domingo, 16 de maio de 2010

"Classroom chaos": Escola 5

Texto na continuação de outros aqui publicados.

Ainda que com algum tempo de intervalo, retomo o conteúdo do documentário Classroom Chaos. Nesta sequência, tocam-se questões também comuns nas escolas portuguesas, a avaliar pelos discursos dos professores: a incomodidade face ao castigo físico, a concentração flutuante dos alunos, a sua consciência dos direitos mais do que dos deveres... Neste particular, chamo a atenção para as palavras sensatas, de um professor, que fecham o texto.

Ia dar uma aula de Matemática para alunos de 12 anos. Era uma tarefa complicada. Fui avisada pelo professor principal de Matemática que havia um grupo particular de “engraçadinhos” que deveria logo pôr na linha porque, se eu desse “uma mão”, eles pediam logo o braço.

Professora: Vamos, despachem-se! Senta-te, por favor! Estamos fartos de te ouvir brincar com papel. Senta-te, já! Senta-te, por favor!
Aluno: Estou quase a acabar.
Professora: Não te importas de retirar as jóias?... Importas-te de sentar e continuar com o exercício?
Aluno: M…

Professora: O que é que disseste?

O nível de atenção dos alunos oscila consideravelmente. Num minuto, estão concentrados a fazer exercícios, e, logo a seguir, estão ao telefone, usando os telemóveis que escondem debaixo da mesa.

Professora: O que estás a fazer aí em baixo?... Arranjaste uma bonita… Não fales comigo assim.
Aluno: E tu também não fales comigo assim. Tenho os mesmos direitos do que tu. Tenho o direito de me manifestar.
Professora: E consegues fazê-lo muito bem.

Durante essa aula, tive um “ajudante”.

Aluno: Não vejo por que é que tenho de ir lá para fora… Arranjar o meu telemóvel é mais importante do que estudar.

Professor de Química: As coisas mais simples transformam-se em problemas, pelo que não me surpreende que um professor, numa sala de aula, se veja a braços com um estudante que se manifesta e exige os seus direitos, como se fosse um advogado. Em vez de se rir e de lidar com a situação, o docente acaba por ter dúvidas: “Será que vão ficar do meu lado, se eu tomar uma atitude?"

Professora: Quem é que disse que era?
Aluno: Eu.
Professora: Não podem sair antes do fim da aula.
Houve um rapaz que ficou farto do meu controlo e saiu da sala, batendo com a porta.
Professora: Se saíres, metes-te numa grande alhada.

Antes de entrar na sala de aula, li uma parte das orientações da tutela, para ter a certeza, preto no branco, que se podia aplicar algum castigo físico, no caso de o aluno perturbar a sala de aula, caso dois comecem “à bulha” ou caso danifiquem o património escolar. Assisti a todos esses casos, mas nunca soube o que era isso de “algum castigo físico”, pelo que nunca fazia nada, resolvia que o incidente se resolvesse por si só. Conhecia bem esses conceitos. Mas não concordava. No calor de uma discussão, quem é que vai consultar o advogado para perceber o que é isso de “algum castigo físico”. Quando uma criança irrompe daquela forma, deparo-me com um dilema. Será que devo agarrá-lo pelo braço e obrigá-lo a sentar-se, correndo o risco de ser acusado de usar força excessiva? Ou será que devo deixá-lo sair da sala, correndo o risco que se magoe “fora da sala de aula”, onde deveria ser responsável por ele? É muito difícil decidir “no calor do momento”.

Professora: Para onde é que ele vai?

Por experiência própria o poder mudou de mãos, passando dos docentes para os alunos e eles sabem disso…Tudo… A forma como passam pelos corredores da escola revelam que detêm o poder, que o lugar lhes pertence. Os alunos parecem querer ser adultos mais cedo.

Professor de Inglês: Alguns jovens parecem conhecer bem os seus direitos, mas são poucos os que conhecem os deveres e as obrigações. Ainda assim, as crianças não deixam de ser crianças. Querem que lhe sejam impostos limites, elas querem ser controladas, ser tratadas como crianças. Não é fácil lidar com isso. É preciso ter segurança e calma.

(CONTINUA)

1 comentário:

Pedro Campos disse...

Off-topic, uma sugestão: http://tertuliabenfiquista.blogs.sapo.pt/1060793.html

Pedro Campos

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