quinta-feira, 27 de maio de 2010

A PAIXÃO FALHADA PELA EDUCAÇÃO

Não, não são só os resultados catastróficos do PISA. Estatísticas internacionais reveladas recentemente mostram, sem margem para dúvidas, que a "paixão pela Educação", se existiu, falhou, em todos os níveis de ensino. A análise - ver aqui - do economista Álvaro Santos Pereira (autor do blogue "Desmitos") baseia-se em gráficos muito fáceis de entender. Só alguns especialistas em "eduquês" é que terão dificuldades...

6 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Fui dar uma espreitadela. Mas não tive qualquer surpresa. E para os que insistem em que não sabem o que é o "eduquês", adianto uma definição incompleta: "é o caminho seguido pela escola pública no sentido de se transformar numa escola para pobres e/ou deficientes, apesar de nem uns nem outros merecem tal segregação, nem o poder e os seus defensores (beneficiários) terem qualquer direito de os menorizar assim." E dou como exemplo duas "inovações" que continuam a ser aplicadas nos novos edifícios escolares: o desaparecimento dos estrados do quadro, impedindo que o professor tenha uma visão de todos os seus alunos de cada classe e fazendo com que os alunos vejam mal para o quadro, especialmente quando a estatura do professor, como a de alguns alunos, não permite que escrevam na parte superior; e a eliminação das salas grandes onde, a custo, ainda conseguíamos, com malabarismos de horários, colocar individualmente os alunos aquando da realização de testes - quando em filas lado a lado, em vez de dois a dois, podem conversar (ainda mais facilmente) para a direita e para a esquerda. E copiar tornou-se na coisa mais banal, sendo às vezes tentada de forma escandalosa, mesmo depois de avisos repetidos dos profesores... com sérios riscos de se meterem em trabalhos.
Ainda hoje ouvi na rádio que, num bairro de Lisboa, um professor levou recentemente uma tareia, em plena sala de aula, por ter mandado um aluno subir as calças para que se não vissem as cuecas e as nádegas.
Mas eu percebo: o eduquês cresceu, multiplicou-se e ocupou todos os espaços do sistema educativo. E defende os seus interesses sem qualquer pudor.
Por isso, mais que ser inimigo do eduquês (como sou inimigo de qualquer malfeitoria), sou há muito uma vítima dele. Mas, também, eu sou apenas um professor, e, quando morrer, muitos outros ficarão para sofrer o que eu sofro. Agora a "morte" do acesso ao conhecimento dos mais pobres, que vão sendo largamente maioritários, isso é que é um caso sério.

Anónimo disse...

Ó Carlos, não sei se serão só os do eduquês que terão dificuldades em entender, de certeza que também as terias se tivesses lido bem a tal análise!
Se não for assim, explica lá como é que a Alemanhã tem um número médio de anos passados no ensino secundário que é de longe maior do que todos os outros, tem um pico incompreensível, ninguém chega perto dos alemães, os gajos estudam mais de 2 anos que os franceses, que são os segundos. Aliás, os alemães têm mais 4 anos de estudo no secundário do que a Finlândia, que é um dos exemplos de um bom país e educado!! A Finlândia é o país no lugar 1 do PISA e no entanto a maior parte dos países no gráfico têm mais anos de escola que ela. Como é que se ligam estas coisas todas?
Mais estranho ainda é como a República Checa, que é o país onde os alunos passam mais anos na escola, mais do que na Alemanha, passam mais de 12 anos na escola, em média, mas no ensino secundário são dos piores, aí passam apenas cerca de 3 anos?! Que é que isto quer dizer, que se passam 3 anos no secundário irão passar 9 anos no infantário e na primária?! Isto está bem?! Tem lógica?!
Depois disto não percebo porque é que os alemães, depois de tanto estudarem no secundário, têm um número de anos no ensino superior que é pobre, abaixo da média!! Não são eles uma potência universitária, com milhentos prémios nobel?? E há o inverso, como o UK, que tem uma média fraca de anos no secundário mas depois é dos melhores no universitário. Não percebo nada disto, há aqui coisas muito estranhas, não me fio nada nestas estatísticas, isto está muito mal.
Não me acredito que os alunos portugueses estejam apenas 2,5 anos na escola secundária, isso queria dizer que em média os alunos nem chegam ao 9 ano, desistem antes, e se há muita gente a desistir teria que ser logo depois da escola primária, que é para compensar os muitos que seguem para o 10 ano, etc. Simplesmente por aquilo que conheço do país esta estatística é falsa.
Quanto ao PISA, está bem que nós estamos no lugar 37, mas como é que se explica a Noruega no 33??!!
Isto é tirado do PISA para a ciência: http://www.pisa.oecd.org/dataoecd/20/43/44919855.pdf

Já não falo da Dinamarca em 24 e da França em 25. Acho estranho a Finlândia estar no lugar 1 e estes vizinhos estarem em lugares tão baixos.
Mas mete-me confusão como é que os USA estão lá para o 31, e o UK e a Alemanha nos 13 e 14. É que toda a gente sabe quem são as potências a fazer ciência, e não me venham dizer que são os chineses importados que a fazem, não estou para aturar essas tretas, sei bem que os alemães e os ingleses nunca precisaram de chineses para nada.
Não me fio absolutamente nada nas estatísticas apresentadas pelo Álvaro, parecem produto de um eduquesado ou de alguém que não domina bem a arte dos números, e é muito estranho que ele já apresente dados de 2010, não sei onde é que ele foi buscar isso, o ano ainda não acabou. E as estatísticas do PISA também não são nada fiáveis. OS USA devem estar mesmo muito preocupados em estar no lugar 31, quase ao lado de Portugal, no ranking de PISA. De certeza que estão muito alarmados com isso.
Fazer boas estatísticas tem muito que se lhe diga. Mas lê-las é mais fácil...
luis

Fartinho da Silva disse...

Li com atenção e é mais uma prova dos resultados alcançados pelo lobby das "ciências" da educação.

Concordo inteiramente com José Batista da Ascenção. A eliminação dos estrados nas "escolas" públicas é um facto consumado e teve como objectivo eliminar a autoridade do professor. A eliminação das mesas individuais é mais uma patetice desta ideologia positivista e fracturante.

O eduquês assenta nestes princípios:
1º a classe oprimida (os alunos) deve ser protegida da classe opressora (os professores);
2º os alunos devem ser protegidos dos malefícios da sociedade neoliberal, consumista e reaccionária;
3º a "escola" é uma construção social que tem como objectivo a construção do Homem novo, o Homem do "eduquês";
4º a ciência, a cultura e o conhecimento devem ser substituídos pela ideologia travestida de ciência, ou seja o "eduquês".

Quando tiver mais tempo posso deixar este texto ainda mais claro e, talvez, com uma estética semelhante à do "eduquês".

Ana disse...

Gostei da definição de eduquês, especialmente da parte "apesar de nem uns nem outros merecem tal segregação, nem o poder e os seus defensores (beneficiários) terem qualquer direito de os menorizar assim".

À laia de confidência, conto-vos que quase que fui impedida de frequentar a escola pública, há uns meros 20 anos...valeu a insistência e pressão dos meus pais para passar por cima da flagrante discriminação e ignorância...na própria escola...há 20 anos...o "problema" que tanto se debate por aqui, é recente?...

Fartinho da Silva disse...

Caro Anónimo,

A explicação é muito simples, a Alemanha tem o 13º ano no secundário.

A Alemanha e a República Checa segmentaram o mercado, tal com fez o antigo regime em Portugal e que o PREC teve a insensatez de o exterminar (escolas comerciais e industriais).

Se os defensores do "eduquês" estudassem o sistema de ensino alemão, tinham um ataque cardíaco...!

Cardoso Ponte disse...

Fator que contribui com a
DECADÊNCIA NA EDUCAÇÃO PÚBLICA
A História da comunidade educativa nacional, ao longo dos tempos, insiste na antiga aplicação do desprezo do desvendamento vocacional dos seus discentes, fazendo uso de uma metodologia pedagógica contraditória aos parâmetros da evolução do conceito da competitividade entre Ensino Público e Ensino Privado, onde vemos uma grande demanda de alunos sonhadores se digladiando para o ingresso ao Mercado de Trabalho, diante de uma poderosa construção que repousa no atraente mercado financeiro da educação nacional, onde os grandes conglomerados de instituições privadas se organizam e consorciam a mesma ideologia mercadológica do lucro fácil diante da visível vulnerabilidade do Ensino Público Nacional ter estacionado na precariedade.
Hoje o domínio das maiores e mais modernas escolas e faculdades no País, estão sob um forte controle do monopólio privado, onde estatisticamente, tem demonstrado que a educação nunca deixou de ser seletiva, somente privilegia a burguesia através dos meios fajutos dos concursos públicos e de vestibulares, visando atrai maior número de matriculas a um infinito numerário de cursos que posteriormente induz o discente a ser submetido ao fogo cruzado de um intencional aplicativo pedagógico afunilado a um abismo de incertezas que dolosamente decorrer em maior tempo para se alcançar uma graduação do que o esperado. - Enquanto isso, as instituições privadas aumentam os seus elevados e obesos lucros beneficiadas com os incentivos fiscais por serem na sua maioria registradas como Instituições filantrópicas e sem fins lucrativos.
Temos que perceber que as Instituições federalizadas deixaram a muito de seres berçários em defesa dos interesses fundamentais da cidadania nacional, se transformando em verdadeiras incubadoras da imoralidade educativa, o instituto do direito, que assenta o cumprimento da lei de extensão igualitário, prevalece de quem tem maior influência política e obesa conta bancaria, confunde, como assim, existisse lei para ricos e para pobres, a assistência médica, também, adotada esta perversa prática, ignorando o conceito humanitário, da mesma forma, os educadores públicos, os chamados professores, que proclamam abertamente que o Ensino Público tem qualidade, em verdade, nem um deles tem filhos matriculados nas escolas públicas e, o Estatuto da Criança e do Adolescente, lamentavelmente, pressupõe demagogicamente, que a prática do trabalho para jovens é uma penalidade, como se trabalho fosse crime.
Todo este rosário de falência do Ensino Público tem sua origem agregado exatamente numa ideologia aplicada nas escolas e faculdades particulares, prorrogando a decadência no Ensino Público, para que essas sempre se mantenham em evidência negativa. Pois o maior interesse dos conglomerados particulares, não é acabar com o Ensino Público, mais manter este precário sistema educativo sempre em estado degenerativo, para ter sempre um parâmetro estatístico que revele ser o Ensino Privado de melhor qualidade.
Cardoso Ponte
e-mail cardosoponte@gmail.com

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...