domingo, 1 de abril de 2007
HÁ GRANDES CIENTISTAS PORTUGUESES?
Minha crónica que saiu na última edição do semanário "Sol":
Numa altura em que está tanta gente escandalizada com a entronização de Salazar como o maior dos portugueses, venho declarar que não estou. O formato do programa era para dar o que deu. Quando a máquina é de fazer salsicha a partir do porco, é óbvio que, quando entra porco, sai salsicha.
Os mais sarcásticos dizem que somos um país pequeno e, portanto, não pode haver grandes portugueses. Julgo que há, embora eles não possam ser escolhidos por aquele processo. No entanto, como as regras do jogo são semelhantes, é interessante comparar o resultado português como o que foi apurado noutras nações, nomeadamente as mais desenvolvidas. Ganharam Winston Churchill, na Inglaterra, Charles de Gaulle em França, Konrad Adenauer na Alemanha e Ronald Reagan nos Estados Unidos da América. Em comum têm o facto de terem sido dirigentes políticos no século XX. Mas nenhum deles desfrutou de tanto poder interno como Salazar.
Somos, de facto, diferentes... É curioso que no “top ten” português não tenha aparecido nenhuma mulher, ao contrário do que ocorreu nos referidos países. E é também curioso que não apareça nenhum cientista, também ao contrário desses países. Na Inglaterra ficou Charles Darwin, na França Louis Pasteur, Madame Curie e Jacques Yves Cousteau (a nação mais científica neste concurso, pois Pasteur até teve o segundo lugar), na Alemanha Albert Einstein e na América Benjamin Franklin.
Há grandes cientistas portugueses? Apesar de António Egas Moniz (em 23º), Pedro Nunes (32º), António Damásio (41º), etc. terem figurado no “top 100”, eles não foram apurados para a final. A razão? Há várias, mas talvez uma seja a insensibilidade em relação à ciência de que o vencedor deu mostras e nos legou. Há um caso bem revelador: em 1949 o Director da Emissora Nacional levantou um processo disciplinar aos jornalistas-locutores que abriram o jornal radiofónico com a notícia da atribuição do Prémio Nobel da Medicina a Egas Moniz. O Director explicou de uma maneira muito crua: “Egas Moniz, com Nobel ou sem Nobel, é um filho da puta da oposição!”
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7 comentários:
Em relação ao egas Moniz acho que não é tanto «com Nobel ou sem Nobel, é um filho da puta da oposição» é mais « com Nobel ou sem Nobel, é um filho da puta que inventou a lobotomia».
É injusto mas é verdade que o Nobel de Egas Moniz é o único contestado organizadamente em toda a história do Nobel. Há mesmo um grupo que exige que ele seja retirado da galeria dos Nobel.
parece-me que na linha do comentário da rita, rapidamente acabamos a insultar einstein por ter, através do seu trabalho, aberto o caminho ao desenvolvimento da bomba atómica. isso não faz qualquer sentido: a ciência é o que é, usá-la de forma melhor ou pior é da responsabilidade de todos. quanto ao egas moniz, recordemos o que diz a wikipedia:
" [...] In 1927 he developed cerebral angiography, the technique of using x-rays to visualize arteries and veins that are transiently opacified with the injection of a high density agent. This procedure would allow physicians to map blood vessels in and around the brain, permitting the diagnosis of several kinds of neurological disorders, such as tumors and arteriovenous malformations. He received the Oslo Prize for this discovery. The method is widely used today for the diagnosis of brain tumors and vascular diseases in the brain and other organs. It saved thousands of lives.
In 1936, Egas Moniz and his associate Almeida Lima developed for the first time a surgical technique to interrupt the nerve fibers which connect the thalamus (a relay for sensory information coming into the brain) to the prefrontal cortex (already known at the time as a brain structure involved in higher intellectual functions of the brain, and in emotions, as well). His technique was widely used around the world in the next decade, and Moniz received many honours and international recognition, culminating with the Nobel Prize.
His work also attracted controversy and moral concerns. His surgical approach subsequently fell into disrepute, partly due to Walter Freeman in the US who slightly modified the technique and used it indiscriminately. [...]"
Rita:
Sem crer entrar em discussão, porque não tenho conhecimentos científicos sobre o assunto, quero apenas dar a conhecer um vídeo sobre a vida de Egas Moniz, que está disponível no Youtube e o sitio na web da sua Casa Museu.
http://www.youtube.com/watch?v=E0WX4-wqgFo
http://museuegasmoniz.cm-estarreja.pt
Penso no entanto que, se com os conhecimentos de hoje, tal descoberta não tem mérito, o que é certo é que naquela altura foi considerada genial e daí o prémio.
Ricardo e atento:
Eu disse é «injusto mas é verdade». A maior parte das pessoas não sabe o que Egas Moniz fez para além da lobotomia. Muito menos os que votaram na besta do Salazar.
Se não me engano até nos TACs ao cérebro se usa ainda hoje o contraste com iodo.
Não sei até que ponto se poderá dizer que não houve um cientista entre os 10 primeiros.
O Infante D. Henrique deu início em Portugal ao que foi talvez a única escola de elite que Portugal já teve, no seu contexto histórico.
O que ele fez, penso que se assemelha ao de criar uma NASA, nos dias de hoje.
Mesmo sem pensarmos nos seus contributos científicos pessois, foi sem dúvida um grande gestor de ciência.
Hoje, possivelmente, temos mais falta de gestores de ciência do que de cientistas em Portugal.
Cara Rita,
Sobre o seu comentário:
"é mais « com Nobel ou sem Nobel, é um filho da puta que inventou a lobotomia»."
Parece-me despropositado, e mais ainda se nos lembrar-mos qual a origem dos prémios Nobel.
Já agora se dissessemos:" F. da P. do Nobel que inventou a dinamite com que se mata tanta gente"? E podiamos continuar por aí fora, em relação a tudo o que seja utilizado para fazer o mal.
Concordo com o Jose Luis Malaquias.
Aceitando participar no jogo
dos melhores portugueses (seria só
um jogo), o Infante D. Henrique deveria ganhar. Embora o Luís de
Camões lhe pudeesse dar luta...
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