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No entanto, conforme os anos passavam, iniciou-se a Era Glaciar e as necessidades de sobrevivência mudaram: os tigres morreram devido ao frio, os cavalos fugiram e os peixes desapareceram na água enlameada. Em seu lugar, apareceram enormes ursos ferozes que não se afugentavam com o fogo, antílopes que corriam velozes como o vento (os cavalos de pelo comprido eram desajeitados e lentos) e novos peixes se escondiam na água enlameada.
A tribo depressa se deu conta que o curriculum educacional deixara de ser relevante. Afugentar tigres, abater cavalos e apanhar peixes eram relíquias dos dias antigos. A tribo precisava agora, de aprender a fazer armadilhas para os ursos, a enganar os antílopes e a fazer redes de pesca. ~
Contudo, o sistema educativo da tribo declarou em tom altivo: Não sejam tontos... Nós não ensinamos a apanhar peixes para apanhar peixes, mas para desenvolver uma agilidade generalizada que nunca se poderia desenvolver através do simples treino de fazer redes. Não ensinamos a abater cavalos para abater cavalos; ensinamo-lo para desenvolver uma força generalizada que não se poderia obter fazendo uma coisa tão prosaica e especializada como é uma armadilha para enganar antílopes. Não ensinamos a afugentar tigres para afugentar tigres; ensinamo-lo para dar aquela coragem nobre.”
Referência:
Peddiwell, J. A. (1939) in Sprinthall & Sprinthall (1993). Psicologia Educacional: uma abordagem desenvolvimentista. Lisboa: Mc Graw-Hill.
13 comentários:
A meu ver, a Helena toca no cerne do problema que enferma o nosso sistema educativo: um curriculum educacional baseado nas necessidades de sobrevivência, utilitarista e irrelevante face aos desafios do futuro. Parabéns.
Julgo que devemos diferenciar o conteúdo da forma.
No exemplo, parece-me que os conteúdos se desactualizaram. O currículo perdeu objectividade e o conteúdo do que era ensinado desadequou-se porque o mundo, o contexto, mudou, mas o currículo não acompanhou essa mudança (embora também faça parte do mundo).
Já não interessará aprender a "afugentar dentes de sabre", mas sim ursos. São eles que passaram a fazer parte do contexto. Mas isso será suficiente para alterar a forma de ensinar, quando sabemos que "o melhor ensino apenas pode ser feito quando há uma relação individual directa entre um estudante e um bom professor"? (como diz o Feynman, ali no post em baixo, com o qual concordo plenamente).
E há outra questão: se reduzirmos o ensino apenas ao seu carácter utilitário, não passarão as universidades a ser apenas escolas de formação profissional? Mas queremos formar o homem integro e universal, ou apenas a sua dimensão ligada à profissão?
Ora o Homem é mais do que aquilo que faz. É aquilo que sente, aquilo que pensa, aquilo que sonha, aquilo que diz e muito mais.
António Duarte
Ensinar dactilografia ou informática é uma resposta às mudanças ambientais (actualmente, sociais).
Mas não sucede o mesmo com a Matemática ou a Física (por exemplo). Com ou sem Glaciação, com tigres dentes de sabre ou com ursos polares, é preciso dominar alguns saberes fundamentais.
Ou melhor: é preciso que muitas pessoas dominem. Não necessariamente todas. Algumas podem preferir algo mais prático: caçar e construir os utensílios necessários para a caça, seja de tigres dentes de sabre seja de ursos polares. Ou seja: algumas podem preferir, ao estudo da Matemática e da Física, um Ensino Profissional (que se distinga pelo carácter prático e profissionalizante e não pelo facilitismo, como sucede em Portugal).
Ou será que vivemos tempos em que o currículo varia tão rapida e tão mal fundamentadamente que (quase) nada (do que) se aprende é verdadeiramente válido?
Por outro lado, falar e escrever bem (pelo menos) uma língua, especialmente a língua mãe, dominar conceitos matemáticos, perceber os fundamentos da matéria e energia (físico-química), entender aspectos importantíssimos da biologia (a higiene, a saúde, a ecologia...), ser sensível às àrtes (o desenho, a pintura, a música...), não mantêm a sua (real) pertinência durante todo e qualquer tempo? Ou mudamo-las porque há uns entendidos que nos mandam mudá-las?
Pois, pois...
Dito de outro modo, por que é que os sistemas educativos, sob a capa de serem públicos, se tornam coisas autoritárias, impostas a todos os cidadãos, mesmo àqueles que as consideram a mais crua deseducação?
Será que um cidadão tem que entregar as suas crianças nas mãos de quem não tem conhecimentos para ensinar-lhes?
Aprende-se a tocar piano e a ensinar a tocar piano estudando principalmente teorias sobre como tocar piano? Ou é preciso mesmo tocar piano?
É de facto o mesmo, o fogo que serve para afugentar tigres e aquele que serve para produzir electricidade. Nas palavras de Edgar Morin, "O dever principal da educação é o de armar cada um para o combate vital para a lucidez."("Os Sete saberes necessários à educação do futuro").
"íntegro" ou "integral"?... JCN
No comentário que produzi anteriormente, onde escrevi "Ou mudamo-las porque há uns entendidos que nos mandam mudá-las?", devia ter usado o género masculino.
Isto de escrever num rectângulozinho cujo tamanho não se pode maximizar, "encanita-me"...
As minhas desculpas
Caros senhores: olhem que o ser humano não chegou a conhecer... o tigre dentes-de-sabre"! Onde ele já ia! Limitem-se aos ursos! JCN
No Brasil faria sucesso!
Além de ser bem própria para realidade educativa, a qual devida a violência que encontra-se por vias do absurdo, você tem que de fato ter esta psicologia por defender-se...
Então mas afinal, os comentários em verso são proibidos ou permitidos?
Com efeito, cara Senhora, enquanto o tigre dentes-de-sabre é um bicho do Terciário, o homem é uma besta do Quaternário: não se conhecerm! JCN
Tomando em consideração que há pessoas incapazes de distinguir uma gralha de um erro de ortografia, apresso-me a corrigir a gralha "conhecerm" por "conheceram". "Por si las moscas"! JCN
Se você fosse Pedagogo(a) da escola das crianças da tribo paleolítica, que soluções apresentaria para resolver o problema da mudança climática e sua interferência no currículo da escola? Apresente a solução em um mini projeto que descrevas as ações necessárias para solucionar o problema.
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