Noutros tempos (ainda tão recentes) de conturbação mas também de esperança, Miguel Torga escrevia um Lamento por Portugal.
Chaves,11 de Setembro de 1975
Lamento
Pátria sem rumo,minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta,adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?
Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia...
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...
in Diário XII, 136.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
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1 comentário:
Há que lutr, Poeta, contra o estado
a que chegou a pátria de Camões:
de nada valem, seja por que lado,
as nossas pessoais lamentações!
Há que enfrentar o azar que nos persegue
desde a raiz da nossa vinda ao mundo:
de olhos postos no chão, ninguém consegue
das suas provações chegar ao fundo.
Com versos inspirados como os teus
também se luta contra os filisteus
que à actual degradação nos conduziram.
Choutando embora nestes verdes prados,
elevemos, Poeta, os nossos brados
contra os falsos heróis que nos traíram!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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