quinta-feira, 27 de maio de 2010

O PESO DA IGNORÂNCIA

O escritor Pedro Rosa Mendes, cujo livro sobre Timor "Peregrinação de Enmanuel Jhesus" (D. Quixote) acaba de sair, deu uma entrevista ao "Semanário Económico", publicada em 22 de Maio último, da qual destaco o seguinte extracto:
P- A dificuldade de se libertar dessa condição de oprimido é onde reside a grande dificuldade de Timor crescer como país?

R- Acho que conheço relativamente bem as paragens do nosso ex-império e Timor é o espelho mais límpido e mais doloroso para ler Portugal.

P- Porquê?

R- Qual foi a persistência maior da nossa ditadura? A ignorância. Essa foi a parte da ditadura que não acabou em 25 de Abril de 74. Quem pensa o ciclo longo de Portugal, quem quiser ler Portugal não através da legislatura, ou do tempo actual, ou da conjuntura económica, ou das alianças de bloco central, etc., quem quiser ver mais longo constata que o maior problema e a coisa mais insidiosa da ditadura salazarista não era a PIDE, não foi o Tarrafal. Foi o facto de termos vivido tanto tempo debaixo de uma ditadura de ignorância que se perpetua.

O grande problema de Timor não foi a opressão política, não foi a perda demográfica. Em termos colectivos morreram mais de 200 mil timorenses. A maior persistência disso é, por um lado, a do trauma, que é muito operativo nas relações sociais, nas relações pessoais, na relação de trabalho. Há ali feridas que têm de ser saradas, mas por outro lado a construção e a viabilidade do novo estado esbarra com o peso do atraso, o peso da ignorância.

P- O que se pode fazer?

R- Educação, educação, educação. O que se passa em Timor é que colectivamente há uma sociedade sem capacidade de auto-crítica."

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