segunda-feira, 30 de maio de 2011

Entrevista sobre ensino das ciências

Um estudante de doutoramento brasileiro colocou-me algumas perguntas sobre o nosso ensino das ciências a nível do básico e secundário. Eis o essencial das perguntas e minhas respostas:

P- A proposta de ensino de física indicada pelos documentos do Ministério da Educação português está adequada à realidade nacional?

R- Não, as propostas do ensino de física vindas do Ministério da Educação não têm sido as melhores. No ensino básico os programas estão há muitos anos fixos em ensino temático (ensino em contexto), que não sei se é o melhor. O mesmo tipo de ensino continua no secundário. Não sei se os alunos compreendem desse modo a unidade, a lógica e a beleza da Física. Há pouco ensino experimental. Há pouca física moderna. O grau de exigência é baixíssimo. Só para dar um escandaloso exemplo surgido nos últimos dias: numa prova nacional de Física e Química do 9.º ano pretendia-se apenas saber se os alunos conseguiam contar até oito!

P- Os professores de física têm uma formação adequada para as necessidades educacionais atuais da sociedade portuguesa?

R- Os professorem andam muito desiludidas com aquilo que o Ministério lhes dá e lhes pede. Com certeza que anseiam por mais possibilidades de formação, que lhes transmita conteúdos científico-pedagógicos actualizados, e por uma avaliação mais justa, que assegure uma promoção na carreira para os mais sábios e capazes, em vez de ficarem aprisionados numa paralisante rede burocrática.

P- As escolas possuem a infra-estrutura (Bibliotecas, laboratórios, computadores...) necessária para um ensino de qualidade? É possível utilizar a experimentação no ensino básico e secundário?

R- As condições têm melhorado. Algumas escolas foram recentemente remodelados através de um programa governativo que queria tornar a escola mais "habitável". No entanto, esse processo não está isento de disparates que têm sido apontados. Sim, temos de continuar a enriquecer as bibliotecas (com criteriosas selecções de aquisições) e as salas de computadores (foi um erro enorme distribuir computadores portáteis, os Magalhães, em vez de apostar em equipamentos fixos e com software adequado e boa ligação à Internet, contemplando não só as bibliotecas, salas de computadores e laboratórios como as próprias salas de aula. Quanto à experimentação ela pode-se fazer com poucos meios laboratoriais, mas mais e melhores meios ajudam decerto a essa prática. De qualquer modo, o principal bloqueio à falta de actividade experimental não é a falta de equipamento nos laboratórios mas sim a falta de currículos que a contemplem com carácter obrigatório, de formação de professores adequada e de organização escolar propícia, factores que, cada um por si e em conjunto, de forte estímulo desse meio imprescindível do ensino da física. Devia-se começar mais cedo, no 1.º ciclo do básico e até no jardim-escola.

P- É possível ensinar física moderna (relatividade, quântica, etc.) no ensino secundário português? Isso já ocorre?

R- Sim, já ocorre no 12º ano embora em parte pequena e no final. Há também o ensino da física moderna que se faz na Química. Dever-se-ia estender mais esse ensino. A teoria da relatividade e a teoria quântica já têm mais de cem anos e, a segunda mais do que a primeira, estão por todos o lado nas nossas vidas.

P- Os manuais escolares de física estão adequados para a necessidade do ensino de física na sociedade portuguesa? Esses manuais são analisados pelo Ministério da educação?

R- Eu sou "suspeito" nessa matéria, pois sou autor de alguns manuais escolares. Foi iniciado um processo de avaliação de manuais mas, na minha opinião, falta-nos ainda uma avaliação séria dos manuais disponíveis no mercado.

P- Qual a sua opinião sobre o uso da história da física no seu ensino na escola básica e secundária?

R- Sou a favor. Tenho um aluno a acabar o doutoramento que está a concretizar uma experiência muito interessante nesta área, servindo-se de exemplos da história da ciência em Portugal, um assunto que quase não aparece nas aulas. Exemplos sobre a história da telegrafia em Portugal ou a história das águas termais estão disponíveis.

P- No ensino de física em Portugal a divulgação científica (livros, centros, museus, etc...) é uma “ferramenta metodológica” utilizada pelos professores?

R- Receio que não o seja na medida suficiente. A divulgação científica (ensino informal) tem proporcionado óptimos recursos que deveriam ser mais aproveitados na escola (ensino formal). O ensino informal está melhor entre nós e deveria ser aproveitado para melhorar o ensino formal. E isso não se passa só na área da Física.

P- A física que realmente está nas salas de aula em Portugal é adequada para a realidade da sociedade atual e futura? Possibilita a aquisição de uma cultura científica?

R- Há muito a melhorar, como se depreende do que já disse. Infelizmente, a nossa escola não está ainda a responder aos desafios da sociedade actual e do futuro. A obrigação de a mudar é nossa, de todos os interessados, e não apenas uma responsabilidade ministerial. Tenhamos esperança que mude!

1 comentário:

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

P- A física que realmente está nas salas de aula em Portugal é adequada para a realidade da sociedade atual e futura? Possibilita a aquisição de uma cultura científica?

subjectivo ou subjetivo

há falta de alunos de 12º de física e principalmente de Maries Curies

e de interesse e perspectivas penso eu de que

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