Discurso que se compreende pela declarada intenção de levantar a moral das hostes para novas batalhas que se avizinham e pô-las em pé de guerra contra Santana Castilho (sem citar o nome, evocando, como "nódoa" política, a sua qualidade de ex-subsecretário de Estado de Balsemão), que tentou ajudar Aguiar-Branco a "fazer contas" (palavras suas) e "alguns posts em blogues da especialidade" (palavras suas, novamente).
Acredito ter sido ovacionado por uma assembleia de pares sugestionada para ouvir aquilo que queria ouvir e que não foi defraudada por aquilo que foi dito. Todavia, entendo que Mário Nogueira devia ter ficado por aqui a digerir a sua"glória" de corifeu. Mas não!
Havia que a dar a conhecer ao país, de lés a lés, um artigo de opinião seu no "Público"(03/05/2010), a anunciar o feito com o título exclamativo para maior ênfase: "Esta Fenprof incomoda que se farta!"
Terminava o último parágrafo do meu último post, intitulado "Uma carta sobre a Ordem dos Professores", publicado neste blogue no passado dia 11, da forma seguinte: "Mais do que os blogues que debatem temas de ensino e incomodam que se fartam? Mas numa coisa esta federação tem razão: a Fenprof incomoda que se farta não tanto pelo que faz, diz ou escreve, mais pelo nível com que o faz, o diz, o escreve".
O notável artigo de Santana Castilho saído no "Público", que aqui se transcreve, demonstra-o sem sombra de dúvida.
Rui Baptista
Resposta a Mário Nogueira
Mário Nogueira assinou um artigo no PÚBLICO, a que deu o título “Esta Fenprof incomoda que se farta!” Dir-se-ia refém de uma qualquer peça de Ionesco, tantos são os absurdos em que se enleia, ou convertido à Patafísica, “ciência” de soluções imaginárias. Mário Nogueira espadeira contra indeterminados, que não tem coragem de citar. Aderente ao axioma “quem não está connosco está contra nós”, Mário Nogueira convive mal com esse espaço de liberdade que designa por “blogues da especialidade”. Mas destaca-me do naipe, que apoda de adversários da Fenprof e arautos de falsidades. A deferência merece resposta:
1. O meu último artigo, que Mário Nogueira refere como exemplo dos ataques à Fenprof e paradigma de falsidades, tem três vertentes claras para quem não seja analfabeto funcional: resenha diacrónica de escritos meus, cuja substância foi confirmada por desenvolvimentos posteriores; opinião, em que sou acompanhado por milhares de professores, divergente da linha oficial da Fenprof, mas que só a escola burlesca de Tarik Aziz poderia ignorar; e perguntas. Perguntas difíceis de tragar por goelas apenas oleadas para dar passagem a elefantes e sapos vermelhos, partidariamente cozinhados.
2. Lê-se no meu artigo: “Conhecemos o texto do acordo. Mas não conhecemos as actas, que se presumem feitas, das discussões havidas na maratona de 14 horas de negociações que o antecederam. A consideração da classificação do desempenho para efeitos de graduação dos professores foi ou não objecto dessa discussão? Se foi, em que termos? Se não foi, por que não foi? Se não foi, que atenção mereceu nos três meses seguintes de reuniões sem fim?”
Isto não são falsidades. São perguntas legítimas a que Mário Nogueira não respondeu. E foi mais longe. Disse, com a naturalidade de um amador incompetente, que aguarda, quatro meses volvidos, que lhe enviem a acta de uma reunião de 14 horas, onde se tomaram deliberações graves sobre a vida de todos os professores. Esquecendo, para cúmulo, que a Fenprof divulgou, sob a epígrafe “Acordo de Princípios sobre Aspectos do ECD”, logo em Janeiro de 2010, uma informação aos professores onde invoca o “compromisso assumido pelo ME em acta negocial” (sic, sublinhado meu, retirado de documento que detenho e poderei fornecer a quem o não conheça).
3. Mário Nogueira chama-me implicitamente desonesto, porque afirmei no meu artigo que a Fenprof não se deu conta, inicialmente, que a classificação do desempenho contava para a graduação profissional, em sede de concurso. Não lhe admito a baixeza.
No dia 12 de Abril, no site da Fenprof, estava escrito: “Para o concurso que hoje se inicia, é de salientar o facto de, no respectivo Aviso de Abertura, já não constar qualquer referência à consideração da avaliação para efeitos de graduação profissional, factor que, como a Fenprof tem vindo a exigir e a esmagadora maioria dos professores a defender, não deverá ser considerado já neste concurso.”
Não é claro? É preciso fazer desenhos? Não aderi à moda da “acção directa” e por isso não meterei ao bolso o bigode do Mário Nogueira, quando o voltar a encontrar. Mas espero que ele tenha a hombridade de me telefonar a pedir desculpa.
4. Mário Nogueira, numa construção frásica sem coerência, compara a solução (acordo) a que chegou com Sócrates com a admitida pelo PSD. E num jeitinho conveniente, que conheço, atira lá para o meio o meu nome. Entendamo-nos uma vez mais: numa conferência que proferi na Assembleia da República, a convite do PSD, a abrir um debate público em que Mário Nogueira também participou, sintetizei bem o que pensava sobre o destino a dar à avaliação do desempenho em análise: suspensão e lixo. E Mário Nogueira ouviu-me dizer, cara a cara e nessa sessão, a Aguiar Branco e ao PSD, aquilo que ele não pode dizer a Jerónimo de Sousa ou ao PC. É a vantagem de se ser partidariamente independente. O PSD e Aguiar Branco, particularmente, ouviram-me repetidas vezes. Mas não seguiram um só dos meus conselhos e deram o dito por não dito, como o Mário Nogueira.
5. Mário Nogueira desenterrou o “memorando” de má memória, com que salvou Lurdes Rodrigues. Poderia contar a verdadeira história desse episódio, que ele sabe que eu conheço. Preferiu continuar a enganar todas as pessoas todas as vezes, o que é manifestamente impossível, como recordou Lincoln. Devo refrescar-lhe a memória que rejeita. Se numa escola com 100 professores dez foram à reunião de consulta e nove aprovaram o memorando, isso permitiu-lhe dizer que obteve 90 por cento de aprovações. Os bonzos da estatística do Ministério da Educação há cinco anos que usam os mesmos métodos. A escola é a mesma. Mas não é a minha.
6. A polémica, aqui, acaba agora. Diga Mário Nogueira o que disser. A minha luta não é contra os sindicatos, muito menos contra a Fenprof. Não alimentarei o gáudio dos detractores dos professores, nem malbaratarei a generosidade do PÚBLICO, sacrificando o espaço onde há anos defendo a escola pública. Se Mário Nogueira quiser continuar, conte comigo. Desde que os espectadores sejam só professores. Diga o sítio e faça os convites. Lá estarei para, cara a cara, lhe dizer o que precisa de ouvir. Entre professores e a bem dos professores e dos seus sindicatos. Sem conclusões previamente redigidas. Com acta feita na hora.
Santana Castilho
3 comentários:
"Sem espinhas!" A clarividência desinteressada é sempre bem melhor que um certo engajamento limitativo do horizonte de resolução das questões em jogo. A par da clarividência e do saber desinteressado urge a instituição que melhor enquadrará, estou certo, um verdadeiro e sereno rumo para a educação em Portugal -- uma "ordem dos professores". Não será a situação ideal para uma profissão quase liberal estar cingida pelo espartilho de uma ordenação institucional; apenas o momento político-educativo quase caótico o exige. Diria mesmo tratar-se de uma emergência nacional.
Excelente resposta! Admiro a coragem e frontalidade de Santana Castilho.
Lutam todos com as mesmas armas e mentalidades. Só que uns são do Benfica, e outros do Porto (se é q me faço entender)...
E o caos reina nas salas de aula.
A mentalidade de grupos levará sempre a que se defendam os interesses dos grupos e nunca dos verdadeiros afectados: os individuos. Pior ainda, os alunos.
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