Ligo a televisão e vejo um cavalheiro de meia-idade bem vestido. Tem aspecto de grande especialista. Muitíssimo bem-disposto, salienta que a Bolsa sofreu um movimento positivo, que o dólar subiu…
Só a seguir captei a razão da sua manifesta boa-disposição: o abate, ao que parece certo e seguro, do “inimigo público n.º 1” do Ocidente ou, até, do Mundo, planeado e executado por um ou vários países que reconhecem e invocam os Direitos Humanos.
Intrigada com a relação que estabeleci (estaria certa?), resolvi seguir o noticiário com atenção e devo dizer que percebi duas coisas que nunca me passariam pela cabeça.
Percebi, como disse, que a morte de alguém pode causar agitação nos mercados bolsistas. Falta-me entender como é que tal pode acontecer... Se algum economista me está a ler, compreendo que me chame ignorante, mas posso sempre invocar que o meu olhar é o de alguém que está noutra área, não sei se feliz ou infelizmente distante da sua.
Percebi, também, que neste mundo (que se vê na televisão, na rádio e nos jornais) muitas pessoas, mesmo muitas, alegraram-se imensamente com o dito abate, ao ponto de comemorarem desenfreadamente pelas ruas; outras, como economistas, militares, políticos, jornalistas, comentadores e demais fazedores de opinião, evitaram, com precisão cirúrgica, pronunciar-se sobre a legitimidade do dito abate, o que é muito estranho pois era disso que tratavam.
Na verdade, apenas ouvi duas ou três vozes negligenciarem a finança e a segurança (que segurança?) e recordarem que, por razões que entendo não ser preciso explicar aqui, o acto em causa em nada honra a Civilização.
Nunca a Europa e os Estados Unidos tiveram tão elevados índices de escolaridade como neste início de século, mas, tristemente, isso não parece fazer grande diferença em momentos cruciais, quando os Valores essenciais da Humanidade estão em causa.
Não sei se é a evidência de que o investimento na educação formal está, em grande medida, a falhar nos seus propósitos de preparação para a cidadania, mas estou certa que é uma interrogação que não se pode nem se deve evitar.
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8 comentários:
Partilho cabalmente as suas interrogações e inquietções. Também não entendo como é que a morte de alguém poder interferir na bolsa. Chamo a isso especulação e nunca percebi como é possível a economia ocidental basear-se em actos especulativos.
Quanto aos festejos eufóricos do povo americano, questiono-me com a mesma perplexidade: como é que a morte de alguém pode ser festejada com tal euforia? Fez-me lembrar apenas o nosso povinho relativamente ao futebol. Não é óbvio que tais manifestações de regozijo só vão provocar mais ódios? A nível político, Obama agiu com correcção e moderação, acho. Mas o povo escolarizado mostrou apenas uma barbaridade que, supostamente, não é compatível com essa mesma escolaridade.
A única diferença em relação ao que expressa no seu post é que não fiquei surpreendida com a reacção do povo americano. O divórcio entre a evolução científica e tecnológica e os valores éticos de uma civilização humanista já há muito se generalizou. As vozes discordantes são uma minoria cada vez com menos capacidade de se fazer ouvir no palco das massas que cada vez mais querem é "putas e vinho verde", o equivalente popular de "panem et circenses".
Até agora, não houve um único post seu com o qual não me identificasse de uma forma imediata. As suas palavras são tão certeiras e o seu pensamento tão lúcido, que não dá hipótese a grandes polémicas, o que se verifica nos poucos comentários que normalmente acontecem. Mas parece-me, ingenuamente ou não, importante mostrar-lhe que gosto muito de a ler!
HR
Chapeau!
Muito bem dito!
A morte de uma pessoa ou de um milhão mexem com as expectativas futuras
seja o milhão de mortos concentrados em zonas de consumo e produção
ou seja o morto ilustre alguém que derrubou duas
torres que causaram dezenas de milhares de milhões de dólares em apenas alguns minutos
Os investidores são pessoas como quaisquer outras, a subida no dia da notícia reflectiu simplesmente um optimismo relativamente ao futuro. Não foi uma pessoa qualquer que morreu, foi um líder terrorista que tem justificado enormes custos no orçamento da defesa do EUA. E de qualquer forma, um dia de subida é insignificante e desde então os mercados até estão agora mais baixos. Quem segue os mercados sabe que todos os dias há notícias muito menos relevantes que a morte de Bin Laden que provocam subidas e descidas mais significativas. Eu sigo os mercados regularmente e, na minha opinião, nada de relevante (ainda) se passou em consequência deste acontecimento.
Relativamente às comemorações, partilho das preocupações e da opinião de que Obama teve um comportamento muito correcto. Fosse George Bush e teríamos ouvido discursos de "eixos do mal", "malfeitores" e "we smoked them out" que só inflamariam a situação.
Mas há que distinguir o que são as pessoas nas manifestações do povo americano para não cairmos num erro de avaliação como o que era frequente não há muito tempo de muita gente assumir que os homossexuais eram todos extravagantes (sem sentido pejorativo) como os que víamos nas demonstrações.
Esta questão de se a celebração da morte de alguém é adequado está em discussão na própria sociedade americana. Veja-se no seguinte link em que é precisamente colocada essa questão aos leitores no final da notícia, juntamente com algumas hipóteses de razões para as celebrações:
http://www.alternet.org/newsandviews/article/575552/celebrations,_reflection_after_bin_laden's_death_announced%3A_reports_from_white_house,_ground_zero/
Aliás algumas pessoas entrevistadas que estavam nas manifestações mostraram algum desconforto com a situação.
E penso também que há que ter alguma compreensão perante o facto de que se perderam muitas vidas inocentes de forma absolutamente indiscriminada e que um povo perdeu por completo a sensação de segurança tal foi a facilidade com que os terroristas atingiram pontos fulcrais da nação americana. E que muitos militares perderam a vida desde então em nome do combate ao terrorismo. E que o ground-zero ainda não está reconstruído e há problemas com os apoios a pessoal de serviços de emergência que acorreram ao local e contrairam doenças por causa disso. E... Muitas feridas ainda abertas.
Mas dito isto, sem dúvida que seria preferível uma reacção menos entusiasta. Felizmente que a voz principal dos EUA demonstrou mais uma vez grande bom senso e capacidade para juntar os povos em vez de os dividir.
Se fosse o nosso pa
Felizmente é Obama que está à frente dos destinos dos EUA e
qualquer outras, a bolsa subiu (ligeiramente
Eu não sei se Bin Laden morreu.
A política é feita de dissimulações, e aquilo que está por detrás do que parece, escapa à nossa percepção.
Toda a encenação do ataque ao fortim de Bin Laden relembra a história do Presidente Bush (com a colaboração de Rumsfeld e Colin Powell) mostrando slides de comboio de camiões circulando nas estradas do Iraque, que transportariam armas de destruição maciça, que depois se verificou ser uma dissimulada mentira.
Entretanto as tropas conseguiram prender o presidente Saddam Hussein, e mostraram até à exaustão, o buraco onde esteve escondido, a cena do julgamento, e, repetidamente, o enforcamento. Para que ninguém duvide.
A história agora repete-se mas tem um desenlace totalmente distinto, e mal contado. Os americanos dispõem de tecnologia, até dizer chega, para terem filmado tudo até hollywoodescamente, e mostrarem o desenrolar do confronto.
Em contraste com o caso Saddam Hussein, este de Bin Laden, é um total logro, porque, com a fama das tropas especiais, assistimos apenas ao local fortemente murado, uma vivenda de dois andares já devidamente preparada, como os cenários dos filmes, e exaustiva mostra de uma só divisão, o quarto com o chão coberto de tinta encarnado, mas os actores do filme ausentes em parte incerta. Até parece que a vivenda estava desabitada.
Depois, não mostram o cadáver, nem sequer embrulhado no lençol branco, nem o lançamento ao mar, mas apenas um porta-aviões lá ao longe e um torpedeiro ao pé, como possíveis instrumentos preparado para lançar um cadáver ao mar.
Conclusão
Ou o Bin Laden anda à solta e com esta notícia pensam que o homem agora vai andar à vontade e o caçam, o que parece infantil, ou, a montagem pretende favorecer a reeleição do actual Presidente dos EUA,cujas sondagens não o têm favorecido. O que parece mais plausível porque a imprensa não se cansa de dizer que o acontecimento vai favorecer a reeleição.
Não esquecer que a América é o país da indústria cinematográfica.
Concordo plenamente com a Helena Damião.
Acho um Absurdo como se tratou este tema na Comunicação Social.
Se existe legitimidade para os EUA tentarem capturar um homem que foi um instigador do terrorismo mundial, fazer isto desta forma , na minha opinião só mostra a irracionalidade e o espirito vingativo , mentes sem o sentido do que é a justiça , e que existe um pouco por todo o mundo.
Se o assassinato deste terrorista deu uma grande alegria a meio mundo, e em especial aos Americanos, isso mostra mesmo que estamos ainda num estado de desenvolvimento muito atrasado.
Encarar isto como uma vitória, ou como o mundo ficou mais seguro, é apenas mais um atentado à inteligência das pessoas.
Na minha opinião , depois do tristissimo espetáculo que fez o Presidente Obama , na sua comunicação sobre a morte de Bin Laden, só resta uma saída ao Comité Nobel.
Obama tem a obrigação de devolver o Prémio Nobel da Paz. Devem obrigar o senhor a devolver essa distinção. Não faz sentido. Ou então se Obama não quer devolver o Prémio anulem a distinção.
Eu assinaria qualquer petição para lhe retirarem o Prémio. Uma desilusão este Obama.
Esperemos que não tenham , com este tipo de actuação sem sentido, tornado desta forma o fanático e terrorista Bin Laden, numa espécie de Martir de Alá , e criar assim Um culto de santidade , assim uma coisa como é para os Portugueses a Nª Srª de Fátima.
Luis Neves
Esta equiparação ao culto de Nossa Senhora de Fátima, além de primar por indesejável mau gosto, não está ao nível deste conceituado Blogue. Inquestionavelmente! JCN
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