"Como en otros lugares de Europa y el mundo occidental,
hace algunos años surgió con fuerza en la escena española
el concepto de Educación para la ciudadanía (…) que, desde la utopía
de una educación para la participación social y la convivencia
en una sociedad democrática, globalizada y cambiante,
se ha convertido en obsesión, cuasi fetichista,
que ha polarizado el debate político y ciudadano suscitando adhesiones y rechazos
y generando al tiempo un gradual clima de crispación social."
Andrés Palma Valenzuela, 2011.
Andrés Palma Valenzuela, 2011.
Na continuação de texto anterior (aqui).
Passados poucos dias após a publicação do “Manifesto em Defesa da Educação para a Cidadania”, onde se exige o carácter opcional da disciplina de “Educação para a Cidadania e Desenvolvimento” no currículo do ensino obrigatório público, surge um “Manifesto em Defesa da Educação para a Cidadania”, onde se exige o seu carácter
obrigatório.
Está declaradamente na praça pública o problema que há muito anda na mesma praça em Espanha. Falo de Espanha porque é o país em que tenho acompanhado mais de perto esta questão.
Aos leitores a quem ele interessar, recomendo a exploração de um artigo de Andrés Palma Valenzuela, meu colega, publicado na "Revista Portuguesa de Pedagogia" com o título “La educación para la ciudadanía en España, 2004-2011”
Voltando aos documentos citados, reportando-se a matéria que lecciono na universidade, tanto em cursos de ciências da educação como de formação de professores, li-os e comparei-os a partir de critérios que costumo usar. Complementei esse trabalho com a análise de artigos de jornal disponíveis online. A conclusão é desanimadora:
1. Antes de mais, percebe-se, tanto por parte dos manifestantes como dos articulistas, um profundo desconhecimento do campo que é o da Educação para a Cidadania, agora designada por “Cidadania e Desenvolvimento”. Noto que se trata de um campo extensíssimo (pela quantidade documentos que a Direção-Geral da Educação disponibiliza relativas às dezassete áreas de cidadania previstas) tortuoso (pelas diversas “camadas” em que esses documentos se organizam, uns fazem ligação a outros, cada um deles fazendo ligação a outros), e de difícil interpretação (pela linguagem usada, cujas características mais marcantes são a circularidade e a opacidade que tende a ocultar orientações que são incompatíveis com a missão da escola pública, fruto de sociedades democráticas);
2. Em função do que mencionei em 1, os argumentos de que se socorrem, tanto em prol da tal componente de “Cidadania e Desenvolvimento” como contra ela, são frouxos ou erróneos, mobilizam modos pessoais de pensar a educação. Falo de opiniões que não vão além do senso-comum. Ora, quem opina na praça pública tem o especial dever (que é um dever de cidadania) de estudar em profundidade aquilo sobre o que opina, sob pena de induzir outrem em erro, de criar dissensões desnecessárias, de, enfim, manipular em vez de discutir e esclarecer;
3. E, lamentavelmente, mais uma vez emergem velhos clichés de base antinómica que marcam posições inconciliáveis na educação e que, por isso mesmo, deviam ser afastados de uma vez por todas da reflexão racional, baseada em conhecimento, de que a educação necessita na comunidade: o pensamento de esquerda e o da direita, a “agenda” dos conservadores e a dos inovadores, etc… Quanto ao todo poderoso neoliberalismo, posto em marcha pelas tendências citadas, verdadeiro pano de fundo dos sistemas educativos, passa aqui despercebido, como se nada tivesse a ver com a educação no domínio da “cidadania”. Acontece que tem tudo a ver.
A situação a que chegamos e que iremos manter é aquela que o citado autor refere:
No cabe duda de que nos hallamos ante un elocuente desencuentro entre dos posicionamientos, hoy por hoy irreconciliables, en el que no se atisba posibilidad alguna de convergencia.
Quando a questão é a cidadania, dá que pensar: aqueles que se esgrimem em público para fazer valer a sua vontade esquecem-se da importância do debate informado para se conseguir a melhor educação possível para todos.
E agora: ganha (e impõe-se) a posição que obteve mais assinaturas?
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