quinta-feira, 26 de abril de 2007

Lactobacillus casei

Hoje de manhã recebi um email de assunto "Actimel prejudica organismo". Normalmente não leio o (demasiado) spam que chega a minha caixa de correio electrónico. Mas este vinha da minha mãe. O seguinte também e perguntava "isto é mesmo verdade?". Na qualidade de filha cientista, li, com alguma atenção, o dito email que passo a comentar.

Logo no primeiro parágrafo pode ler-se esta maravilha de pseudociência. Informando sobre a bactéria Lactobacillus casei começam por dizer: "Esta substância é gerada normalmente por 98% dos organismos, mas quando é administrada externamente por um tempo prolongado, o organismo deixa de produzi-la e paulatinamente "esquece" que deve fazê-lo e como fazê-lo, sobretudo em pessoas menores de 14 anos.". Uma frase campeã em número de disparates por caracter. Passo a clarificar: L. casei é uma bactéria, um organismo vivo, não uma substância. Por ser uma bactéria, não é "gerada" pelo nosso (nem nenhum outro) organismo. Por ser uma bactéria, nenhum organismo se esquece de fazê-la nem como fazê-la. Afinal os nossos intestinos não são uma enorme sopa primordial, nem vive lá o Dr. Miller.

Os disparates seguem-se ao mesmo ritmo. Um email para assustar, mas que nem para tal serve, devido aos erros, má ciência e mau português utilizado. No entanto, consegue assustar, pois já foram várias as pessoas a contactar-me para perguntar se a informação passada (rapidamente) pelas caixas de correio era mesmo verdade. Para clarificar um pouco o assunto, deixo aqui um bocadinho de ciência, para que fique claro o que é realmente o Lactobacillus casei.

Do ponto de vista dos microrganismos, os nossos corpos são locais ideais para a sua vida e reprodução. Por esta razão estamos "cheios" de microrganismos e no nosso corpo há mais células bacterianas que células nossas. A maioria destas associações são benignas e mesmo benéficas para o nosso organismo. L. casei não é mais do que um deste microrganismos benéficos. É uma bactéria que vive normalmente no nosso intestino e boca produzindo ácido láctico e assim ajudando outras bactérias benéficas a sobreviver. L. casei não é uma invenção da Danone, nem da Yakult, nem de todas as outras empresas que comercializam iogurtes probióticos. Os Lactobacillus estão presentes no nosso organismo e na maioria dos productos lácteos. São bactérias beneficiais, ou seja, em doses normais, podem não trazer benefícios (ou pelo menos tantos quantos a Danone quer que acreditemos), mas não fazem mal.

20 comentários:

Anónimo disse...

Aproveitando o ensejo deste post, o que raramente é dito em voz alta é que o leite vulgar - de vaca - produz alergias em muito boa gente, a qual nem sequer sabe que esse produto alimentar comum é a fonte de muitos dos seus males. Falando em produtos alergéneos, é frequente referir-se o chocolate, as laranjas... mas raramente se fala do leite de vaca. O qual é a fonte, por exemplo, de muitos problemas de asma em crianças.

Seria bom que os médicos deixassem de recomendar, da forma automática e acrítica como hoje fazem, que toda a gente, especialmente as crianças, beba grandes quantidades de leite.

Luís Lavoura

Anónimo disse...

O Luís Lavoura não está correcto.

As pessoas de origem europeia têm tolerânçia natural á lactose, dado que temos o gene da lactase que permite o consumo do leite.

Não há problema de os médicos recomendarem o consumo de leite. Desde que seja na Europa.

Se um médico o fizesse no extremo-oriente, aí é que poderíamos o criticar.

Criticável é o facto de haver muitos mestres de acupuntura e reiki e outras tretas do gênero virem para a europa dizerem que o leite traz «mau chi».
Depois passam montes de receitas naturistas (nas lojas onde recebem percentagem) de substratos de soja que são muito mais alergênicos!

Se pararmos de consumir leite maior as probabilidades de pararmos a produção de lactase e logo o leite se tornar indigesto.

Quem vem com manias contra o leite é porque nunca o tomou de forma regular. Ninguém escolhe a genética e a alimentação que os nossos pais nos deram...

Anónimo disse...

A primeira vez que vejo: lavoura contra o leite ;)

Anónimo disse...

O que eu acho é que os emails alarmistas só servem para recolher emails válidos para divulgação de spam, via reply.

Quando são as próprias pessoas a enviá-los, e não máquinas geradoras de emails aleatórios, é 100% certo que o destinatário é real. Ao fim de um certo nº de reencaminhamentos, algum publicitário recebe, com a própria mensagem que enviou, um pequeno tesouro: os emails de todas as pessoas que receberam a mensagem.

Usem carbon copies.

Anónimo disse...

Digo, blind carbon copies.

Camarelli disse...

que os europeus (não todos) tenham maior tolerância à lactose, é uma coisa; outra é difundir a ideia de que se deve beber leite todos os dias, ou que leite é juventude, ou coisas do género. [NÃO estou a sugerir que alguém tenha afirmado isto aqui(*)]

se tal se compreende para contrariar a osteoporose, não me parece razoável ser forçosa uma alimentação rica num cocktail indicado ao rápido crescimento numa fase importante mas curta da infância: a amamentação.

talvez seja esta cultura paranóica de alimentos super enriquecidos de tudo e mais alguma coisa que está na origem de tantos e recentes distúrbios alimentares dos países industrializados. (tal como a paranóia dos alimentos pobres em «açúcar» vulgo light)

devo ainda notar que a tolerância à lactose não é motivo suficiente para descartar possíveis implicações no surgimento de alergias ou outros efeitos secundários do leite nesses indivíduos.

(*) advertência para despiste de mal entendidos susceptíveis de causar efeitos «global warming» nas caixas de comentários...

Anónimo disse...

Sobre o consumo de leite, tenho esta informação:

"Como mamíferos, ingerimos nos primeiros tempos de vida essa secreção materna que, entre muitas coisas, contém um açúcar apropriadamente denominado de lactose. A absorção deste açúcar no intestino depende da existência de uma proteína transformadora (logo, codificada por um gene). Em circunstâncias “naturais”, deixamos de ingerir leite relativamente cedo e, muito adequadamente, em grande número de indivíduos a síntese dessa proteína cessa na idade adulta. Sucederá então, que nesses indivíduos, a ingestão de leite não só não lhes aproveitará da mesma forma que os que mantêm essa síntese em adultos, como, mais desagradavelmente, lhes transformará o intestino num esplêndido fermentador para os inúmeros microrganismos que o povoam habitualmente e que disporão de uma inabitual fonte de energia. As consequências num indivíduo saudável não são normalmente sérias, mas bastante desagradáveis; pelo contrário, naqueles que se situem, por exemplo, já num limiar de subnutrição, podem ser fatais (o que explica o insucesso de algumas ajudas alimentares)."
António Amorim, A Espécie das Origens

Alguém poderá aprofundar a questão, ou apresentar alguma objecção? Isto estará em desacordo com o que referiu o André Esteves? Qual será o "grau" de tolerância dos europeus?

maria disse...

Mas os humanos são os únicos mamíferos que bebem leite para além da época de alimentação,o que será anti-natural. Este argumento tem-me sido apresentado para o abandono do consumo de leite para além desse período. Não sei se é correcto.

Paulo Gama Mota disse...

Os povos do norte da europa têm uma elevad tolerância à lactose. O caso foi apresentado como uma adatação a condições desfavoráveis porque a baixa incidência de Sol nessas regiões pode conduzir a raquitismo (a vitamina D é produzida sob acção dos raios solares). Assim, uma dieta rica em vitamina D em adulto pode ajudar a superar esse déficit. Mas, isso só é possível se houver maior tolerância do que na maior parte das populações humanas.

Há alguns estudos que indicam a possibilidade do desenvolvimento de alergias e doenças auto-imunes e até diabetes infantil estar ligada a um consumo de leite de vaca ou de leites artificiais iniciado demasiado cedo (não quando adulto - aí é irrelevante). Aqui estamos a falar de idades em que o aleitamento materno é o mais frequente. Como sempre em estudos humanos deste género, assenta-se em dados correlativos - e as correlações não exprimem necessariamente nexos causais: são sempre evidências fracas, que requerem mais dados de mais estudos em condições diferentes, para ver se o fenómeno é consistente.

Anónimo disse...

"...nem vive lá o Dr. Miller."

a malta está inspirada.

eh eh ehe heh

Anónimo disse...

Maria disse «Mas os humanos são os únicos mamíferos que bebem leite para além da época de alimentação,o que será anti-natural.»

Então nesse caso deveríamos começar a colocar carcaças de gado á porta das nossas casas e esperar que apodrecessem e atraissem todo o gênero de predadores e necrófagos. Do esqueleto restante extraíriamos o tutano que degostariamos de uma maneira natural, depois dos mal-amanhados vegetais.

As provas arqueológicas indicam que os nossos antepassados eram necrófagos e ainda por cima, os que estavam mais abaixo na hierarquia da carnissa...

Deverê-mos adoptar esse comportamento por ser o mais natural?

Se o leite faz ou não faz mal, ou se é um excesso de calorias e por aí adiante É IRRELEVANTE!!!

Relevante é fazer uma alimentação em que SE CONTROLEM AS CALORIAS QUE SE INGEREM nem que seja de uma forma estimada e que se vigie a variedade e presença dos grupos alimentares às refeições. Se estão preocupados como resto, vão para a rua correr e gastar as calorias que vos sobram...

Quanto às alergias... Descubram se as tiverem. O mais provável é que quanto mais forem hipocondríacos e maníacos da limpeza e do controle da alimentação, maior a probabilidade de terem alergias e reacções alérgicas...

Sujem-se e sejam felizes! Não vivemos para sempre!

Anónimo disse...

Leite, leite... só do amoroso deleite!!! :D

Bem, eu sou vegetariano já desde a longínqua adolescência e só consumo lacticínios fermentados: iogurtes industriais ou caseiros, kefir e alguns tipos de queijo, ocasionalmente. É claro que incluo os derivados de soja, leite e tofu.

Mas acerca do leite de vaca na alimentação humana, e para lá das crescentes dúvidas que têm surgido quanto à sua adequação ao nosso organismo - e excluindo inclusive a questão secundária das alergias - um recente estudo levada a cabo principalmente na China e Taiwan, e depois também em mais 65 países, ao longo de 20 anos, não é de facto nada favorável à utilização de proteína animal na alimentação humana. Ou seja, somos omnívoros... mas quanto?!

O título da obra é já esclarecedor: "The China Study: The Most Comprehensive Study of Nutrition Ever Conducted and the Startling Implications for Diet, Weight Loss and Long-Term Health" - Colin Campbell (2005).

Quanto ao facto deste tipo de dados poder indicar correlações e não apontar para factores causais, pois bem, o coordenador do estudo - o médico norte-americano Dr. Colin Campbell - afirma que nele existem 8000 associações estatisticamente significativas entre vários factores dietéticos e doenças específicas. Se é assim ou não, outros o dirão...

Esta obra é um calhamaço e pêras, e dispõe de um site próprio para os interessados:

http://www.thechinastudy.com/about.html


Bem, mas os belos "atributos maternais"...

Rui leprechaun

(...ai! são gostosos de mais!!! :))

Anónimo disse...

"Uma frase campeona em número de disparates por caracter."

Ou

"Uma frase campeã em número de disparates por caracter."

Anónimo disse...

Chiça...
É tudo dogmático!

A transição da alimentação vegetariana para omnivora é que permitiu à espécie humana liberatar energia gasta no proceso digestivo, para alimentar o crescimento do cérebro. Se fossemos vegetarianos ainda hoje andavamos aos pulos de galho em galho a fugir dos predadores, e depois da libertação da energia necessária ao funcionamento do nosso cérebro, o passo seguinte que permitiu o crescimento da população foi a criação de animais, especialmente as cabras, das quais consumiamos o leite. O leite era uma reserva de nutrientes e energia que permitiu sustentar o crescimento da população.
Não sei porque caminho é que querem ir, mas, consumir carne e vegetais juntamente com leite é o nosso modo natural de viver. Quem quer ser vegetariano pode estar a inaugurar algum novo modo de vida que também é natural no ser humano, quem não bebe leite idem. O que não compreendo é a mania de formatar toda a gente pela mesma bitola. Os adoçantes artificiais são tão maus como o açucar, apenas que não engordam, mas, no meu caso, alguns fazem-me falta de ar e cada vez mais substituem o açucar em tudo. Se em vez de paparem adoçantes, fizessem exercicio a sério, a maior parte das pessoas não engordava, mas, é mais fácil passear a toalha no ginásio do que fazer exercicio a sério.

Anónimo disse...

É pá eu sou contra a intolerância seja ela qual fôr. Para mais com o leite, que é da cor das pombas, quando elas não são cinzentas. Mas por outro lado no outro dia uma pomba, quando eu ia a passar... olhem pensando bem, morte às pombas (borrachinhos no forno é tão bom!) e quanto ao leite não vale a pena chorar com ele derramado. Prontos!

Anónimo disse...

A transição da alimentação vegetariana para omnívora é que permitiu à espécie humana libertar energia gasta no processo digestivo, para alimentar o crescimento do cérebro.

Homessa! Essa é nova, ó António!!!

Quer isso dizer que uma alimentação frugal de frutas, sementes – cereais, leguminosas e oleaginosas – e vegetais, com ou sem lacticínios, despende mais calorias no processo digestivo do que as lautas refeições carnívoras, mesmo as omnívoras?!

Soa muito estranho, p'ra que digamos. E isto já para não dizer que a experiência prática, por assim dizer, não parece apoiar essa controversa afirmação, não?!

Ou seja, a digestão das proteínas – mesmo as de origem vegetal – é muito mais elaborada do que a dos hidratos de carbono. E quanto às gorduras, as provenientes do reino animal também são mais complexas, uma vez que são hidrogenadas (saturadas), não é verdade?!

Logo, confesso que não percebo onde é que está a lógica ou validade científica desse raciocínio...

Claro que não estou a contestar os dados antropológicos e históricos sobre a evolução da sociedade humana da agricultura para a pastorícia, só que esse argumento me parece algo falacioso, a meu ver...

Aliás, é bem provável que tenhamos de regressar a esse estádio alimentar mais primitivo, de novo o retorno circular, se é que nos queremos manter vivos!

Mas confesso que gostaria de ouvir alguns argumentos biológicos e fisiológicos mais convincentes quanto ao tal raciocínio da passagem do vegetarianismo para o omnivorismo. Será que tal significa também que os predadores despendem menos energias a digerir do que as suas presas?! Bem, pelo menos não estão sempre a comer, isso é um facto! :)

Anyway... o vegetarianismo humano, pelo menos o actual, não é um mero vegetalismo ou crudivorismo, claro! Ou seja, os tais grãos, mormente os cereais integrais – sim, por certo não havia descasque e destruição do gérmen nessa altura! – contêm uma riqueza alimentar abundante, podendo o Ser Humano talvez até sobreviver indefinidamente com uma dieta SÓ de grãos... cereais e leguminosas, nas suas diversas formas.

Por fim, mesmo que a afirmação inicial até seja verdadeira... não vejo como, mas enfim... uma vez que já ultrapassámos há muito esse estado e o cérebro cá está bem desenvolvido, talvez seja então altura de regressar, se não ao vegetarianismo primitivo, pelo menos a um omnivorismo bem mais comedido. E o artigo acima sobre doenças cardio-vasculares podia ser bem elucidativo acerca disso. É que a este respeito, a simples comparação dos regimes alimentares do ocidental médio e de outros povos mais frugais é deveras eloquente, não é verdade?!

E, a menos que vejamos a evolução do Ser Humano no sentido de uma sociedade robótica, algo que me parece pouco apelativo, os progressos da medicina de ponta – nanotecnologia, engenharia genética e células estaminais, por exemplo – não me parece dispensarem a bem mais simples prevenção... ou será que tudo vale porque o "milagre tecnológico" está à mão?!

Qualidade de vida?... que será isso, no futuro...

Rui leprechaun

(...só excesso dos sentidos puro e duro?!)

Anónimo disse...

actimel.....
opa' horrivel
eu naum gustu de vcs !!!

Unknown disse...

Gostei muito do assunto discutido. Realmente é necessário que pessoas esclarecidas expliquem esses e-mails assustadores, que têm como único objetivo deixar os internautas preocupados.

Anónimo disse...

...E aqui vim eu parar, apenas por me querer informar acerca de uma bactéria e seus benefícios (ou inexistência deles), retratados no mail alarmista que recebi. Acabei por ler inúmeros posts acerca de se dever ou não beber leite, comer carne ou ser vegetariano...e a minha verdade é:
Eu desde pequeno que bebo leite e não sei que bem é que alguma vez me fez, mas posso garantir que mal não fez nenhum! Mais leite passei a beber a partir do dia em que começei a consumir drogas recreativas, no sentido de limpar o meu sistema e nesse aspecto muito me ajuda.
Quanto à Sra. Flora, é do conhecimento geral que os respectivos produtos são mais dificeis de digerir que os da Dona Fauna (por isso as vacas têm 4 estomagos).
E por último...em resposta ao pseudo-vegetariano que falou aí para trás: NO SÁBADO, DIA 28 DE JULHO DE 2007, FUI AO ANIVERSÁRIO DE UM AMIGO MEU PARA JANTAR...UM BOM BIFE DO LOMBO NA PEDRA...MAS NÃO MUITO PASSADO...ASSIM MÉDIO, PORQUE EU CORTAVA O BIFE E AINDA ESCORRIA UM POUCO DE SANGUE DO MEIO...E QUE BELO BIFE, BACANO!!! MESMO BOM, BEM TEMPERADO...EPÁ...DAVA GOSTO COMER TAL BIFE, COM SALADA AO LADO E UMAS BATATINHAS...QUE COM O TEMPO SE FORAM, E OS BIFES, COMO QUE A SALTAREM PARA O MEU PRATO...COM TAMANHA GOSTOSURA...PORQUE ANTES DE COMEÇAR A COMER O QUE TAVA NO PRATO, JÁ TAVA EU A METER OUTRO NA PEDRA...mas tenho pena que tal pessoa não possa apreciar tamanha alegria gastronómica, como a que eu senti no dia 28 de Julho de 2007!

P.S.- não necessitam alegar que eu tambem não provo o tipo de comida dele, porque é mentira! EU COMO VEGETAIS! pois sou omnívoro, alimento-me de todos os grupos alimentares...OK?

Anónimo disse...

Fantastic Post! Lot of information is helpful in some or the other way. Keep updating probiotics benefits

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