domingo, 8 de abril de 2007

UM TABU REAL

O último "Expresso", no caderno "Actual", reza assim:

"A Semana Correu bem a... D. AFONSO HENRIQUES. O Rei fundador da nacionalidade pôde ficar mais confiante, que a exumação dos seus restos mortais não se concretizará. O Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) recomendou à ministra da Cultura que rejeite o pedido da Reitoria da Universidade de Coimbra para a abertura do seu túmulo, para um projecto de investigação da antropóloga forense Eugénia Cunha. O ano passado a exumação esteve prestes a realizar-se, mas foi suspensa, à última hora, por ter sido autorizada autonomamente pela delegação de Coimbra do IPPAR."

Esta nota é um verdadeiro mimo, a começar pelo humor completamente falhado da primeira frase. Para já não falar do "seu túmulo" da terceira frase, em que não se sabe se o seu se refere ao IPPAR, à ministra ou à Reitoria... Mas há aqui um problema de fundo. E esse é que uma investigação científica bem fundamentada e que é proposto por uma equipa muito competente está a ser impedida por uma conjugação de factores, dos quais o maior é o tabu associado ao nosso rei fundador. Não se pode saber mais sobre D. Afonso I, convém - vai-se lá saber porquê - que não se saiba! É o conhecimento e a ciência que estão a ser travadas pela ignorância e pela superstição.

O Conselho Consultivo do IPPAR, um órgão onde tem assento o conhecido arquitecto Tomás Taveira, pronuncia-se não sobre o projecto científico sobre a biologia do nosso primeiro rei, mas sim sobre a "não conclusividade" de um relatório da empresa Teixeira Duarte anexo ao projecto. E receia o envio para o estrangeiro (logo para Espanha!) de uma pequena amostra osteológica para análise. O Partido Popular Monárquico, que julgávamos tumulado, já se pronunciou pela voz de um seu representante contra a profanação real. E até o vereador local da cultura, que deve ter lido muitos livros (ou visto filmes) sobre a maldição das múmias prevê, sem qualquer base científica, que o interior do túmulo se vaporize logo que aberto. Da ministra espera-se que ela faça o que já fez da última vez: mostre que tem poder e desautorize o IPPAR!

6 comentários:

antfilfon disse...

Esta denúncia é muito relevante, mas também seria importante conhecer o relatório da empresa Teixeira Duarte do qual é afirmado qq coisa como "não conclusividade". É que de denuncias à la carte está este planeta à beira-mar plantado mediático cheio, basta acompanhar os telejornais mais popularuchos. Veja-se por exemplo o actual caso da Independente que quase de certeza vai acabar em águas de bacalhau na próxima segunda-feira e compare-se com o que se falou sobre ele na última semana. Portanto uma denúncia bem fundamentada requeria que se conhecesse o que tem a empresa Teixeira Duarte a ver com este caso. Pode ser até que o túmulo esteja em condições tais que seja impraticável ser aberto p. ex.

Fernando Martins disse...

Caro AFF:

O túmulo, da última vez, foi aberto e novamente fechado...

Anónimo disse...

Pois é, mas expressões como "o nosso rei fundador" traem na autora o mesmo preconceito nacionalista que pretende criticar em outrém. Coerência, precisa-se!

Carlos Fiolhais disse...

"O nosso rei fundador" é ironia...

Carlos Fiolhais disse...

PS) E eu não sou autora, mas sim autor.

Setora disse...

E se se concluir que a ossada que ali jaz corresponde a uma dama trintona ou a um jovem de quinze anos?

Lá se vai o rei fundador, lá se estraga o catálogo. Talvez não se queira correr esse risco.

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...