca. Exerceu durante alguns anos em Valladolid e Madrid. Em Madrid converteu-se ao judaísmo adoptando o passou a chamar-se Fernando Cardoso. Em 1645 deixa Espanha e vai para Veneza, aí relaciona-se com Samuel Aboad, rabino na sinagoga de Veneza, assume publicamente o judaísmo adoptando o nome judaico de Isac. Morre em 1680 em Verona.

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