Início do meu capítulo do livro "Pensar o futuro. Portugal e o mundo depois da COVID-19" (Porto Editora", uma recolha de contributos sobre o mundo pós-pandemia:
A
pandemia causada pelo alastramento do novo coronavírus SARS-CoV-2 é apenas uma
das muitas que têm acontecido ao longo da história. Houve outras e haverá mais,
porque os microorganismos que as causam – vírus ou bactérias – fazem parte do
património de biodiversidade do planeta. Partilhamos o planeta com eles e, no longo
percurso evolucionário, houve entre todos cruzamentos e interferências.
Numerosas bactérias e vírus habitam o interior do nosso corpo, em convivência
pacífica. Mas, se mutações genéticas originarem novas estirpes, o nosso sistema
imunitário não está, pelo menos de início, preparado para lidar com o novo intruso.
Temos aprendido com as pandemias, muito em particular após a Revolução
Científica dos séculos xvi e xvii, que instituiu o método científico.
As medidas que estamos agora a tomar para nossa protecção colectiva provêm do
conhecimento proporcionado pela aplicação do referido método.
Sabemos
também que, por mais danos que possam causar na humanidade, todas as epidemias
são temporárias. Ganhamos imunidade, naturalmente ou com a ajuda de vacinas. Passada
esta epidemia, de duração incerta, saberemos ainda mais. A ciência é
acumulação: de dados e de teorias que os integram. Uma previsão segura que
podemos fazer é que a ciência estará mais avançada. A história da ciência
mostra que sempre assim foi e é lícito esperar que assim continue a ser.
Mas
ciências como a biologia e a medicina são apenas algumas das componentes do
conhecimento humano. Todas as pandemias têm consequências sociais, que as
ciências sociais estudam: nos comportamentos, no trabalho, na economia, na política,
na geoestratégia, etc. É muito difícil fazer previsões para a sociedade em
geral. Houve epidemias no passado, mas o mundo de hoje é bastante diferente. Como
as circunstâncias são outras, os problemas são outros e as soluções terão, pelo
menos nos seus pormenores, de ser outras. As pandemias passadas tiveram
consequências de vária ordem e podemos, com base no seu conhecimento, tentar
adivinhar as consequências desta. A questão é complexa, mas há quem fale na
contribuição da peste negra que grassou na Idade Média para o fim do feudalismo,
ou no papel da gripe espanhola, que coincidiu com o final da Primeira Guerra
Mundial, para a economia dos anos 20. Há quem defenda que as epidemias, tal
como as guerras, as revoluções e os colapsos governamentais, são aplanadoras de
desigualdades. Contudo, a actual está a mostrar o contrário, ao agravar as
desigualdades.
Proponho-me, com base na história das epidemias e numa descrição sumária da actual, apresentar uma perspectiva do papel da ciência no mundo pós-pandémico. Vai ter talvez um papel ainda maior do que o de hoje, que já é grande. Mas a ciência, que produz tecnologia, é apenas um dos factores da evolução da sociedade. Se na ciência o progresso é certo, a incerteza reina quanto aos outros factores, que dependem do livre-arbítrio humano. Como disse o físico dinamarquês Niels Bohr: «É muito difícil fazer previsões. Especialmente sobre o futuro.»
(...) (as receitas do livro revertem a favor de uma instituição de ajuda aos sem-abrigo)
2 comentários:
Jorge Rocha Barreira
O livro já está à venda? Se estiver está-o em qualquer livraria?
Qual o preço do livro?
Obrigado.
Está nas livrarias, em particular na Bertrand. A ficha bibliográfica do livro está em:
https://www.wook.pt/livro/pensar-o-futuro-alexandre-quintanilha/24177984
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