"Pecar pelo silêncio, quando se deve protestar, transforma os homens em covardes”
(Abraham Licoln).
Poucos dias atrás, através da Net, tomei conhecimento, confirmado pelo “Polígrafo”, que pela edilidade de Coimbra tinha sido adquirido, por 83 mil euros, um automóvel topo de gama da marca “Audi”.
Curiosamente, esta notícia nenhuma atenção (por ser corriqueira?) mereceu por parte do "Diário a Beiras", de Coimbra, tendo sido noticiada com o destaque devido, apenas, num “post” do jornalista Mário Martins, acompanhado por uma fotografia, como é uso dizer-se, uma imagem vale por mil palavras, em que surge o bólide, pago com impostos municipais de todos nós, estacionado imponente à frente do magnifico Edifício da Câmara, à vista de “gente, ignorada e pisada, como pedra do chão, e, mais do que pedra humilhada e calcada" (Sophia de Mello Breyner) que, de lancheira debaixo do braço, a pé ou de bicicleta, vai para ou regressa do trabalho para ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto.
Eu que me sinto desiludido do presente, em que ao abrir-se diariamente as páginas dos jornais, ou ouvindo e vendo os noticiários televisivos, nos deparamos com escândalos de pequena ou elevada corrupção, sem esperança no futuro, em que encontro, apenas, lenitivo no passado de gerações honradas de governantes e edis do início do século passado.
De entre eles, meu avô materno, José Pereira da Silva, antigo presidente da Câmara Municipal do Porto, homem pobro, íntegro e fiel ao seu ideário republicano, tendo sido deportado político para Angola por ter participado na falhada “Revolução do Porto de Fevereiro de 1927”.
Extraído da obra (volumes I e II) “Presidentes da Câmara Municipal do Porto”, da autoria de Fernando de Sousa, professor catedrático, da Universidade do Porto, traço um brevíssimo esboço biográfico, deste meu ancestral, que reproduzo abaixo:
“José Pereira da Silva, Presidente do Senado da Câmara Municipal, no primeiro trimestre de 1925, durante a ausência de António José de Sousa Júnior [Ministro da Instrução Pública da I República], demitiu-se a seu pedido, desse cargo tendo-lhe sido tecidos, em sessão camarária de despedida, os mais elevados elogios, sendo-lhe sido reconhecido «inteligência lúcida, dedicado e sempre pronto e firme na defesa dos direitos municipais, salientando que tinha desempenhado aquele cargo com tanta justiça, com tanta competência e imparcialidade que é lamentável que ele o abandone, sendo mesmo lavrado em acta um voto de agradecimento."
É este exemplo de verticalidade que meu avô me deixou em herança. de que muito me orgulho, para além de muitos e outros motivos, por me permitir escrever este texto sobre dois homens, ambos antigos presidentes de edis municipais, em século diferentes: um das margens do Mondego, Manuel Machado, outro do serpenteante Douro, José Pereira da Silva.
Para não me tornar juiz em causa própria, o leitor que tire a ilações devidas deste meu texto com esperança em D. Quixote que dirigindo-se a Sancho lhe diz: “Mudar o mundo, não é loucura, não é utopia, é justiça”!
Entretanto, vamos sobrevivendo em mundo de loucura e utopia em vã esperança de uma justiça que tarda em chegar! Ou nunca chegará, ainda que mesmo num dia de nevoeiro!
P.S: Por o ter como mais sugestivo, alterei o título deste meu post. Onde escrevi popó, tinha escrito "Audi"!
2 comentários:
O melhor mesmo seria o Presidente da Câmara, aliás, todos os presidentes de Câmaras, ou de juntas, quando provocados a justificar esses gastos, virem a terreiro, sem delongas e sem se fazerem muito rogados, apresentar as suas razões, ou as razões para tal.
Qualquer cidadão pode facilmente conjecturar/suspeitar que o problema nem é o dinheiro pago pela viatura (que até pode ter sido oferecida), mas o dinheiro que seria (?) o preço da viatura ir parar aos bolsos de quem, supostamente, deveria ordenar o seu pagamento, uma vez que não é admissível tê-la de graça. Neste ponto, não consegui ser muito claro, nem muito directo, porque a corrupção sabe tanto mais do que nós (cidadãos) e trata-nos de tal modo, como se fossemos vermes, que até ficamos sem argumentos.
Concordo! Por esse facto devia o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, perante os seus concidadãos clarificar esta situação para que a culpa deste compra não morra solteira, casada, divorciada, viúva ou mesmo amancebada.
Já chega de almoços grátis! Será que a opinião pública deverá pactuar com situações destas em que o silêncio é a alma do negócio?
Enviar um comentário