quinta-feira, 20 de maio de 2010

MATEMÁTICA - UMA DOCÊNCIA CALAMITOSA

Novo post de Eugénio Lisboa sobre "o medo da matemática", o "ódio à matemática" e o "desprezo pela matemática":

"As dimensões apocalípticas do desastre que representam os resultados dos exames de matemática no nosso país constituem um verdadeiro crime situável muito para além de qualquer explicação complacente. Isto é: não vale a pena nomear bizantinas comissões de inquérito para se encontrar uma explicação óbvia e de dolorosa simplicidade: os resultados catastróficos dos alunos são o corolário directo e nu de uma inconcebível, criminosa e generalizada incompetência pedagógica dos professores. Os alunos são muito maus porque os professores são, na sua esmagadora maioria, inconcebivelmente maus – não se justifica ir procurar mais longe.

Chegou realmente a altura de se fazer uma avaliação séria – e independente – não do grau de conhecimentos dos alunos, mas sim da competência técnica e pedagógica dos professores. Prometo-vos que os resultados dessa avaliação vos darão pasto a entretenimento por muitos e bons anos. Quando estive a viver no Reino Unido (e estive lá dezassete alongados anos), os resultados dilacerantes no ensino secundário conduziram, a certa altura, a suspeitas que já se não podiam esconder debaixo do tapete. Em vista disso, procedeu-se a uma avaliação nacional do grau de competência dos professores: os resultados foram tais que o próprio sindicato dos profissionais do ensino não conseguiu fabricar explicações fantasistas – declarou, preto no branco, que as conclusões do inquérito fariam rir, se não fizessem chorar.

Bastará dizer que, dos professores avaliados (e tratou-se de uma ampla amostra representativa), não se encontrou um único que escrevesse inglês escorreito (os erros de ortografia eram aos montes) e pelo menos um professor de matemática não sabia calcular 10 por cento de 15 libras... Dispenso-me de dar mais pormenores mas recordo-me de ter enviado para o Ministério da Educação, em Lisboa, pour mémoire, um ofício com recortes abundantes e chocantes, colhidos na grande imprensa inglesa de referência. Foi um autêntico tumulto, mas os resultados eram apenas de esperar: a dimensão apocalíptica de um desastre tem sempre uma explicação extremamente simples. (Alcácer Quibir explica-se depressa).

De resto, quem quer que tenha vivido estes problemas não ignora que a matemática tem duas virtudes singulares: é, simultaneamente, a disciplina mais fácil de aprender e a que, uma vez “aprendida”, tem maior e mais duradouro poder de sedução – é apenas uma questão de competência do professor... Do segundo ao sétimo ano do liceu, em Lourenço Marques, tive a felicidade de ter tido sempre o mesmo professor de matemática – Vieira Júnior – que era um pedagogo excepcional. Julgo que, em seis anos consecutivos, não houve na minha turma, um único mau aluno de matemática. Mas houve, em contrapartida, um bando de “viciados”: quando se “acabava” um livro de exercícios dessa disciplina, ficávamos como o drogado a quem falta a droga – alguns dos meus colegas, na falta de terem dinheiro para comprar mais cadernos de exercícios, furtavam-nos nas livrarias (era “por bem”, como diria el-rei D. João I ...) Mal por mal, antes assaltar livrarias do que farmácias...

Tenho outras provas – sensacionais – de que uma pedagogia da matemática opera milagres. Em Lourenço Marques – também! – nos tempos em que ali fui aluno do liceu, havia, fora do ensino oficial, um “explicador” de Matemática que, por acaso, fora amigo de Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro (deste último, possuía algumas cartas e o poeta de Dispersão dedicou-lhe, mesmo, a mais longa novela – "O Incesto" – do seu livro de ficção curta, "Princípio"). Gilberto Rola Pereira, o “Gilberto Rolla” da dedicatória de Sá-Carneiro, costumava receber, em artigo de morte, os casos perdidos da matemática oficial: seduzindo-os, com o magnetismo de um olhar malicioso desfechado por detrás de uns óculos em meia-lua (o blazer impecavelmente britânico e a juba branca emissora de luz também ajudavam), o Rola ia-lhes mostrando, como ilusionista experimentado, como a matemática era, ao mesmo tempo, bela, rigorosa e simples: por assim dizer, “inevitável”. O milagre acontecia sempre: o mau aluno tornava-se bom aluno, o inimigo da matemática apaixonava-se pela matemática. À surrelfa, o Rola ia-lhes também metendo debaixo do braço livros do Pessoa, do Sá-Carneiro, do Régio... Matemática e poesia, - poderia haver melhor combinação? Poderia haver sedução mais óbvia? Mas, se o Rola Pereira era o mágico supremo, o operador sistemático de milagres que nunca falhavam – o coelho saía invariavelmente da cartola, sem acidentes de percurso - , não era o único operador de milagres do burgo mítico que era Lourenço Marques: outros havia (o Danúbio, o Gabão, etc.) que sabiam como seduzir para o reino de Pitágoras os alunos mais relapsos: o Helder Macedo que o diga, ou o Rui Knopfli (se fosse vivo) que o dissesse, entre dezenas ou centenas de marretas submetidos à ortopedia cintilante daqueles professores-benfeitores. O chamado “medo da matemática” que, com o tempo, acaba por se converter em “ódio à matemática” e, por fim, em termos de uma autodefesa triste e pindérica, em “desprezo pela matemática”, deriva sempre de, em cada professor, não existir a matriz sedutora de um Rola Pereira, de um Danúbio ou de um Gabão: matriz feita de competência, de gosto de ensinar matemática ou, mais singelamente, de gosto de ensinar.

Com os resultados que estão à vista: tsunamis pedagógicos a perder de vista e pessoas supostamente cultas e com responsabilidades profissionais e políticas capazes de ler, sem pestanejar, a célebre passagem do celebrado "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet: “Atrás do camelo quatro mil árabes corriam, pés nus, gesticulando, rindo como loucos e fazendo rebrilhar ao sol seiscentos mil dentes mui alvos”. Isto é, Daudet, certamente, por dificuldades com a operação da divisão, atribuía, a cada árabe, 150 dentes, em vez dos canónicos trinta e dois ou menos... Como observaria Bertrand Russell, Daudet poderia ter evitado este percalço, ou aprendendo a dividir ou, então, pedindo à Sra. Daudet que abrisse a boca. O Professor brasileiro Júlio César de Mello e Souza, mais conhecido pelo famoso pseudónimo de Malba Tahan e autor de livros interessantíssimos como "O Homem que Calculava e Matemática Divertida e Curiosa", a propósito desta passagem do livro de Daudet, observava com não pouca graça: “Uma simples divisão de números inteiros nos mostra que Daudet, cuja vivacidade de espírito é inconfundível, atribuíu um total de 150 dentes para cada árabe, transformando os quatro mil perseguidores em criaturas fenomenais.”

Eis o que estão a fazer dos portugueses os responsáveis pelo ensino da matemática: estão a transformá-los em “criaturas fenomenais” e fenomenalmente imbuídas de arrogância para com a disciplina que foi ilustrada pelos nomes de Pitágoras, de Euclides, de Thales de Mileto, Abel, Leibnitz, Descartes, Newton, Euler, Bernoulli, Fourier, Gauss, Nappier, Fermat, Galois, Mira Fernandes, Aniceto Monteiro, Sebastião da Silva Dias ou Tiago Oliveira. É realmente o momento de dizer: chega! Pede-se a um futuro primeiro ministro que aqueça suficientemente as costas de um ministro da educação competente e não complicado, que talhe a direito e corrija aquilo que se deve ter a coragem de corrigir: no ensino não pode haver lugar para incompetentes. Mantê-los é crime sem redenção".
Eugénio Lisboa

25 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Apreciei muito este post, porque a maior parte dos professores de matemática não é como o Rola. É preciso ter uma visão não-mecânica da matemática para a ensinar e nalguns casos os bons professores podem não ser matemáticos exímios, mas sabem ensinar e cativar, simplificando a matemática. Eu acho que parte do insucesso da matemática se deve aos professores: são muito pouco flexíveis, muito automáticos, pouco criativos, talvez porque não dominam as matérias - dificultam o que é simples.

Anónimo disse...

Pois era bom sujeitar os professores de Matemática a uma prova. Todos. Concordo. Mas, os maus resultados dos alunos começam na atitude destes na escola e se não acredita, venha testemunhar com os seus próprios olhos. Pensando melhor, estamos em Portugal, aprender para quê? Isto não tem futuro a não ser para os chicos espertos. Não, deve ser a estudar na escola que se vai a algum lado...

Anónimo disse...

Já há muitos meses que não comento posts do Rui porque simplesmente não os leio. Até acho o Rui boa pessoa e simpático mas desliguei-me.
Não os leio e comento porque são demasiado compridos, cheios de citações que eu acho completamente dispensáveis, repetitivos, etc. É como o humor do Marçal, acho tão tão mau que não vale a pena dizer nada. E quando penso de uma maneira muito diferente de outra pessoa perco a paciência para explicar todos os detalhes. Hoje, como é matemática...
Mas posso dar exemplos de coisas com que não concordo.
Por exemplo: acho que nunca se devem escrever coisas da nossa vida pessoal a não ser que sejam necessárias. Este é um dos vícios dos cronistas portugueses exibicionistas, como era o Eduardo Prado Coelho ou como é o João Pereira Coutinho.
Era completamente desnecessário o Rui vir-nos contar da sua vida em Inglaterra, só aumenta o tamanho do post e não nos adianta nada que nos interesse. Ou que mandou os recostes para o ministério, se isso não importou para nada. Bastava começar a dizer que em Inglaterra houve um estudo há uns anos... E poupava-nos umas linhas. É que não sei se o Rui sabe, nós temos outros posts e outros muitos blogues para ler.
Depois, é pouco científico, apresenta um caso ou dois de sucesso mas que não são representativos nem apresentam números. Isto não são provas, são historietas, não são verdadeiros estudos com números, etc, são casos isolados e vistos apenas de um ponto de vista, o do Rui.
A matemática é a disciplina mais fácil de aprender?! Claro que não é, tem uma linguagem diferente e é uma disciplina que exige um estudo em etapas sucessivas em que a etapa anterior tem que estar bem sabida para se passar à seguinte. Ao contrário de outras disciplinas em que se pode começar pelo fim!!, a matemática tem um fio. Não há nenhum impedimento em que alguém estude literatura dos dois últimos séculos, e seja um especialista nisso, mesmo sem dominar ou conhecendo apenas vagamente a literatura grega antiga. Na matemática é impossível progredir sem dominar o que os gregos antigos fizeram, e por aí adiante. Em outras disciplinas,como história, psicologia, etc, basta saber ler, além de que há certas coisas que podem ser omitidas e ensinar-se algo, na matemática isso é impossível.
Não acredito que haja algum professor de matemática em Portugal que não saiba calcular 10% de 15, isso é impossível. Claro que há professores melhores e piores, e até há alguns que sabem muito mas a explicar são uns nabos, mas não estou seguro que esse seja o grande problema da matemática.
Acho que o ensino da matemática pode ser melhorado, pode sempre, mas vão haver sempre alunos que nõa vão ser bons a essa disciplina, e isso é UMA COISA NATURAL.
É como a música, é impossível que certas pessoas sejam músicos, ou toquem qualquer coisa de jeito, isso é uma coisa que está nos genes e há pessoas que não têm ouvido e é escusado, não adianta. Claro que com um ensino melhor algumas delas com poucas apetências poderiam vir a tocar o Malhão, mas não muito mais que isso, e outras nem isso.
Julgar que se o ensino da matemática fosse excelente todas as pessoas iriam ser craques no assunto é o mesmo que esperar que se todas as gajas comecem iogurtes e papinha saudável iriam ser tão boas e giras como a Angelina Jolie! É o mesmo que esperar que se todos os alunos fizem desporto a sério em vez de andar a cabular, todos iriam conseguir os mínimos para os jogos olímpicos.
E isto também se aplica aos professores. É impossível, por muito bom que seja o sitema de ensino, que todos os muitos milhares de professores de matemática sejam excelentes. É que mesmo para isso há dons que já estão nos genes. Não é à toa que o Casanova papava gajas a torto e a direito e outros morrem virgens, como o Newton. É que saber contar uma treta, ter charme, saber encantar, é uma coisa que não se ensina.
É como este meu dom que tenho, que é o de saber escrever comentários mais longos que os posts, ainda mais sábios, sem precisar de fazer citações exóticas, e também sempre na tanga.
luis

José Batista da Ascenção disse...

É um facto que há no sistema de ensino muitos "professores" que nunca deviam ter sido admitidos como tal. Há pelo menos três condições que deviam ser absolutamente imprescindíveis:
1º Saber ler e escrever;
2º Saber as matérias a leccionar;
3º Ter aptidão para lidar com crianças/jovens e ensinar.
Do que fica dito resulta que as instituições que formam(?) professores no nosso país são incompetentes. Resulta também que Ministério da Educação e governantes que, ao longo de décadas, licenciaram as instituições de formação de professores são igualmente incompetentes e, eventualmente, criminosos.
Por isso, todos os professores deviam exigir ser sujeitos a provas de conhecimento da língua e das matérias.
E todos os governantes, ministros da educação e seus funcionários também deviam ser sujeitos a provas de língua portuguesa elementar.

Anónimo disse...

Meu caro Rui Batista,

Sei que o post não é da sua autoria, mas dado te-lo publicado suponho que se revê nele, daí estes meus comentários ...

O lema do meu comentário ao post seria: afinal Tales de Mileto estava enganado, há caminhos régios para a matemática.

Concluir especulativamente que os maus resultados dos alunos nos exames em Portugal (na matemática ou do que quer que seja) são "o corolário directo e nu de uma inconcebível, criminosa e generalizada incompetência pedagógica dos professores" é sem dúvida uma contribuição extraordinária para as "Ciências da Educação" em Portugal.
Currículos mal definidos e excessivos? Indisciplina?
Excessiva fragmentação dos tempos lectivos?
Baixo nível sócio-económico e cultural familiar?
Condicionantes históricos (como analfabetismo)?

Para o lixo com todos as investigações nacionais e internacionais sobre as variáveis que condicionam o desempenho dos alunos! Afinal a resposta é simples, unívoca e linear e o Dr. Eugénio Lisboa encontrou-a : professores ignorantes e pedagogicamente irrelevantes!

Se eu fizer tábua rasa da minha formação cientifica e tomar o corolário defendido por Eugénio Lisboa (suponho que será o ensaísta e professor de literatura..) como verdadeiro "os alunos são maus porque os professores são maus". Seria intelectualmente ousada e iria mais longe ainda: "os professores de matemática do ensino básico e secundário em Portugal são maus porque os professores universitários (de Matemática, Pedagogia e afins) são mesmo muito, muito maus"

E tendo em conta que os resultados dos alunos em Língua Portuguesa não são muito melhores que os de Matemática, os professores universitários de Literatura e afins também devem ser muito incompetentes...


P.S.: Esclarecimento: Não sou professora de Matemática nem de Língua Portuguesa.

Ângela Rebordão

Ana disse...

Hum? Mas quem teve uma vida em inglaterra não foi o autor do texto, que por acaso nem é "o Rui"?...

Discordo de "a matemática é, simultaneamente, a disciplina mais fácil de aprender e a que, uma vez “aprendida”, tem maior e mais duradouro poder de sedução". Confesso que estou no leque daqueles que abominam a matemática...está aprendida, pois tem de estar, é uma ferramenta universal e indispensável. Mas não me seduz minimamente, e muito menos da forma como a aprendi...

Tenho de confessar que acho este texto pouco objectivo, pois denota-se muito a opinião e paixão pessoal do seu autor pela matemática. Paixão essa que não é partilhada por todos, mas que concordo ser essencial a quem procede ao seu ensino.

António Daniel disse...

o Luís refutou com muita pertinência o argumento apresentado pelo post. portanto, pouco mais há a dizer. Contudo, estou farto de falácias. Quem tem responsabilidade devia encarar com mais seriedade a realidade. É muito fácil cortar «a direito» a partir de uma posição confortável. Aliás, a arrogância com que professores do ensino superior, alguns deles também maus, começa a saturar-me. Sou a favor da responsabilidade de cada professor, mas tornem a escola séria. A partir daí podiam avaliar.

Anónimo disse...

Vani, tens razão, já tinha dado conta do erro, o post é do Lisboa, que salvo erro é um considerado bom poeta, não me lembro bem e nem conheço a obra. Mas o post parecia mesmo do Rui!
luis

Ana disse...

Desta vez tenho de discordar do Rui ;) e sublinhar o comentário da Angela Rebordão. Trata-se de um problema multifactorial, não se pode isolar apenas um "culpado" e acabar a bater no ceguinho responsabilizando os professores. É uma acusação generalista e injusta para com todos os bons profissionais que continuam na sua luta diária, talvez idealista, de educar quem não quer ser educado...

José Meireles Graça disse...

O quê? Um professor de matemática que não sabe calcular 10% de x? E de Português que dá erros de ortografia? Impossível. Compreendo a indignação dos comentadores: realmente examinar os examinadores é uma ideia impossível. Seria o mesmo que dizer que quem lhes deu o canudo não o devia ter dado. Impossível.

Ana disse...

Mas tb é verdade que desde que me lembro que os resultados dos exames de matemática foram sempre maus, na sua generalidade...

Outra verdade é que enquanto forem burocratas a elaborar os programas das disciplinas, a comandar o destino da educação, a elaborar exames e afins...

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui Baptista,

Quem ler este post tira a conclusão simples que a culpa dos problemas do ensino é... dos professores!!!!

Desta forma, posso tirar as seguintes ilações:
- a culpa do sistema de justiça não funcionar é dos... juízes;
- a culpa da falência das empresas é dos... trabalhadores;
- a culpa de sermos mal governados é do... contribuinte;
- etc. ;

Caro Rui Baptista,

Se algum dia o Eugénio Lisboa tiver o privilégio de gerir uma empresa multinacional, espero que não afirme, em caso algum, que a culpa do maus resultados da empresa se devem aos seus... colaboradores, porque os accionistas colocam-no na rua nesse mesmo dia!

Este artigo é um hino ao positivismo militante e que esquece por completo que não é matematicamente possível encontrar em pouco mais de 2 milhões de pessoas 140 mil... quase perfeitas! Mais, mesmo que fosse possível encontrar 140 mil pessoas com as características enunciadas nos tais exemplos, habituais nesta corrente do pensamento, se fossem todas alocadas ao ensino básico e secundário como ficariam todas as outras áreas da economia e da sociedade? E que salários estaríamos dispostos a oferecer a estas pessoas (não podemos esquecer que estamos num sistema de economia quase livre) para as convencer a trabalhar nesta área?

Quando é que o Eugénio Lisboa percebe que o ser humano não vive de idealismo mas de pragmatismo?

O caro Eugénio Lisboa tem que perceber, como aliás o país de que fala já percebeu, que todas organizações têm que se organizar com base nos recursos disponíveis e não nos recursos que gostariam de ter! Isto aprende-se em qualquer faculdade de qualidade e em qualquer curso de engenharia ou de gestão com o mínimo de qualidade.

O caro Eugénio Lisboa pode continuar a ter o sonho de ter todas as escolas de todo o país apenas com Vieiras Júniores como professores, mas tal nunca acontecerá, pelo menos enquanto a ciência não conseguir fazer melhoramentos genéticos no Homo sapiens sapiens...

O comunismo considerou que isto era possível e acabou como todos sabemos...!

P.S. sinto uma enorme tristeza por sentir que Portugal ainda não passou a fase da adolescência, apesar dos seus 900 anos de História!

Anónimo disse...

Como EE nas reuniões com DTurma sempre que há da parte do professor de Matemática algum rigor e exigência (para a qual os alunos não estão preparados) é logo acusado de criar mau ambiente e intimidar os alunos.É acusado de os desmotivar pois para a grande maioria dos EE motivação é atribuir grandes notas com nenhuns conhecimentos.No ano seguinte a direcção da escola por pressão dos EE troca o professor de Matemática por um professor "motivador".Com atitudes destas dificilmente o ensino da Matemática terá sucesso

Anónimo disse...

Eu tive aversão à matemática durante muito tempo, os meus professores eram assim assim, mas falhava muito aquele estimulo necessário aos alunos e falhou sempre, apesar da super pedagogia uma resposta a uma simples pergunta: afinal para que serve a matemática? era tudo muito seco, teórico, mecanizado e no fim de se aprender algo novo aquilo parecia ser aprendido por se aprender, mesmo os melhores alunos pensavam assim..
depois desliguei-me e fartei-me de algo que nem percebia para que servia, como podia passar com negativa a matemática la ia fazendo os anos lectivos..

hoje sei que estava enganado, apesar de ter cursado humanidades e depois csociais na universidade sei a falta que faz e quero aprender.

ai alerto para os bloguistas uma coisa, é muito difícil encontrar livros que ensinem matemática, os conceitos fundamentais do bj caraça é talvez uma excepção, fora do ensino os currículos parecem desorganizados, haja alguma atenção aos autodidactas!

Emanuel Mendonça disse...

De facto existem professores que têm muitas dificuldades em efectuar alguns cálculos de "merceeiro". Também é verdade que muitos tratam mal a língua portuguesa. E de quem é a responsabilidade? Em primeiro lugar deles mesmos que não se preocupam em melhorar e, em segundo lugar, de quem lhes deu a "carta de professor", que se calhar não sabia muito mais ou tinha taxas de sucesso a cumprir ...
A matemática, como qualquer área do conhecimento, não é para todos. Todos temos as nossas aptidões. O que falta é alterar o sistema de ensino de modo a proporcionar caminhos diferenciados a pessoas com aptidões diferenciadas. Nem todos podemos ou queremos ser doutores.

Ana disse...

Ora bem Emanuel ^_^ todos diferentes, todos iguais eheheh. Não é elitismo dizer que a matemática não é para todos, pelo menos a matemática pura. Requer um tipo de raciocinio prático que muitos não têm e que só adquiram graças a muito esforço e treino, ao passo que outros têm uma intuição magnífica e dão-se que nem peixes em água. Mesmo reconhecendo-lhe a indispensabilidade, não consigo gostar de Matemática ehehe, nem sequer na sua forma mais lúdica ^_^ Por alguma razão raciocino melhor empregando palavras ao invés de números ;-).

Mas a discussão nem é propriamente essa.

Anónimo disse...

Vendo o problema de outro lado, do lado dos pais, é tudo incompreensível. Mas tudo fica muito mais "resolvido" quando recorremos às explicações particulares.
É curioso que as explicações sejam ministradas pelos mesmos professores de matemática (ou física, ou português, etc., a razão de 20 a 30 euros/hora) que, segundo o seu post, são tão fracos nas escolas.
Toda a gente sabe que há escolas em que a maioria dos alunos tem explicações. No 12º ano são quase imprescindíveis se se querem atingir as altas médias requeridas para o ensino superior.
A pressão é de tal ordem que muitos pais nos vemos obrigados a, também, pagar explicações, ou então os nossos filhos estarão em desvantagem comparativa.
Acho curioso que o tema das explicações seja um enorme tabú. Ninguém fala de algo que me atrevo a rotular de específico do nosso país.
Dos sindicatos dos professores nunca ouvi uma palavra sobre isto. Nunca ouvi nada sobre as enormes quantidades de dinheiro que circulam, sem recibo e sem impostos. Mas, claro, como tudo é clandestino, cabe aos "prejudicados" a prova do crime...
Em resumo, acho que se calhar uma das razões para o mau desempenho de muitos alunos é o cansaço dos seus professores após tantas horas de explicações depois das aulas.

Tiago Barreinrinhas disse...

1- No melhor pano cai a nódoa:
"surrelfa" -> sorrelfa

2 - Os professores deveriam prestar provas de conhecimento da matéria que ensinam, de tempos a tempos, em exame nacional obrigatório.
3 - A chamada "progressão na carreira" deveria ser atribuída por mérito e nunca por antiguidade.

Haja um Governo com coragem para implantar estas duas medidas e obterá primeiro uma guerra e depois uma revolução no ensino.

Anónimo disse...

Não sabem falar de mais nada... a não ser de educação e matemática?!... JCN

Fartinho da Silva disse...

Caro Tiago,

Fazer exames aos professores de tempos a tempos é populismo e soviético. Até o pode fazer, não sei é se está preparado para as consequências...

Em relação ao anónimo das explicações, só tenho isto a dizer: alguma vez ouviu falar em mercado?

Ana Maria Brito Jorge disse...

O direito à opinião é inquestionável. Agora, pretender apresentar opiniões (ou "sensações"...) como verdades inquestionáveis e absolutas é que já não pode ser considerado "jogo limpo"...
O exemplo de um óptimo mestre (de há algumas décadas) prova alguma coisa? Talvez sim, mas não o que aqui parece pretender-se... Antigamente havia muito bons professores, sim, mas nem todos excepcionais, como se sabe... Hoje, há professores menos bons, sim, com formação inicial questionável,sim, mas há muitos mais muito bons, excepcionalmente habilitados cientificamente e pedagogicamente exemplares. Se eu acreditasse que um exemplo, ou dois, ou mais, chegariam para demonstrar esta verdade, apresentá-los-ia aqui. Conheço alguns, estão por aí, a trabalhar, hoje, nas nossas escolas.
Mas a qualidade do trabalho dos professores e os níveis de aprendizagem dos estudantes medem-se recorrendo a observações e medições sistemáticas e objectivas. Cientificamente.
O resto, pouco mais vale...

Anónimo disse...

Exemplo de alguém que ensinou matemática, apesar de não ser matemático de formação, foi Martin Gardner, falecido este sábado aos 95 anos. Não creio que alguém alguma vez deixará um legado tão rico a quem se interessa pela divulgação da Matemática!

Anónimo disse...

É totalmente mentira que a culpa da má aprendizagem da Matemática seja «totalmente dos Professores» e que estes sejam «inconcebivelmente maus» e «não se justifique ir mais longe». É exactamente o contrário: Justifica-se ir muito longe nas razões da desgraça que conhecemos. Ao fundo, mas mesmo ao fundo, das razões, está lá a verdade. Não são as «verdades» a boiar à superfície as mais explicativas, mas talvez aquelas em que é mais fácil para muita gente, acreditar.
Infelizmente, ainda há quem prefira acreditar na teoria do bode expiatório.
Não há dúvida que muitos Professores dos dias de hoje são já eles próprios o produto do catastrófico sistema de ensino em si, mas a noção (correcta) de que o ensino bateu no fundo não se aplica apenas ao ensino da matemática, mas de todas as áreas e não só no ensino básico e universitário mas também no ensino superior.
A responsabilidade é sobretudo política e por outro lado, da autoridade «pedagógica» vigente.
Também não tem nada a ver com a «avaliação dos professores» já que com ou sem ela, os objectivos políticos e os objectivos do lirismo romântico aplicam-se da mesma forma: Os professores acabariam sempre por ser avaliados pelas estatísticas do «sucesso».
Logo, leio neste texto uma opinião que me parece muitíssimo injusta e extremamente condicionada pelo preconceito da moda: Os professores são os maus da fita. Lamento, é mentira. E sobre este texto, não comento mais.

Anónimo disse...

Cada cabeça cada sentença. Afinal o que é eduquês?

"Também não tem nada a ver com a «avaliação dos professores» já que com ou sem ela, os objectivos políticos e os objectivos do lirismo romântico aplicam-se da mesma forma: Os professores acabariam sempre por ser avaliados pelas estatísticas do «sucesso»."

Mas não é Nuno Crato que propõe que os professores sejam avaliados pelos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais?

Cada cabeça cada sentença!

Anónimo disse...

Sou professor e defendo a avaliação dos professores assente essencialmente nas notas dos seus alunos obtidas em exames nacionais.

Quanto ao sr. Eugénio Lisboa é uma pena não estar a leccionar matemática no ensino básico. Este sr ia divertir-se muito e os seus alunos também.

Em relação às explicações é tudo uma questão de $$$. Quando se paga um serviço tudo é levado a sério, quando é gratuito ninguém lhe dá valor. Como a escola gratuita vai acabar, graças a este belo governo, e às dívidas que nos vai deixar, acredito piamente que os resultados escolares vão melhor e muito!!!

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