“Se continuarmos a fazer o que estamos a fazer, continuaremos a conseguir o que estamos a conseguir” (Stephen Covery, autor do best-seller " Os Sete Hábitos").
No “De Rerum Natura”, as “Novas Oportunidades” têm merecido várias e contundentes críticas estando, inclusivamente, transcrito neste blogue um depoimento por mim prestado (07/07/2010), a solicitação do jornal Público, intitulado “Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”
Passados precisamente três meses, foi publicado no blogue de Paulo Guinote, “A Educação do meu Umbigo”, um post que é o valioso e sofrido testemunho de quem conhece por dentro os meandros descarados e vergonhosos que caracterizam esta forma de “ensino”. Com a devida vénia, se transcreve, textualmente, o supracitado post:
A “Oportunidade”
"A palavra “oportunidade” vem sendo demasiadamente prostituída, de há uns tempos para cá. Refiro-me sobretudo ao modo como é usada e aplicada nos cursos do programa “Novas Oportunidades”, com que lido diariamente e que sem excepção me deixam prostrada, no anseio, que me guia, de concretizar boas práticas profissionais.
O que parecem não perceber os vários responsáveis pela criação e pela organização das “oportunidades” é que esta é uma palavra selectiva: não chama toda a gente. Ora, pelo contrário, toda a gente é chamada às “Novas Oportunidades”, com o aceno luminoso de um salário mensal e de um diploma, ao fim de pouco mais de um ano de comparência à formação. Digo comparência, porque pouco mais é necessário. Passo a explanar alguns dos graves problemas que corrompem um projecto cujo ideal é bonito, mas estropiado pela sua implementação cega:
1. A selecção dos adultos (penso nos EFA e nos RVCC, mas os CEF também cabem aqui) é, geralmente, pouco criteriosa, juntando num mesmo grupo pessoas com níveis de formação assaz distintos, dificilmente conciliáveis. Além disso, a sua formação humana é bastas vezes precária e a disposição para o trabalho, habitualmente, nula. Há dias, houve quem, num arroubo de sabedoria, me aconselhasse a não levar aquilo “tão a sério” (por “aquilo”, referia-se ao cumprimento de horários).
2. Muitos deles estão ali porque foram coagidos pelo IEFP, tendo como única motivação o dinheiro que lhes cai na conta todos os meses, procurando todos os subsídios a que vagamente ouçam poder ter direito. Se conseguirem a certificação no final, é ouro sobre azul. Se a sala estiver equipada de computadores e o curso até for ligado à área tecnológica da informática, então vamos a transformar o espaço de formação num escritório pessoal, de que não podem ser dispensadas as redes sociais nem o MSN. Se o formador pedir trabalho pelo meio, terá de esperar por uma pausa nos contactos de monta que se estabelecem ali, mesmo por quem não conhecia os equipamentos informáticos, mas que depressa chega com deslumbramento ao maravilhoso mundo novo das tecnologias.
3. Os referenciais são abstrusos, incoerentes, irreais e ocos. Além da regular discrepância entre os conteúdos propostos e o tempo de duração do módulo (ora são em demasia para as horas previstas, ora as horas excedem em muito o necessário), os vários módulos repetem pontos uns dos outros, não se percebe uma linha sequencial de matérias nem de nível de dificuldade – e todos têm de ser adaptados aos chamados “temas de vida” e “actividades integradoras”, que limitam confrangedoramente o trabalho de formação.
4. O conceito-chave de “competência”, que norteia todo o programa, está orientado para práticas profissionais, sociais e pessoais que não contemplam a cultura nem o conhecimento – a base sólida de toda a formação.
5. Se existem adultos que não correspondem aos objectivos dos módulos, se não se esforçam nem apresentam trabalho, não podemos pensar numa “não validação”, porque, como me disseram recentemente numa reunião, “não é suposto haver não validações”. Se o formando ultrapassa o limite mínimo de faltas que podia dar, é convidado a assinar algumas horas, na tentativa de que se salve ou permaneça um tempo mais no curso, de modo a não prejudicar as entidades formativas, que são avaliadas em função do número de validações atribuídas e da quantidade de burocracia que fazem nascer. Invariavelmente, são os próprios formandos que acabam por desistir – uns porque percebem que não podem ficar ali sentados sem fazer nada; outros porque depressa detectam o calibre de alguns dos colegas de grupo e não estão para aturar delinquentes.
6. A avaliação dos adultos é feita bastante em função de “reflexões” que têm de redigir com regularidade, juntamente com documentos de “auto-avaliação” – quando poucos têm bases para realizar semelhante exercício ou se interessarem sequer por ele. A lei do menor esforço impera, e é corrente a confissão de “não senti dificuldades”, que isenta o indivíduo de desenvolver o pensamento. Ademais, quase ninguém sabe pensar nem escrever, e o que custa é sabiamente evitado.
7. Nos módulos de Linguagem e Comunicação/CLC, a colaboração nas actividades integradoras resume-se a um “redigir textos”, que, na maior parte dos casos, acaba às costas do formador: as lacunas de expressão e de correcção escrita são tais que é necessário reescrever os textos (ou linhas) entregues pelos formandos, de modo a que se tornem apresentáveis ao exterior.
8. Muitos adultos com o 6.º ano chegam a obter, num período de poucos meses, o diploma do 12.º ano, contando a sua história de vida e fazendo pesquisas na Internet. Raros são os chumbados, findo este percurso, justificando-se, muitas vezes, a certificação, pelos psicólogos e engenheiros envolvidos na avaliação, com o sentimento de “valorização pessoal” que daí advém para os “adultos”.
9. Os formadores são tratados como peças num jogo de xadrez: têm de se desdobrar para chegar a todo o lado e inventar disponibilidade para quem, em muitos casos, não a valoriza. Em múltiplas entidades, não sabemos quando vamos receber, o que frequentemente acontece com um atraso de 4 e 5 meses para com o período de trabalho realizado – porque os subsídios do Estado não chegam e as entidades que gerem vários cursos não têm meios para adiantar pagamentos. Algumas, que o têm, não sentem essa preocupação. Em todos os casos, a prioridade é o pagamento aos ditos “adultos” que, se não recebem no final do mês, boicotam a formação.
10. Os formandos têm sempre razão. Estas são apenas algumas das dificuldades com que o profissional de educação/formação se vê a braços, se quiser trabalhar e ainda não tiver lugar nas escolas públicas – ou se simplesmente escolher outros percursos de trabalho. Salvaguardo as excepções que existem para todo o panorama descrito, tão mais dignas de menção quanto é negro o quadro com que contrastam – quer entre os formandos, quer entre as entidades formativas.
Em todo o caso, a situação é inegavelmente preocupante, fazendo-nos cúmplices da proliferação, no nosso país, de uma estufa de párias, que não sabem dar valor à aprendizagem e se iludem quanto às suas “competências”, com a subscrição do Estado e uma palmadinha nas costas.
Ainda assim, não deixo de sonhar com o dia em que a palavra “oportunidade” seja limpa e volte a brilhar. Trabalho para isso a cada minuto.
(autor/a que solicitou anonimato)"
13 comentários:
Caro Rui Baptista
Vattimo já esclareceu no seu nanuscrito "Credere di credere" que as novas tecnologias vieram criar um mundo artificial donde resulta perderem-se os parâmetros que permitam a perfeita distinção entre necessidades efectivas e necessidades inventadas, onde se inserem as novas oportunidades.
Quando o sociólogo Alan Touraine, pergunta, na sua obra "Pouvons-nous vivre ensemble", conclui contundentemente que o universalismo da razão, de que tanto nos ufanamos, foi um princípio de dominação, fica explicado o pior uso que este governo tem feito da dominação, com a arbitrariedade e o abuso que o poder lhe confere.
Estarrecedoramente esclarecedor. Para quem ainda tivesse algum vestígio de dúvida...
Concordo plenamente com o que foi dito. Também já leccionei nesse tipo de cursos. É a educação em decadência, mas um reflexo da sociedade "oca" em que vivemos...
Os formadores são, de facto, os parentes pobres dos professores. Trabalham a recibos verdes, é-lhes exigida disponibilidade total e capacidade de omnipresença, não têm direito a subsídio de desemprego, subsídio de alimentação, subsídio de transporte. Pagam a alimentação, o transporte e o material escolar necessário à preparação das aulas e, às vezes, para os próprios formandos, estão atolados em burocracias ridículas, são obrigados (em alguns casos, não todos) a elaborar o manual do módulo/disciplina e tudo isto a troca de um pagamento à hora que não cobre as despesas de alimentação, transporte e materiais escolares. Não têm acesso a manuais escolares, não têm descontos em manuais escolares, têm de os procurar e comprar do próprio bolso, pagar impostos que partem do principio que o dito profissional liberal ganha muito bem e estão sujeitos a politiquices, mesquinhez, incompetência, má educação, mentalidades tacanhas, dramas pessoais reais (como formandos que se suicidam...como formandos que têm de acompanhar pessoalmente porque se encontram em depressões gravíssimas de risco...). Não esquecendo que são obrigados a ter um seguro de acidentes de trabalho, pago do próprio bolso, claro está. São obrigados a ir a reuniões sem serem pagos por isso. São obrigados a corrigir trabalhos, testes, exames, e afins sem serem remunerados por isso. A única remuneração é a que respeita às horas de aula dadas, que muitas vezes não passam das 2 horas por semana e nas quais uma hora corresponde ao combustível para o carro...O formador paga para trabalhar, na maioria das vezes. E se quer juntar umas parcas poupanças, terá de aceitar o maior número de turmas possíveis, algumas separadas por 100 kms de distância e sujeitar-se a malabarismos terríveis para conseguir estar em todo o lado ao mesmo tempo e satisfazer tudo e todos ao mesmo tempo. Muitas das disciplinas em diversos cursos profissionais incluem matérias complicadas e muitas vezes inacessíveis a pessoas que ou não têm um método de estudo ou capacidade para as alcançar; fora o número de horas ridículo (demasiado pequeno) que é atribuído aos módulos técnicos e impossível de manusear perante um programa que quase iguala o de uma cadeira universitária...
Enfim, os formadores lidam muitas vezes com o aqueles ensino regular não conseguiu -seja porque razões for- ajudar. E vive uma vida instável, de coração na boca, sem saber quando será o próximo módulo, muitas vezes fazendo do carro o seu escritório (passando tantas horas na estrada que se arrisca a um acidente de viação mais do que outros colegas).
Refiro-me aos formadores dos cursos de formação profissional de adultos e de jovens ou de aprendizagem, tecnico-profissionais. A realidade não é diferente para um profissional de CNO, no entanto, a razão porque muitos formadores acabam por escolher trabalhar num CNO passa pela razão simples de que podem, em principio, contar com um salário fixo a cada mês (nos CNOs que conheço tem sido assim, portanto, é esta a minha experiência, e não os CNOs em que as pessoas são exploradas - mas estes existem, e são demasiados, alguns com directores que nem uma licenciatura têm...). Um formador em diversos cursos não só não tem um horário fixo como também não não tem um salário fixo (quando tem salário, repare-se). A capacidade de desdobramento, sangue frio, omnipresença e o espírito de sacrificio ditam a evolução na profissão. Ah, e não esqueçamos um marido que possa dividir as despesas e pais que possam ajudar de vez em quando...
E agora, com o aumento do IVA e com as portagens nas SCUTs, os formadores vão ficar ainda pior... Como muitos outros.
Sublinho que esta perspectiva é a que provém da minha experiência pessoal e dos meus contactos. Tal como o é da pessoa que desabafa e expõe muitos dos graves problemas que os formadores tem de enfrentar. Apesar de não trabalhar num CNO (ainda, uma vez que os cursos foram cancelados e fui jogada no desemprego, carregada de trabalho não remunerado e sem direito a subsidio de qq espécie - as contas têm de ser pagas, pelo que, honestamente, os ideais terão de ser postos de lado, pois não alimentam nem ajudam à sobrevivência, muito menos na época que vivemos), conheço bem a realidade de vários - de bons e de maus. A minha realidade é a da formação profissional e posso dizer, e sublinhar, que o que me tem valido tem sido o facto de ter integrado equipas excelentes, profissionais, com coordenadores excelentes, humanos e compreensivos, que procuram que ninguém saia prejudicado financeiramente (obviamente que tb não são quem faz as regras do IEFP e afins, que só admitem a hipótese de formadores externos a recibos verdes). Estas equipas têm conseguido formar e qualificar realmente as pessoas, e não toleram quem pise o risco: chumba-se por faltas, penalizam-se comportamentos desadequados, bloqueiam-se bolsas, retiram-se bolsas e reprovam-se formandos que não adquiriram as competências exigidas. Felizmente tive a oportunidade de integrar estas equipas e poder realizar o meu trabalho da melhor forma possível; juntos, temos conseguido recuperar e ajudar diversas pessoas provenientes das classes mais desfavorecidas ou com vidas dramáticas e muitas vezes desgastantes (sendo tb desgastante para o formador que, muitas vezes, tem de passar pelo papel de pai ou mãe dos formandos, bem como de psicólogo, uma vez que lida diariamente com dramas que... o maior choque que tive foi o suicidio de uma formanda; e ainda nem na semana passada nos afligimos a tentar encontrar outra, com uma depressão muito grave, e com medo que tivesse tomado uma decisão semelhante.
Quando afirmo que tive a sorte de integrar boas equipas, refiro que se trata de profissionais que lutam pelos seus ideais e contra o sistema de facilitismo. Que conseguem resultados palpáveis que incluem a mudança de atitudes e de mentalidades. Que são, na medida do possível, o que o ensino deveria ser. Digo na medida do possível porque são leccionados por formadores nas condições já descritas, desprotegidos e cujo sentido de profissionalismo e dever é o que os mantém a funcionar. Profissionais esses que muitas vezes são vítimas de colegas pouco escrupulosos ou coordenadores incompetentes e preconceituosos; infelizmente, eles existem.
Infelizmente, tb já me foi exigido que desse sempre razão aos formandos mal-educados, que mudasse os meus métodos ao sabor dos seus caprichos, e que tivesse paciencia a troco de tuta e meia, a uma hora de casa e à noite. Como não posso afirmar que esteja na penúria porque tenho apoio familiar, não estive com meias medidas e recusei-me a continuar a leccionar naquelas condições. Com o tempo vim a conhecer histórias semelhantes às minhas, todas na mesma empresa...
Acresça-se a isto o facto de estarmos dependentes da nossa reputação e imagem para podermos ser contactados para leccionar módulos. O que nos leva a não poder dizer tudo o que queremos ou devíamos, sob pena de nunca mais conseguirmos um módulo a leccionar. Eis a razão porque sou obrigada a apresentar-me com um nickname (enfim, e tb porque é a minha identificação e cunho pessoal na blogosfera) se quiser manifestar o que realmente penso.
Pela mesma razão que a/o colega do texto em questão preferiu manter o anonimato: a ameaça de podermos perder futuros trabalhos.
Neste momento não tenho trabalho remunerado (claro que o não remunerado se acumula...), nem perspectivas de ter mais do que uma turma até ao final do ano. E isto desde Agosto. No entanto, não posso fechar actividade por ter 2 horas por semana com uma única turma, bem como recibos a entregar. Lá terei de gastar tudo o que ganhar a pagar esses meses de ssocial...
No entanto, apesar de todas estas dificuldades, vamos tentando dar o nosso melhor, lutar contra o sistema e contra as mentalidades. E é o que acontece em alguns CNOs, onde a "rebaldaria" não é a regra. Felizmente. Mas nem por isso deixam de estar pressionados pelas imposição das estatísticas. Ao mesmo tempo que nem por isso deixam de ter candidatos reais e ideais que conseguem ajudar. Que passam as suas noites trabalhando continuamente e movidos pelo desejo de aprender e de lutar. É por essas pessoas, pelas que valem a pena, que continuamos.
No entanto, a verificar-se a imposição de portagens nas scuts...como sobreviveremos?...a resposta é simples: mudamos de actividade.
Peço desculpa pela extensão do desabafo, mas o texto tocou-me a nível pessoal, por reconhecer as condições com que me debato e as lutas que travo. E por querer mostrar que, apesar de estarem inequivocamente prejudicados, estes profissionais continuam a lutar por uma melhoria de mentalidades, vidas e ensino. E que é possível utilizar a razão para alterar essas mentalidades; que é possível pegar em turmas que praticamente todos recusam e acusam, e transformá-las. Obviamente que haverá casos irrecuperáveis, mas é possível, com uma boa dose de idealismo e força. Coisa que se esgota rapidamente, que nos esgota pessoalmente, e que não carece de qq apoio.
Acresço igualmente que desde há seis anos para cá a remuneração de um formador tem vindo a baixar (se bem que no ano passado tenha subido...um euro à hora)... os centros de formação do IEFP muitas vezes não têm verbas para comprar toners para a única fotocopiadora disponível em dois pólos (alguns são escolas desactivadas, sem condições...), não têm verbas para uma lâmpada para o único videoprojector disponível, não a têm para melhorar as condições das salas de informática, para um leitor de dvd, colunas de som (é sempre o formador que leva tudo de casa...), não tem biblioteca, manuais... enfim, não preciso de continuar. Ah, mas têm verbas para renovar a frota de carros!, no mesmo ano em que cancelam todos os futuros cursos e lançam milhares de pessoas no desemprego...
Mais uma vez as minhas desculpas pelo desabafo. Mas a certa altura o nosso idealismo é terrivelmente posto à prova e nem os pedidos para não abandonar a actividade me animam (os elogios são bons para o ego, mas sem condições ou sem trabalho...!!!). Nem as excelentes pessoas e profissionais com que trabalhei, nem os excelentes formandos que conheci. Não posso viver de idealismo...
Cá estou de novo... :) é um texto que me toca profundamente, sei que já se deve ter percebido isso... e subscrevo-o inteiramente, tão inteiramente em muitos aspectos. A diferença entre a minha experiência e essa é a de ter integrado equipas em que se é feito ouvidos de mercador a esta politica de estatísticas e em que se valoriza a real aprendizagem e educação...mas a margem de manobra não é muito grande.
Daí que, à luz do que agora é revelado, alguns percebam melhor o porquê de eu ter adoptado a postura de advogado do diabo, mostrando o outro lado, o lado em que a palavra oportunidade não está associada a este descalabro. O lado em que ainda se consegue que a engrenagem funcione o melhor possível e em que o profissionalismo impera. O lado em que se debatem muitos de nós, que lutam pela melhoria do sistema. O lado incompreendido e esquecido no meio de toda esta vergonhosa educação. O lado que ainda não foi poluído.
Infelizmente não sou sonhadora e já não me atrevo a sonhar com oportunidades limpas e um exercício digno da profissão. Porque, quem não compactua sai ou é pontapeado para fora do sistema...e assim se perdem excelentes profissionais que poderiam realmente dar o seu contributo para uma educação melhor.
Mais uma vez as minhas desculpas, mas este testemunho apanhou-me numa altura em que pondero abandonar esta vida sem dignidade e futuro...
Prezada Vani:
Depois de ter lido o texto que transcrevi no meu post e os seus vibrantes e comoventes comentários, sinto-me amplamente recompensado pelas críticas que, de há longos anos, tenho vindo a fazer sobre as Novas Oportunidades que crismei de "Novos Oportunismos".
Trabalhassem nesta actividade docente, nesta verdadeira escravatura, os dirigentes dos sindicatos de professores outro galo cantaria. Tempos houve, em que passaram o cartão de professor – no sentido literal e figurado da expressão, a qualquer bicho-careta que “vendesse” aulas – como quem outorga um diploma da extinta Universidade Independente tendo conseguido, em proveito próprio, que um diplomado pelas escolas do magistério primário, em poucos meses, obtivesse uma licenciatura a.B. (antes de Bolonha) em escolas privadas criadas para o efeito.
Enfim…se mais não resultar dos seus comentários fica a imagem de uma lutadora para que as Novas Oportunidades (ou Novos Oportunismos) deixem de ser uma galera em que os formadores remam contra a maré sobre o látego de oportunistas que as frequentam não para deixarem de ser ignorantes. Apenas, indivíduos que engordam as estatísticas com um papelucho/diploma que nada diz ou que, pelo contrário, tudo diz!
Obrigada Rui Baptista! É por estas razões que tenho adoptado a postura do "outro lado", tentando chamar a atenção para os profissionais que lá estão e que lá lutam continua e diariamente. É quase impossível a um profissional de um CNO não se lançar em defesa do sistema em que está integrado, uma vez que para poder continuar o seu trabalho e remar contra a corrente, tem de acreditar no que faz e na filosofia em que está inserido. Por isso peço que não se seja duro nem desdenhoso (atenção, não estou a afirmar que o Rui o é, muito pelo contrário! Mas ambos sabemos que há ajuizadores apressados em todo o lado...e que muitos não conhecem a realidade das NO na sua totalidade; quando falo em totalidade, refiro o lado positivo também que, incrivelmente, existe) com quem adopta o papel de defensor deste sistema porque, muitas vezes, é um profissional que rema contra a maré e que vê nas constantes críticas mais um motivo para desistir... :( é essa a realidade de muitos dos formadores e profissionais de RVCC. Interessantemente, são de tal forma desdenhados e desprezados por alguns dos colegas professores que são apelidados de "meninos dos CNOs" e obrigados a fazer serviço administrativo que não está nas suas funções. São mal pagos, mal afamados, maltratados, desdenhados. É normalíssimo, portanto, que se defendam das críticas acérrimas, se bem que justas, com fervor. Pois se não acreditarem no que fazem, como poderão continuar?...
E eu quero acreditar que se pode limpar o nome desta vertente. Uma vertente que não foi concebida para ensinar, propriamente, mas para reconhecer conhecimentos e competências. E que, por isso mesmo, deveria ser acerrimamente fiscalizada e controlada. Como não é, pelas razões que já se têm debatido e discutido, é muito fácil aceder-lhe, subverter-lhe a filosofia e torná-la no descalabro que é em muitos locais.
Mas note, não é assim em todos os CNOs. Há CNOs que conseguem remar contra a corrente, na medida do possível e dentro da margem de manobra que lhes é dado.
Peço por isso que não se julgue rapidamente quem se acende em defesa das NO, porque decerto se trata de um formador ou outro profissional para quem todos os dias são uma luta. E um profissional que muitas vezes não teve outra hipótese de subsistência que não a de aceitar um lugar num CNO (muitos são professores que não conseguiram colocação...). E um excelente profissional que pode significar a mudança do sistema.
Ps - mas note, não sou formadora num CNO, mas sim em cursos de formação profissional. Tenho contudo diversos contactos em diversas zonas, pelo que conheço sobejamente a realidade que vivem, a boa e a má.
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