“Em Portugal país de magricelas, de derreados de espinhela caída, nada mais importante do que a Educação Física, e a ginástica não é uma questão de circo nem de barraca de feira, é uma alta e grave questão de educação nacional" (Ramalho Ortigão, 1836-1915).
Em 30 de Setembro de 2016, aqui, no “De Rerum Natura”, publiquei o “post”: “Jogos Olímpicos e Actividade Física”.
Passados dias (18/10/2016), recebi o seguinte mail que me foi endossado pela SPEF (Sociedade Portuguesa de Educação Física), e que reproduzo, devidamente autorizado, com a satisfação de um simples soldado de um combate duro, estrénuo e sem tréguas, em que Colegas da SPEF e do CNAPEF (Conselho Nacional de Associações de Professores e Profissionais de Educação Física) atingiram estrelas de generalato pela sua persistência, desvelo e empenho na defesa da disciplina de Educação Física, por uns tantos políticos com responsabilidades no sistema educativo nacional, de cultura duvidosa amputada por nunca se terem debruçado sobre grandes figuras da verdadeira Cultura, como, por exemplo, Ernest Krestchemer, médico psiquiatra alemão, doutor honoris causa, em Filosofia pela Universidade de Wurzburg e Católica do Chile, que nos ensinou que “o homem pensa com o corpo todo!”
Era escrito nesse mail da SPEF:
Creio já ter lido esta sua referência (ou idêntica) num artigo seu no jornal "Público", na sequência da entrevista por mim dada acerca da EF. Aproveito para agradecer esse artigo que veio reforçar o impacto da entrevista.
Concluo reforçando a nossa satisfação (e gratidão) pelas ações que tem desenvolvido. A qualidade dos argumentos que conseguirmos trazer para a opinião pública ajudarão, mais cedo ou mais tarde, a que se concretizem as alterações tão necessárias ao reforço do papel central da atividade física, da educação física e do desporto, num país culturalmente mais evoluído.
Manifestamos a nossa disponibilidade para o que considere importante da nossa parte.
Nuno Ferro
(presidente da SPEF).”
“O Conselho Nacional de Professores e Profissionais de Educação Física (CNAPEF) e Sociedade Portuguesa de Educação Física (SPEF) vêm por este meio congratular-se com o anúncio público, efetuado pelo Ministério da Educação, de que a classificação da Educação Física voltará a ser contabilizada para a média de conclusão do Ensino Secundário e na média de acesso ao Ensino Superior.
“Candidatos titulares de cursos de
ensino secundário ao abrigo do Decreto-Lei n.º
286/89, de 29 de agosto:
A classificação final
de ensino secundário, para efeitos de acesso ao ensino superior, é média
aritmética simples, calculada até às décimas, sem arredondamento, da
classificação final de todas as disciplinas que integram o plano de estudos,
com exceção das disciplinas de Educação Moral e Religiosa, de Desenvolvimento
Pessoal e Social e de Educação Física, e convertida para a escala de 0 a 200”..
Causa-me escândalo repulsivo ser colocada a Educação Física, disciplina de tradição no currículo escolar, em paridade com a neófita ensinança de “Desenvolvimento Pessoal e Social”. Sem comentários de tão evidentes aspectos negativos que perante o seu estranho e aberrante “statu quo”, dedico ao responsáveis do poder político e institucional seus responsáveis este naco de prosa da ramalhar figura, substituindo a palavra “eram” pela palavra “são”: “Não eram homens de ciência nem sequer homens do mundo. Como cultura física inteligência igual à cultura mental. Se falando metem os pés pelas mãos, calados metem os dedos pelo nariz. Não têm toillete, não têm maneiras e têm caspa”.
E este “statu quo” é
tanto mais escandaloso se tivermos em atenção esta carta de repúdio de natureza
científica assinada por professores universitários, na grande maioria de
Medicina.
“Exmº Senhor
Ministro da Educação e
Ciência
Professor Doutor Nuno Crato
O documento ‘Matrizes Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário’ merece-nos uma reflexão no que diz respeito à disciplina de Educação Física, por ser uma disciplina que ao promover a prática regular da actividade física, promove a saúde e a qualidade de vida.
O sedentarismo é uma condição indesejável e representa um risco acrescido para várias patologias. Estudos epidemiológicos bem desenhados têm demonstrado, de uma forma muito expressiva e inequívoca, a associação entre um estilo de vida ativo e uma menor morbilidade e mortalidade por diminuir os fatores de risco associados a doenças crónicas, sejam cardiovasculares, metabólicas ou degenerativas e, inclusive, do foro psicológico e psiquiátrico.
São vários os benefícios que o exercício físico promove, contrariando as chamadas doenças da civilização como a obesidade, a diabetes melitus, a depressão, as doenças cardiovasculares isquémicas e o cancro, que são na realidade as epidemias do século XXI. Também numa sociedade em que a esperança de vida aumentou, o exercício físico é fundamental para um envelhecimento saudável, designadamente para que curse sem incapacidade física ou mental.
As acções governamentais deverão ter em conta que a promoção da saúde, na qual se inclui o combate ao sedentarismo, deverá começar cedo sendo a escola um lugar privilegiado para valorizar as atitudes e incutir hábitos de vida saudável que irão nortear o indivíduo ao longo da vida.
Promover a actividade física nas escolas é, pois, contribuir para uma sociedade mais saudável e, por conseguinte, ter uma saúde mais custo-efetiva no futuro. A promoção da actividade física permitirá ao Estado poupar significativamente gastos na Saúde.
Nós, professores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
envolvidos no ensino e promoção de estilos de vida saudáveis onde se enquadra a
actividade física, pedimos a Vossa Excelência que reconsidere pelas razões
expostas o documento ‘Matrizes Curriculares dos Ensinos Básicos e Secundário’”.
A
relevância do desporto na educação dos jovens foi também evidenciada pelo Parlamento Europeu (em finais de 2007) ao
aprovar por ampla maioria (590 votos a
favor, 56 contra e 21 abstenções) um relatório em defesa de uma carga horária
de educação física no ensino básico e secundário que contempla um mínimo de três
horas semanais. Este relatório refere ainda que os jovens portugueses,
espanhóis e italianos excedem em 30% os níveis de peso e obesidade nas crianças
entre os 7 os 11 anos. E acrescenta que este excesso de peso não se fica tanto
a dever a uma elevada ingestão mas a uma declarada inactividade física: essas
crianças não comem mais, mexem-se menos. Para contrariar este “statu quo” foi
proposto um equilíbrio entre os períodos de tempo dedicados às actividades
intelectuais e físicas nas escolas.
Este importante relatório de um parlamento
directamente eleito pelos cidadãos da União Europeia para representar os seus
interesses devia merecer do Ministério da Educação de Portugal a melhor das
atenções para que a execução das medidas aí preconizadas fosse levada a efeito
com a urgência requerida numa cultura e numa sociedade cada vez mais vitimadas
pela inactividade física. Por consequência, povoada de jovens que são “ostras fixadas ao rochedo (Jean-Pierre
Gasc)”!
E
no caso de Medicina, responsável por a classificação da Educação Física poder prejudicar
o respectivo ingresso, contraponho o facto desta profissão ser das mais
exigentes sob o ponto de vista físico pela maior carga horária dos médicos,
acumulando, por vezes, tarefas hospitalares com medicina privada e serviço de
banco e, essencialmente, no caso dos cirurgiões que nos blocos operatórios
estão sujeitos a esforços físicos e mentais de grande intensidade. Assim, entre
um candidato que, porventura, esteja em boa forma física e um outro, em má forma, o chamado, na gíria académica. “urso”, por escassa percentagem de classificação nas
disciplinas ditas teóricas, por qual
optar?
Pobre país que deu novos mundos ao mundo e hoje tem o atrevimento de se julgar na vanguarda dos melhores métodos de preparar os seu jovens futuros timoneiros de uma nau a meter água por rombos do casco por ir de encontro a rochedos escutando ao longe cantos de sereias do Mar Tirreno que lhe prometem o saber, mas dando-lhe, apenas, a ignorância.
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