Com a COVID-19, em todos os níveis de escolaridade, o ensino passou a depender ainda mais de plataformas online. Algumas são gratuitas outras são pagas, mas todas permitem, em termos tecnológicos, registar, armazenar e analisar os dados que recebem, podendo estes ser usados com diversos fins.
Há uma vertente da vida humana - não restrita à relação na sala de aula física, incluindo também disponibilização de recursos, troca de mensagens, afixação de pautas de classificação, apresentação de relatórios, etc. - que era muito da ordem do privado, ainda que guiada por fins públicos, que passa a ser acessível a desconhecidos...
Presumimos a sua afiliação, mas não conhecemos exactamente a sua identidade, nem onde estão, nem que dados lhes interessam, nem para que querem os dados... Mas que a sua presença se sente, isso sente. Convém que não nos habituemos a ela.
Esta nota é a propósito de um documentário ainda recente com o título (traduzido) O dilema das redes. É preciso que quem tem responsabilidades educativas o veja e que pense seriamente no que viu.
Orlowski, J. (Dir.). (2020). The social dilemma das redes. Netflix.
2 comentários:
Nas escolas secundárias, há já muitos anos que o sinistro Big Brother paira sobre as cabeças de professores e alunos. Agora, com as mais recentes plataformas online, a intromissão despudorada na vida privada de cada ator participante na farsa do ensino/ aprendizagem atual já se sente na pele! Quem se atreve a atuar, ou pensar, fora da caixa, é imediatamente monitorizado pelo sistema informático que está programado para ostracizar os inconformados que querem mudar o mundo!
Por ouro lado, a aplicação Big brother é muitas vezes uma mais-valia para o sistema, como se verificou no ano letivo anterior, em que a "melhoria das aprendizagens", em ambiente de severa pandemia covid-19, apesar de sofrerem um duro revés, acabaram por redundar, fruto de um trabalho de engenharia informática notável ao nível dos critérios de avaliação dos exames, no maior número de ingressos no ensino superior de que há memória em Portugal.
Caro Leitor
Nas escolas secundárias, básicas, universidades... Não há escola que fique (possa ficar?) restrita aos seus muros físicos, ainda que, naturalmente, mantendo ligações funcionais com o exterior.
A privacidade, sendo um valor ético inalienável, deveria integrar o "pano de fundo" que é o relacionamento interpessoal. A necessidade (e a urgência) de ensinar tem descuidado a legitimidade dos métodos e meios de ensinar.
O mais preocupante é que, como professores, obrigados ao dever de educar no respeito pelos valores éticos, não nos preocupemos... Antes, aceitemos sem questionar, sem ajustar a acção.
Cordialmente,
MHDamião
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