domingo, 22 de maio de 2011

Nunca deixe de sonhar!







17 comentários:

Anónimo disse...

Quem não sonha ter na vida
uma razão de existir,
seja qual for a medida
em que se queira assumir?!

JCN

Anónimo disse...

O sonho é tudo, a vida quase nada,
e como tudo quanto o homem tece
a vida passa e o sonho permanece
mesmo depois da vida terminada!

JCN

Anónimo disse...

SONHAR NÃO CUSTA

De ser poeta, sim, mas de verdade,
poeta do princípio até ao fim,
poeta dos poetas, era assim
que eu quereria ter a faculdade:

poeta desde logo por inteiro
desde a cabeça aos pés sem excepção
de qualquer órgão como o coração,
ainda que o espírito primeiro.

Ser o maior, acima de Camões,
andar na boca das populações,
ser lido nas escolas do país.

Sonhar não custa, como sempre fiz,
difícil é fazer das ilusões
aquilo que à nascença Deus não quis!

JOÃO DE CASTRO NUNES

joão boaventura disse...

É sempre agradável ouvir o canto do I have a dream, ou acompanhar a letra da música dos Abba

I have a Dream, a song to sing
To help me cope with anything
If you see the wonder of a fairy tale
You can take the future even if you fail
I believe in Angels
Something good in everything I see
I believe in Angels
When I know the time is right for me
Ill cross the stream, I have a Dream.

aqui, apesar da melancolia que a música nos transmite, como uma utopia, essa palavra arrancada por Thomas More ao vocabulário grego (ou=não + topos=lugar), para nos indicar o “não lugar”, o inatingível, o lugar que não existe, e por isso mesmo apetecível e desejado.

joão boaventura disse...

A Cidade do Sonho

Sofres e choras? Vem comigo! Vou mostrar-te
O caminho que leva à Cidade do Sonho...
De tão alta que está, vê-se de toda a parte,
Mas o íngreme trajecto é florido e risonho.

Vai por entre rosais, sinuoso e macio,
Como o caminho chão duma aldeia ao luar,
Todo branco a luzir numa noite de Estio,
Sob o intenso clamor dos ralos a cantar.

Se o teu ânimo sofre amarguras na vida,
Deves empreender essa jornada louca;
O Sonho é para nós a Terra Prometida:
Em beijos o maná chove na nossa boca...

Vistos dessa eminência, o mundo e as suas sombras,
Tingem-se no esplendor dum perpétuo arrebol;
O mais estéril chão tapeta-se de alfombras,
Não há nuvens no céu, nunca se põe o Sol.

Nela mora encantada a Ventura perfeita
Que no mundo jamais nos é dado sentir...
E a um beijo só colhido em seus lábios de Eleita,
A própria Dor começa a cantar e a sorrir!

Que importa o despertar? Esse instante divino
Como recordação indelével persiste;
E neste amargo exílio, através do destino,
Ventura sem pesar só na memória existe...

António Feijó
in 'Sol de Inverno'

joão boaventura disse...

Nem Sequer Sou Poeira

Não quero ser quem sou. A avara sorte
Quis-me oferecer o século dezassete,
O pó e a rotina de Castela,
As coisas repetidas, a manhã
Que, prometendo o hoje, dá a véspera,
A palestra do padre ou do barbeiro,
A solidão que o tempo vai deixando
E uma vaga sobrinha analfabeta.
Já sou entrado em anos. Uma página
Casual revelou-me vozes novas,
Amadis e Urganda, a perseguir-me.
Vendi as terras e comprei os livros
Que narram por inteiro essas empresas:
O Graal, que recolheu o sangue humano
Que o Filho derramou pra nos salvar,
Maomé e o seu ídolo de ouro,
Os ferros, as ameias, as bandeiras
E as operações e truques de magia.
Cavaleiros cristãos lá percorriam
Os reinos que há na terra, na vingança
Da ultrajada honra ou querendo impor
A justiça no fio de cada espada.
Queira Deus que um enviado restitua
Ao nosso tempo esse exercício nobre.
Os meus sonhos avistam-no. Senti-o
Na minha carne triste e solitária.
Seu nome ainda não sei. Mas eu, Quijano,
Serei o paladino. Serei sonho.
Nesta casa já velha há uma adarga
Antiga e uma folha de Toledo
E uma lança e os livros verdadeiros
Que ao meu braço prometem a vitória.
Ao meu braço? O meu rosto (que não vi)
Não projecta uma cara em nenhum espelho.
Nem sequer sou poeira. Sou um sonho.

Jorge Luis Borges
in "História da Noite"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

joão boaventura disse...

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão
in 'Movimento Perpétuo'

joão boaventura disse...

Mesa dos Sonhos

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
De novos sonhos a vida

Alexandre O'Neill
in 'No Reino da Dinamarca'

joão boaventura disse...

José – Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto José – Carlos Drummond de Andrade
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Anónimo disse...

SONHAR EM GRANDE

Sonhar em grande, sempre mais acima,
nunca ficar pelo primeiro andar,
subir até os cumes alcançar
mesmo que a sua altura nos oprima!

Sonhar com a Mulher que nós pusemos
acima das estrelas, tão distante
que tendo-a ao nosso lado ou por diante
é sempre junto a Deus que nós a vemos!

Sonhar mais alto ainda se possível,
sonhar com Deus, apenas atingível
pelos degraus penosos do Amor!

Sonhar assim com a Esposa amada
formando um só com Deus lá na morada
que aos eleitos reserva o Criador!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

A DESTEMPO

Ah! se eu vivido houvesse anos atrás,
na idade-média ou pouco mais à frente,
como seria tudo diferente
na vida que levei desde rapaz!

Teria sido um cavaleiro audaz
ou, se calhar, um afamado lente,
um cátaro rebelde e renitente,
um cristáo-novo astuto e contumaz!

Teria andado com D. Pedro ao lado
pelas terras da Hungria combatendo
o turco fortemente organizado!

Por causa de razões que não entendo,
tocou-me vir ao mundo numa altura
em que sonhar... é crime, porventura!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

É curioso notar
que sono e sonho possuem
relação vocabular
e por isso constituem
dois fenómenos a par!

JCN

Anónimo disse...

À procura de um título:

Sonhei que toda a terra era uma só,
um globo de ouro em pó,
um país sem fronteiras nem governo,
céu ou inferno,
outono, estio, primavera, inverno,
uma única nação
de cidadãos todos iguais,
sem marginais,
vivendo em comunhão
dos mesmos ideais,
ricos nem pobres,
plebeus ou nobres,
uma maravilha,
autêntica quadrilha
de santos sem pecado,
sonho pesado,
fantástica utopia,
genuína, real e verdadeira,
não simples teoria,
corporizada... a vez primeira,
se porventura ao acordar não visse
que tudo mais não foi que invencionice!

JCN

Anónimo disse...

Prosa cadenciada:

Não há sonho que resista à insensibilidade
de uma qualquer nulidade arvorada em cientista! JCN

Anónimo disse...

Está de luto a cultura, porque uns quantos malfeitores deram morte, nesta altura, aos poetas... sonhadores! JCN

Anónimo disse...

E ... o resto? JCN JCN

Anónimo disse...

Acabou-se o papel... ou faltou a tinta? JCN

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