Transcrevemos secção final do livro "Big Bang. A descoberta científica mais importante de todos os tempos e porque precisa de a conhecer", de Simon Singh, que acaba de sair na Gradiva:
«Ciência» e «cientista» são palavras surpreendentemente modernas. A palavra «cientista» foi inventada pelo polímato vitoriano William Whewell, que a utilizou pela primeira vez na Quarterly Review em Março de 1834. Os americanos adoptaram-na quase de imediato, e por finais do século XIX também já era corrente na Grã-Bretanha. Deriva da palavra latina scientia, que significa «conhecimento», tendo suplantado designações como «filósofonatural».
Este livro conta a história do modelo do Big Bang, tentando ao mesmo tempo mostrar o que é a ciência e como funciona. O modelo do Big Bang é um bom exemplo de como uma ideia científica surge, é posta à prova, verificada e aceite. No entanto, a ciência é uma actividade tão vasta que a descrição que dela aqui fazemos está incompleta. Para tentar remediar estas falhas, coligem-se a seguir umas quantas citações acerca da natureza da ciência.
A ciência é conhecimento organizado.
HERBERT SPENCER (1820-1903), filósofo inglês
A ciência é o grande antídoto para o veneno do entusiasmo e da superstição.
ADAM SMITH (1723-90), economista escocês
A ciência é o que sabemos. A filosofia é o que não sabemos.
BERTRAND RUSSELL (1872-1970), filósofo inglês
[A ciência é] uma série de juízos em constante revisão.
PIERRE ÉMILE DUCLAUX (1840-1904), bacteriologista francês
[A ciência é] o desejo de conhecer as causas.
WILLIAM HAZLITT (1778-1830), ensaísta inglês
[A ciência é] o conhecimento das consequências e de como um facto depende de outro.
THOMAS HOBBES (1588-1679), filósofo inglês
[A ciência é] uma aventura da mente criativa que procura a verdade num mundo de mistérios.
CYRIL HERMAN HINSHELWOOD (1897-1967), químico inglês
[A ciência é] um grande jogo. Inspira-nos e retempera-nos. O campo de jogos é o próprio universo.
ISIDOR ISAAC RABI (1898-1988), físico americano
O homem domina a natureza não pela força, mas pelo conhecimento. Foi por isso que a ciência teve êxito e a magia não: a ciência não tenta enfeitiçar a natureza.
A essência da ciência é fazermos uma pergunta impertinente e com isso estarmos a dar o primeiro passo rumo a uma resposta pertinente.
JACOB BRONOWSKI (1908-74), cientista e autor britânico
Um bom exercício matinal para um cientista: todos os dias, antes do pequeno-almoço, deitar fora a hipótese favorita da véspera. Ajuda-o a manter-se jovem. Em ciência pode definir-se «verdade» como a hipótese de trabalho mais susceptível de conduzir a uma hipótese de trabalho melhor.
KONRAD LORENZ (1903-89), zoólogo austríaco
A ciência é essencialmente a eterna busca de uma compreensão inteligente e integrada do mundo em que vivemos.
CORNELIUS VAN NEIL (1897-1985), microbiólogo americano
O cientista não é quem dá as respostas certas, é quem faz as perguntas certas.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS (1908-2009), antropólogo francês
A ciência só é capaz de descobrir o que é, não o que deve ser. Fora do seu âmbito, continuam a ser necessários todos os juízos de valor.
ALBERT EINSTEIN (1979-1955), físico de origem alemã
A ciência é a busca desinteressada da verdade objectiva acerca do mundo material.
RICHARD DAWKINS (1941-), biólogo inglês
A ciência mais não é do que senso comum disciplinado e organizado, dele diferindo apenas na medida em que um combatente veterano difere de um recruta; os seus métodos diferem dos do senso comum da mesma maneira que os golpes bem treinados de um guarda real diferem das pauladas de um selvagem.
THOMAS HENRY HUXLEY (1825-95), biólogo inglês
As ciências não procuram explicar e mal se esforçam por interpretar; limitam-se a elaborar modelos. Por modelo entende-se uma construção matemática que, complementada com a necessária interpretação verbal, descreve os fenómenos observados. A justificação de um modelo matemático é, exclusiva e precisamente, que funcione.
JOHN VON NEUMANN (1903-57), matemático de origem húngara
A ciência de hoje é a tecnologia de amanhã.
EDWARD TELLER (1908-2003), físico americano
Todos os grandes avanços da ciência foram fruto da audácia da imaginação.
JOHN DEWEY (1859-1952), filósofo americano
As quatro fases da aceitação:
i) Isto é um completo disparate,
ii) Este ponto de vista é interessante, mas perverso,
iii) Isto é verdade, mas não tem qualquer importância,
iv) Foi o que eu sempre disse.
J. B. S. HALDANE (1892-1964), especialista em genética inglês
A filosofia da ciência interessa tanto aos cientistas como a ornitologia aos pássaros.
RICHARD FEYNMAN (1918-88), físico americano
Numa qualquer ciência, deixamos de ser principiantes e passamos a ser mestres quando percebemos que vamos ser principiantes toda a vida.
ROBIN G. COLLINGWOOD (1889-1943), filósofo inglês.
terça-feira, 4 de maio de 2010
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7 comentários:
Por causa do avanço extraordinário e acelerado das ciências os espanhóis quando é noticiada nova descoberta ou novo avanço tecnológico têm este desabafo de espanto e reconhecimento:
"Las ciencias adelantan que es una barbaridad."
A ciência, ao contrário do que a maioria pensa, não é uma panaceia; como tudo, também ela tem duas faces.
A teoria do Big Bang, embora engenhosa, não explica nada daquilo que todos gostávamos de conhecer: o princípio da «coisa»...
Eis aqui um comentário que fiz a um texto de René Guénon, há alguns tempos atrás:
A ciência é uma espécie de religião da Idade Moderna, uma espécie de futebol para letrados, com os seus templos e ídolos. O dogma que o método científico imputa à religião, usa-o ela própria, e com ele deforma a visão clara das coisas ao emitir generalizações de leis e axiomas que, ainda que corretos, não ultrapassam o plano da aplicação através das ondas e dos choques tecnológicos.
- O exemplo das ciências ditas exactas:
As ciências exatas são uma criação, à falta de melhor, dos ideólogos que protagonizaram a cisão entre ciências naturais e ciências sociais (e humanas), no séc XIX.
Lobachevski deu um grande alor ao pensamento matemático ao deixar patente que Einstein aplicaria a geometria não euclidiana nas suas abordagens aos fenómenos físicos. No entanto, as referências do físico à velocidade da luz estão a ser revistas por mentes nacionais (e não só), tendo, portanto, em vista uma reformulação da famosa fórmula da energia/massa einsteiniana.
A matemática, uma vez inventados os números irracionais, deixa de ser exata em alguns casos. Vejamos um exemplo: uma fração é uma divisão (diria La Palisse); se multiplicarmos 3 por 1/3 obtém-se 1, porém, se se dividir 1 por 3, três vezes, a soma dá 0,9... Ora, 90 cêntimos (ou 0.9999999999... euros), não é propriamente 1 euro (em termos «matemáticos», ou seja, exatos... claro!).
Para outras reflexões sobre esta temática, poderá consultar (entre outros), http://omundomoderno.blogspot.com/2008/06/superstio-da-cincia.html
Hoje distingue-se entre ciência e ciências. Compreendo que se assiste a uma adesão "irracional" a estereótipos e a modelos por parte de todos quantos, pelos mais diversos motivos e preconceitos, seguem acriticamente (porque sem formação)alguma ideia simplificada que fazem desta ou daquela teoria. Formam uma espécie de claques lideradas por alguma pretensa autoridade que gostariam de ver degladiar-se com os adversários. É um espectáculo.
E inclino-me a pensar que o método científico usa dogmas no sentido em que dogma só o é enquanto não for refutado.
A Igreja Católica sempre se expôs, sem hesitação e sem receio, a essa eventualidade (para quem os não aceita-quem os aceita não duvida).
A ciência, honra lhe seja, como o próprio cardeal refere, é o maior e melhor crítico de si mesma.
"(ou 0.9999999999... euros), não é propriamente 1 euro (em termos «matemáticos», ou seja, exatos... claro!)."
Qualquer pessoa com um mínimo de educação em matemática sabe que 0.999999.... = 0.(9) = 1 Exactamente e por definição de representação decimal.
Exactamente... não propriamente!... Esta questão da (de) linguagem é o que leva a que muita gente veja a realidade -- que é (será) real?, como questionava Watzlawick -- distorcida... aproximadamente, a «tender» para o real (matematicamente exata)!
"Exactamente... não propriamente!"
Exactamente propriamente. Tipo, são a mesma coisa.
Quando se é ignorante como é o seu caso deve-se ficar calado.
Qualquer livro decente de introdução à análise real explica isto. Até no secundário isto era ensinado.
Dizer que não são a mesma coisa é pura aldrabice.
O que é interessante são as ilações completamente estapafúrdias de gajo da treta de letras que você retira de uma coisa que qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre matemática sabe.
Muito elucidativo.
Sem comentários!
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