sexta-feira, 8 de outubro de 2010

UM NOBEL PARA O GRAFENO


Minha crónica de hoje no jornal "Sol" (na imagem Geim e Novoselov):

Andre Geim, o físico holandês nascido na Rússia e a trabalhar no Reino Unido, na Universidade de Manchester, que foi distinguido na passada terça-feira com o Prémio Nobel da Física, é um físico divertido. Ele tinha sido galardoado no ano 2000 com o Prémio IgNobel da Física, uma divertida paródia que homenageia alguns dos trabalhos científicos mais insólitos. O trabalho que lhe valeu o IgNobel foi nada mais nada menos do que a levitação de um pequeno sapo com a ajuda de um campo magnético…Mas o prémio que agora ganhou, além de bem mais avultado, é bastante mais sério. Promete também ter um impacto maior na sociedade. Geim, em conjunto com Konstantin Novoselov, também ele nascido na Rússia e que com ele partilhou os louros do Nobel, conseguiu isolar uma só folha de grafite, a forma normal de carbono, a forma que se encontra nos lápis comuns.

É raro a Academia de Estocolmo conceder o seu prémio tão rapidamente: passaram só seis anos sobre a descoberta anunciada num artigo da revista Science. E é também raro concedê-lo a investigadores não só em plena actividade como também em pico de forma: Geim tem 51 anos e Novoselov apenas 36 (desde 1973 que não havia um Nobel da Física tão novo). Mas a proeza conseguida pelos dois físicos experimentais é reconhecida pelos seus pares como digna dos maiores encómios: de uma maneira engenhosa, servindo-se de vulgar fita-cola, e ao fim de várias tentativas, separaram uma só folha das muitas folhas paralelas que constituem a grafite (a grafite é uma espécie de “mil folhas”). Produziram assim um material extremamente fino – a espessura é muito menor do que a de um cabelo pois tem o tamanho de um só átomo de carbono – mas eventualmente extenso. Essa folha foi chamada grafeno.

Que interesse tem esse material a duas dimensões? Por um lado, o estudo teórico da passagem da corrente eléctrica no grafeno revelou propriedades surpreendentes. Por outro lado, as pesquisas no laboratório perseguem o sonho do uso do novo material para construir novas componentes electrónicas, por exemplo transístores para computadores. Não é ainda para hoje, mas pode ser para amanhã. Entre os físicos que têm estudado o grafeno encontram-se nomes portugueses, Nuno Peres, João Lopes dos Santos e Eduardo Castro, da Universidades do Minho o primeiro e da Universidade do Porto os dois segundos, cujos trabalhos em conjunto com os laureados Nobel deste ano são referidos na informação científica da Academia sueca que acompanha o comunicado do prémio. Um desses artigos com marca nacional e que justamente tem sido muito citado nas revistas internacionais da especialidade é o estudo de duas folhas próximas de grafeno. Na semana do Prémio Nobel da Física, também esses físicos lusos estão de parabéns!

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