terça-feira, 17 de maio de 2011
A Falência da Metafísica, por Abel Salazar
Outro post de António Mota de Aguiar:
Antes da demissão compulsiva da sua cátedra e da proibição de entrar no seu laboratório e mesmo na Biblioteca da Faculdade, em 1935, o médico Abel Salazar efectuou várias conferências de divulgação. Contudo, a partir desta data, as conferências deram o lugar a artigos, tendo passado a escrever em vários periódicos. Os primeiros artigos de Abel Salazar, a partir desse ano, saíram no jornal Ideia Livre, com sede em Anadia, periódico que se publicou entre 1928 e 1944.
Foi para este jornal que Abel Salazar escreveu os primeiros artigos sobre a Falência da Metafísica, cujas temáticas para alguns estavam desfocadas, para outros era a forma que não se enquadrava na publicação, enquanto ainda outros discordavam completamente dos respectivos conteúdos. Daí que os artigos de Abel Salazar tenham sido objecto de algumas críticas.
Numa série de artigos neste blogue, irei abordar esses temas e polémicas, que por vezes foram bastante agressivas, e que, passados 75 anos, nos poderão ajudar a perceber como evoluiu o pensamento filosófico desde então.
No primeiro destes artigos, publicado a 24 de Agosto de 1935, Abel Salazar pergunta “se uma metafísica é possível”, e, logo a seguir, escreve:
“A filosofia científica afirma com precisão e clareza que tal metafísica não é possível que ela não tem mesmo razão de existir. E, afirma, actualmente, mais – ‘que os problemas metafísicos são destituídos de sentido’, como veremos. A própria metafísica responde à mesma pergunta, gaguejando, perplexa, em discussões sem fim, confusas e hesitantes, sem nenhuma conclusão; (…)”
“Para que serve tudo isto”? Perguntava-se Abel Salazar, continuando:
“…a Metafísica persiste hoje porque é uma tendência inata no homem, necessidade do espírito, tal-qualmente a Arte, a Poesia, a Ciência e outras coisas. Mas enquanto a Arte, por exemplo, se justifica por si própria, e contém em si própria o próprio fim, com a Metafísica não sucede o mesmo: o objecto desta é exterior ao homem. Desta maneira, como acto de realização, isto é, como especulação, satisfaz uma necessidade automática do espírito humano: - mas uma vez o acto realizado, com o objecto dela lhe é exterior, fica o problema da sua realidade e sua justificação”.
E logo a seguir Abel Salazar dá um exemplo:
“Suponha o leitor que alguém pintava um quadro, não pelo desejo de realizar uma obra contendo em si própria a sua finalidade, mas com o intuito único de ver ‘se o quadro correspondia a uma realidade:’ - tudo então mudava de figura, e começava então o sarabulho, isto é, o grande problema de saber se esta correspondência existia, e até se porventura essa realidade existia, e até se alguma coisa afinal existia…
Desta forma há na Metafísica uma causa construtiva de natureza emotiva e um problema que pelo próprio postulado, é exterior a esse elemento emotivo: - daí uma causa profunda de desarticulação, uma contradição profunda que gera a inconsistência da metafísica.
A conclinação do elemento emotivo com o problema racional e filosófico faz-se de tal maneira, que o último é obscurecido pelo primeiro; quer dizer, o metafísico põe o seu problema já determinado em certo sentido pelo elemento emotivo: põe o problema, mas no seu íntimo ele já está resolvido em harmonia com o elemento emotivo”. (…)
António Mota de Aguiar
A Continuar
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7 comentários:
Pela lembrança de Abel Salazar!
Num ês
Do engano:
Ressuscitar na tinta
A natureza morta
Sem algum dano
Do engano:
Jurar ser viva
Por toda a vida
A flor de pano
Na redoma de vidro
Violetas são violinos
Dentro do litro
No lago de numme
Violinos são violetas
Sem o perfume.
Ainda, para Abel Salazar e pela Metafísica!
"A paz não é um conceito é um espaço. Há mais espaço dentro de nós do que fora".
Desde que Deus deu ao homem "a verdade", esta, pula de galho em galho, dos que provam o fruto na árvore da sabedoria. E, a humanidade ainda consegue seus pequenos milagres no período das sêcas.
Resistir, resistir...
(publicados out.2010)
Blog, O que eu andei - Prof. João Serra
E, tão somente em homenagem pela Metafísica e a importância que esta se aplica.
Dos Meios
No absurdo, há um rastro que se tome
Desta porção do indizível
Se na parcela do reversível
Traga luz ao teu nome.
Ao sacrifício de tantos rumos
Que tuas pegadas, consome
Quer ser possível esta saudade
De saudade não se abandone.
Equivale ao peso da água
Quando um deserto à retome
E dos rastros que evaporam
Levam consigo teu nome.
Equivale ao poder do fogo
Qual ardência desta fome
e se restam cinzas do tempo
Levam consigo teu nome.
Então, celebras este infinito
Com arabescos em pedras pome
E revelas com o vento
Uma saudade que se dome.
São vestígios do impossível
Só visível em verdades
E se desta há saudade
É da piedade em teu nome.
Janeiro 16, 2011
"nos poderão ajudar a perceber como evoluiu o pensamento filosófico desde então."
O pensamento filosófico de quem? Em geral? É que mesmo sendo generoso com o geral é preciso perceber que esta conversa do Abel Salazar, dentro da filosofia, já estava com dois séculos de atraso. O Kant já faz uma questão semelhante e dá uma resposta semelhante. A diferença na semelhança está, naturalmente, que Kant construiu um sistema filosófico e o Abel Salazar disse umas coisas nada originais, que, na melhor das qualificações, será um regurgitar de neo-positivismo.
Que pobreza...
L'absurdité de la vie
Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, aparece em seguida. São jogos.
"Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte."
Seneca
Of all the recent attempts to show the "oneness" in what physicists and transcendentalists speak of, Bohm's implicate order theory is the most worthy of consideration. In comparison, Capra's "realization" that the dance of Shiva and the movement of atomic particles is one and the same — although profoundly beautiful — falls more in the realm of poetry than science.
Ken Wilber
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