“Há centros de formação sérios e que funcionam bem. Mas não são, infelizmente a regra” (Santana Castilho, “Público”, 25/05/2011).
As "Novas Oportunidades" não param de me surpreender, assim como me surpreende, ainda mais, o facto deste país não tomar consciência da terrível injustiça que se está a cometer contra a juventude que obtém o diploma do 12.º ano através da via normal de ensino, não poucas vezes, com enorme sacrifício próprio e das magras bolsas parentais.
Sem muitos comentários, por bastar, ou mesmo sobrar, o exemplo que trago ao conhecimento do leitor, extraído do último artigo de opinião de Santana Castilho, e em que as nuvens que se acastelam sobre as "Novas Oportunidades" são demasiadas para serem havidas como “excepções excepcionais”. A dado passo, escreve Santana Castilho:
“Quando se fala de diplomar a ignorância [que, como é do conhecimento público, serviu de mote para a polémica gerada por uma denúncia de Passos Coelho sobre esta controversa temática necessitada de uma vassourada do tipo Universidade Independente], refere-se, por exemplo, a atribuição de um certificado de ensino secundário a alguém que, ao redigir uma das famosas dissertações autobiográficas da ordem, se expressa como ilustrado neste naco de prosa, transcrito de um documento que serviu para certificar:
‘Como já se disse anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele è mais velho cinco anos…Ando sempre a fazer-lhes ver as coizas, até já lhe tenho dito se tiver a inflicidade de falecer novo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe e mana, mas para ele é difícil de compreender as situações e acaba por me dar razão e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde mimos e converças porque graças a Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro com a mãe…’
Quando o designado ‘júri’ certificou este candidato, a prosa transcrita estava certamente corrigida por um professor escravizado, com filhos para alimentar e renda de casa para pagar, contratado à jorna por CNO (Centro de Novas Oportunidades), que só é financiado pelo famigerado ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) se ‘cumprir os objectivos’, isto é, se emitir x certificados de nível básico e y de nível secundário” (“Público”, p. 35, 25/05/2011).
Por esta “prova de exame”, que certificou este candidato das "Novas Oportunidades”, falar por si só, logo sem comentários que correm o risco de se perderem pelo caminho do facilitismo por vivermos num país e numa época de salve-se quem puder, apenas gostaria de chamar a atenção para o facto de estarmos em presença de uma situação em que a indigência da prosa corre paredes-meias com uma magra bolsa que não teve acesso à aquisição de certificados que, para os devidos efeitos, se vendiam na Net por bom preço e agora se adquirem em saldos de fim de estação por dez reis de mel coado. Ou se, pelo contrário, mesmo que o referido candidato tivesse esse poder aquisitivo, não o fez porque, como lhe segredava ao ouvido a voz sábia do povo, “para quem é bacalhau basta”?
17 comentários:
Não chega de NOVAS OPORTUNIDADES?! Que fartote! Não haverá "leitores" que, frente a esta "catadupa", proponham o seu banimento das páginasa deste sisudo blogue? Era o mínimo! JCN
Só gostava de esclarecer que esta tarefa, a história de vida, é uma das que são pedidas para obter a equivalência ao Ensino Básico, 9.º ano.
Para o Ensino Secundário, apesar de menos baseado na transmissão de conteúdos e mais na certificação de competências, as tarefas que se exigem aos alunos são mais complexas. Na minha escola este tipo de prosa seria suficiente para não certificar um aluno. Aliás, como já aconteceu.
MJB
JCN, em vez de branquear a miséria omitindo as referências, era preferível acabar com a miséria mesmo. É bom que se continue a falar, para não esquecer.
Tenha tento, sr. Oliveira, tenha tento! JCN
De facto o facilitismo reina na nossa sociedade e só nos afunda cada vez mais. Não é só na educação e nas novas oportunidades, nas empresas o cenário da falta de exigência uns com os outros é demasiado frequente.
Terá todo este facilistimo origem numa profunda desmotivação, uma falta de objectivos pessoais e comuns que "acordem as pessoas"?
Em certas culturas orientais, como a japonesa, considera-se essencial que cada pessoa tenha um objectivo claro na vida, o que também contribui para uma maior longevidade.
No ocidente, por exemplo, nos EUA, não há dia em que não se ouça alguém dizer que são o melhor país do mundo. Apesar dos exageros, é melhor do que fazer o contrário.
Por cá ainda reina o deixar andar, sem rumo, falando mal e menosprezando o que é nosso. Sintomas de desmotivação e desculpas para não agir.
Mas felizmente surgem cada vez mais exemplos de "barcos" que navegam na direcção certa. É preciso trazer mais gente a bordo. E para isso é preciso divulgar e discutir, recusando o alheamento.
Neste cenário não há artigos demais sobre novas oportunidades, nem boas notícias demais. Deixo aqui uma, e a sugestão de que se divulgem mais:
http://www.boasnoticias.pt/noticias_FEP-Alunos-do-Porto-vencem-competi%C3%A7%C3%A3o-mundial_6641.html
Será que este blogue se está a transfomar em muro de lanentações?! JCN
Já averiguou, sr. Oliveira, de que lado
é que está essa sua apregoada "miséria"? Já conseguiu identificar, em qualquer dos casos, quem são os seus verdadeiros protagonistas, ou seja, recorrendo à etimilogia, os nefandos "miseráveis"? Boa tarefa, sr. Oliveira! JCN
Prezado MJB: Se tiver reparado, sempre que critico as Novas Oportunidades tenho tido o cuidado de não generalizar os seus defeitos. Aliás, Santana Castilho, no texto que dele reproduzo também salvaguardou excepções. Assim, por exemplo, escreveu ele, com citação em epígrafe no meu post.
Quanto à rectificação que faz, “só gostava de esclarecer que esta tarefa, a história de vida, é uma das que são pedidas para obter a equivalência ao Ensino Básico, 9.º ano”, a referência por mim feita cinge-se a esta passagem do artigo de Santana Castilho: “Quando se fala de diplomar a ignorância, refere-se, por exemplo, a atribuição de um certificado de ensino secundário a alguém que, ao redigir uma das famosas dissertações autobiográficas da ordem, se expressa como ilustrado neste naco de prosa, transcrito de um documento que serviu para certificar”.
De resto, ainda bem que este post serviu de ensejo a este seu esclarecimento final, para proveito meu e de possíveis leitores: “Na minha escola este tipo de prosa seria suficiente para não certificar um aluno. Aliás, como já aconteceu”. Ou seja, o perigo reside em se poderem tomar generalizar os maus exemplos tomando o todo pela parte.
Cumprimentos cordiais,
Caro anónimo (26.Maio; 15:11): A notícia jubilosa de que nos dá conta, intitulada “FEP: Alunos do Porto vencem competição mundial”, reproduzo-a aqui, de forma resumida:
“Um grupo de quatro estudantes da Faculdade de Economia da Universidade do Porto venceu a Competição Mundial de Casos Empresariais promovida pela universidade holandesa de Maastricht.
A final foi disputada entre a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), a Universidade da Flórida (EUA), a Universidade de Concordia (Canadá) e a Universidade Simon Frase (Canadá)”.
Exemplos como este devem ter a devida projecção para aumentar o ego dos portugueses já de si tão desanimados com a crise económica, educacional e política, mas essencialmente de valores morais, que assola o solo pátrio e em que se abrem universidades privadas com mais facilidade do que aquela que é exigida para a abertura de um simples botequim ou caravana para a venda de farturas, por exemplo.
E, porque assim o entendo, também eu me congratulo com exemplos de sucessos dos nossos cérebros. Assim, no meu recentíssimo post, “Novas Oportunidades e Exames Nacionais” (23.Maio.2011), refiro um outro exemplo de sucesso da gente lusitana. Escrevi, aí, então:
“Todavia, as dezanove e honrosas excepções de personagens da vida académica que, como se lê no "Expresso”, de 21 deste mês, foram, no passado sábado, distinguidos com os “Óscares da ciência nacional” (de entre elas o próprio Mariano Gago pelo papel no desenvolvimento da ciência portuguesa) confirmam a regra de que, no pântano da ignorância, podem florescer cientistas, académicos ou simples técnicos que muito honram o país. Assiste-se aqui, uma vez mais, ao consagrado princípio de que as excepções confirmam a regra de um sistema educativo que se satisfaz com dados estatísticos sobre a quantidade de diplomados sem ter em conta a respectiva qualidade, deixando, como tal, de transmitir ao aluno a noção fundamental de valores como o trabalho, o sacrifício e o mérito”.
Cordiais cumprimentos,
Que labiríntica e deselegante argumentação! Paeece que efectivamente estão fazendo falta (cada vez nais falta!) as "novas oportunidades"! JCN
"Paeece" "nais"
Isto só prova que as novas oportunidades realmente fazem falta. Ou ensinam a escrever, ou então a utilizar correctores ortográficos.
Para as "novas oportunidades" não é um ato falho que desqualifica o indivíduo, mas, a falta de mérito neste.
Caro Manuel:
Na verdade os correctores de texto dos computadores evitam erros ortográficos. Todavia, o autor do texto e o seu corrector humano que os não devia ter aceitado nem com esse pequeníssimo pormenor se preocuparam. Como escrevi no meu post, para o fim que era quiçá tenham pensado "que bacalhau bastava"! E, pelo visto, bastou...
Em 118 palavras escritas para certificação deste candidato das Novas Oportunidades detectei 8 erros ortográficos. Chumbo mais do que certo num exame da antiga 4.ª classe sem corrector de erros a auxiliar o "escritor" de peça literária idêntica.
Daqui a pergunta: será que houve uma evolução do candidato do 1.º ciclo do básico para cá que justifique a existência de Centros de Novas Oportunidades desta qualidade?
Quem da troça faz cavalo
de batalha sem razão
arrisca-se a cavalgá-lo
sem ter a rédea na mão!
JCN
Dar apenas cabimento
ao que nos é favoráel
constitui procedimento
visceralmente execrável!
JCN
Ops! Desculpe senhor(a) JCN, passarei a ter tento e a pedir-lhe previamente para me autorizar as opiniões que posso ter.
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