quinta-feira, 26 de abril de 2007

VALE A PENA LER


"Uma Ilha na Lua", escrito em 1784-1785, é uma curiosíssima sátira do inglês poeta, pintor e visionário William Blake (Edições Antígona, Lisboa, 1996, tradução, prefácio e notas de Manuel Portela). Comemoram-se este ano os 250 anos do nascimento de Blake.

Blake satiriza neste livro a ciência com um grande espírito de humor. Transcrevo o Capítulo X, que descreve uma demonstração de química mal sucedido (Gás Inflamável é o químico inglês Joseph Priestley, um dos descobridores do oxigénio). A ciência sempre teve os inimigos. Mas nenhum dos modernos inimigos da ciência tem tanto humor como este Blake...



Assim passavam estes ditosos Ilhéus o tempo. Mas a felicidade nunca dura muito, pois estando reunidos em casa de Gás Inflamável, o Catavento, deram-se os seguintes acontecimentos.

“Anda daí, Flamável,” disse Lenga Longa, “& vamos divertir-nos. Traz-nos a Bonecada.”

“Calma aí,” disse ele, “tu-devi-ora-tu, tu. Como é que podes ser tão tonta? Ah! Ah! Ah! Ela chama bonecos aos experimentos.”

Subiu depois as escadas & carregou a criada com lentes, & tubos de latão, & imagens mágicas.

“Venham, senhoras & senhores,” disse ele, “Vou mostrar-vos um piolho, ou uma mosca, ou uma borboleta, ou um escaravelho, a omoplata de uma espinhela. Não, não. Aqui está uma garrafa de gás que apanhei na latrina e, ó meu Deus, ó meu Deus, a água entornou-se sobre as lamelas! Olha para isto, Lenga Longa! Empresta-nos o teu lenço, Tiro Léria.”

Tiro Léria puxou do lenço, o que ainda foi borrar mais a lente. Em seguida Gás Inflamável aparafusou. Retirou as lamelas, & focou as lentes para as senhoras verem as imagens. Assim esteve ocupado & ofegante por um bocado. Enquanto Tiro Léria & Ardebardo bombeavam com a bomba do ar – nisto, Craque, a lente estalou.

“Olha que diabo!”, disse Tiro Léria.

Gás Inflamável voltou-se de repente para trás & atirou com a mesa ao chão – lá foram as Lentes & as Imagens, partiram-se os frascos de gás, & espalhou-se a Pestilência. Ao ver a Pestilência sair do frasco, desatou a correr para fora da sala & a gritar:

“Saiam! Saiam! Estamos putrificados! Corrompidos! Temos os pulmões consumidos com o Flogisto. Depressa se vai espalhar uma peste por toda a Ilha!”

Foi o primeiro a chegar ao fundo das escadas. Atrás deles vieram todos os outros a monte.

Assim não é preciso dizer-lhes para se porem a andar.


3 comentários:

Anónimo disse...

hilariante! não conhecia. vou comprar,

Anónimo disse...

http://www.amazon.com/THOUGHT-GANG-Tibor-Fischer/dp/0684830795/ref=sr_1_1/104-3738017-8359104?ie=UTF8&s=books&qid=1177630037&sr=1-1

Anónimo disse...

Mas atenção, que o iconoclasta Blake não era mais meigo com a Religião do que feroz com a nascente Ciência então!!!

Por exemplo, no seu livro "The Marriage of Heaven and Hell" há os seguintes "provérbios infernais":

Prisons are built with stones of Law,
Brothels with bricks of Religion


As the caterpillar chooses the fairest leaves to lay her eggs on, so the priest lays his curse on the fairest joys.

Este idealista libertário louvou o pensamento unitário, no seu autêntico sacrário: o Divino Uno e vário!!!

And all must love the human form,
In heathen, turk, or jew;
Where Mercy, Love, & Pity dwell
There God is dwelling too.


To see a world in a grain of sand
And heaven in a wild flower
Hold infinity in the palm of your hand
And eternity in an hour.



E muito em breve todos saberemos...

Rui leprechaun

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