domingo, 22 de abril de 2007

ADEUS A DEUS?


Outra crónica do "Sol":

Madonna confessou um dia: “Não serei feliz enquanto não tiver a fama de Deus”. Apesar dos evidentes esforços da artista, Deus ainda é, de facto, mais famoso do que Madonna. Mas a fama de Deus já conheceu melhores dias. Saiu recentemente um livro – “The God Delusion”, do biólogo inglês Richard Dawkins – que defende o ateísmo com uma frontalidade pouco usual. E um outro - “Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon”, do filósofo americano Daniel Dennett, segundo o qual a ideia de Deus pode ser apenas um produto da evolução biológica: Deus não seria o autor da evolução, mas sim o resultado dela.

Que razões há para este movimento, chamado “novo ateísmo”, que invoca argumentos de ordem científica? Ele não deve ser estranho ao surgimento nos Estados Unidos de alguns movimentos religiosos, de base profundamente anti-científica, que pretendem substituir a teoria da evolução pelo criacionismo ou pelo “intelligent design” (numa leitura literal da Bíblia, advogam que Deus teria criado o mundo como o vemos hoje, ou praticamente, incluindo os fósseis). É uma posição assente no dogmatismo, esse aliado fiel da intolerância. Como já alguém disse, Deus que lhes perdoe, se acaso existe e é infinitamente misericordioso…

Foi em 1882 que o filósofo Friedrich Nietzsche anunciou, em “A Gaia Ciência”, a morte de Deus, mas, como prova a frase de Madonna, Ele tem sobrevivido a essa morte… As recentes notícias sobre a morte de Deus podem ser um bocadinho exageradas. Se existem hoje cientistas ateus, outros há que acreditam em Deus, como o geneticista americano Francis Collins, autor do recente “The Language of God: a Scientist Presents Evidence for Belief”. A discussão continua…

Embora se continue a invocar o nome de Deus, convém notar que a palavra tem significados diferentes para pessoas diferentes. O físico Albert Einstein, que não acreditava num Deus pessoal apesar da sua origem judaica, invocava o nome de Deus no sentido da regularidade e harmonia do mundo. Na acepção einsteiniana de “leis da Natureza”, não podemos nem poderemos nunca dizer adeus a Deus… Ele está mesmo em todo o lado e está para ficar!

22 comentários:

Anónimo disse...

Mas que necessidade tão tola de meter Deus onde ele não é chamado!!!

Ou é agora objectivo da Ciência discutir ou não a existência de Deus? Não me parece...

Creio, sim, é que Ciência, Religião e Filosofia buscam, por vias distintas, as mesmas respostas às mesmas perguntas, sendo inteiramente possível que esse tríplice conhecimento até venha a convergir numa Unidade comum. Aguardemos...

Por fim, esta vontade de negar o Deus das religiões afigura-se-me algo comparável àquela mania da contradição dos adolescentes, que também querem impor a sua individualidade e sair da alçada dos pais. Nada de especial existe nessa atitude muito natural, mas espera-se que os jovens não fiquem para sempre na fase do "não" e evoluam no sentido da sua própria autonomia.

Ora muito estranhamente, diria, não parece ser isso o que sucede com a Ciência, que continua numa quezília pegada... e inteiramente disparatada!... com a Religião e assim marca passo sem sair do mesmo sítio, em vez de trilhar o seu caminho autónomo, o que não pode deixar de parecer um tanto estranho.

Ou será que para este autêntico "complexo de Édipo" têm também contribuído as mais recentes descobertas e teorias que, surprendentemente talvez, fazem aproximar o pensamento científico das mais antigas noções sobre a origem e a natureza do Universo?!

É que criação "ex-nihilo" é uma ideia já muito velhinha mesmo, tem aí uns bons 4 milénios de existência... ou mais! Aliás, discutir isso é já irrelevante, também não há nada de novo debaixo do sol nessas especulações quânticas, cosmológicas e afins. Tudo déjà vu, comida requentada e mastigada! 11 dimensões, 12 dimensões, mundos paralelos... who cares?!

O aspecto verdadeiramente importante que está agora na agenda é o próprio cerne da ciência materialista contemporânea, que se baseia no axioma da anterioridade da matéria relativamente à consciência, sendo esta um mero subproduto daquela. Ora, a visão espiritual do Universo é aqui diametralmente oposta, advogando aquilo que a mim se afigura como a única posição inteiramente lógica e intuitiva, a saber:

The fundamental point is that life or consciousness cannot evolve from matter unless matter has the innate potential to provide life and consciousness (...) unless it is present in the beginning, even if not in a manifest form.

De um ponto de vista meramente filosófico nunca percebi onde é que está a dificuldade em aceitar algo tão simples e que entra pelos olhos dentro de qualquer pessoa que não esteja cega pelo preconceito da ignorância.

Logo, a César o que é de César, sabendo contudo que a convergência irá inevitavelmente acontecer e nem me parece que falte muito tempo para isso suceder... Pelo menos, a variável "consciência" já entrou nas fórmulas que pretendem descrever a realidade, logo, é só esperar que as contas não fiquem gatadas! :)

So... hello goodbye!... is God in the sky?! ;)

antfilfon disse...

leprechaun, o facto da consciência não existir sem a matéria não implica necessáriamente o contrário como está a afirmar, como também não impõe a inexistência de um tipo de 'deus' como o que é descrito por Einstein, muito pelo contrário. É precisamente por haver uma manifestação divina que escapa ao âmbito de uma consciência que não é omnisciente como a nossa, que Einstein informa que '...não podemos viver sem ele...'. Isto claro não quer dizer que ele necessáriamente exista, mas não quer necessáriamente dizer que a consciência é uma propriedade da matéria, como exemplifica na citação vitalista que diga-se de passagem há muito que está desactualizada, muito pelo contrário, a consciência não é uma propriedade da matéria, é por causa da matéria possibilitar, entre outras coisas a existência de consciências que podemos afirmar que elas existem independentemente dela.

Daniel Marinha disse...

Já conhecia Dawkins desde que tive a sorte de lhe ler "O Gene egoísta". Para quem gostar de ouvir falar quem sabe, pode aproveitar os video das conferências TED. Deixo o link para a última participação dele.

http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/113

Anónimo disse...

«unusual» não é inglês? foi publicado assim no "sol"?

c.m.

natenine disse...

Sou apologista do Design Intiligente mas nem por isso acredito que Deus tenha criado os fosseis!
Por falar em fosseis é de ver estas interessantes fotos, e ler o texto para quem quiser.
http://www.answersingenesis.org/get-answers/features/clock-in-rock

:: rui :: disse...

É assim tão difícil perceber que quando um ateísta menciona o nome de Deus, está a acreditar que Ele existe? Se não fosse assim, não mencionava algo que não existe para depois contrapôr com o seu argumento que não existe algo que não existe. Se não existe algo, não se pode contrapor com algo, ou então admite-se a existência desse algo que se quer contrapôr.

Toda a ciência é baseada no pressuposto que algo existe para ser estudado e analisado. Se não houvesse algo, não se poderia analisar o que não existe, e portanto, elimina-se a hipótese de desenvolver uma crença que o que existe pode ser analisado. A ciência basea-se em estudos de elementos materiais, visíveis e no presente e por muito que se creia que estes não são criados por alguém, é o mesmo que afirmar que alguém não criou, e portanto não se pode contrapôr com algo, pois se não foi criado por alguém, não existe. O que existe foi criado por alguém diferente do objecto/sujeito em questão. É o mesmo que dizer, acredita-se que alguém criou, o que difere da criação.

Se se afirma que Deus tem significados diferentes para pessoas diferentes, é porque algumas destas poderão não saber quem é Deus, no entanto afirmam que Deus existe senão não diriam a palavra Deus para a qual dão uma definição segundo a sua própria interpretação. Se descobrirem que o seu próprio significado é limitado à interpretação que fazem de Deus, poderão chegar a um ponto em que este significado não as vai fazer eliminar a existência dele nem tão pouco acrescentar mais a um significado já definido por Ele mesmo. Portanto, chegarão porventura a um mesmo significado, não havendo forma de contrapôr com o que quer que seja e o mesmo é dizer que Deus só pode ter um significado universal.

Realmente a falácia pré/pós confunde muito as questões, sendo que todos vão acabar por chegar ao mesmo entendimento, uns antes de chegarem ao entendimento racional, e outros tendo presente este entendimento racional e achando que não é suficiente, querendo dar um palpite pessoal sobre a questão. Quer um, quer o outro, adequam a razão ao âmbito pessoal, servindo o interesse mais a jeito. O que não dá jeito é acreditar fomos criados por Deus, seja qual for a interpretação de `acreditar`, `criação`, ou ´Deus`.
Como dizem os pós-modernistas: "Ninguém me diz o que devo fazer!" Algo que me soa a birra infantil.

Um bom domingo.

Carlos Fiolhais disse...

Já emendei o "unusual". Acho que foi
também emendado no Sol. É pouco usual dar erros destes, mas acontece. Obrigado pela correcção.

Fátima André disse...

Caro Carlos:
Permita-me discordar da afirmação do último parágrafo do seu post:
"Na acepção einsteiniana de “leis da Natureza”, não podemos nem poderemos nunca dizer adeus a Deus… Ele está mesmo em todo o lado e está para ficar!"
Não é bem verdade. O que está acontecer, relembro os últimos posts da Palmira sobre os acontecimentos em Dafur, é a confirmação de que a humanidade, há muito, vem dizendo adeus a Deus (há muitos exemplos destes na história da humanidade).
Independentemente do significado que lhe é atribuido, de um Deus mais pessoal ou de um deus na acepção de Einsten, muitos são os que dizem adeus a Deus.
Quem ama verdadeiramente Deus, não o expulsa da sua vida, nem destrói o que de melhor a vida contém, a própria vida humana.
Seja lá ele que Deus preside às nossas convicções, eu pessoalmente, não acredito num Deus
que aprovasse a destruição da humanidade. Tenho esperança que muitos penssem como eu e que façam qualquer coisita pela educação. Acho que é aqui que está a solução de muitos males, no poder da educação... ainda assim, me interrogo e tenho sérias dúvidas... (por ex. a Alemanha como pais desenvolvido que era, conseguiu deixar a maior nódoa na história da humanidade). Mas tenho algumas convicções e uma delas é a de que há valores universais e absolutos que é preciso transmitir aos nossos filhos, em casa, e aos nossos alunos, na escola.
Essa ideia peregrina que anda por ai de que os valores são relativos, construídos, subjectivos, equivalentes; de que os alunos possuem capacidade de auto-orientação no planos acxiológico; de que a escola não pode impor valores particulares, deve respeitar a liberdade de escolha... (Cf. LBSE-Lei49/2005 e DL6/2001), é falaciosa e dá no que dá... só pode conduzir à beira do abismo, senão mesmo ao abismo, como em Dafur.
Ab. Fátima

Fátima André disse...

Queira ainda acrescentar uma ideia que me escapou sobre a supramnecionada afirmação do seu post e que se prende com o termo utilizado: "poder". É que de facto o Homem tem poder para fazer opções, é um ser livre e poderoso (não o ponho no plano de Deus), indiscutivelmente poderoso. Pena é que nem sempre utilize esse poder para fazer o Bem... em nome de um Deus pessoal ou de um deus incogoscível mas admirável pela harmonia do mundo... fazem falta muitos outros Einstein...
Fátima

Anónimo disse...

Rui,
disse: "É assim tão difícil perceber que quando um ateísta menciona o nome de Deus, está a acreditar que Ele existe?"
Ok, vamos seguir este princípio! Vou falar de uma quantidade de coisas e, seguindo o argumento do Rui, isso significa que acreditamos: cavalos alados; pai natal; o Benfica ganhar campeonatos; garrafas de coca cola com crocodilos lá dentro; que o windows Xp criou o universo e não deus (a ideia é de Sam Harris); que eu estou a comunicar com seres de outros planeta e outra galáxia; que o universo acaba em portugal (esta hipótese é muito forte); que a matemática nasceu num terreno agrícola no novo méxico; que Coimbra fica em Lisboa,que o Hitler era um tipo fixe......
Se eu falo nisto e consigo imaginar, então, como sugere o Rui, tal existe.
e se eu terminasse afirmando "valha-me deus!", isso significaria que tal coisa ou entidade ou lá o que é, existe? Só se for por birra!!! :-)
Rolando Almeida

:: rui :: disse...

Anónimo, diga-me em que se baseia para dizer o que diz?

:: rui :: disse...

Desculpe, queria dizer Rolando, diga-me em que se baseia para dizer o que diz?

Anónimo disse...

Olá Rui,
Na verdade o Rui enunciou aquilo que já Pascal havia dito quando refere qualquer coisa como que desacreditar deus é já pressupor a sua existência.
A crença em deus pode não passar de uma atitude proposicional e , se assim é, podemos ter atitudes proposicionais (e temos) em relação a muitas outras coisas, incluindo as nossas fantasias. Normalemente, as nossas proposições não surgem isoladas, mas dependem umas das outras. O que acontece é que é falso pura e simplesmente afirmarmos que negar deus é afirmar a sua existência. O que acontece é que quando negamos a existência de deus, fazemo-lo em relação a proposições já existentes e que julgamos ser falsas. Vou tentar dar um exemplo simples: imagine que o Rui tem um carro amarelo. Se eu disser que o Rui tem um carro verde, não estou necessariamente a dizer que o Rui tem um carro amarelo. Só estou a pressupor que o Rui tem um carro e , face a esse proposição, tenho de admitir que o carro do Rui possui uma cor qualquer. posso pensar que é verde porque estou a fazer confusão, mas daí nao decorre que se o carro não for verde, tenha de ser amarelo. Logo, negar deus não constitui qualquer condição para afirmá-lo.
Fui claro?
Rolando Almeida

Anónimo disse...

Ó Aff:

Parece que temos aqui um caso de leitura apressada! O melhor é eu então traduzir essa citação em inglês, a qual se refere aos Upanishades e Vedas hindus, sendo estes as mais antigas escrituras conhecidas.

O ponto fundamental é que a vida ou consciência não pode evoluir a partir da matéria, sem que a matéria tenha o potencial inato de proporcionar vida e consciência (...) a não ser que ela esteja presente no início, mesmo se não numa forma manifesta.

Não sei isto é vitalismo ou não, nem tal tem importância alguma. O que se afirma acima pode não ser estritamente científico, já que equivaleria a dizer que o O e o H já são água em potencial ou algo assim parecido.

Mas essa frase significa que a consciência talvez possa existir sem a matéria ou, no mínimo, é contemporânea desta. Ou seja, a visão espiritual do mundo que eu partilho implica que a consciência NÃO é um mero produto da matéria altamente organizada, como defende a ciência materialista contemporânea. É que aqui não se está a falar da consciência humana, tal como a conhecemos, mas sim de uma manifestação muito mais primordial que pode coexistir em qualquer partícula/onda por infinitesimal que seja!

Esta nova concepção revolucionária é já defendida por alguns físicos quânticos teóricos, como Amit Goswami, Henry Stab, Fred Allan Wolf, Nick Herbert e outros, e pode deveras vir a inaugurar um novo paradigma científico no qual a consciência e o observador são parte integrante do processo do conhecimento e da realidade observada.

Em suma, o texto acima não deve ser lido como referido a qualquer consciência individual, mas muitíssimo mais a uma consciência universal comum a TODA a manifestação material neste universo!

Para uma compreensão mais profunda deste assunto, que interessa sobremaneira a quem tem uma visão espiritual do universo, leia-se o surpreendente "O Universo Auto-Consciente", de Amit Goswami.

Ah! Quanto ao vitalismo... Bem, se a consciência existe em cada ínfima partícula, então TUDO é vivo, e a única diferença é apenas a existência de vida orgânica ou biológica - animais e plantas - e inorgânica - reino mineral. Ou seja, a vida, tal como a consciência, não é o mero resultado da organização da matéria, fruto de uma longa evolução no tempo, apenas porque ela é já pré-existente a todo o universo material.

Obviamente, este é um ponto de vista anti-materialista quanto baste! Mas ao já admitir a criação "ex-nihilo", mesmo a ciência lá vai indo ao encontro da metafísica, porque não há mesmo outro remédio... it has to be, really! :)

antfilfon disse...

leprechaun, de facto não percebi inteiramente o seu ponto, mas mantenho o meu. A ideia de um 'elan' vital na matéria é absurda. Acontece que a matéria, em determinadas circunstâncias provoca fenómenos como o da consciência humana, em determinadas circunstâncias, e aí a teoria da evolução parece que tem um papel importante. Agora questões quânticas ligadas à consciência e ao seu aparente indeterminismo, já muito foram debatidas, veja-se Roger Penrose e o seu calhamaço 'The emperors new mind' e a mistura que faz entre computadores, física quântica, godel, e uma miscelânea de coisas complicadas que soavam muito bem quando a neurologia ainda não se tinha debruçado sériamente sobre este problema. A neurologia hoje já sabe 'do que é feita' a consciência só ainda não sabe como ela funciona. Mais tarde ou mais cedo saberá. Mas haverá sempre um hiato epistemológico entre a consci~encia da terceira pessoa e a consciência na primeira, e por isso não é apor aí que tudo terá inevitávelmente uma explicação.

:: rui :: disse...

Rolando, a questão é que tu não pareces estar a desacreditar algo, pois esse algo para ti não existe e portanto, não poderias desacreditar o que não existe. As proposições realmente dependem umas das outras, mas se forem lógicas e racionais e não uma série delas criadas para "encaixar" na questão. A imaginação é fértil nessa questão e quando não há bases para explicar o que for, então esta não tem limites e tudo serve para negar uma questão básica. Dizes que é falso afirmar que negar Deus é afirmar a sua existência. A questão é que nem sequer o podes dizer dessa maneira. Não se pode negar o que existe, pois realmente é afirmar que o que se nega, existe. Quando digo que "Não tenho carro.", afirmo que não tenho algo que existe. Carro existe, eu é que não tenho um. Quando digo que "Nao te conheço", afirmo que realmente não te conheço pessoalmente, mas existes. Quando digo "Não existe Deus", afirmo que não existe algo que existe. Deus existe, eu é que digo que não existe. Acrescentamos-lhe então expressões "falso", "não se vê", "não está provado científicamente" e outras mais, mas isso não necessariamente faz com que Deus deixe de existir. Deus está acima de todas as coisas, é infinito e intemporal e afirmar o contrário é querer colocar-se no papel de Deus, o que não é possível pois ninguém é absolutamente contrário de modo que possa provar que Ele não é o que é, por mais que se escreva livros e livros sobre a questão. E depois, é isso mesmo, não me disse em que se baseava. Como alguns dos pressupostos sobre os quais regula a sua vida, são baseados em pressupostos desenvolvidos na Biblia, proponho que a leia, pois mais básico que o que nela está escrito, não há. Se afirmares que o que está lá escrito não é a verdade, então não estarás a dizer que a verdade não existe, simplesmente não achas que está lá escrita. Então considera pensar que vives em negação pois é de lá que tudo parte. Tudo mesmo.

Anónimo disse...

Olá Rui,
estava a tentar argumentar, discutindo racionalmente, mas com o Rui não funciona. O Rui limita-se a dizer-me para ler a Bíblia para acreditar em deus. Também lhe faço um convite: como sou do FC Porto e me custa admitir quando o Benfica é melhor, convido-o a ler o livro do Pinto da Costa e ver que, factualemente, o FCP é o melhor que há. Faz-lhe sentido? Também a mim não faz qualquer sentido.
Mas acho estranho que o Rui me convide a ler a biblia para ver que as bases e fundamentos da minha existência e vida real, estão lá. Questiono-me se o Rui me está a convidar para ler um livro que o próprio Rui nunca leu. È que a bíblia, o livro de inspiração divina, incita aos crimes mais hediondos que possa imaginar. Por exemplo, se ler o livro Deuteronómio, imagine que o que lá diz é levado a sério!!! O Rui terá de apedrejar infiéis publicamente até à morte. E este princípio, entre centenas de outros, não orientam de forma alguma a minha conduta, nem a do Rui. Aliás, tanto o Rui como eu, como qualquer cidadão ocidental, não cumpre 99,9% do que refere a bíblia. É estranho que me venha dizer que a bíblia orienta toda a nossa vida.
Para terminar, o Rui afirma:

«Deus está acima de todas as coisas, é infinito e intemporal e afirmar o contrário é querer colocar-se no papel de Deus, o que não é possível pois ninguém é absolutamente contrário de modo que possa provar que Ele não é o que é, por mais que se escreva livros e livros sobre a questão.»

Esta posição dogmática liquida qualquer possibilidade de discussão racional o que, como deve compreender, não partilho. Mais uma vez lhe digo, seria o mesmo que eu me por aqui a afirmar:

«O Pinto da Costa está acima de todas as coisas, é infinito e intemporal e afirmar o contrário é querer colocar-se no papel do Pinto da Costa, o que não é possível pois ninguém é absolutamente contrário de modo que possa provar que Ele não é o que é, por mais que se escreva livros e livros sobre a questão.»

Se a bíblia orientasse de forma racional as nossas vidas, pelo menos seria justo assumir que não é muito biblíco impor pontos de vista precisamente num espaço criado para que eles se discutam.

Rolando Almeida

Anónimo disse...

Aff:

O "meu" ponto de vista... ou melhor, o de Goswami e outros... é demasiado radical, indeed! Muito mais do que a gnoseologia de Princeton, embora de facto a neurologia também seja para aqui chamada, sim!

Já o expliquei acima, mas posso pô-lo ainda de maneira mais chocante. Aí vai:

Se a consciência é a realidade primária, então TODAS as coisas... vazio incluído!... são feitas de consciência, por assim dizer!

Ou ainda, a partícula/quantum indivisível, a vibração/onda primordial ou o mais que lhe quisermos chamar nada tem de material mas é pura consciência... whatever that may be!

É da consciência que surge a matéria/energia e NÃO o contrário, conforme o paradigma materialista em que fomos educados!

Afinal, esta não é uma visão nova, claro, para além das escrituras do Oriente também os filósofos idealistas, como Plotino ou Berkeley disseram o mesmo, de uma ou outra forma.

Actualmente, a Psicologia Transpessoal de Stanislav Grof e o físico quântico Amit Goswami levantam de novo esta hipótese, alçando-a ao campo científico... ou pelo menos têm essa pretensão!

Ou seja, a realidade NÃO é inteiramente objectiva mas sim co-criada pela consciência do observador! Nesse sentido, somos deveras deuses... sem o sabermos!!! E, ao que parece, tal pode ser matematicamente comprovado, mas aí já não me meto que o meu saber não chega a tanto... ;)

E a neurofisiologia... Damásios e afins... também é para aqui chamada. Será a consciência um mero epifenómeno do cérebro humano?! Meaning... does it cease when the body dies... does it, really?! :)

No limiar de um novo paradigma...

Rui leprechaun

(...Rerum Natura, ó que enigma! :))

:: rui :: disse...

Aqueles que perceberam toda esta questão cantam coisas deste tipo e falando de Deus:

"You give me joy that's unspeakable
And I like it
Your love for me is irresistible
I can't fight it
You carried the cross and took my shame
I believe it
You shine your light of amazing grace
I receive it"

Realmente é estranho como há quem ache que "esta posição dogmática liquida qualquer possibilidade de discussão racional".

Uma boa noite.

antfilfon disse...

leprechaun, a sua teoria aproxima-se do construtivismo radical e é por definição verdadeira, não o pode ser de outra forma, mas é muito pouco produtiva em termos de conhecimento. Acho o construtivismo radical de Maturana e Varela uma teoria muito plausível e até com grandes implicações éticas e na pedagogia mas que é contraproducente em determinados aspectos contra positivistas. Prefiro acreditar que uma consciência pode conhecer para lá de si própria porque uma consciência nunca existe sem outras.

Anónimo disse...

Sendo assim, porque é que deus não fez tudo em ovelhas? Afinal aparentam questionar-se muito menos em relação à sua existência e o problema do pão nosso de cada dia seria de muito mais fácil resolução já que as gramíneas cobrem uma parte considerável do planeta.

guida martins

Anónimo disse...

Construtivismo radical?! Mas que extremo natural! ;)

Prefiro acreditar que uma consciência pode conhecer para lá de si própria porque uma consciência nunca existe sem outras.

Certo, Aff! É que aqui NÃO se fala da consciência meramente individual do sujeito, mas de uma Consciência única, por assim dizer e... pasme-se!... não-local!!!

Bem, aparentemente isto soa muito místico ou idealista, sim, consciência cósmica ou universal... mas é isso mesmo! A substância primordial do universo, será?! I guess so... will we ever know?!

Só mais uma achega:

O cenário idealista do colapso quântico depende de a consciência ser não-local. Diante disso, impõe-se perguntar se há alguma prova experimental da não-localidade. Temos sorte. Em 1982, Alain Aspect e seus colaboradores da Universidade de Paris-Sud realizaram um experimento que demonstrou conclusivamente a não-localidade quântica.

Goswami descreve em seguida de que modo esta experiência soluciona o paradoxo EPR (Einstein-Podolsky-Rosen), que aliás Bohr logo tinha desmontado, através da não-localidade ou inseparabilidade
básica dos objectos quânticos.

A propósito, cito o parágrafo final de um artigo sobre a controversa não-localidade:

It's not clear how the question of whether, on the one hand, nonlocality is utterly extraordinary, and paradigm shifting, or on the other hand, just the way things are, can be decided. But it does seem to be an issue that causes a lot of people to get quite excited, and to avow that quantum physics proves what mystics have been telling us all along, and equally it seems that this causes other people to become quite irritated, and say, for example, that the argument - quantum physics has found some strange and inexplicable things, and consciousness is another strange and inexplicable thing, probably they're connected -, is in no sense a scientific argument. There is a strong tendency for mainstream physicists to disavow metaphysical speculation connected with this issue, which in turn leads those who are already convinced of what can loosely be described as "a spiritual" view of the universe, to suspect that mainstream science has a materialist bias, and is "covering up" the significance of recent findings.

É que o realismo materialista há muito está ferido de morte e a estocada final já está à vista... e o idealismo monista surge de novo à conquista!!! :)

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