No dia 7 de Maio de 1959, fez ontem 50 anos, Charles Percy Snow deu a sua histórica palestra Rede na Universidade de Cambridge. Com esta intervenção, cunhou a expressão "As duas culturas", passando-a ao domínio público. Uma cultura era a ciência, representada pelos cientistas e a outra, as humanidades, representada pelos "intelectuais das letras". Snow diagnosticou uma total impossibilidade de estas duas culturas se compreenderem, por não serem capazes de cruzar essa fenda profunda que, culturalmente, as separava.
Este diagnóstico cultural tornava-se extremamente claro, segundo Snow, depois do seguinte desafio: "Uma ou duas vezes fui provocado e perguntei [aos intelectuais das letras] quantos deles poderiam descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria; também foi negativa. No entanto, eu perguntava algo que equivaleria em termos científicos a 'já leu uma obra de Shakespeare'?"
Nessa mesma palestra de há já 50 anos, Snow argumentava que esta falta de convergência entre as duas culturas e a inexistência de cientistas em posições de poder, teria consequências desastrosas para a sociedade moderna.
Passado meio século, e com a crescente tendência para a especialização do conhecimento, não estaremos cada vez mais a aumentar a profundidade desta fissura?
(ver também Literacia científica: à procura do arco-íris)
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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10 comentários:
Pessoalmente nunca tive preconceitos relacionados a essas divisões entre ciências e humanidades, mas vejo que há um fosso cada vez maior separando essas realidades culturais em paises como o Brasil. Quero deixar bem claro que não tenho dados estatísticos ou um estudo detalhado que aponte nessa direção, mas falo apenas por experiência pessoal. Do que conheço da academia brasileira nos cursos de filosofia são muito difundidos preconceitos "anti-exatas" e "anti-rigor": os alunos (tanto de graduação como de pós-graduação) tendem a imitar estereótipos de diretores de cinema francês, apreciar a literatura e torcer o nariz quando se deparam com algum tipo de quantificação. Quando comento esses casos eu não tenho a intenção de sugerir que ninguém tem o direito de imitar estereótipos (cada um sabe de si nesses casos), mas que estereótipos como esses carecem de razão de ser e se fundamentam numa visão reducionista e caduca tanto das ciências exatas quanto das humanidades.
Também penso que o divórcio entre cultura literária e cultura científica tem efeitos perversos. Mas se é possível a alguém com formação cientifica aceder com facilidade à cultura literária, o mesmo não ocorre no caso contrário; por isso, sempre advoguei que até ao nível mais avançado do secundário todos os estudantes deveriam receber informação científica e mesmo na universidade para os estudantes de letras impunha-se uma disciplina que permitisse informação e actualização na área das ciências; esta lacuna é muito grave, nomeadamente na área da filosofia, aquela em que fui formada e em que senti constantemente essa falha.
A segunda lei da termodinâmica diz, essencial, que os sistemas fechados (hoje sabe-se que também se aplica aos abertos) tendem da ordem para a desordem, da complexidade para a simplicidade, da informação para o ruído.
Ela desmente a teoria da evolução das espécies.
Mas existem outros argumentos contra ela.
Na verdade, hoje sabemos que a vida só é possível graças à existência de informação codificada.
Como bem reconhece Richard Dawkins,
“DNA carries information in a very computer-like way, and we can measure the genome's capacity in bits too, if we wish.
DNA doesn't use a binary code, but a quaternary one.
Whereas the unit of information in the computer is a 1 or a 0, the unit in DNA can be T, A, C or G.”
Ora, se assim é (o que ninguém duvida), segue-se:
1) Sempre que sequências não arbitrárias de símbolos (v.g. letras, números, zeros e uns, traços e pontos) são reconhecidas, como numa linguagem, como representando ideias ou instruções passíveis de serem lidas e executadas, por pessoas ou maquinismos, para a realização de operações específicas orientadas para resultados determinados, estamos perante informação codificada;
2) Toda a informação codificada (v.g. em papiros, livros, computadores, robôs, ATM’s, telemóveis) não se confunde com o suporte físico.
3) Sem um código (como os criados pelos Srs. Morse ou Braille), simples letras, zeros e uns, traços e pontos, etc., não têm informação. Do mesmo modo, os fosfatos e os açúcares que quimicamente compõem o DNA não têm, em si mesmos, informação.
4) Toda a informação codificada (v.g. em papiros, livros, computadores, robôs, ATM’s, telemóveis) tem sempre origem inteligente, não se conhecendo quaisquer excepções a esta regra.
5) A vida depende da informação codificada no DNA (em sequências de nucleótidos), que existe em quantidade, qualidade, complexidade e densidade (1.88 x 10^21 bits/cm3) que transcende toda a capacidade tecnológica humana, e que, depois de precisa e sincronizadamente transcrita, traduzida, lida, executada e copiada conduz à produção, sobrevivência, adaptação e reprodução de múltiplos seres vivos altamente complexos, integrados e funcionais;
6) Acresce que a informação codificada no DNA requer a existência de maquinismos de descodificação, o ribossoma, sendo que as instruções para construir ribossomas se encontram codificadas no DNA.
Além disso, a descodificação requer energia a partir de ATP (adenosina trifosfato), construída por motores ATP-sintase, construídos a partir de instruções codificadas no DNA.
7) Logo, a vida só pode ter tido uma origem inteligente e instantânea, não se conhecendo qualquer explicação naturalista para a sua origem;
8) Assim, o registo fóssil e a coluna geológica não são evidência da origem casual e da evolução das espécies, mas da catástrofe global descrita no livro de Génesis, da qual abunda ampla evidência nos fósseis, nas rochas e nos isótopos.
9) As mutações, a selecção natural e a especiação tendem a degradar e a reduzir os genomas e não a aumentar a sua quantidade e qualidade.
A BÍBLIA, O DILÚVIO E A EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS
Sobre a origem dos dinossauros, a teoria da evolução pouco pode dizer.
Por seu lado, existem mais de 50 teorias acerca da sua extinção.
Umas dizem que eles foram simplesmente caçados pelos seres humanos, outras dizem que eles morreram de diarreia.
Para outros, eles pura e simplesmente “evoluíram” para… galinhas!
Uma das mais influentes teorias afirma que os dinossauros se extinguiram em virtude do impacto de um asteróide, do qual existe ampla evidência na grande cratera de Chicxulub, no México, há cerca de 65 milhões de anos.
Alguns cientistas sempre disseram que essa teoria era desadequada.
Por exemplo, alguns negavam a existência de uma relação entre a cratera e a barreira do Cretáceo/Terciário, não podendo o impacto ser responsável pela extinção.
No entanto, em muitos manuais escolares e universitários a teoria da extinção pelo impacto era apresentada como um facto irrefutável.
Recentemente, porém, foi encontrada evidência inequívoca da presença de dinossauros, na formação rochosa de Ojo Alamo, datada de 500 000 atrás, muito depois das extinções do período Cretáceo, baseadas nas datações uniformitaristas.
A diferença entre o antigo “facto” e os novos dados é “apenas” de 64,5 milhões de anos!
Este achado mostra quão precários são os “factos” em que se baseia a teoria da evolução. ScienceDaily (Apr. 30, 2009)
Estas linhas de evidência são inteiramente consistentes com o relato bíblico, de acordo com o qual os fósseis, as rochas e as concentrações de isótopos podem ser explicados pela ocorrência de um dilúvio global, que desencadeou uma série de eventos geofísicos catastróficos sem paralelo na história.
Desse evento fala não apenas a Bíblia, mas mais de 250 relatos de culturas da antiguidade.
O dilúvio global inviabiliza a utilização das taxas actuais de fossilização, de sedimentação e de decaimento de isótopos radioactivos como medida da antiguidade do que quer que seja.
Ou seja, quaisquer métodos baseados em premissas uniformitaristas, por mais independentes que sejam, simplesmente não funcionam.
De acordo com o relato bíblico, o dilúvio foi um evento recente e os fósseis de dinossauros são recentes.
Ulterior evidência da existência recente de dinossauros tem sido encontrada.
Em 2005 foi publicada, nas revistas científicas, a descoberta, num óptimo estado de conservação, de tecidos moles não fossilizados, células, hemoglobina, vasos sanguíneos, num osso de um T. Rex. Na altura, esse facto criou ampla controvérsia, tão inacreditável ele parecia.
Esse achado é inteiramente consistente com o sepultamento abrupto e recente dos dinossauros.
Há uns dias atrás, foi publicado outro achado da mesma natureza, confirmado por vários laboratórios independentes.
Num osso de um Hadrossauro, supostamente com 80 milhões de anos, foram novamente achados tecidos moles, células, proteínas, vasos sanguíneos, etc., de um dinossauro sepultado por uma camada de sedimentos de 7 metros de espessura.
As sequências de aminoácidos mostravam um elevado grau de conservação.
Os cientistas envolvidos são Mary Schweitzer, Jack Horner, John Asara, Recep Avci e Zhiyong Suo, entre muitos outros.
Também este achado é inteiramente consistente com o sepultamento abrupto, catastrófico e recente dos dinossauros. ScienceDaily (May 1, 2009).
Curiosamente, eles procuraram usar as homologias entre dinossauros e galinhas como evidência de evolução, embora as homologias possam ser explicadas por referência a um Criador comum.
Tudo isto corrobora o relato bíblico. Sobre a extinção dos dinossauros, a Bíblia sugere que um dilúvio global, relativamente recente, com proporções cataclísmicas sem paralelo, extinguiu uma boa parte deles, reduziu drasticamente o número de sobreviventes, alterou substancialmente as condições climáticas em que os mesmos deveriam viver.
Factores como a dificuldade de adaptação ao meio, a caça e a a redução do pool genético, favoreceram a extinção dos poucos sobreviventes. Em todo o caso, da da sua existência recente há
ampla evidência geológica e paleontológica, juntamente com muitos relatos e imagens que nos foram legadas pela antiguidade.
Prezados criacionistas
o post não trata do debate evolucionismo vs criacionismo, mas do distanciamento cultural entre as ciências exatas e as humanidades. Que tal discutirmos o post ao invés de fazer propaganda religiosa?
Parabéns, Matheus Martins Silva. É sempre muito gratificante encontrar alguém que acha ser mais proveitoso discutir as questões do que fazer propaganda; infelizmente, a prática corrente não é a do debate fundamentado.
A minha formação é um tanto híbrida, uma vez que comecei nas ciências e acabei na filosofia.
Correndo o risco de parecer derrotista, não posso deixar de pensar que o fosso entre as humanidades e as ciências, pior do que tender a alargar-se, é irreversível, com tudo o que de empobrecedor daqui resulta para ambas as partes. Além disso, é cada vez menor o número aqueles que se dedicam com vigor a umas e outras.
O que penso é que este fosso - que, nos meus tempos de juventude, tive a ilusão de poder vir a desaparecer, por acreditar veementemente que todos acabariam por compreender e levar à prática o exercício sério de uma dinâmica de interacção de todos os ramos do conhecimento - vem cada vez mais sendo estimulado, se não enaltecido, pelas mais diversas formas, começando nos bancos da escola, onde, em todas as matérias, se deixou de tomar como pauta a exigência e o rigor, para se enveredar pelo caminho da generalidade bacoca e imprecisa, ao mesmo tempo que se veicula e se deixa grassar a falsa ideia de que o importante é que os meninos aprendam - não as leis da termodinâmica ou os conceitos básicos da história universal, que os ajudariam a perceber as interacções do mundo em que vivem - mas os endereços web onde possam procurar os dados de que vierem a necessitar nestas e noutras matérias. Neste contexto, a pergunta que faço é a seguinte: que possibilidade terei eu de algum dia necessitar de procurar coisas sobre matérias que de todo desconheço?
Em jeito de nota final, acrescento que, apesar do seu desalento pelo facto de os cientistas não serem caros ao poder e, por isso, nunca terem tido oportunidade de preencher lugares de destaque, penso que Snow foi extremamente optimista achando que os intelectuais alguma vez pudessem ter tido ou vir a ter algum peso nesse mesmo poder.
Olá Sofia ,
A propósito de ciêcias sociais e humanas e ciências naturais , o que acha deste pequeno texto ,
Parte I
Emergência da Nova Cultura Política Electrónica
1 – Globalização e Novas Tecnologias
Para compreender o conceito de Globalização é necessário compreender o que é integralismo, pensamento holístico, filosofias orientais e misticismo como esquema unificador de forma de vida, ou seja, compreender o universo no seu todo como impulso para o conhecimento para a Sociedade de Conhecimento. O espaço global ou a gestão global é uma gestão holística, em que o todo é algo mais do que a soma das partes. De acordo com Levitt (Mattelart, 1991), numa abordagem global tem que se ter em conta que o mundo torna-se uma “ Aldeia Global”, a dimensão do mercado internacional, o desenvolvimento do individualismo, a americanização da juventude, a emancipação da 3ª idade e das mulheres, o modo de vida predominantemente urbano, os espaços de comunicações transnacionais e a globalização das culturas.
É de salientar neste contexto, a rede global de Michael Foucher, da “interdependência “ discriminatória que alimenta novas frentes da desordem planetária, nomeadamente a Economia do Narcotráfico, o branqueamento, as explosões colectivas em forma de pilhagem, o apelo irracional às identidades culturais, étnicas ou religiosas e o progresso dos fundamentalismos (Mattelart, 1991).
A rede é a mensagem de uma forma de desenvolvimento organizacional da actividade humana, de comunidades contra-culturais, da Nova Economia e do advento da sociedade em rede (Castells, 2004). No entanto, a partir de uma dada região no espaço e no tempo a História Universal orienta-se num sentimento comum lógico, num espaço supra-sensível da razão à semelhança da teoria das Supercordas que antecipa a hipótese de um hiperespaço que articula 10 dimensões, inclusive o tempo.
As teorias unificadas renovam a ligação da humanidade com o nosso semelhante, da unidade última, do Cosmo e da consciência. Certo é que, a junção Globalização e Novas tecnologias deu origem a um “ caos”, a uma entropia que progride para o “ cosmos “, para a ordem, da diversidade das imagens, das ideias e dos sons das novas tecnologias emerge uma realidade virtualmente una e coerente que tende para a difusão e para a dispersão à semelhança da Teoria da Matriz S de Heisenberg e da Teoria da Grande Unificação que entende a gravidade como redução da Geometria que resulta da combinação da matéria e da energia no universo e dos estudos de Einstein que defende ainda outras forças que actuam sobre a matéria, a electricidade e o magnetismo. Global representa visão unificada das forças do universo, do regresso à sua origem na biossociosfera à semelhança da evolução irreversível de Ilya Prigogine que religa os sistemas em todos os domínios da observação: físico, químico, biológico, ecológico e humano (Laszlo, 1993).
Fiquem bem
Madalena Madeira
(Prof. do secundário e mestranda em Ciência Política e Relações internacionai, dissertação em Cibercultura e Cultura Política)
Isto aqui é «muito à frente»...
Não sei se haverá lugar para dicotomias «culturais» :)
Prezada Adília
concordo inteiramente com você. A ciência é uma fonte imprescindível de conhecimento para fazermos bem a filosofia. Como podemos nos dar ao luxo de debater um problema de fil. da mente, por exemplo, sem conhecer as últimas descobertas neurocientíficas? Somente um filósofo isolado do mundo acadêmico (ou que tenha uma concepção indefensável de filosofia) pode pensar assim.
Cara Antonieta
obrigado, mas só estou fazendo o que você, a Adília e outras pessoas interessadas em compreender melhor as coisas fazem neste blog. Isto deveria ser algo normal, mas infelizmente não é. Penso que a idéia de que esse fosso deve aumentar pode ser compreendida de duas maneiras diferentes:
1) uma separação cada vez maior entre as ciências e as humanidades provocada pelo enorme gradu de especialização em ambas as áreas (o que normal dado o imenso progresso dessas áreas)
2) uma separação cada vez maior devido a preconceitos injustificados difundidos em ambas as áreas.
Penso que o primeiro fosso é algo difícil de ultrapassar. Para tanto são necessárias competências e talentos diversificados e uma ótima formação pessoal. São poucos os cientistas que são capazes de escrever um bom romance, por exemplo. Mas num certo sentido esse fosso não é tão problemático: não deixo de estudar física nas horas vagas, mesmo como amador, só porque faço filosofia.
A segunda separação é o verdadeiro problema, porque são preconceitos difundidos culturalmente e que parecem imunes a argumentação. Neste link:
http://www.physics.nyu.edu/faculty/sokal/fernandez.html
Você encontra um artigo curioso a esse respeito. Ele trata de um encontro que aconteceu na USP para discutir esse problema e o escandalo do livro de Alan Sokal.
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