Os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», com excepção da surrealista teoria dos anjos, da autoria de Robert Newman.
O autor deste modelo genuina e absolutamente IDiota colaborou com William Dembski, Michael Behe, Philip Johnson e associados no livro «Mere Creation: Science, Faith & Intelligent Design». É ainda co-autor de «What's Darwin Got to Do with It?: A Friendly Conversation about Evolution» um livro de banda desenhada que pretende introduzir os conceitos (?) da IDiotia aos mais jovens. Ou seja, é um reputado ideólogo do desenho inteligente.
Não obstante pertencer ao multi-oxímoro Instituto de Investigação Bíblica Interdisciplinar, - de que é um dos mais prolíficos autores - Robert Newman pretende ser, como todos os IDiotas, um proponente «científico» e não teológico da IDiotia. Aliás, escreveu um artigo sobre má ciência, do qual transcrevo o resumo:
«Devido à tensão que se desenvolveu entre as comunidades científica e evangélica no último século e meio, os crentes na Bíblia têm muitas vezes (com ou sem razão) suspeitas acerca das descobertas e teorização da ciência moderna. Isto levou a uma atracção bastante generalizada por teorias que são vistas como tretas por cientistas e outras pessoas cultas. Neste artigo são discutidos alguns exemplos e propostas estratégias que protejam os cristãos de parecerem desnecessariamente cretinos aos olhos do mundo».
Apesar de ser louvável o seu reconhecimento do ridículo em que incorrem os cristãos que pregam a literalidade da Bíblia, Newman não segue o seu próprio conselho e elabora o modelo mais cretino de explicação da origem e evolução das espécies de que já ouvi falar.
O autor elabora sobre um facto «científico» que tem sido descurado na explicação do mundo, a acção de anjos, de Satanás e seus acólitos, num artigo intitulado «Rumors of Angels: Using ID to Detect Malevolent Spiritual Agents» (disponível também em powerpoint), em que discute o tema anjos (o que inclui os «caídos») como explicado pelo resumo:
«Desde 1900, a maioria das discussões sobre a acção de Deus na natureza ignora a actividade angélica, talvez em reacção à História da Guerra da Ciência com a Teologia na Cristandade de Andrew Dickson White [finais do século XIX e leitura recomendada]. Neste artigo olhamos com uma perspectiva diferente para os dados bíblicos sobre anjos e depois consideramos que dados científicos podem ser relevantes [?] à luz do recente interesse no desenho inteligente».
O artigo desenvolve-se com base nas seguintes premissas:
(1) Os antigos que acreditavam serem os anjos os responsáveis por fenómenos como a meteorologia, doenças e insanidade mental estavam errados [uma conclusão absolutamente brilhante];
(2) Mas igualmente errados estão os modernos que acreditam que os anjos são ou seres mitológicos ou incapazes de produzir efeitos no mundo natural;
(3) Na realidade, os anjos existem e são capazes de, e fazem-no de facto, interagir com a natureza.
Mas como então «podemos encontrar evidência científica para a actividade angélica? A nossa proposta é que a actividade angélica não se assemelha às leis naturais, que operam continuamente. Na realidade, é mais como a actividade humana, que é esporádica. Mas temos a complicação adicional de que não podemos ver os actores».
Dado este problemazito, o autor propõe-se usar na pesquisa da actividade angélica a metodologia preconizada por William Dembski para a «detecção» do desenho inteligente (igualmente de autores invísiveis e indetectáveis). Lembrando que «As acções dos anjos bons podem ser facilmente confundidas com aquelas de Deus, excepto que a qualidade pode não chegar aos padrões divinos [isto é, trabalho rasca é da autoria dos anjos]. E o desenho que nos pareça ser malevolente pode ser o trabalho de seres pecadores acima do nosso nível - anjos caídos, demónios ou Satanás.»
O autor adverte igualmente que desenho que nos pareça malevolente pode não o ser de facto, usando como exemplo a vespa Ichneumonidae, já que «Afinal, muitos dos insectos mortos pela Ichneumonidae são pragas para os agricultores». As lucubrações sobre se a predação é desenho malevolente são absolutamente deliciosas e permitem ao iluminado autor concluir que «a queda de Satanás é muito anterior à de Adão e a criação já não era muito boa na altura em que Adão é criado».
Gosto especialmente da parte sobre a quantificação de quantos porcos podem ser possuídos simultaneamente por um demónio (com base nos dados científicos da Bíblia, claro) para ilustrar o facto de que apenas Deus tem poder ilimitado, mesmo Satanás opera apenas à (pequena) escala local, nomeadamente sobre o clima (o que definitivamente exclui acção demoníaca no aquecimento global...).
Depois de efabular sobre os vírus HIV e Ebola, Newman mimoseia-nos com as suas conclusões:
«Se as nossas sugestões identificando desenho inteligente no polegar do panda, Ichneumonidae, AIDS e Ebola são válidas, isto terá consequências sérias nas formas históricas de fazer ciência. Porque se é verdade que seres sobrenaturais têm intervindo significativamente na história da biologia então não podemos restringir a nossa metodologia ao naturalismo».
O artigo é muito longo mas vale a pena ser lido porque é o único exemplo de uma teoria IDiota para explicar o que aos cientistas parece produto da evolução. Igualmente longo mas esclarecedor é o artigo do mesmo autor contra Carl Sagan, descrito como um «evangelizador» de uma «religião» que compete com todos os «misticismos», assente na ciência e no humanismo secular...
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19 comentários:
esta treta dos anjos é tão estúpida que pensei que era uma paródia. não, é mesmo verdade.
estes gajos são mesmo imbecis!
o artigo sobre o sagan é outra estupidez pegada.
a parte " Back in the seventeenth, eighteenth and nineteenth centuries a popular pastime of many people was reading sermons."
para dizer"Well, Carl Sagan is a TV evangelist, his series is an evangelistic series, and his book is a collection of sermons!" é mesmo imbecil!
E esta parte é arrepiante "Now before we finish dealing with the whole question of what sort of work Sagan's "Cosmos" is, we need to take a look at its attitudes toward competing religions. Sagan rather clearly sees a threat in the growing mysticism around today. I think he is worried that science might lose out in a competition with mysticism and die, as appears to have happened in the Greco-Roman civilization"
"I'm not sure whether Sagan has properly analyzed why it might die out, but I think he is right that a competition with some kind of mysticism would be involved."
esta gente é maluca mas muito perigosa!
Intervido?
Há quem goste muito disto, de andar a discutir tretas com fazedores profissionais de tretas.
Recordo-me do professor Jorge Dias de Deus versus a treta do Boaventura Sousa Santos. Deu uns livros, e poderá dar mais, uma amena cavaqueira.
Faço mal em comparar o Boaventura com os IDiotas, reconheço, o Boaventura é muito menos ridículo.
"Newman has doctorates in both science (astrophysics from Cornell) and in theology. He understands science and has thought deeply about these issues."
Oh my god!
Ele também deve ser um Engenheiro da Independente.
Fica tão bem no currículo, "é astrofísico" logo "percebe de ciência", muito bom.
Ou então, é apenas intelectualmente desonesto, e faz o que faz com uma missiva surrealista, que todos desconhecemos, ou então é charlatão e quer uns dividendos, deve haver uma razão. Ou fritou-se-lhe o cérebro, acontece.
Ver aqui: Newman
e reparar nisto:
"Download size is indicated: Kb = thousands of bytes; Mb = millions of bytes."
o rigor conceptual do homem é lunático. Já agora punha aquilo em unidades de bit para ser mais giro.
Caro anónimo das 16:25
Concordo plenamente que são tretas estas estórias da IDiotia e criacionismos sortidos.
O problema é que são tretas que os cristãos mais fundamentalistas querem impor a todos e estão na ordem do dia devido ao poder político dessas facções fundamentalistas. Mesmo na Europa...Recordo que o ensino da evolução foi retirado dos curricula escolares em Itália e na Sérvia e foi apenas reposto depois de demonstrações massivas contra a medida.
Percebo perfeitamente, mas há gente séria (homem de ciência sério) que aproveita a oportunidade para ganhar um bocadinho de protagonismo.
Algo que me vai decepcionar, concerteza, vai ser ver um debate ao estilo inflamado e arrebatador do "prós e contras" da RTP, onde de um lado vão estar os IDiotas e do outro vão estar cientistas.
Isto seria reconhecer valor ao IDiocismo, e seria legitimá-lo.
A rapidez do consumismo mediático, por sua vez, impulsionaria o IDiotismo através da sensação que a IDiotia até diz umas coisas e, pelos aplausos, de jeito.
Em última análise, esta mensagem passaria, e como é uma teoria bastante mais fácil para a pessoa comum, por ser construída, e viver sobre falácias, equívocos lógicos, e jogos semânticos, o resultado do debate seria parecido com um qualquer debate sobre uma questão jurídico-legal, onde não se percebe quem tem razão, e portanto devem ter os dois.
Meu caro anónimo:
É exactamente isso que temos reiterado desde o anúncio do tal debate na FCUL «Darwininsmo versus criacionismo. Onde começa e onde acaba uma teoria científica?».
Nõ se pode dar crédito a dislates deste calibre aceitando debater com criacionistas. Mas é necessário esclarecer que se trata mesmo de dislates, e desmontar as falácias e absurdos em que assentam porque tenho a certeza que vamos assistir a um escalar da guerra da evolução cá no burgo.
Muito em breve, diria...
Prós e contras, não direi, mas hoje, dia 8, talvez valha a pena ver o Câmara Clara, na RTP2, às 22h30.
Diz o Público: "Uma cientista ateia e um politólogo católico, Palmira Ferreira da Silva e José Manuel Pureza, respectivamente, debatem sobre o lugar que Deus terá no séc. XXI. Também se conversa sobre o último discurso do Papa sobre os perigos do ateísmo da União Europeia, da omnipresença de Deus no discurso dos líderes norte-americanos, de Salman Rushdie, Saramago, Mel Gibson e Pasolini e dos novíssimos trabalhos de David Lynch e Lídia Jorge."
Em primeiro lugar informo que não sou criacionista, nem adepta de nenhuma religião pois todas elas têm deuses demasiado pequenos, mauzinhos, senão cumprirmos escrupulosamente determinados rituais somos castigados, todos estes deuses só são acessíveis através de intermediários que se nos portarmos bem nos premeiam com passaportes para paraísos para todos os gostos. Não me parece que algum destes deuses tenha capacidade para criar o que quer que seja quanto mais o universo.
Portanto, evolução sim mas Darwin nem pensar e o motivo é simples sendo eu mulher fico tão arrepiada com os criacionistas como com as conclusões do Darwin em relação às mulheres.
O Darwin esperou 15 anos para enfrentar a igreja mas em relação às mulheres estavam todos de acordo!
Isto podia ser passado, mas não é, ou seja ainda hoje as mulheres são brindadas com menos 25% do vencimento dos homens. Será para dar razão ao Darwin?
Guida Martins
Essa do prós e contras deve ser anedota. Seria um péssimo serviço prestado à divulgação científica. Sem pretender ofender a Palmira a maioria dos cientistas portugueses está-se positivamente marimbando para esta questão e nos prós e contras então e neste país de tradições católicas daria um ótimo espetáculo televisivo, ou se daria...
Só para esclarecer a minha afirmação sobre o interesse da questão na comunidade científica, parece-me que os investigadores de todas as áreas estão muito mais preocupados com assuntos práticos das suas investigações, financiamentos, estudo, equipas e resultados, do que importar esta telenovela particular tipica da era Bush, já chega a questão do Iraque.
Parabéns pela excelente participação no Camara Clara. Deu-me vontade de procurá-la and get spanky again... hehehe
muitos parabéns pela participação. brilhante. foi um prazer assistir a este câmara clara.
Muitos parabéns pela fabulosa prestação no câmara clara! Adorei! Pode ser que agora se lembrem de convidar mais ateus para debates :)
PS pró incredulo: pois é, tinha-me esquecido que o nick da Palmira quando começou a comentar no DA era spanky :)
Gostei de ver a sua intervenção no programa, aparte a amálga de cultura avulsa esteve muito bem. Naquela parte do relicário é que não cheguei a perceber muito bem se o individuo era padre.
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