segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dois Fenómenos surpreendentes


Alguns dos comentários ao post A Crise da Química recordaram ao nosso convidado Luís Álcacer dois relatos interessantes com que desafiamos os nossos leitores. O segundo texto, Acção à Distância, foi publicado num post separado para facilitar a leitura.

Nos dois textos seguintes descrevem-se dois fenómenos surpreendentes com algo de comum. Ambos são bem conhecidos da literatura científica e não só. Um deles é real. O outro é ficção. Qual dos fenómenos é real e qual é ficção?

AS PROPRIEDADES ENDOCRÓNICAS DA TIOTIMOLINA

A correlação entre a estrutura de moléculas orgânicas e as suas propriedades tem contribuído para a compreensão dos mecanismos das reacções, nomeadamente no que respeita às teorias da ressonância e do mesomerismo. A solubilidade dos compostos orgânicos em vários solventes tem um interesse particular neste contexto através da descoberta da natureza endocrónica da tiotimolina [1]. Sabe-se de há longa data que a solubilidade dos compostos orgânicos em solventes polares, como a água, é ampliada pela presença de grupos hidrofílicos como os grupos hidróxido, amino ou sulfónico. Para compostos em tudo o mais idênticos, o tempo de dissolução, expresso em segundos por grama de substância por mililitro de solvente, decresce com o número de grupos hidrofílicos presentes. O catecol, por exemplo, com dois grupos hidróxido no anel benzénico, dissolve-se consideravelmente mais depressa do que o fenol, com apenas um grupo hidróxido. Feinschreiber e Hravlek, nos seus estudos do problema concluiram que com o aumento do carácter hidrofílico, o tempo de dissolução tende para zero. Que esta análise não é inteiramente correcta, foi demonstrado, quando se descobriu que o composto tiotimolina se dissolve na água, na proporção de 1 g/ml, em menos 1,12 segundos. Isto é, dissolve-se 1,12 segundos antes de a água ser adicionada. Em comunicações anteriores desses autores é relatado que a tiotimolina, substância extraída da casca do arbusto Rosacea Karlsbadensis rugo, contém pelo menos 14 grupos hidróxido, dois grupos amino e um grupo ácido sulfónico, e possivelmente também um grupo nitro.

As primeiras tentativas para medir correctamente o tempo de dissolução da tiotimolina depararam com consideráveis dificuldades devido ao facto de o seu valor ser negativo. O facto de que a substância se dissolvia antes da adição da água, levou a tentar retirar a água logo após a dissolução mas antes do momento certo para a adição. Isso, felizmente para a lei da conservação da massa-energia, nunca aconteceu, uma vez que a dissolução nunca teve lugar, a não ser nos casos em que a água foi posteriormente adicionada. A questão que naturalmente se põe é a de saber como é que a tiotimolina sabe de antemão se a água irá ou não ser adicionada. Embora esta questão não seja propriamente do âmbito da química, foi publicado nos anos seguintes bastante literatura sobre os problemas psicológicos e filosóficos levantados. Numa tentativa de explicação deste comportamento, foi sugerido que as ligações químicas na fórmula estrutural da tiotimolina são tão ávidas de espaço que são forçadas a estender-se na quarta dimensão (do espaço-tempo).

As propriedades endocrónicas únicas da tiotimolina continuaram, desde então, a ser alvo de muitos trabalhos científicos, nomeadamente na tentativa de a usar para estabelecer uma classificação quantitativa de "certas desordens mentais" [2].

Uma aplicação importante da tiotimolina, para identificar e remover vírus dos computadores, foi divulgada nos volumes de Novembro/Dezembro de 2001 e de Março de 2002 da "IEEE Design & Test of Computers" [3] e [4].

_______________________________
[1] "The Endochronic Properties of Resublimated Thiotimoline", Astounding Science, vol. 41, no. 1, March 1948.
[2] "The Micropsychiatric Applications of Thiotimoline", Astounding Science, December 1953,
[3] "Debugging Using Resublimated Thiotimoline" IEEE Design and Test of Computers, vol. 18, no. 6, p. 80, Nov/Dec, 2001;
[4] "Yet Another Thiotimoline Application," IEEE Design and Test of Computers, vol. 19, no. 2, p. 80, Mar/Apr, 2002.

Luís Alcácer

4 comentários:

Unknown disse...

Excelentes artigos! Adorei!

Não vou estragar o suspense :)))) Só digo... Asimov!

Anónimo disse...

Pois é.... Concordo com a Rita. O texto da "tiotimolina" é do Isaac e é o artigo falso... apesar da "casca de banana" do teletransporte do outro artigo :)

Parabéns pelo bom exemplo de brincadeiras de "Bom Gosto"

Fernando Dias disse...

A teleportação quântica é uma realidade relativamente simples, tão simples como as faculdades dos bosquímanos, se levarmos em linha de conta o que os sul-africanos fizeram na invasão de Angola de 1975.

Em Outubro de 1975, os sul-africanos ao invadirem Angola, utlizaram bosquímanos como pisteiros. A teleportação quântica é uma realidade tão simples quanto isso, mas surpreendeu Alan Aspect tanto quanto o fez fazer aquilo que fez em 1982. Então ele repetiu aquela frase muito conhecida “a ciência acontece sempre duas vezes, sendo a primeira na forma de ficção”. Pois é, o transporte de um estado quântico é extremamente frágil num ambiente potencialmente perigoso, mais perigoso do que um dia a ficção da tiotimolina se transformar em realidade científica.

Sem um canal de comunicação clássico a teleportação não funciona, porque, se assim não fosse diríamos “adeus viola” ao conceito de causalidade.

Anónimo disse...

É engraçado entender que nem sempre as teorias mais plausíveis são verdadeiras. Apesar de não perceber muito de física ou química. Já li algumas coisas sobre teorias homeopáticas, que parecem mais plausíveis que a teletransportação, mas pelos vistos são mais fáceis.

Ana

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