Será porventura assim tão fora de propósito, hoje, lembrar estes três F que foram tão defendidos nos tempos de Salazar e Caetano e tão atacados depois deles? Não terá havido exageros em ambas as alturas? E não haverá neste momento alguma confusão que permita estar, talvez, a sentir-se que os três F voltaram em força?
Seria interessante hoje pensarmos um pouco no tanto que temos ouvido falar em Futebol, em Fátima e em Fado! Sem pretender de modo algum fazer juízos de valor, seria curioso analisarmos friamente o tempo que, no domingo 9 de Maio de 2010, as nossas televisões – todas elas!!! - gastaram a mostrar futebol, e uns grandes ajuntamentos de pessoas em função do futebol. E quase o mesmo se passou no domingo anterior, e no domingo antes do anterior, para já não falar no que se relaciona com os futebóis na África do Sul, agora próximos. Muito futebol? Demasiado futebol? Ou não?
E Fátima, não tem sido também ela tão falada, e mais tudo o que se relaciona com Fátima, com quem lá vai estar e com quem já lá esteve?
E o novo Fado, e as novas fadistas que recordam as antigas, e a saudade e a angústia que continua a ser passada pelo fado?
Talvez devêssemos ver estes três F com mais distanciação, não nos deixando influenciar pelo que qualquer um deles nos possa dizer. Podemos gostar muito de Futebol e pensar ser normal o relevo que ao mesmo está a ser dado, ou não. Também é possível o mesmo com Fátima. Podemos ser católicos, 86% dos nossos concidadãos o são e acham perfeito que hoje se fale muito de Fátima, bem como podemos estar nos outros 14% e, obstinadamente ou não, pendermos para o inverso. E podemos gostar ou não de Fado.
Todos terão o direito de gostar dos três F, mas talvez pudesse ser evitada tanta obsessão. Não estarão os nossos meios de Comunicação Social a dar um relevo desmesurado a estes temas tão portugueses? Não estarão eles a dar-lhes uma excessiva evidência?
De facto, parece haver nestes últimos tempos uma nova e intensa focagem nos três F! Será necessidade, será falta de alternativas, será o nosso fado? Talvez esses temas façam parte da nossa maneira de estar, ou pelo menos da maneira de estar da maioria de nós, mas será decerto conveniente pensarmos também noutros temas, designadamente os problemas reais que afectam o País, que exigem soluções atempadas.
Não estaremos focados em excesso em determinados temas laterais?
Augusto Küttner de Magalhães
32 comentários:
Parabens! concordo totalmente... infelizmente os primeiros culpados são os media, que não fazem nada para mudar. A internet poderia ter contribuido para "desfanatizar" as pessoas, a realidade é que não hà UM dia sem futebolices na primeira pagina do Publico online... isto so para dar um exemplo. Muito triste.
E NÃO VAI PASSAR DISTO: OS 3 F!!!! OS PORTUGUESES GOSTAM ASSIM! E MESMO AGORA QUE LHES QUEREM MEXER NO IVA E NOS SUBSIDIO DE NATAL, OS PORTUGUESES QUEREM É VER O PAPA NA TELEVISÃO A IR A FÁTIMA E GASTAR O DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS! E DEPOIS O BENFICA FOI CAMPEÃO!
OS PORTUGUESES ESTÃO FELIZES E NÃO HÁ NADA MELHOR DO QUE UM FADINHO "DAQUELES DE IR ÁS LÁGRIMAS" PARA COMEMORAR!
EU E PROPVAVELMENTE MUITOS OUTROS, QUE ESTAMOS FARTOS DOS TRÊS F, GOSTARIA DE ACRESCENTAR UM QUARTO F! O F DE FO....SE ISTO TUDO! ESTOU FARTA DESTE PAÍS AFUNDADO À BEIRA MAR!
Embora certeira, a análise de Augusto Küttner de Magalhães parte de um equívoco: o de pensar que a televisão existe (como se fantasiava no seu início) para educar o povo; que os programas são feitos pelas elites para edificação das massas. Não é o caso. A televisão é feito pelo populaça, para a populaça. Produz e reproduz o que a maralha gosta.
Deixemos o povo alienar-se com o que é do povo. Tenhamos é o cuidado de não deixar que o povo possa escolher quem o governa. É muito perigoso deixar o futuro do país na dependência das escolhas de inimputáveis.
António Cardoso da Conceição
Não lhe parece, sr. Kutner, que deixou ficar um F na gaveta, exactamente aquele que é partilhado por 100º de todos nós, ou seja, por vossemecê também?!... JCN
Essa... dos três F é um tema que está gasto, pá! Vê se arranjas outra! JCN
Sr. António Cardoso da Costa: acaso vossemecê também se inclui na categoria dos tais inimputáveis ou, pelo sim pelo não, abstém-se de exercer o seu direito de voto?... JCN
António C. da Conceição,
"A televisão é feito pelo populaça, para a populaça. Produz e reproduz o que a maralha gosta."
Infelizmente, hoje em dia, é como diz.
A televisão que eu me habituei a ver (digamos, entre 1976 e 1992) conseguia educar (um pouco) o povo: Os programas eram "feitos pelas elites para edificação das massas".
Alguém não quis que assim continuasse, e continua a não querer, face ao total desrespeito e incumprimento das TV´s privadas pelos respectivos contratos de concessão, aliado à cedência ao populismo pela TV pública, tudo permitido por uma entidade reguladora inexistente ou inoperante.
Como sabe, a frase
"Tenhamos é o cuidado de não deixar que o povo possa escolher quem o governa"
pode nos levar a caminhos bem tortuosos e já percorridos. Mas, também infelizmente e desgraçadamente, parece que é mesmo para aí que isto tudo se encaminha...
Dervich
Hoje, pelo que já vi...hoje, anteontem,......... amanhã o que verei ...reforço estes Fs, e chegam e subejam...e estão muito actuais....mas é pena!!!!
Antes eu me tivesse enganado......
Augusto Küttner de Magalhães
Penso que a pergunta do anónimo das 13:20 me era dirigida, apesar do apelido Costa, em vez de Conceição. Respondo-lhe, portanto:
- Obviamente que não me incluo na categoria dos tais inimputáveis, o que não exclui que outros, com boas razões, nela me incluam, naturalmente.
E obviamente que, não sendo eu democrata (como penso que se deduz do meu comentário anterior), abstenho-me sempre de exercer o meu direito de voto. Votar significaria que eu estava disposto a aceitar como boas as escolhas do povo e a conformar-me com elas. Por outras palavras, significava que eu aceitava que o meu voto era tão bom como o de um analfabeto qualquer. Ora, se essa ideia é aceitável, quando estamos a discutir escolhas irracionais (como saber se gostamos mais de bananas ou de laranjas), não é tolerável, quando temos que fazer escolhas racionais, como são a maioria das escolhas necessárias ao bom governo da nação.
Evidentemente, o meu anónimo interlocutor questionar-me-á: mas então quem é que diz o que é bom para a nação? Um déspota iluminado? Mas como é que saberemos que ele é, de facto, iluminado e não um simples déspota prepotente?
A questão é pertinente e eu não sei como responder-lhe.
O que proponho, tentando evitar os dois males (da democracia e do despotismo) é um sistema de voto censitário deste tipo:
1- O direito de voto adquire-se aos 18 anos, com a maioridade, passando então cada cidadão a dispor de 100 votos em todas as eleições e referendos realizados no país.
2- Por cada ano de idade que complete depois de adquirir o direito de voto nos termos do número anterior, o cidadão passa a deter mais cinco votos.
3- Por cada 5000 euros de impostos pagos, o cidadão eleitor será contemplado com mais dez votos.
4- O analfabetismo ou a escolaridade obrigatória incompletas fazem o cidadão perder metade dos votos que lhe competiam por aplicação das regras anteriores. A posse de um grau académico superior ao da escolaridade básica fará o cidadão ganhar o direito a mais 50 votos; o doutoramento ou grau superior determinarão o benefício de mais 100 votos.
5- No momento da votação, o cidadão não escolherá um partido, mas repartirá os seus votos pelos vários partidos, num sistema tipo do que era usado no festival da Eurovisão e que Jorge Buescu demonstrou ser matematicamente mais apto da maximizar a satisfação colectiva.
Em qualquer dos casos, quem se encontra isento de culpa?!... Serão vossemecês... os dois? JCN
Que grande brincalhão que vossemecê me saiu, sr. António Cardoso da Connceição (apelido rectificado)! A propósito, em que categoria inclui vossemecê... os brincalhões?.... JCN
Parece que vossemecê, sr. Kuttner, ficou engasgado... com o quarto F ! Tenha calma, pa! JCN
Não de modo algum, mas esse 4º F....de tanto uso, por tantos já está por demais banalizado...nnão acha????e para além de não soar, bem, o palavrão!!!!!........
Caro JCN, não vejo a razão de me considerar um brincalhão. Não acha absolutamente normal que quem paga impostos deve ter um poder de decisão maior do que quem não paga? Não acha que o que as escolhas do Professor Carlos Fiolhais em matéria de energia nuclear, por exemplo, são melhores do que as minhas ou do que as do Barbas, o famoso adepto do Benfica?
Se me permite, brincar (designadamente com o futuro dos nossos filhos) é aceitar o sistema um homem/um voto que faz com que as escolhas políticas de um analfabeto e improdutivo indigente mental e laboral valham tanto como as de um activo e informado contribuinte para o bem público.
Mas, afinal, sr. Kuttner, não se trata de... banalizações?!... Que mal lhe fez o "palavrão"? JCN
Querida Ana:
Quanto ao quarto F estou totalemnte de acordo consigo, aliás é o único de que eu gosto mesmo. Mas deixe lá os portugeuses gostarem daquilo do que gostam. Você, como eu, gosta do quarto F mas uma grande parte gosta é de Fátima e de gastar dinheiro (disto também eu). Vamos convencê-los ou, pelo menos, tentar?
Funes:
O que você propõe é uma trapalhada, preencher o IRS já dá suficientes dores de cabeça. Não seja burocrata. Além de que, no seu sistema, os gajos da massa ficavam com os votos todos!!
Proponho um sistema mais simples. Antes de votar cada um é submetido a um exame de política com perguntas fáceis. Se chumbar não vota. Se passar vota.
Como vê, sr. Kuttner, acabou tudo... no 4ºF. JCN
A importante chamada de atenção que o autor deste post faz através da feliz designação dos 3F's merecia comentários mais elevados; o excesso de egocentrismo elimina a discussão consciente e transforma tudo isto num pobrezito joguito de ofensitas estereizitas.
Vossemecê, sr. Funes, tem cada ideia! Valha-o Deus! JCN
Quem joga sujo, meu caro anónimo das 21:16, acaba sempre por sair borrado! Já Confúcio... o dizia! JCN
Albert Camus disse...
"Os inimigos do futebol são tremendos... obrigam-se a falar do futebol".
Caro Funes. o poblema é que desde há uns anos apareceu o conceito de cidadão. Já ouviu falar? Nesse conceito cabem todos: os tipos da massa, os doutores, os pobrezinhos, os analfabetos, as mulheres. Isto é o que se poderia chamar a canalha é agora cidadão. Até o empregado ou operário, o desempregado, o jogador de futebol, o preguiçoso, o activo, o homossexual, o corredor de maratona, etc. etc.
O que nos permite transpor o aforismo de Camus para outras frentes:
Os inimigos do fado são tremendos... obrigam-se a falar do fado.
Os inimigos de Fátima são tremendos... obrigam-se a falar de Fátima.
Anónimo das 19:36h,
Com um bom software, o meu sistema não é grande trapalhada, embora o seu método também não me repugne.
Já o seu segundo argumento não o compreendi. Então os "gajos da massa" não são os que nunca pagam impostos?
Anónimo das 23:15h,
Também não percebi o seu argumento. Se vir bem, eu não atribuí a ninguém nenhum direito específico em função do seu nascimento, nem excluí ninguém de poder deter o máximo número de votos possível. Se vir bem, também, não privilegiei os votos em função da riqueza possuída. Privilegiei-os em função dos impostos pagos, o que é completamente diferente.
Quer dizer, o meu sistema respeita a cidadania e a dignidade de toda a gente.
Excelentes deduções, meu caro Dr. João Boaventura! Que osga... eles têm aos três F's! E tudo isto... por causa da vinda de Bento XVI a Portugal! JCN
Senhor Funes, em relação à sua espécie de "teoria", não sei se devo rir ou assustar-me... assustar-me por haver pessoas que pensam mesmo dessa sua maneira! pois um factor elementar que não toma em conta (por falta de capacidade de refleção?), é que a educação não elimina a parvoice... a proporção de parvos é a mesma numa população educada ou não, e isso em qualquer sitio do mundo. Conheço analfabetas com maior bom senso que o do S. Funes...
Cada século tem a sua etiqueta, e a dos 3FFF é do século XX, ou seja, de um passado muito próximo.
Isto significa que se mantém actual, se aderirmos ao pensamento de Umberto Eco, para quem, tudo o que se passa hoje é exactamente igual ao que se passou na Idade Média.
Posto isto, e sem pretender finalizar o tema, é salutar que as pessoas falem de qualquer coisa, e sobre ela discorram, por insignificantes que pareça.
O polidiálogo deve harmonizar as pessoas, mesmo que sobre um tema tenham visões e opiniões diferentes.
Senhor João,
O problema não està no facto de se falar dessas coisas ou de discordar etc. O problema està no exagero, que leva a fanatismos... exagero que mata outras actividades, outras aberturas, outras opiniões... e que fecha as pessoas e o pais inteiro. O fanatismo é a alienação do individo, torna-lo alheio ao pensamento (por si proprio)... Alem dos 3Fs hà tambem neste pais a politica "fanatizada".
Eu que cresci fora de Portugal, choca-me e toca-me a aberração desses 3 Fs. Faz lembrar uma cena do filme "Fantasia lusitana" de João Canijo, onde um refugiado estrangeiro em Portugal durante a guerra diz-se chocado por ver toda a gente a cuspir ao chão na rua: pois para a grande maioria no pais era normal...
Caro Mario
Sem dúvida, mas é um mal generalizado.
Já Wright Mills no seu "The sociological imagination" tinha observado, na década de 50, que os fundamentos da modernidade, baseados na razão e na liberdade, tinham deixado de manter um nexo de reciprocidade, e que o aumento da liberdade se tinha convertido em liberticida da razão, para dar lugar às ideologias e aos instintos primários.
Roberto Vacca,no "Medioevo prossimo venturo"(1990) utopiza a chegada da próxima Idade Média, considerando que o mundo "agrada a poucos optimistas que não têm criatividade suficiente para imagino-lo melhor", mas Umberto Eco já tinha previsto, em 1972, a degradação das instituições pelo mau uso das novas tecnologias.
Portanto, utopia ou não, temos assistido ao crescente criticismo do tecido europeu, as hesitações alemã e francesa para ajudar a Grécia, e gostaria de não assistir à derrocada da Europa, nem o retorno à Idade Média.
Sabemos dos excessos, dos fanatismos, mas num blog não podemos resolver nada, apenas raciocinar e falar sobre os assuntos de acordo com o que cada um pensa sobre os temas aqui abordados, para que a razoabilidade que herdámos do Iluminismo não se perca.
Cordialmente
Caro João Boaventura,
Penso que quando se fala em regresso à Idade Média se pensa, sobretudo, na perda do monopólio da força por parte do Estado e na consequente e inevitável fraquementação do poder daí decorrente. Grandes grupos económicos e grandes sindicatos do crime têm hoje mais força do que muitos Estados e, nesses estados, o cidadão comum pode contar com maior e mais eficaz protecção por parte de uma mafia local do que por parte do Estado. Julgo que é neste sentido - e só neste sentido - que se pode falar no perigo (bem real) de um regressso à Idade Média.
Quanto ao sentido cultural, intelectual e espiritual, tenho a Idade Média (pelo menos, a baixa Idade Média, a partir aí do ano 1000) como uma época extraordinária de capacidade de reflexão, de diálogo e de tolerância a todos os níveis.
Caro Funes
Agradeço a sua apostila que esclarece, debaixo do mesmo prisma, a ideia que inseri no meu comentário.
De facto a Idade Média durou dez séculos, e nem tudo se perdeu, porque da sua fragmentação nasceu os Direitos Fundamentais do Homem.
O que Umberto Eco esclarece é que no momento presente estamos a assistir a essa fragmentação, que Funes exemplifica, fragmentação de todas as instituições que conduzirão à multiplicação de mini-instituições independentes.
Posso extra-polar para o mapa político, onde o problema se verificou com a fragmentação da URSS em pequenos países, a libertação da Finlândia, da Estónia, Letónia e Lituânia, do jugo URSS, e a Jugoslávia também cindida.
Com isto, Umberto Eco, como bom semiótico, apenas visiona um retorno à Idade Média, como uma imagem da qual a humanidade criará um novo paradigma social melhorado, como a que resultou do final do medioevo.
Se me permite, aduzo um aforismo de Bernard Shaw:
"Se eu tenho uma mação e a empresto a outro, continuamos a ter uma maçã; mas se eu tiver uma ideia e a emprestar a outro, então temos duas ideias."
Daqui o prazer de trocar ideias, para termos muitas.
Cordialmente
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