quinta-feira, 26 de abril de 2007

McGinn sobre a fé e a razão

16 comentários:

Filipe Brás Almeida disse...

Muito bem.

Anónimo disse...

Interessante a entrevista.

Gostaria de chamar a atenção para um documentário americano:

http://en.wikipedia.org/wiki/The_God_Who_Wasn't_There

Trechos do documentário:
http://www.youtube.com/watch?v=6XVR2n3SJLU - The God Who Wasn't There - Padrão de Herói ou Messias?
http://www.youtube.com/watch?v=iBw1y9gtKFw - The God Who Wasn't There - Entrevista com o diretor da escola religiosa onde o criador do documentário estudou nos seus primeiros anos (legendado).

E ainda para o texto: http://en.wikipedia.org/wiki/Jesus_as_myth
Esse texto reúne diversas críticas sérias à historicidade de Jesus. Uma delas está no primeiro vídeo. Onde se questiona se Jesus não seria apenas mais um mito tal como: Osíris, Dionísio, Pitágoras, Hércules, etc. Já que haveriam aspectos da vida e práticas muito semelhantes entre esses.

Anónimo disse...

Acrescentando ao comentário do Rick, saliente-se que o estudo das origens do cristianismo é antigo e há sempre uma grande correlação entre este estudo e o debate entre a razão e a fé [ou, se preferirem, uma análise racional sobre as origens da fé].

Por esta última questão — a divergência entre a fé e a razão — podemos constatar que é ela mesma que se encontra na origem dos mitos e das divindades. Creio que existe, também, uma correlação entre as divergências de classe e as divergências de fé e razão. Provavelmente, e desta forma especulo, a fé e alienação da objectividade é uma ferramenta fundamental para a hierarquização do modelo social humano.

Sobre o estudo que mencionei, além das referências do Rick¹, vale a pena procurar o livro "A Origem Do Cristianismo" (1960), de Iakov Lentsman [Colecção Universitária, Caminho].

____
¹) e, por inerência, as referências da Wikipedia.

Lufiro disse...

Pode-se concordar no geral com o que diz o Mcginn. Mas parece-me haver pelo menos três incorrecções (ou imprecisões).

1ª A generalização feita por Mcginn de que a racionalidade tem perdido terreno para a fé nos últimos 30 anos parece-me infeliz. Há contextos em que a racionalidade está cada vez mais forte, principalmente no que diz respeito às ciências naturais e às económicas. Já no que diz respeito à academia e à produção filosófica dos últimos 30 anos, que ele insinua terem enveredado por um claro ataque à racionalidade, não creio que se possa avaliar o todo pela parte. Houve certamente academias e correntes filosóficas que o fizeram (talvez as continentais de carácter francófono), mas houve também um movimento contrário de defesa da racionalidade (ou de contra-ataque ao a-racionalismo), assumido principalmente pelas principais universidades norte-americanas – veja-se, por exemplo, o movimento contra Rorty e as suas teorias contra uma perspectiva analítica da filosofia, sendo que esta é, na opinião de alguns, o expoente máximo da racionalidade no seio da filosofia ocidental dos últimos 100 anos (pelo menos desde Frege (???).

2º A ideia de que a fé e a racionalidade são conceitos conjuntamente exaustivos e mutuamente exclusivos parece-me um pouco forçada. Parece-me que há contra exemplos plausíveis a essa tese. Por exemplo, se considerarmos que a fé é uma atitude – pessoal e não impositiva, isto é, não extensível a terceiros por imposição – a um determinado conjunto de crenças que, embora sem fundamentação racional (ou empírica), não sejam também irracionais, no sentido forte de irracional, não se vê em que medida essa atitude de crença possa ser declarada irracional. O mesmo vale, julgo eu, para a proposição que é alvo da atitude, isto é, da crença. Também ela não poderá ser declarada irracional se for esse o caso. Qual é, por exemplo, a irracionalidade intrínseca de aderir à crença de que existem extraterrestres? Veja-se que tanto há fundamentação racional para admitir que existem como que não existem. Também não há prova empírica que o confirme ou o refute. Não é este um caso em que a crença não justificada numa determinada proposição não pode ser declarada irracional?
O mesmo vale para o sentido inverso: a confiança depositada na racionalidade é, a limite, uma espécie de fé. (Não há qualquer jogo de palavras aqui). É-o na medida em que a atitude de crença para com a própria racionalidade parte de uma análise racional da racionalidade. O círculo não é de todo virtuoso. Ao analisar-se a racionalidade usando métodos racionais incorremos numa espécie de petição de princípio da racionalidade. Atenção que não se está a defender que se deviam usar outros meios para avaliar a racionalidade, muito menos que se deva abandonar a perspectiva crítica e racional em favor de concepções arbitrárias ou auto-imunes. O ponto é apenas que a crença na racionalidade depende também ela da própria racionalidade, tendo assim como justificação dessa crença os resultados do próprio pensamento racional, isto é, da nossa racionalidade. Mesmo assim continua a ser um dos melhores tipos de fé, pois é um dos que melhor conseguimos justificar.

3ª O MacGinn entende que o conhecimento é crença verdadeira e justificada. Ele sabe, se calhar melhor e há muito mais tempo do que eu, que esta concepção é bastante disputada por uma boa fatia da epistemologia contemporânea. Incomoda-me um pouco a ligeireza com que ele coloca a definição. Dir-se-ia que de forma peremptória e nada expectável da parte de um filósofo com a sua estatura. Mas como era para a TV, leia-se, para os leigos, desculpa-se. Talvez ele não quisesse complicar excessivamente a definição.

Luís E Rodrigues

Anónimo disse...

Olá Luís,
Parece-me que o que McGinn se refere é que a verdade e racionalidade sofreu ataques nos últimos 30 anos do pos-modernismo e do relativismo.
Abraço
Rolando A.

Anónimo disse...

Mas que medo dos pobres irracionais... nem de menos nem de mais! :)

Ora então, é este o famoso McGuinn que desistiu do problema da consciência, hein?!

E qual a finalidade da Filosofia, já agora?! E da Ciência também?! Não será, entre outras coisas, uma busca constante da Verdade e, em certa medida, tal como a Religião, da última Realidade?!

Ora a questão que agora se põe é tão somente esta: essa busca só pode ser efectuada por via unicamente racional?! É a sacrossanta razão o laico caminho sagrado da grande "unificação"?!

Talvez sim... ou talvez não, pois então! ;)

Para mim, e como se pode ver pelo que tenho deixado escrito por cá, a resposta é um óbvio e rotundíssimo "NÃO!"!!! A Razão não é o supra-sumo do Conhecimento, porque ela não consegue operar no plano transcendental... simple as that!

Há uma via directa, intuitiva e imediata para aperceber a Realidade, que não passa pelo filtro racional, o que não a torna irracional, claro, nem mesmo arracional... é como é, tal e qual!

Bem, a Psicologia Transpessoal também trata desta questão, claro está, mas os relatos dos chamados "místicos" ou descrições de êxtases podem ser exemplos desse curto-circuito supra-racional que permite aceder a outro modo mais puro de conhecer.

Still... a César a razão e a Deus a intuição, logo tudo se salva nesta santa comunhão... sentença de Salomão numa dual união! :)


In a nutshell: think less and do feel more...

Rui leprechaun

(...to live Life to the core!!! :))

João Vasco disse...

Gostei muito do vídeo. Tenho de descobrir mais sobre McGinn :)

Anónimo disse...

Olá Rui leprechaun
A filosofia é efectivamente a busca de conhecimento pela via racional e somente por essa, não por outra. Outra via pressupõe as artes, as religiões... mas a filosofia é exclusiva da razão. Não conhece os filósofos gregos? Agora é claro que há por aí umas versões engraçadas a dizer que Platão era jeová, místico e outras palermices. Se fossemos por aí, eu diria que Platão era do FCP.
Abraço
Rolando

Lufiro disse...

Sim, Rolando, claro. Que a racionalidade sofreu ataques ninguém duvida. Mas o meu ponto (1) não era esse. Era apenas que que a generalização que o Mcginn faz é perigosa, pois há contextos em que a racionalidade saiu fortemente reforçada nos últimos trinta anos. Eu penso que esse reforço compensa de certa forma os ataques. Mas a tendência dos filósofos que defendem a racionalidade é a de só mencionarem o que é contra ela, uma atitude que até pode ser vista como natural. Cumps

Anónimo disse...

Luís,
Explicado. Pois, eu percebi mal. Peço desculpa. Pensei que tivesse escapado algo do video ao Luís.
Abraço :-)
Rolando

Anónimo disse...

A filosofia é efectivamente a busca de conhecimento pela via racional e somente por essa, não por outra. Outra via pressupõe as artes, as religiões... mas a filosofia é exclusiva da razão.

Ora então, e como a Filosofia também abrange a Metafísica, o "amor da sabedoria" é só racional, tal e qual!

Nesse sentido, será que o termo está bem empregue quando falamos de "filosofia oriental". para designar os antigos sistemas de pensamento - de base teológica, afinal - que floresceram no Antigo Oriente, muito antes ainda da "Filosofia", como a conhecemos hoje, ter surgido na Grécia Antiga?!

É um facto, contudo, que o termo "filosofia" é habitualmente utilizado, num contexcto académico, para designar a tradição filosófica que surgiu no Ocidente com os pensadores gregos de antanho. Enfim, tal será discutível, mas é a realidade!

Deveras, há aqui uma questão muito intrigante que se põe. É que as tradições filosóficas do Oriente, impregnadas de um pensamento místico-teológico, sim, têm uma forte componente de autoconhecimento e, neste sentido, transcedem de facto a razão, pois fundam-se na intuição. Eis aqui um belo tema de debate, mas nadinha nada fácil!!!

Tudo isto para dizer sempre a mesma coisa: a Razão não é o supra-sumo da condição humana! Somos racionais, certo, mas não só que há MUITO mais!

E o conhecimento directo existe, sim!...

Rui leprechaun

(...que a mera razão NÃO é o fim!!! :))

Anónimo disse...

Olá Rui,
De acordo! A razão não será o supra sumo da condição humana. Mas o que é? O coração? Os intestinos? Na verdade, também ninguém apregoou tal coisa. Com efeito proponho-lhe o exercício manisfesto no posto do Desidério, lá mais acima neste blog: tente provar o que é a razão sem ser racional!!!
Mais uma coisa: definir humano como ser com coração ou intestinos poderia conduzir a confundir-nos com um hipopotamo. Ainda a melhor definição é sermos racionais.
Ainda assim, repito, ninguém disse o que era o supra sumo da condição humana, nem tal expressão é condizente com o discurso racional.
Rolando a

Lufiro disse...

Caro Rui. Julgo que para fazer filosofia da boa é condição necessária ser-se racional. Talvez esta condição não seja contudo suficiente. Um bom filósofo é também, por norma, sensível ao mundo que o rodeia, aos problemas que deseja resolver, aos resultados das suas soluções, etc. Mais, alguém que deseje fazer boa filosofia, seja em que tradição for, certamente que terá de possuir boas intuições (insights). Mas essa estória de se fazer boa filosofia graças à compreensão "directa" e não mediada do mundo cheira-me mais a religião do que a filosofia.

Repare também que as boas filosofias orientais também não desprezam a racionalidade. Se tem dúvidas, leia (se não leu já)algumas das propostas de Kung-Fu-Tze, ou as últimas produções literárias do Dalai Lama, e diga-me se não há nelas algum fundo de racionalidade que é partilhada com a filosofia ocidental . Digo mais: as mais conhecidas teosofias orientais desenvolvem quase todas sistemas mais ou menos racionais que assentam em dogmas. Portanto, duvido que a "sua" ideia de uma bipolarição ocidental/oriental seja sustentável. Há diferenças substanciais, claro. Mas há correntes filosóficas que usam a racionalidade em ambos os lados.

Cumps

Luís E Rodrigues

Anónimo disse...

Ena, já encontrei o Colin McGinn agora num artigo médico sobre a consciência! :)

Nesse artigo, onde se relatam algumas experiências com cores - vermelho e azul, no caso - cujos efeitos já eram conhecidos há nem sei quantos milhares de anos (!) integrados na terapia natural através das cores ou "cromoterapia", há uma breve citação de McGinn que transcrevo:

Colin McGinn, a philosopher, thinks it is plain obvious that the brain is "just the wrong kind of thing" to give birth to consciousness: "You might as well assert that numbers emerge from biscuits or ethics from rhubarb." The mystery of consciousness, he says, is beyond human comprehension.

Ora aqui está alguém inteligente... finalmente!!! :) Bem, não está para além da humana compreensão, mas está de facto MUITAS milhas acima da modesta razão, ai não!

Consciousness is a fascinating but elusive phenomenon; it is impossible to specify what it is, what it does, or why it evolved. Nothing worth reading has been written about it.

Hummm... não será bem assim, de facto. Pelo menos, especulativamente tem-se escrito muitíssimo sobre esse mistério, mas talvez quando nos reportamos a um plano meramente científico não haja assim muito de novo a dizer, pelo menos apoiado em dados concretos reproduzíveis e verificáveis... que os cientistas são mesmo chatos com tantos rigores profissionais e não amadores!!! :D

De qualquer modo, são excelentes as considerações nesse artigo acerca do fenómeno subjectivo da apreensão do tempo pela consciência, no momento presente alargado onde se sobrepõem passado, presente e futuro. Isto pode contradizer a noção do senso comum quanto à linearidade do tempo, mas tal é uma falsa noção se, como defende o idealismo monista, a consciência existir num plano que transcende a causalidade e o continuum espaço-tempo.

Logo, mesmo a humana ciência já vai chegando lá...

Rui leprechaun

(...que a divina consciência é tudo o que sempre haverá! :))

Anónimo disse...

Mas essa estória de se fazer boa filosofia graças à compreensão "directa" e não mediada do mundo cheira-me mais a religião do que a filosofia.
Repare também que as boas filosofias orientais também não desprezam a racionalidade.



Pois bem, podemos talvez comparar razão e intuição ao sapato esquerdo e direito, certo? Tanto mais que ambas parecem estar ligadas ao respectivo hemisfério cerebral.

Ora bem, ninguém compra sapatos com nº diferente para cada pé, a não ser que haja alguma razão muito específica para o fazer, claro. Nem compramos um nº demasiado pequeno ou muito grande, como é óbvio. Bem, os palhaços no circo serão excepção e também na antiga cultura chinesa as damas da corte tinham os pés atrofiados pelos sapatos apertados... argh! :o)

Isto significa tão simplesmente que é desejável haver um equilíbrio entre razão e intuição, da mesma forma que tal também deve suceder com a inteligência vs. emoção, como finalmente já se está a admitir e compreender, vá lá! A antiga e míope noção de um QI limitado às tais funções superiores do córtex não era tão inteligente assim, certo?!

Só que, em termos muitos práticos e concretos, essa misteriosa intuição, o insight que, de algum modo, está ligado às funções superiores e mais transcendentes da consciência, ainda não recebeu esse simples reconhecimento por parte dos neurocientistas e outras sumidades que se dedicam a estudar todos estes intrincados e complexos fenómenos da mente.

Ou seja, estar de fora e filosofar sobre isto é muito fácil, mas ter de comprovar todas estas "intuições", por assim dizer, no trabalho de campo com o mapeamento cerebral e sei lá que mais, já é outra tarefa muitíssimo mais árdua e exigente.

Em resumo: razão e intuição são ambas igualmente necessárias, mas a intuição é um tipo de inteligência muitíssimo especial directamente ligada à mais sublime capacidade de sentir a subtil realidade do nosso próprio Ser... meaning... é a intuição que se encontra mais próximo desse plano transcendente da consciência... that's it!

E isso explica, obviamente, todos esses fantásticos "insights" maravilhosamente descritos em testemunhos delirantemente belos de Seres Humanos que se ligaram à suma fonte de todo o saber: a Divina Consciência que ansiamos conhecer! :)

Já agora, em confronto Meister Eckhart e Plotino e ainda dois místicos sufis, Rumi e Al-Hallaj. A mesmíssima unidade intuitiva, que tantos e tantos outros experimentaram, desde o Oriente até ao Ocidente, e continua ainda a ser vivenciada agora... porque é esta a autêntica e única Realidade de Ser Humano de verdade!!!

Oh boy! This is SO EASY and plain to see... how can anyone disagree?!?!

The eye by which I see God is the same as the eye by which God sees me. My eye and God's eye are one and the same — one in seeing, one in knowing, and one in loving.

Meister Eckhart (1260–1328)

No doubt we should not speak of seeing, but instead of seen and seer, speak boldly of a simple unity. For in this seeing we neither distinguish nor are there two. The man... is merged with the Supreme... one with it.

Plotino (205-270)

My place is the Placeless, my trace is the Traceless;
'Tis neither body nor soul, for I belong to the soul of the Beloved.
I have put duality away, I have seen that the two worlds are one;
One I seek, One I know, One I see, One I call.


Rumi (1207-1273)

Now stands no more between Truth and me
Or reasoned demonstration,
Or proof of revelation;
Now, brightly blazing full, Truth's lumination
Each flickering, lesser light.


Al-Hallaj (858-922)


What are they talking about?! What are they talking about?!?! What are they talking about?!?!?!

Oh yes! This is True Consciouness of the Bliss...

Rui leprechaun

(...in such unending Divine Kiss!!! :))

Tao disse...

o que as pessoas não compreendem é que não há nada pra discutir e o que discutem é o jogo dos conceitos. A ignorância sempre afligiu os pobres de espirito. Não me espanta que aina continue em pleno século XXI. Discutir razão , intuição e transcendencia é não sair do mesmo sitio. continuam as discutir 3 conceitos. Aqueles que ignoram a realidade são os que fogem da vida! A todos os que vivem no mundo imaginário, provo que deus não existe. Quantos aos seres humanos nada tenho a provar!

Abraço!

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação e...