“O exercício da política pode ser definido com uma só palavra: dissimulação” (Benjamim Disraeli, 1804-1881).
“Dizem? / Esquecem. / Não Dizem? / Disseram” (Fernando Pessoa, 1888-1935).
“Dizem? / Esquecem. / Não Dizem? / Disseram” (Fernando Pessoa, 1888-1935).
Em vésperas de mais uma eleição legislativa, teve lugar na SIC, no dia 11 do corrente mês, um frente a frente entre José Sócrates e Francisco Louçã em que seria confirmada pelo Partido Socialista a redução do tecto destinado a despesas com a saúde, para efeitos de IRS: 2/3 da que está actualmente em vigor. Por seu turno, em Francisco Louçã - bronzeado por umas férias da Páscoa em praias de Cabo Verde, enquanto os membros da “troika” tentavam encontrar uma solução para evitar que a bancarrota se instalasse no nosso país -, assistiu-se, ao contrário da sua habitual agressividade tribunícia, a uma certa bonomia, ou mesmo apatia, ao debater esta temática como se estivesse perante uma questão de lana caprina.
Nada disso! Trata-se, sim, de uma questão de natureza social de respeito pela saúde da população portuguesa seja qual for a sua idade. Penso que, em obediência ao princípio do segredo como alma do negócio, se ficou sem saber se haveria alguma alteração relativamente à política anterior do Bloco de Esquerda por Francisco Louçã ter defendido, num debate televisivo anterior também com José Sócrates (RTP1, 08/09/2009), “que as despesas com consultas em consultórios privados deixassem de contar para efeitos de IRS”.
Mas mesmo não tendo em linha de conta a questão humanitária relativa a todos os que sofrem os efeitos devastadores da doença, independentemente do respectivo poder económico, deve ser perspectivada, ainda que mesmo só em atenção a interesses de natureza eleitoral, a grande percentagem de idosos deste país e os seus respectivos votos. E porque julgo bem a propósito (ao leitor melhor caberá esse julgamento), transcrevo integralmente o meu post publicado neste blogue, “Um tecto para as despesas de saúde?” (15/03/2010). Escrevi então:
“Em declarada crise económica que assola grande parte do planeta e num pequeno país como Portugal, em que há um evidente desequilíbrio entre as despesas públicas e as receitas fiscais, tomam-se medidas de desenrascanço de apertar o cinto que pouco afectam quem usa suspensórios!
Desta forma, em vez de se cortarem em esbanjamento de dinheiros públicos (finalmente e pelos vistos, pelo menos, o TGV e o Aeroporto de Alcochete encontram-se em banho-maria) tenta-se cortar em despesas com pouco significado positivo para os cofres estatais e muita expressão negativa no que diz respeito à justiça social.
Refiro-me ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) , no que concerne à criação de um tecto limitativo para deduções de despesas da saúde para efeitos de IRS que levou a que o ministro Teixeira Santos tenha optado por não fazer comentários sobre a sua possibilidade (Correio da Manhã, 25/11/2009). Infelizmente, duvido que este silêncio prenuncie boa notícia e muito menos 'a eloquência dos anjos' de que nos fala Camilo.
Aliás esta indefinição sobre o futuro fiscal das famílias portuguesas da classe média dá preocupação acrescida ao cidadão comum a quem a velhice trouxe doenças e desânimos muito bem retratados numa uma personagem de um dos livros de Arnaldo Gama e não em vivência própria do autor pela sua morte prematura aos 41 anos de idade: “Para isto é que eu vivi! Malditos anos! Maldita velhice!”
Como se nós tivéssemos um Serviço Nacional de Saúde de boa saúde (ora, num direito que assiste a qualquer cidadão de procurar o que mais lhe convém na vida, assiste-se à hemorragia de muitos dos melhores médicos dos hospitais públicos para o sector privado), Francisco Louçã, dirigente do Bloco de Esquerda, em debate televisivo com José Sócrates (RTP1, O8/09/2009), defendeu a ideia peregrina de que as despesas com consultas médicas em consultórios privados deviam deixar de contar para efeitos de desconto no IRS.
Sabendo nós que os recibos dos médicos constituem uma parcela importante do total que é taxado a estes profissionais para pagamento de IRS, a não passagem desses recibos constituiria uma perda evidente de rendimentos para a fazenda pública criando uma forma de economia paralela que vigora em muitas profissões que não passam recibo porque o cliente assim não o exige por não ganhar nada com isso e não desejar amontoar papelada para lançar no lixo.
Mas atenhamo-nos, apenas, ao caso dos medicamentos. Actualmente são deduzidos para efeitos de IRS 30% das despesas feitas nas farmácias com determinados medicamentos. Ou seja, quem tem uma saúde de ferro beneficia do dom precioso em não gastar um cêntimo em medicamentos. Por outro lado, quem tem uma saúde frágil que anda associada, frequentemente, a achaques da velhice, como sejam, por exemplo, para não falar de outras graves bem mais graves, doenças do foro reumatismal, em que, para apaziguar dores insuportáveis, o paciente é obrigado a encharcar-se em analgésicos, gastando quantias que fazem perigar, ainda mais, o seu periclitante equilíbrio financeiro em busca de uma dignidade humana que não se curve amparada por uma bengala para não abdicar da sua ascendência bípede de milhões de anos.
A ser levada avante esta medida, um doente de magros ou remediados cabedais de vencimento ou esquálida reforma que, porventura, tenha uma gripe ao atingir o referido tecto terá que deitar contas à vida e pedir a Deus para que uma possível pneumonia não lhe bata à porta na pior altura. Ou, nessa infelicidade, empenhar os anéis para ficar com os dedos, ou mesmo sem os anéis e os dedos, como se a própria vida 'não fosse o último hábito que se quer perder porque é o primeiro que se toma', como escreveu Alexandre Dumas Filho.
Tratar atempadamente da nossa saúde não é o mesmo que adquirir um bem que se possa dispensar ou adquirir mais tarde quando a vida corre melhor! Atento à situação de verdadeira crise económica em que a grande maioria dos estratos sociais deste país mergulharam, e que não deve ser paga por aqueles que cumprem com grande sacrifício os seus impostos - como escreveu Peter Vries, ' os ricos não são como nós: pagam menos impostos' –, manifestou-se, dias atrás, publicamente contra esta medida o CDS/PP ao declarar publicamente que rejeita o PEC 'se o Governo não recuar no corte das deduções fiscais em Saúde' ("Correio da Manhã", 13 de Março de 2010).
Ir buscar umas migalhas no cotão de certos bolsos que a actual crise virou do avesso e não em ordenados escandalosos, sinecuras principescas e chorudas contas bancárias é o mesmo, como nos ensina a sabedoria popular, que 'poupar no farelo para gastar na farinha', promovendo o desaparecimento de uma classe média com reformas que se degradam de ano para ano, necessitadas, como tal, de cuidados fiscais intensivos que lhes transmita e à economia portuguesa um novo e desejável alento para sair do pântano em que se encontram mergulhadas.
Num abreviar de razões, a solução deve ser procurada numa ainda mais apertada malha que taxe o cidadão com sinais exteriores de riqueza de quem 'cabritos vende e cabras não tem', segundo os seus reais rendimentos e haveres e não sobre aquilo que ele dolosamente possa declarar serem os seus hipotéticos rendimentos e haveres. A isto, sim, chama-se, com toda a propriedade, justiça fiscal!”
O actual Programa Eleitoral do Partido Socialista e a posição pública de Francisco Louçã (na campanha legislativa de 2009) não preconizam nada de bom para os velhos e para os doentes deste país em declarada crise económica. Todavia, perante a escassa expressão eleitoral do Bloco de Esquerda, pouco ou nada deve influenciar que o seu programa (ainda no segredo dos deuses) arrepie caminho na intenção de aumentar substancialmente o seu peso na disputa por um lugar cimeiro nas próximas legislativas. Já outro tanto não sucede com o Partido Socialista em função da escassa margem percentual que, a acreditar nas sondagens, separa esta força política do Partido Social Democrata. Aqui, sim, os votos contam. E de que maneira!
40 comentários:
A Velhice Pede Desculpas
Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.
Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.
Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.
Cecília Meireles
in 'Poemas (1958)'
O «Ensina-me»
Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.
Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.
Bertold Brecht
in
Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas
Tradução de Paulo Quintela
Pior Velhice
Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!
A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!
E dizem que sou nova ... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!
Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova ... outrora ...
Florbela Espanca
in "Livro de Mágoas"
Os Velhos
Todos nasceram velhos — desconfio.
Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enorm'idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infrigiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milénios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.
Carlos Drummond de Andrade
in 'Boitempo'
Já Velho e Doente
«Seja a terra da Terceira
A minha coberta de alma»,
Disse eu na idade fagueira,
Em que tudo é força e calma.
Mas hoje, já velho e doente,
Em que as almas não se cobrem,
Hoje sim, peço seriamente
Que os sinos por mim lá dobrem.
Até já me aconselharam
Um quarto lá no Hospital,
Tanto caipora me acharam,
Escaveirado, mal, mal...
Ali visitas teria
Por obra de misericórdia,
Embora comida fria,
Alguma vez, que mixórdia!
Mas sempre era doce ao peito
Ir acabar os meus dias
Na Praia, de qualquer jeito,
Perto da casa das tias.
Tive o exemplo resignado
Que me deu a prima Alzira
Num lençolinho lavado
Com rendas limpas na vira.
Ali matámos saudades,
Ela alegre e penteadinha,
Mal pensando eu que as idades
Não perdoam. Hoje é a minha.
Também cheguei a pensar
No Asilo, talvez com um biombo.
Sou biqueiro. Mas jantar?
Todos ali, lombo a lombo.
Como outrora o Tintaleis,
Três-Quinze, Manuel de Deus
Eram duas vezes seis,
Lava-Pés, e Pão-por-Deus.
Mas já sei que nem no hotel!
(A família não consente).
Tenho que amargar o fel
Mortal como toda a gente
Morrer num navio, à proa,
Numa aldeia ou num porão,
Provavelmente em Lisboa
Prò Alto de S. João.
Se acaso em Ponta Delgada
Me fosse dado ter fim:
Queria a última morada
Com Antero, em S. Joaquim.
O melhor é não pensar.
É seja onde Deus quiser.
Bem me podem sepultar
Ao pé de minha mulher.
Vitorino Nemésio
in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Cecília Meireles
in "Poemas (1957)"
A Velhice
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac
in "Poesias Infantis"
Caro João: Que bem se enquadram estes belíssimos versos, que transcreveste, com a imagem do velho que encosta a cabeça à bengala que suporta (prevejo) os seus achaques de locomoção. Obrigado. Um abraço.
Quando vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro
Há pouco era de infância que os Poetas
a falar se entretinham... docemente;
agora é de velhice, a cujas metas
está sujeita, amigos, toda a gente:
como em tão poucas horas, mal contadas,
o tempo deu... tão rápidas passadas!
JCN
Aproveitando a boleia:
"Eso es todo"
Pablo Neruda
Estou num desses dias em que gosto
de redigir poemas dominados
pela tristeza que me vai no rosto
e me rodeia por diversos lados.
São dias em que o espinho da saudade
me fere com mais força o coração,
alturas em que perco a faculdade
de reagir e me elevar do chão.
São dias de Neruda e Pascoaes
quando o amor à porta lhes bateu
sob a forma de arcanjos terreais.
São dias meus, em que recordo aquela
que em minha juventude Deus me deu,
mas na velhice... me deixou sem ela!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Caro Rui Baptista,
“On parle à des décapités
Les decápités répondent em “ouolof””
Henri Michaux
Para mim, a última melhor definição que encontrei para os políticos, foi através de uma ironia de Herberto Helder (in “Doze nós numa corda, poemas mudados para português por Herberto Helder: “(…) esta cor condiz sobretudo muito pouco com o seu nariz” (p.131).
Estamos numa época divorciada das tradições ancestrais vindas dos gregos - a do respeito pelo velho. A velhice era o acumular de sabedoria, por isso devia ser respeitada. É importante falar nisto aos mais jovens.
Por outro lado, lembrei-me de uma história fantástica num livro fantástico em que o Doutor Loachamín trata os dentes dos nativos, em El Idílio. Logo no início lê-se: “o Doutor Loachamín odiava o governo.” (pág. 10, O Velho que lia Romances de Amor, Luis Sepúlveda, Ed. Asa). Aconselho toda a gente a ler a cena inicial: uma pérola de humor, em prosa poética
Aldina Duarte, (uma nossa contemprânea) disse com muita propriedade, numa entrevista à RT2: “Há mentiras, grandes mentiras e estatísticas”. E assim se passa. Por que razão não vão as pessoas que poderiam fazer de fato a diferença para a ribalta da política?
Atrevo-me a responder: ou porque como pessoas de bem não vão pura e simplesmente, ou porque a sua voz tem pouca expressão, porque não é entendida pela maioria, pelas massas. Uma questão de linguagem. Complicado. Como disse a autora da citação acabada de referir: “A crise da atenção é inerente ao próprio capitalismo, na sua aceleração e compressão do tempo”.
E não é esse o drama que estamos a viver? Um drama de linguagem? Um drama de aceleração do tempo? “E a linguagem, que é um grande exercício que permite ao cérebro, em toda a sua complexidade, comportar-se de certo modo” (já não me lembro onde li isto), entretanto, perde-se. Um problema da educação, como bem sabemos.
Repercussões: muitas. Os idosos, os doentes, a velhice… como refere, sem demagogia! (e posso dizê-lo com a tranquilidade de quem sabe que não é preciso estar de acordo em tudo, para o diálogo ser possível).
HR
Caro João Boaventura (na sequência dos seus comentários-poema),
A partilha de poesia é para mim um enorme prazer. Como “Des chaines d’or, d’étoile à étoile….” (Rimbaud, nun CD de homenagem a este poeta intitulado “Sahara Blue”). É uma cadeia na divulgação da poesia melhor do que a declamação de que a RTP2 leva a cabo, antes ou depois do telejornal, que mete medo ao susto. Perdoe-me quem ofendo, ainda por cima são jovens (mas foi o que lhes ensinaram!)
E assim, partilho também:
“Outra
Lá sobre a fronte vã se me acinzenta
O cabelo do jovem que perdi.
Meus olhos brilham menos.
Já não tem jus a beijos minha boca.”(…)
(Eugénio de Andrade, Antologia Pessoal de Língua Portuguesa, Campo das letras)
(…) “E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.”
(Cesário Verde, Clepsidra, Editorial Comunicação, 1983,p.139)
“Insónia
Já sobre o coche de ébano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque, à luz vedado!
Jaz entre as folhas Zéfiro abafado,
O Tejo adormeceu na lisa areia;
Nem o mavioso rouxinol gorjeia,
Nem pia o mocho, às trevas costumado.
Só eu velo, só eu, pedindo à sorte
Que o fio,com que está minha alma presa
À vil matéria lânguida, me corte.
Consola-me este horror, esta tristeza,
Porque a meus olhos se me afigura a morte
No silêncio total da natureza.”
Bocage
“O Epitáfio de Swift
Swift navegou até ao seu repouso;
Não pode aí a feroz indignação
Lacerar-lhe o peito.
Imita-o se fores capaz,
Entorpecido viajante do mundo;
Ele serviu a liberdade humana.”
(Yeats, uma antologia, Assírio & Alvim, p.135)
Termino com a maior antropóloga da alma humana:
“Em todo o grande homem há, como experiência do seu valor que tende ao inacabado, um sentimento de refrear a morte e pô-la à distância. Sabe, porém, que um dia a fidelidade à sua vocação tem de render-se; e não escreverá mais.”
(Agustina Bessa-Luís já não escreve, dedica-se às plantas no seu jardim…)
HR
A velhice
O neto:
Vovó, por que não tem dentes?
Por que anda rezando só.
E treme, como os doentes
Quando têm febre, vovó?
Por que é branco o seu cabelo?
Por que se apoia a um bordão?
Vovó, porque, como o gelo,
É tão fria a sua mão?
Por que é tão triste o seu rosto?
Tão trémula a sua voz?
Vovó, qual é seu desgosto?
Por que não ri como nós?
A Avó:
Meu neto, que és meu encanto,
Tu acabas de nascer...
E eu, tenho vivido tanto
Que estou farta de viver!
Os anos, que vão passando,
Vão nos matando sem dó:
Só tu consegues, falando,
Dar-me alegria, tu só!
O teu sorriso, criança,
Cai sobre os martírios meus,
Como um clarão de esperança,
Como uma bênção de Deus!
OLAVO BILAC
Caro HR: Espero que esteja recuperado da intervenção cirúrgica a que foi submetido recentemente. Agradeço o seu comentário, e aproveito-o para acrescentar à frase, que cita, de Aldina Duarte, esta de George Canning: “Posso demonstrar qualquer coisa mediante estatística, excepto a verdade”.
Quanto à velhice temos sempre uma maneira de nos considerarmos não velhos, porque, como escreveu Francis Bacon, “velhos são os que têm mais quinze anos do que nós”! Desta forma, no meu caso pessoal, a velhice só chegou aqueles que têm 95 ou mais anos! Que jovem me sinto eu, portanto!
Quanto aos políticos a melhor e mais sarcástica definição que encontrei foi a de Nikita Kruschev, que cito de memória: “Os políticos prometem pontes onde nem sequer há rios”.
A UN VIEJO Y DISTINGUIDO SEÑOR
Te he visto, por el parque ceniciento
que los poetas aman
para llorar, como una noble sombra
vagar, envuelto en tu levita larga.
El talante cortés, ha tantos años
compuesto de una fiesta en la antesala,
?¡qué bien tus pobres huesos
ceremoniosos guardan!?
Yo te he visto, aspirando distraído,
con el aliento que la tierra exhala
?hoy, tibia tarde en que las mustias hojas
húmedo viento arranca?,
del eucalipto verde
el frescor de las hojas perfumadas.
Y te he visto llevar la seca mano
a la perla que brilla en tu corbata.
Poema de Antonio Machado
Aquel Viejo Caballero
Yo quisiera ser el viejo caballero
amante de las esquinas solitarias,
bañado por una suave lumbre de alelíes,
que en la noche repasa, con los dedos,
cuentas de amor y melancolía
a través de desvaídos almanaques.
Yo quisiera ser el viejo caballero.
Lo he visto en los grabados antiguos
de las calles silenciosas.
Su paso deshace plumajes de agua en los plenilunios.
Su paso abismado reanda los años en la luz.
Su paso escala montañas de flor de algodón.
Yo lo he visto perdido bajo cielos de arroz,
con una mano en el pecho
y una mano ya ajena en otro siglo. Su bastón
caminaba solo y yerto como caminaría
una insurrección de nardos. Iba delante de él.
La perla de su corbata,
sus guantes de horizonte, de niebla,
la cadena de su reloj,
su pañuelo florido,
sus cabellos pintados,
su sombrero vesperal,
la luz de sus zapatos de charol,
todo lo anunciaba ?y su tos?,
todo gritaba su sonrisa, su amarga
luna de soledad.
Yo quisiera ser el viejo caballero
que da golosinas a los niños
y palmadas delicadamente amorosas a las adolescentes.
Yo quisiera ser ese caballero, ese río inerte,
esa luz antigua.
Yo quisiera ser ese caballero,
lleno de árboles desgarrados,
de pájaros enmudecidos,
de estrellas turbias. ¡Caballero gris,
retrato mío de un tiempo escamoteado!
Pero no lo cuente, por favor, caballero.
César Brañas
Anciano en la playa
¿Dónde fue ese vigor tumultuoso?
¿Ese romper las olas con el pecho?
Y al mismo tiempo esa sutileza,
ese oler la hierba mojada
que tras de sí deja la tormenta,
antes incluso de que ésta llegue.
A ningún sitio, sino aquí,
a este cuerpo cuya respiración ansiosa
cada vez más se confunde con el viento.
Unos lo llaman Dios,
otros la muerte.
José Elgarresta
Envejecimiento y estrés oxidativo
Entre otras situaciones
parece que la oxidación de las lipoproteínas
de baja densidad eledéele
juega un papel significativo en la aterogénesis
el acúmulo de colesterol en las lesiones ateroscleróticas
no se debe a la captación de eledéle por el receptor de eledéele
del tipo estándar o brown / goldstein
sino al engullimiento de eledéele oxidada
a traés de la isoforma con mezcla racémica de eledéele depuradora/
una segunda isoforma en la célula de depósito
reconoce, también, células apoptóticas
la vitamina e, pero no el beta-caroteno
es efectiva en la protección de las eledéele
frente al estrés oxidativo.
María Eloy–Garcia
In “ABC de la Ciencia”, 24.10.1997
E, então, os meus poemas?... Não chegou a tinta? Só pode, comparativamente! JCN
Vou-me queixar... à Troika! JCN
Que piada tem reproduzir, assumindo-os, os poemas que outros escreveram?... Estão todos na internet, por temas e autores: é só buscar! JCN
Candidatar-se a poeta
com poesias alheias
revela falta de ideias,
merecendo bola preta!
JCN
As poesias que faço
todas são da minha lavra,
frase a frase, traço a traço,
a começar na palavra!
JCN
Por que é que o homem foi à lua? Porque a lua está lá...!!!
HR
Que pena a estupidez... não pagar imposto! Por que é que o homem não foi ao sol, se "ele está lá"?! Tenha tento, sr. HR! Que estudos tem... vossemecê? JCN
Sr. Dr. Rui Batista: que desapontamento! JCN
Senhor Doutor JCN (15 de Maio; 21:33): Concedo que esteja desapontado. Todavia, em nome de uma crítica construtiva gostaria de saber o motivo do vosso desapontamento. Só assim me poderei justificar perante si ou possíveis outros leitores do meu post.Julgo até ser uma discussão interessante a ter.Antecipadamente grato.
Caro JCN
Como várias tentativas falhadas do meu afã de alcançar o estro poético, só obteve da sua parte a crítica amiga de que tinha que "afinar o meu violino", crítica que acatei respeitosamente, pelo que desisti definitivamente de ocupar esse espaço... interdito a quem a veia falha.
Em tais circunstâncias e sempre que as circunstâncias se me oferecem, só me restou, ao menos recorrer aos meus volumes de poesia e lançar os poemas neste blog, como forma de partilhar com quem não tenha tempo nem oportunidade de os ler.
O tema sobre a velhice foi oportuno para esta partilha, como aliás em outros me permitiram a alegria de os reler em companhia de quem, por este blog passa os olhos.
Esta a explicação necessária a quem merece o meu respeito e consideração.
Cordialmente
Senhor Dr. João Boaventura: assumindo-se V. Exª como parte activa na gestão do "post" em apreço, só me cabe estender à sua estimável pessoa a a recomendação que enderecei ao Dr. Rui Batista: "não faça de mim trouxa"! JCN
Caro JCN,
Repito a interrogação de Rui Baptista, embora não me caiba a mim responder, evidentemente: qual o motivo do seu desapontamento? Com certeza não são os meus estudos, ou a falta deles. Será qualquer coisa mais interessante,gostaria de acreditar.
Era óptimo se conseguisse ultrapassar o fel e ser mais construtivo. O comentário de João Boaventura é honestíssimo, não consigo ver qualquer intenção de fazer de si "trouxa".
Comigo é pior, pura e simplesmente não gosto dos seus versos, não tenho culpa nem isso é motivo para o desprezar, pelo contrário, o senhor tem muito mais jeito do que eu para rimas.
Quanto à questão de partilhar poemas de autor, acho muito interessante e dá-me grande alento ler aqui poemas fantásticos, ou reler outros igualmente fantásticos.Também eu não tenho o dom da escrita e se há quem o tenha, porquê fazer os outros perder tempo com o meu egocentrismo? Porque o que se publica aqui é para ser lido por outros. E aquilo que eu poderia publicar seria demasiado profundo para partilhar com estranhos (sem querer ser convencido(a)).
Se o seu discurso continuar no domínio da rudeza, não mais me dirigirei a si, a não ser que mude para um registo que prometa troca de ideias.
PS - Mas até entendo a sua rudeza, também já fui rude consigo, mas tenho como meu o privilégio de ser anónimo(a) e imtepestuoso(a), por vezes e quando me apetecer.
HR
Caro JCN
Quando liberta a quadra
"Candidatar-se a poeta
com poesias alheias
revela falta de ideias,
merecendo bola preta!"
Não me ofendeu pela simples razão de que não me candidatei a poeta.
Primeiro, porque fui emissário de poesias com autores identificados, e não com o meu nome.
Segundo, porque a quadra de JCN é apenas um liberdade poética.
Quanto à intencionalidade explicativa do meu anterior comentário, lastimo que o tenha interpretado mal, mas autoriza-me a considerar que já sabia que ela era a única justificação plausível, e que outra não poderia ser a minha explicação.
Como a ela me obrigou, dela não gostou.
Cordialmente
Prezado Doutor JCN (resposta ao comentário de 16 Maio: 01:21):
O vosso comentário, atrás citado, dirigido ao Dr. João Boaventura, mas que dele me tornou parte, trouxe-me à memória o Padre António Vieira: “Chorarão os nobres vendo que se não guarda cortesia à sua qualidade”. Acredite ou não, só numa situação de despudorada descortesia me atreveria a ter a vossa pessoa como trouxa. Tanto, arrenego!
“Nestas circunstâncias que são simultaneamente humilhantes de suportar, humilhantes de considerar e humilhantes de descrever”( Charles Dickens), comprometo-me, sob minha palavra de honra e com o aval de todos os meus comentários consignados neste post, e em todos os outros posts da minha autoria, perante si e possíveis leitores que me desresponzabilizo dessa intenção ainda que mesmo em simples pensamento.
Assim: que pérfidos desígnios desviariam a minha mão firme para agravar quem me tem merecido sempre todo o respeito? que loucura perturbaria o meu juízo para o ofender? Que hodierno Pégaso me conduziria, em alado e desvairado tropel, não ao monte Hélicon, inspirador de musas e poetas, mas às profundezas do indecoro?
Desaguisado comigo, sem razão, como me atrevo a pensar, gostaria que se debruçasse, apenas, sobre o teor do meu post, em vez de “se queixar à… Tróika” (v/comentário, 15 de Maio, 01:249), esclarecendo-me, tão-só, a “razão do vosso desapontamento (v/comentário, 15 de Maio, 21:30).
Só desta forma me poderei, para além da injustiça do agravo que me imputa, e que eu tenho como de uma gritante injustiça, fazer réu do vosso desapontamento perante a opinião pública. Antecipadamente grato.
Cobardia... ou falta de pundonor? JCN
Por que não exibe, sr. Dr. Rui Batista, a totalidade das minhas intervenções, retirando do seu contexto aquelas que se digna deixar passar?! Será "lêgal"?... JCN
Por mim, sr. Dr. Rui Batista, estamos conversados! JCN
Senhor Doutor JCN: Haverá razões para que no vosso penúltimo comentário (17.Maio; 19:29) eu seja acusado de não exibir a totalidade das vossas intervenções? Mas não é esse o caso, apenas acontece que tenho dificuldade em decifrar enigmas ou simples charadas.
Mas é fácil evitar que esses enigmas, por deficiência interpretativa minha, morram à nascença. Vivifiquemo-los, portanto”!
Como? Nada mais fácil: basta ser feita por si uma listagem dessas intervenções, comprometendo-me eu dar-lhes resposta atempada. Não basta, como escreve, que por si estajamos conversados. Não fosse o respeito que me merecem os leitores dos nossos comentários por mim também estaríamos conversados. Mas, em boa consciência, julgo ter interesse que o assunto fique devidamente esclarecido.
3.ª linha do último § (do meu comentário das 23:42): rectifico "estajamos" para estejamos.
Nada disso.
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