sexta-feira, 13 de abril de 2007
UMA VERDADE INCONVENIENTE
Uma das minhas últimas crónicas do "Sol":
Sou um privilegiado. Sim, eu estava entre os que foram eleitos para ouvir a “verdade inconveniente” do ex-futuro Presidente dos Estados Unidos Al Gore. Estive, portanto, sob o efeito de uma poderosa fórmula que envolve ciência, política e comunicação. Já conhecia a “verdade” do filme (que já chegou ao mercado de DVD) e do livro (edição da Esfera do Caos), mas não há nada como um espectáculo ao vivo…
Se o verdadeiro artista é aquele que se esforça, Al Gore é um verdadeiro artista. Durante hora e meia, como um actor bem ensaiado (ora dramático, ora cómico, ora subindo ora baixando os decibéis da voz), anunciou o fim próximo da vida na Terra devido ao aquecimento global assim como os meios de que dispomos para o evitar. A conclusão foi que podemos ainda arrepender-nos: “a vontade política é um recurso renovável”.
O que ele disse está correcto no essencial. De facto, chegou-se a um consenso na comunidade científica de que o aquecimento global é provocado por emissões artificiais de dióxido de carbono e que é possível controlar essas emissões (o livro ostenta o rótulo de “carbono zero”, o que significa que a emissão gasosa provocada pela sua manufactura foi compensada por nova florestação). Só os apaniguados mais fiéis do inefável Presidente Bush não concordarão. Confesso que ouvir as últimas notícias da ciência pela boca de um alto dirigente político, ainda que derrotado, é consolador. E confesso também que fiquei a pensar na teoria do caos: teria bastado uma mão cheia de votos para salvar o planeta?
Mas, se estou de acordo com a mensagem, causou-me perplexidade o modo como o mensageiro a empacotou. Gore veio ao serviço de uma gigantesca operação de marketing e serviu-se de um enorme conjunto de “dianegativos” (tão negro é o retrato!) cujo propósito é impressionar o olho do espectador. Discursou num tom de comício, por vezes mesmo de sermão, que não admite a menor dúvida. A sua vigorosa mensagem tem uma base científica sólida. Há, contudo, uma verdade inconveniente: O envelope da mensagem, que combina comércio, publicidade, retórica e conversão, pouco tem de científico…
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10 comentários:
Se essa é uma verdade incoveniente, que conveniência se dá à verdade da Palavra de Deus?
para um blog sobre ciência, este post tem uma boa dose de política. tal como o filme do al gore; que ciência parece não ter nenhuma: o conceito de barras de erro associadas a medidas não existe, são feitas afirmações cientificamente incorrectas e o apelo à histeria e ao pânico é notável...
ficando-me por poucos exemplos, al gore não percebe que correlação não implica causalidade (existindo correlação medida entre níveis de CO2 e temperatura, não existe causalidade: no passado sempre subiram os níveis de CO2 após o aumento da temperatura ---e depois do aumento dos níveis de metano---, nunca aconteceu o inverso) e não se preocupa em recordar factos que contradizem as suas previsões catastróficas (quando dá a sua visão apocalíptica do aumento do nível do mar, esquece-se que este tem sido medido ao longo dos anos e sabemos hoje que este aumentou 2mm/ano nos primeiros 50 anos do século XX, mas apenas 1.5 mm/ano nos últimos 50 anos desse mesmo século, em média, mais ou menos algum erro).
fazer ciência não é fazer o consenso e muito menos fazer política, e temos que ter algum cuidado científico ao defender o aquecimento global antropogénico. se também se fala agora de aquecimento global em marte, talvez fosse interessante discutir antes algumas experiências que se preparam no CERN para medir a correlação entre actividade solar, raios cósmicos e formação de nuvens --- com influência directa no clima terrestre. parece-me que, pelo menos nesta experiência, a física estará ao seu melhor nível, com barras de erro e tudo! :-)
quanto a emissões zero de CO2, penso que isso não seria muito benéfico para a vida no planeta --- sufocávamos todos... ;-)
O Ricardo Carvalho tem uma nova teoria: o efeito estufa não é causado pelas moléculas de dióxido de carbono nem pelo metano. Desmente-se o trabalho de milhares de cientistas do mundo inteiro com duas frases e três vírgulas. Caso a fragilidade científica do IPPC seja assim tão evidente porque é que nos últimos nenhum cientista publica um artigo mostrando que não há alterações climatéricas ?
João Vaz
Embora compreenda e partilhe as dúvidas deste post, penso que temos de ter uma atitude mais tolerante para com o "marketing" de Al Gore.
Al Gore não é um cientista, é um político. E os políticos muitas vezes jogam sugo. Aliás, se calhar, Gore até perdeu as eleições de 2000 por não ser suficientemente político, nesse sentido sujo do termo.
Ora, para nós cientistas é fácil defender de dentro dos nossos gabinetes e laboratórios a pureza do método científico, onde só nos temos de confrontar com outros jogadores que seguem as mesmas regras.
Mas Al Gore, ao entrar na arena política, vai ter de jogar contra quem joga sujo, mesmo muito sujo. Vai ter de enfrentar lobbies petrolíferos que financiarão toda a pseudo-ciência que precisarem para o rebater. Vai enfrentar políticos que ameaçarão com o fim do "American Way of Life", se Quioto for assinado, vai ter de advogar medidas imediatamente impopulares em defesa de benefícios que não saltarão à vista do comum dos mortais.
Por isso, compreendo que "para vender o seu peixe", Al Gore não possa andar a passar gráficos com barras de erro e percentagens de confiança. Seria assim, se vivêssemos numa sociedade científica e todos os eleitores tivessem, pelo menos, um segundo ano universitário de física. Mas não vivemos e, por isso, às vezes é preciso agitar uns papões.
Citando um exemplo passado, a Revolução Verde impediu os cenários de calamidade e fome generalizada no mundo que se previam há 40 anos para o início do Século XXI. Mas será que esses cenários alarmistas de então não contribuiram para alertar o público e, assim, incentivar a investigação que conduziu à Revolução Verde e salvou milhares de milhões de pessoas da fome?
Olá a todos
Eu acho que o Carlos tem razão: o próprio modo como se transmite as ideias é importante. Sobriedade, distanciamento e seriedade são muito importantes porque estimulam da parte do ouvinte uma atitude crítica, mas reflectida, e não a histérica rejeição ou aceitação bovinas.
Gore só escolheu uma encenação, muito habitual nos states, próxima das adoptadas por políticos e religiosos, justamente para impressionar os auditórios e, até, para justificar os "cachés" milionários que recebe para cada conferência, não?
Al-Gore soube muito bem aproveitar os seus dotes de excelente orador(certamente aprendidos ao longo da sua carreira politica)para expõr de uma maneira simples o aquecimento global..O problema é que uma parte dos argumentos utilizados ao longo do documentario não são completamente verdadeiros, e por vezes até empolados..Claro que alguem que esteja mais por dentro deste assunto e tenha conhecimentos cientificos nesta área sabe perfeitamente que muito do que Al-Gore disse não é totalmente verdade. Por um lado é bom que Al-Gore tenha exagerado, porque só quando algo toma dimensões catastróficas é que as pessoas costumam acordar, mas por outro há que ter em conta que não se pode andar a mentir a todo o Mundo acerca do que realmente está a acontecer..Para despertar a consciência colectiva para o aquecimento global será necessário um grande abanão..Apesar de tudo,Al-Gore encheu-se de coragem e enfrentando muitos interesses deu o primeiro passo!Como se diz na minha terra, ele tem "peito pra balas"!
discordo completamente da ideia do "vale-tudo" para transmitir uma mensagem científica, pois a primeira coisa que se deixou cair em toda esta história foi precisamente a palavra "ciência". neste momento a mensagem tem muito mais de política do que outra coisa qualquer. nesta linha, acho que há alguns reparos relevantes:
convém fazer notar que o IPCC tem mais de política do que de ciência, ou não fosse necessário reuniões políticas para decidir sobre os conteúdos a apresentar nos seus relatórios.
convém fazer notar que ciência não é nem nunca foi "consenso".
para quem se quiser informar, o artigo original do mann sobre a curva hockey stick, e que originou toda esta histeria nos anos 90, tem sérios erros de análise estatística (como mostrado por mcintyre and mckitrick recentemente).
(por falar em anos 90, onde ficou a histeria dessa altura relativa ao buraco do ozono? e já agora onde ficou a histeria dos anos 70 relativamente ao arrefecimento global??)
para quem quiser pensar, a terra no passado já teve períodos bem mais quentes e bem mais frios que o actual (mesmo recentemente, com o óptimo climático da altura dos vikings e a mini-idade de gelo da segunda metade do segundo milénio). certamente, modelos que não explicam essas variações de pouca utilidade são para fazer futurologia.
a primeira coisa que devemos fazer, enquanto cientistas, é não tratar os leigos como idiotas, e achar que temos que falar como que para crianças de 5 anos. ao fazermos isso minamos antes de mais qualquer hipótese de uma futura sociedade com maturidade científica. e damos um tiro no pé ao passar a fazer política ao invés de ciência (como aqui é defendido numa série de comentários).
infelizmente, poucas são as vozes da razão neste tema do aquecimento global...
Incrivel como ainda tem cientistas que ainda acham que a ciencia é neutra, acordem!!
Bem, eu acho que Al Gore, teve muita coragem em realizar este filme. Respeitando aas criticas aqui ditas, acho que o filme nao foi um exagero. é preciso uma boa dose de realidade para acordar a população, pois o que estamos a viver não é bricadeira. Al gore encontrou uma placa de gelo com 30cm e outra com 9cm!Inacreditavel tendo em conta que os glaciares têm um papel importantissimo nos nossos ecossistemas. Concordo que também inseriu um pouco de politica, mas cheios e baseado em facto cientificos.Apresenta gráficos e tabelas reais.A prova é as catastrofes naturais e os glaciares que ja se extinguiram. com os melhores cumprimentos.
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