sábado, 22 de maio de 2010

As infra-estruturas básicas existem. Tirem partido delas.

A minha coluna Passeio Público, Jornal de Notícias, 19 de Maio de 2010.

Acredito firmemente que é nas cidades que deve ser colocado o foco do desenvolvimento no século XXI. É nas cidades que podemos reforçar as nossas vantagens competitivas como país, isto é, é no seu desenvolvimento equilibrado e sustentável que pode ser encontrado o reforço da nossa economia. E o problema não é essencialmente de infra-estruturas, ou seja, de obras e de betão, mas especialmente de conteúdo e actividade.

Nas cidades, assim como no país, faltam objectivos estratégicos. É isso que tem permitido o desenvolvimento desequilibrado do país, concentrando a cada vez menor riqueza gerada nos locais com maior poder político, e reduzindo enormemente a nossa capacidade competitiva.

É urgente inverter esta marcha. As cidades têm de produzir, criar riqueza, reforçar as suas capacidades humanas e empreendedoras para que possam desenvolver dinâmicas geradoras de actividade e valor.

O objectivo de uma cidade não é só ter qualidade de vida (como parece ser o lema da grande maioria dos autarcas, que medem a sua acção pela quantidade de obra que realizam), atraindo o consumo, mas justamente usar a qualidade de vida que for capaz de desenvolver como vantagem competitiva para a geração de riqueza que é a sua verdadeira razão de existir.

Consequentemente, os objectivos das cidades devem ser essencialmente os do dinamismo e da criatividade (cultural e económica), tendo os aspectos da qualidade e segurança como condições básicas para os atingir.

Este deveria ser o nosso objectivo a médio e longo prazo. Reforçar o papel das cidades, incentivando o funcionamento em rede que evitasse multiplicação de meios e infra-estruturas incentivando a sua partilha e racionalização, fomentando a diferenciação potenciadora de sinergias e reforço de competências, dinamizando o desenvolvimento equilibrado do país como forma de tirar partido das nossas potencialidades como nação.

Um plano bem montado teria ainda a capacidade de mobilizar as pessoas, pois elas sabiam com clareza que os seus esforços locais eram bem entendidos, cabiam num plano nacional de desenvolvimento e tinham um contributo visível no sucesso do seu país. E todos sabemos quão importante é a motivação das pessoas, a sua mobilização, para enfrentar dificuldades e realizar politicas de desenvolvimento a médio e longo prazo. E seria muito mais claro e racional decidir como e onde investir.

Uma nova estrada, uma nova ponte, uma nova infra-estrutura de transporte rápido, uma infra-estrutura científica ou cultural, etc., seria sempre encarada numa perspectiva nacional e justificada tendo por base o objectivo estratégico de desenvolver essa rede nacional de motores de desenvolvimento que são as cidades. E a cada investimento teria de estar sempre associada uma estratégia de dinamização que permitisse a todos perceber para que serve, como vai ser rentabilizado e como se insere no todo nacional.

Portugal tem as infra-estruturas básicas de que precisa. As próximas, aquelas que forem consideradas necessárias, têm de ser justificadas com base num plano de desenvolvimento nacional equilibrado que seja reconhecido pelos cidadãos nacionais como aquilo que querem para o seu país.

3 comentários:

Anónimo disse...

DIAS FERIADOS

Nos dias feriados a cidade
parece que está norta: a vida pára,
deixando de existir actividade
ou, pelo menos, sendo muito rara.

Fecha o comércio quase todo, menos
as grandes superfícies actuais
que não deixam viver os mais pequenos
com suas lojas tradicionais.

Aulas não há, ficando os estudantes
desocupados todo o santo dia
frente ao computador que os alicia.

E para visos ter de mais vazia
são poucos os cafés e restaurantes
dispostoa a atender a freguesia!

(Autor desconhecido) JCN

Paulo Soares disse...

Já vou perdendo a esperança de chegar a ver o dia em que
para todos seja claro que este tipo de discurso de engenheiros e gestores é quase sempre uma grande parte do problema e não aponta para nenhuma solução.

Cheguei à parte em que o autor afirma que 'a geração de riqueza é a sua verdadeira razão de existir' (das cidades), sendo a qualidade de vida e a segurança meras condições para se atingir esse nobre objectivo, e senti-me um extraterrestre.

Já chega desta conversa que nos quer reduzir a formigas perante super-homens que nos querem motivar e mobilizar! Que saudades que tenho do Desidério...

Anónimo disse...

que fazer a um pais onde as pessoas desde os descobrimentos inventam estratégias para viver à custa dos outros e para não trabalharem?
já foram as índias, já foi o Brasil, já foram as colónias de África, desde há uns anitos que são os subsídios da Europa, o que virá depois?

o país está falido porque andamos à 30 anos a viver ás custas de outros e não nos desenvolvemos para sermos autónomos. tão simples quanto isto!

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