sexta-feira, 7 de maio de 2010

LIVROS NO PARQUE


Minha crónica no "Público" de hoje:

Um livro é um objecto com um design tão perfeito que nunca poderá ser inteiramente substituído. Também a roda, uma vez inventada, nunca mais foi substituída. O livro cabe na mão, acompanha-nos a qualquer lado, não necessita de electricidade, nunca avaria. Passa bem de uma mão para a outra, quer dizer, é um bom presente para oferecer. Damos um livro bom a alguém de quem gostamos e damos um livro muito bom a alguém de quem gostamos muito. Por alguma razão não houve ainda nos livros, nem provavelmente vai haver, a revolução que houve na música, com a brutal diminuição das lojas de discos em favor das descargas digitais.

Os livros estão no Parque Eduardo VII, em Lisboa, até 16 de Maio e, a partir de 27 de Maio, estarão nos Aliados, no Porto. Como vem sendo habitual, deixo, à guisa de sugestão, uma lista de uma mão cheia de livros recentemente saídos entre nós (a ordem é alfabética de autor):

- Mário de Carvalho, A Arte de Morrer Longe, Caminho. Novo livro de um dos romancistas que melhor observam a nossa contemporaneidade. O país em que os funcionários, em vez de funcionarem, se entretêm na Internet fica retratado através da criação de um personagem que “aplicava boa parte das horas de serviço a escrever comentários anónimos nos blogues alheios e nas páginas que os admitissem”, escrevendo coisas como “Esses senhores o que querem é repimpar-se!!! É só mama!!!”.

- Bernard Cornwell, Sharpe e a Batalha do Buçaco, 5.ª edição, Planeta. A 1.ª edição portuguesa deste romance histórico é de há cinco anos, mas esta edição vem mesmo a propósito do bicentenário da batalha do Buçaco, que se vai comemorar a 27 de Setembro. O romancista inglês narra as aventuras do capitão Sharpe, a combater às ordens de Wellington (ainda hoje se pode ver no Buçaco a oliveira onde esteve preso o cavalo do general). O leitor pode inteirar-se neste livro do saque francês a Coimbra, com mais de um milhar de mortos, o assalto à Universidade e a profanação dos túmulos reais.

- Eugénia Cunha, Como nos tornámos humanos, Imprensa da Universidade de Coimbra. A conhecida antropóloga forense, a quem ainda não deixaram examinar o esqueleto de D. Afonso Henriques, descreve a evolução humana numa colecção de livros de bolso populares inspirada na Que Sais-Je?. Num recente debate sobre a história da vida na Terra, depois de paleontólogos terem exibido ossos de animais desaparecidos, a antropóloga comentou que não precisava de trazer materiais, pois havia exemplares da espécie humana na plateia...

- Joaquim Fernandes, Mitos, Mundos e Medos. O céu na poesia portuguesa da tradição popular ao século XX, Temas e Debates/ Círculo de Leitores. O jornalista e historiador portuense, após um prefácio do poeta Manuel António Pina sobre as relações entre ciência e poesia, passa em revista a produção poética nacional de temática astronómica, desde tempos imemoriais até ao “cometa da República”, o Halley, que surgiu nos céus em Maio de 1910, pouco antes do 5 de Outubro.

- Eduardo Marçal Grilo, Se não estudas, estás tramado, Tinta da China. De um prelo que se tem notabilizado pela qualidade gráfica das suas edições, eis um novo livro do ex-ministro da Educação que se distinguiu pela sua invectiva contra o “eduquês”(“Deixem de falar eduquês!”). Custa-nos hoje a crer que o “eduquês”, não só uma linguagem mas também e sobretudo uma ideologia, tenha continuado a arruinar a educação nacional sob a égide de um homem da educação e da cultura tão esclarecido e crítico.

- Ian McEwan, Solar, Gradiva. O último romance do consagrado autor inglês versa o tema do aquecimento global. Num registo irónico, enreda o leitor na tragicomédia de um Prémio Nobel da Física que de certa forma representa uma humanidade desenfreadamente consumista.

- Silvan Schweber, Einstein & Oppenheimer. O Significado do Génio. Bizâncio.Um historiador de ciência norte-americano compara dois grandes génios do século passado que estiveram relacionados com a proposta e construção da bomba atómica. Um confessou arrependido “fui eu que carreguei no botão” e o outro afirmou amargurado “os físicos conheceram o pecado”.

Boas leituras!

2 comentários:

Pedro disse...

Ideias do primeiro capítulo retirado de "Obsessão pelo fogo" de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière.
Excelente livro, diga-se de passagem.

Carlos Fiolhais disse...

Sim, excelente livro. Já aqui o referi várias vezes.
Carlos Fiolhais

NO AUGE DA CRISE

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