A Nature de hoje tem um artigo muito interessante, «Effect of natural iron fertilization on carbon sequestration in the Southern Ocean» - comentado também por Quirin Schiermeier - sobre o tema que tem inflamado as nossas caixas de comentários, as alterações climáticas.
O artigo pode ser considerado um tributo póstumo ao pai da «Hipótese do Ferro», o oceanógrafo John Martin, já que os os autores sugerem que «alterações no suprimento de ferro por parte das águas profundas - como invocado em alguns cenários paleoclimáticos e de alteração climática no futuro -, pode ter um papel mais significativo que o pensado previamente».
Induzindo mistura vertical nas águas próximo de Kerguelen, um arquipélago entre a Austrália e a África do Sul, os cientistas descobriram que o fitoplâncton criado pode remover dez vezes mais dióxido de carbono, CO2, que o que se supunha, isto é, cada átomo de ferro fornecido permite remover cem mil moléculas de CO2.
O fitoplâncton é constituído por organismos unicelulares que povoam as camadas superficiais (até cerca de 100 metros) de todos os corpos de água. Estes organismos vegetais constituem o primeiro elo do complexo sistema alimentar aquático já que (foto)metabolizam o dióxido de carbono, libertando oxigénio e consumindo outros nutrientes, como nitratos, fosfatos, silicatos e oligoelementos (ferro, molibdénio, cobalto, vanádio, cobre, manganês e zinco). Toda a fauna aquática deve a sua subsistência, de forma directa ou indirecta, à multiplicação celular destas plantas microscópicas (diatomáceas, flagelados, dinoflagelados, etc.). Mas nem todo o fitoplâncton é consumido por outras formas de vida e quando morre acumula-se no fundo do mar, sequestrando carbono. Assim, os oceanos são o maior tanque de carbono da Terra, armazenando-o via uma bomba de solubilidade mas também via uma bomba biológica.
Nos mares temperados, em que as mudanças de estação são muito marcadas, produzem-se períodos de crescimento e declínio rápidos das populações. Na Primavera, a maior luminosidade permite um crescimento exponencial do número de células de fitoplâncton (florescimento ou bloom primaveril). No Inverno, não obstante a forte mistura vertical no oceano que liberta nutrientes do solo do oceano, a baixa luminosidade limita o crescimento. Mas existem grandes regiões dos oceanos, as zonas HNLC (high-nutrient, low-chlorophyll) onde o ferro não se encontra em quantidades suficientes para que o fitoplâncton se desenvolva, qualquer que seja a estação do ano.
A estimativa da biomassa (clorofila-a) através de sensores remotos, do SeaWiFS e MODIS, pode ser complicada porque a luz é reflectida nas carapaças de carbonato de cálcio de algumas formas de fitoplâncton, por exemplo diatomáceas e cocolitoforídeos. Existem alguns projectos, como o PATEX (PATagonian EXperiment) que contribuem com dados que ajudam a calibrar o mapeamento da biomassa fitoplanctónica através de satélites, permitindo assim esclarecer detalhes do ciclo de carbono e libertação de DMS (sulfureto de dimetilo) na região referida. O que por sua vez possibilita o desenvolvimento de modelos climáticos mais fiáveis.
Este estudo - e restantes «sementeiras de ferro», todas experiências muito bem delimitadas e controladas - fornece informações inestimáveis na compreensão das sinergias com efeito climático que operam na biosfera marinha. De facto, pelo seu papel no sequestro de carbono e na produção dos componentes dos aerossois de sulfato, que afectam o albedo terrestre e a nucleação de nuvens, é fundamental a compreensão da dinâmica destas algas.
Os resultados hoje apresentados constituem assim informação muito valiosa no estudo de alterações climáticas passadas, presentes e futuras, nomeadamente suportam a hipótese de que a diminuição do CO2 atmosférico em idades glaciares se deve ao depósito nos oceanos de poeiras ricas em ferro. Não constituem uma possível panaceia para o aquecimento global! Pessoalmente considero fundamental que todos nos apercebamos que somos um contributor não despiciendo para as alterações climáticas e que é necessário mudar (maus) hábitos, nomeadamente é necessário fazer algo para salvar os nossos oceanos. A National Geographic de Abril é elucidativa sobre o tema.
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1 comentário:
Pal,
No último post do Jorge sobre CO2 / AG, assistimos ao que para já tanto pode ser uma nota de suicídio como uma defenestração e aproveito o insólito para saudar, por contraste, o estoicismo sereno com que a Palmira se tem imunizado às oscilações de pH, agradeça-me algumas, nesta coisa da blogosfera.
O Dério advertiu-me há dias para o risco da "arrogância ignorante" - logo eu, que odeio pleonasmos - pelo que reencaminho um pedido sério aos seus colegas de que não cedam, ainda por cima diante de todos, aos maus hábitos que atravancaram as nossas universidades com faiança heritage em vez de inteligência humilde.
Sobre o seu post, estou em bela concordância. Haveria, além do respeito pelo mar, duas disciplinas obrigatórias para a formação de um cidadão completo que se deveriam acrescentar ao currículo básico:
-Visita às Capitais dos Mercados Emergentes e Olhar para Cima Para Baixo e Para o Lado;
- Beber um Copo da Torneira Num País do Terceiro Mundo; (optativa. O aluno poderia escolher Pagar a Conta de Água de Um Campo de Golf Para Inglês Ver)
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