quarta-feira, 26 de maio de 2010

CORJA MALDITA

Excerto do romance "Corja maldita" de Pedro Almeida Vieira (Sextante). o autor de "Nove Mil Passos", "O Profeta do Castigo Divino" e "A Mão Esquerda de Deus". que logo às 18h30 irei apresentar na Livraria Almedina Estádio de Coimbra (o livro versa a expulsão dos jesuítas no tempo do Marquês de Pombal mas o facto de ter um narrador diabólico permite-lhe incursões como esta pela nossa actualidade):
"E acreditando nas palavras de um sucessor do conde de Oeiras - homem com nominata de filósofo, versado em recitar aforismos e que trata, nos nossos dias, os portugueses como analectos - essa carruagem alegórica chamada Portugal tem ainda de compor, para este desiderato e neste pequeno pedaço de mundo, auto-estradas em todos os distritos - três serão precisas de Lisboa ao Porto -, mais duas linhas férreas de alta velocidade para Espanha, uma tríade de pranchas de betão e aço entre a capital e a margem sul, mais um novo aeroporto majestático em cima de chaparrais, mais um terminal de contentores para emparedar as vistas do Tejo, mais umas plataformas logísticas em terras agrícolas, muitos empreendimentos turísticos em cima de arribas para um certo dia soterrarem uns incautos banhistas, uma fartadela de centros comerciais, estádios de bola muitos, e outros folclores e demais obras fantasias, sinuosas e escorregadias, tudo destinado a prover de folguedos e acepipes o povoléu, que tudo há-de pagar, para alegria de empresários e partidários de comissões e alcavalas, mesmo sabendo-se que, à conta das muitas manigâncias, os tribunais vão ficando entupidos em rebuçados processos, mas convenientemente arquivados ou prescritos em tribunais superiores, quando não inferiores, gastando-se, as mais das vezes, sem glória, horas de escutas telefónicas que se destinam, mais tarde, a surgirem no Youtube."

14 comentários:

Pedro Ricardo Tordo disse...

Mal escrito, mas lúcido e rigoroso.

Anónimo disse...

Sobretudo... mal escrito! JCN

joão boaventura disse...

Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.

Bertold Brecht

Anónimo disse...

Ele... vê-se! JCN

Anónimo disse...

Vossemecê, sr. Brecht, está a escrever em prosa às tiras... ou mesmo em poesia?! JCN

José Batista da Ascenção disse...

"betão e asso"
ASSO!?
Ai asso, asso.
Desculpem. Não consegui prosseguir.
E podemos chamar escritor a quem escreve assim?
Podemos. Em Portugal podemos tudo.

Carlos Fiolhais disse...

Caro José Batista da Ascenção
A óbvia gralha já foi corrigida. Pedi a um colaborador para transcrever o texto do livro e o erro foi dele e não, como injustamente infere, e poderá comprovar lendo o livro, do escritor.
Cordialmente
Carlos Fiolhais

José Batista da Ascenção disse...

Caríssimo Doutor Carlos Fiolhais

Ainda bem que não foi um erro do escritor. Que alívio!
Permita-me, no entanto, afirmar que para mim aquela gralha não é óbvia... Ao lê-la senti como que... um murro!
E por levar murros não está em mim apresentar desculpas.

Com cordialidade.
José Batista da Ascenção

Anónimo disse...

Carlos Fiolhais desceu do Olimpo e respondeu a um leitor! 3 vivas!
Pensando melhor, apenas 2 vivas - afinal, foi apenas para apontar o erro de um "colaborador".

António Costa

Anónimo disse...

"Asso" é efectivamente... um erro "crasso". JCN

Pedro Almeida Vieira disse...

Com a devida permissão, meto aqui o tridente em seara alheia, embora para defesa em gleba própria, porquanto sendo o suposto autor do «Corja Maldita» imagino que o meu narrador (o diabo) estará divertido com a triste figura de alguns dos comentadores do post do Prof. Carlos Fiolhais.

Adorará o dito cujo, em particular, a discussão em torno de corvachos e outras aves literárias que surgiram na transcrição inicial, que logo permitiram que algumas sumidades rotulassem um texto, sentenciando estar mal escrito.

Mas, pronto, vergo-me às evidências dos críticos, rendido me prostro: assim, em vez de continuar a escrever, hei-de antes começar a vasculhar o caixote de lixo de tão excelsos talentos que aqui se perfilham à cata de pérolas literárias, tarefa que, porém, assaz dificultosa se me anuncia perante o absconso anonimato de uns quantos pascácios...

Pedro Almeida Vieira disse...

Com a devida permissão, meto aqui o tridente em seara alheia, embora para defesa em gleba própria, porquanto sendo o suposto autor do «Corja Maldita» imagino que o meu narrador (o diabo) estará divertido com a triste figura de alguns dos comentadores do post do Prof. Carlos Fiolhais.

Adorará o dito cujo, em particular, a discussão em torno de corvachos e outras aves literárias que surgiram na transcrição inicial, que logo permitiram rotular um texto como sendo mal escrito.

Mas, pronto, por mim estou rendido: em vez de continuar a escrever, hei-de começar a vasculhar o caixote de lixo de tão excelsos talentos que aqui se perfilham, tarefa que, porém, assaz dificultosa se me anuncia perante o absconso anonimato de uns quantos pascácios...

Anibal Pereira disse...

Anibal Pereira

O Prof. Carlos Fiolhais é alguém a quem tiro o meu chapéu enquanto cientista e divulgador científico. Agora aconselho-o vivamente a ficar por aí que já não é pouco. É que quando lhe dá a tineta de fazer crítica política, é um verdadeiro estendal de "vistas curtas". O que é estranhíssimo para um homem do seu gabarito científico e que asim deixa obnubilar o seu espírito por um facciosismo político doentio que não lhe fica nada bem. Não lhe fica bem, porque reflete uma certa desonestidade intelectual o que é uma falta bem desagradável para quem tem a investigação como principal objectivo do que faz na vida.
O texto do snr.engenheiro Pedro de Almeira Vieira a que o Prof. Fiolhais dá o seu entusiástico "imprimatur", é a prova acabada do que acabei e dizer.

Cláudia S. Tomazi disse...

O esgoísmo revela-se pela dimensão do impossível a um referencial. Escrever é uma noção de vigor e da nação.

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