Para muita gente a física está nos antípodas da poesia. São evidentemente diferentes: a física provém do mundo exterior ao passo que a poesia provém do mundo interior. Mas, por outro lado, têm coisas em comum: ambas são expressões da criatividade humana e ambas têm, embora cada uma à sua maneira, um ideal estético.
Não é muito comum mas ocorre haver pessoas que são ao mesmo tempo físicos e poetas. O caso mais conhecido é o do professor de Ciências Físico-Químicas Rómulo de Carvalho que adoptou o pseudónimo literário de António Gedeão. Sob o seu patronato foi instituído o Dia Nacional da Cultura Científica, que tem lugar todos os anos em 24 de Novembro. Mas Rómulo de Carvalho/ António Gedeão não está sozinho...
Uma professora de Ciências Físico-Químicas do ensino secundário numa escola do Porto, Regina Gouveia, faz interessantes poemas de inspiração científica tal como António Gedeão. O seu trabalho pedagógico na área da Física valeu-lhe em 2005 o Prémio Rómulo de Carvalho atribuído pela Sociedade Portuguesa de Física.
De Regina Gouveia escolhi o seguinte poema, onde parece clara a influência de Gedeão:
IMPULSÃO
Arquimedes
não descobriu Ganimedes,
que é uma lua.
Diz a lenda que saiu nu para a rua,
Gritando Eureka, Eureka,
Com enorme satisfação.
Acabara de descobrir a impulsão.
E é essa a principal razão
Por que, volvidos mais de dois mil anos,
Navios continuam a cruzar os oceanos.
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5 comentários:
Sugestão - vão publicando mais Poesia desta ou de António Gedeão (ou porque não, de Miguel Torga ou de outros autores que unem harmoniosamente Ciência e Poesia...).
eu que pensava que Einstein, por fim, fazia poesia com linguagem matemática. Seria possível ?
A poesia deve ser tão"humana", que sou capaz de não conhecer ninguém que nunca tenha feito um poema na vida, físico, maquinista, coveiro, professor, aluno...Porquê este "corte" e "raridade" ?
Estará a fazer afirmações provocativas ao separar exterior/interior? Talvez a física provenha mesmo de uma grande imaginação/intuição interior (?) à qual eu, por exemplo, nunca chegaria.
Duas personagens agem ao infinito
evoluídas a do verso, outra o mito
sinfonias do contido ao desencanto
surgem como vento, alma e lamento
que plenitudes tivera a face por lida
singela e vestida tam farta esperança
nos outeiros a terra soçobra, inventa
ecoa no gesto dos canoros a herança
na chama do tempo e como agiganta
rumor é lamento e a forja privilegia
na dança das horas a flauta da relva
e no céu o termo vibrando eleva
ouvindo o eco na melodia a elegia
que a orquestra régia, fogosa canta.
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