É certo que o nosso caldo cultural não ajuda os políticos de qualidade. A inveja e a maledicência cegas afastam os honestos. E alimenta pequenas corrupções (que vão crescendo), favoritismos (que são dura injustiça), amiguismos (que se tornam regra), etc. Mas tudo porque as instituições não funcionam bem e há quem se sirva delas - o que é abuso inaceitável. Somos todos, de algum modo, responsáveis, mas há pessoas que, pela influência que têm, são particularmente culpadas.
Qualquer pessoa que abdica de fazer o que deve, no lugar em que está, que não cumpre, ou se serve da instituição para se servir, ou servir amigos, é responsável por esta situação. Quanto mais importante for a função maior é a responsabilidade, obviamente.
O grande problema agora é, todavia, este: Uma vez integrados na moeda única temos que ser eficazes, produtivos e rentáveis, porque estamos a competir com outros melhores que nós. Mas, para o País arrancar é indispensável acabar com a corrupção, o clientelismo e a incompetência que destroem os melhores. Ora, é precisamente isso que é difícil. E mesmo quando os políticos querem, em geral não conseguem, ou esgotam-se nisso. Alguns bons ministros foram já sacrificados pela força de algumas corporações, que todos conhecemos de ginjeira.
Por outro lado, deixámos que um sistema de empresas e de organismos estatais, criasse impunidades enormes ao nível da má gestão (todavia muito bem paga e até premiada) e de vantagens múltiplas, que enfraquece a restante actividade económica. Mas que alimenta muita gente inútil e “encostada”; o que é um cancro para as potencialidades do País.
Ora bem, ou acabamos com isto ou ficamos para trás comidos pela gangrena económica e social. Mas como, se todos os dias somos afrontados com impunidades, absolvições, prescrições e favorecimentos, que ofendem os cidadãos e minam as instituições? E apesar de termos identificado o vírus não conseguimos o antibiótico eficaz?
É esta a conversão moral de que se precisa: uma transformação que acabe com este cancro nacional, e obrigue os políticos e responsáveis institucionais a atuarem como devem. E a serem educadores do povo e não deseducadores. Já se sabe que um político não é um menino de coro, e que não pode ter um coração de cordeiro, mas, neste momento, ele precisa mais de indignação moral que de calculismo; ou melhor, precisa de sentir a indignação moral do País e ir nesse sentido, sem deixar de ser racional e ponderado. E ter a coragem de prosseguir, mesmo sabendo que vão difamá-lo, e que talvez perca as eleições seguintes. Mas deverá perceber que a maioria está ansiosa por uma lavagem ética. Que não é feita de água benta e sermões, mas com a neutralização sistemática e inteligente dos que vampirizam a sociedade. Talvez perca as eleições, mas a história reconhecê-lo-á como grande político.
Há uma justiça social que exige o fim de protecionismos estatais e de centralismos que só beneficiam alguns e que parasitam o sistema. O que distingue as democracias avançadas das bananoides é o respeito pelos cidadãos e pelas instituições. A justiça americana deu-nos ainda agora uma enorme lição. A comparação com a nossa afunda-nos ainda mais na depressão. Será que não conseguimos afastar as maçãs podres?
João Boavida
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5 comentários:
Caro Professor João Boavida:
Temos realmente que (tentar firmemente) afastar as "maçãs podres".
Apesar de serem "maçãs" muito poderosas e muito pouco (ou nada) escrupulosas. E de terem contado com a nossa passividade, que, no fundo, é aceitação ou mesmo colaboração.
Por isso temos uma "democracia bananóide" que degenerou em democracia abananada.
Mas não podemos deixar de pensar que há-de haver uma via de (decentemente) nos erguermos.
Eu cuido até que a escola, começando pela (pré-)primária (gosto de escrever e dizer assim), passando pela "secundária" e acabando na "superior", são aqui deveras importantes. Sendo que, em graus de importância, me atrevo a colocar a primeira em patamar mais elevado, (imediatamente) seguida das restantes, praticamente ao mesmo nível.
Bem haja pelo seu texto.
Caro Dr. José Batista da Ascenção: nesta sua magistral planificação hierarquizada do nosso sistema educativo, onde colocaria a acção dos blogues arvorados em tribunas de orientação pedagógica? Admirativamente JCN
Por falar em imoralidade... quando pensamos que já vimos de tudo, há informações que ainda nos deixam perplexos nem sei bem porquê. Soube hoje que numa escola , aqui bem próxima, para além de muitos desvarios "arquitectónico-construtivos" (por exemplo: - corredores e escadas apenas iluminados por luz artificial)os sofás para os alunos ( e, note-se, não faço o reparo por serem para os alunos) custaram 1000 € (sim, mil euros) a unidade ( e sim , a informação é fidedigna).
Ivone Melo
Estimado Professor João de Castro Nunes:
Supondo (eu) que cada um (de nós) ou cada instituição tem (apenas) a importância que alguém, em alguma altura, há-de reconhecer-lhe, em (humilde) verdade lhe digo que atribuiria a tais blogues a mesma importância que reconheço a outras "tribunas", as quais se arrogam donas da verdade, "verdade" que se esforçam por impor aos que têm um olhar diferente sobre as coisas.
Obviamente, esses blogues seriam para mim desprovidos de... poesia.
Com toda as estima (e solidariedade). José Batista da Ascenção.
Há muitos anos houve alguém que fez o retrato contido neste excerto de João Boavida:
“Há uma justiça social que exige o fim de proteccionismos estatais e de centralismos que só beneficiam alguns e que parasitam o sistema.”
Esse alguém era um médico com o nome de Étienne de la Boétie (1530-1563), cuja obra, na versão inglesa, já que a Google não no-la permite em francês, nem português, com o título de The politics of Obedience. The Discourse of Voluntary Servitude. Há uma versão francesa da Vrin, “Discours de la Servitude Volontaire”, a minha edição é de 2002.
La Boétie considera que há três tipos de tiranos, os eleitos, os que ocupam o lugar pelas armas e por direito hereditário. E questiona a servidão patenteada por milhares obedecendo a um tirano, sem qualquer revolta, mas as ocorrências que as televisões nos têm transmitido, dos países do norte de África e no médio oriente, testemunham que o medo acabou.
Os tiranos também podem aparecer entre os eleitos democraticamente, como revela o sociólogo Aron: “Se puede decir que los gobiernos son representativos, pero ni la forma de representación ni las reglas constitucionales están estrictamente determinadas en el contexto social. Todas las sociedades modernas defienden la igualdad, pero pueden ser liberales o despóticas.”
O fundamento de La Boétie radica-se neste pressuposto. O chefe privilegia 100, cada um destes contempla 1000, destes, por sua vez, cada um dará boas posições financeiras a 2000. E assim sucessivamente. Cria-se assim, como na Monarquia, uma corte de servidões voluntárias que apoiarão o chefe, não porque o adorem, mas pela simples razão de que está montada uma teia de cumplicidades. E neste caso, defender o tirano, é defender os interesses privados dos que, directa ou indirectamente, partilham o poder.
E impera o medo de perder os bons privilégios económicos sociais obtidos à custa da servidão. É verdade que o homem continua a ser livre, apesar da opção, mas alienou-se.
Chegados aqui, seja permitida a explicação sobre a diferença que separa os dois principais partidos com percentagens iguais nas presentes sondagens:
-- a percentagem de um representa os da servidão (acrescida agora com a oferta de sacos de merenda a imigrantes)
-- a percentagem do outro representa ainda a liberdade, a sinceridade e a isenção.
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