“Para um escritor vale mais o cérebro do que um computador” (Norbert Wiener, criador da Cibernética, 1894-1964).
“O problema não é que os computadores pensem como nós, mas que nós pensemos como os computadores” (Erich Fromm, 1900-1980).
Sem pôr em causa ou, sequer, tentar beliscar, ainda que ao de leve, a opinião de Louis Pauwels (“Le Matin des Magiciens”) de que “o homem para estar presente necessita de se transformar em contemporâneo do futuro”, o texto de Mário Vargas Llosa, por mim transcrito neste blogue, “Pensar como um macaco” (01/05/20111), não deve ser entendido como um ataque às novas tecnologias. Apenas legitima o grande e respeitoso amor do seu autor pela beleza da frase e pela força da palavra escrita que não devem ser prostituídas pela linguagem dos SMS, das redes sociais e dos próprios políticos.
É exemplo disso, a resposta de Mário Vargas Llosa (ele próprio político candidato à presidência do Peru, em 1990) à entrevista do jornalista argentino Jorge Halperin quando lhe é feita a pergunta : “O que faz um escritor com as palavras quando as usa como políticas?" Resposta de Vargas Llosa: “Para um escritor, a linguagem é seu bem mais precioso. É uma relação que envolve enorme cuidado, respeito, quase uma reverência religiosa. Ela é trabalhada de maneira muito pessoal porque é através dela que criamos nossa identidade como escritor. Já para o político, a linguagem é apenas um instrumento. Como ele quer chegar ao maior número de pessoas, ele a simplifica e a repete. Por isso, em política, é irresistível o uso de estereótipos, clichês, estribilhos, tudo o que em literatura significa palavra morta.” Para Llosa, portanto, o verdadeiro inimigo da língua reside em todo o atentado que possa ser feito naquilo que distingue o homem dos outros animais : a palavra oral e escrita! Palavras bem ditas e bem escritas, porque sujeitas a padrões de uma exigente Gramática.
Só quem nunca teve alunos universitários a não conseguirem articular uma simples ideia de improviso, a redigirem dois pensamentos seguidos ou a serem incapazes de interpretar um pequeno texto que saia da linguagem do dia a dia ou do esotérico jargão desportivo, é que não alcança, em toda as sua extensão, o problema dos verdadeiros crimes que se cometem na oralidade escrita ou falada, questão pertinente levantada por Vargas Llosa, com a autoridade de um "Prémio Nobel da Literatura", sem a despreocupação de uma questão de lana caprina por defender com a dureza da sua convicção pessoal que “os jovens que abreviam palavras nas redes sociais e nos SMS pensam como macacos”.
Aliás, tempos houve em Portugal, a partir do meio da década de 70 do século passado, em que uns tantos professores para a "frentex" e uns tantos teóricos do ensino defendiam: desde que o professor decifre o que o aluno quer escrever nada mais devia ser exigido. Por outro lado, o corrector de textos dos computadores da nossa utilização diária tomou para si o papel que a falta de ditados das antigas escolas do ensino primário criou e sustenta. O diabo está no que respeita às palavras manuscritas…
A factura deste laxismo que se andou a cometer, e continua a cometer, no ensino da Língua Portuguesa faz com que muitos alunos não consigam resolver problemas de Matemática que estão ao alcance dos seus conhecimentos da matéria, mas que erram por deficiente interpretação dos respectivos enunciados. É esta geração de futuros políticos que continuamos a formar e que perpetua e dá consistência à geração de 80, criticada por António José Saraiva, tido por Eduardo Lourenço “como uma referência chave da cultura portuguesa”. Escreveu António José Saraiva: “No Parlamento mais valia que os senhores deputados em vez de dizerem asneiras, dormissem”.
Aqui, sim, as mensagens por SMS que os deputados trocam entre si ou com o exterior fazem a obra benemérita de os despertar da sua sonolência por estarem sentados a fazerem a digestão do almoço e, simultaneamente, obrigados ao desumano sacrifício de terem de ouvir despertos, para no final aplaudirem, as asneiras léxicas dos seus pares no uso da palavra tribunícia em que, com raras excepções, o brilho de uma peça oratória do século passado de José Estêvão é substituída, nos nossos dias, pelo apregoar repetitivo das virtudes da banha da cobra.
Mas a televisão, ela própria, se faz palco da asneira sem nexo e sem concordância gramatical e da palavra de péssima sonoridade dos seus apresentantes que tão depressa apresentam programas de carácter popular e/ou recreativo como se atrevem a fazer entrevistas de carácter político, científico ou cultural com a bóia de salvação do auricular em contacto directo com a “régie” que os orienta nas perguntas a fazer. Que distante e saudosos tempos da rádio em que o improviso, a cultura geral e a dicção dos locutores era o cartão de apresentação de quem lançava a voz bem timbrada através das “ondas do éter”!
“Seria possível, numa regressão da riqueza léxica, a humanidade continuar a orgulhar-se do espólio literário dos seus grandes prosadores e não menores poetas do passado se o seu acervo tivesse chegado, por exemplo, aos escaparates das livrarias ou às biblioteca actuais em escrita abreviada dos SMS?
Seria ingratidão para com os milhões de anos de evolução que deram ao homem a posição bípede libertando-lhe as mãos para a manipulação de objectos, mas sem lhe desvendar, até hoje, os segredo ocultos numa “caixa negra”, na linguagem poética de Charles Sherrington (detentor do "Prémio Nobel de Fisiologia", 1932), um “tear mágico” que encerra os segredos da massa cinzenta do homo sapiens sapiens. Anos mais tarde, em finais de 70 do século passado, David Krech, figura respeitada no estudo das neurociências confessa, com humildade, que “a neurofisiologia encontra-se num sótão escuro procurando um gato escuro sem a certeza de ele lá estar; seu único indício são leves ruídos que parecem miados”.
Mas, por seu turno, os computadores, com o seu incomensurável poder de armazenamento de informação, não estão (ainda?) capacitados para substituirem a emoção e sentimentos - que, segundo António Damásio, “constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito desde há milénios como alma ou espírito humano” -, com trunfos que o levam a um jogo ganho à partida. É este o drama de um mistério com que se debate a nossa era e que só o devir se encarregará de desdramatizar ou não! Mas, como nos ensina Eric Hoffer, “a única forma de prever o futuro é ter poder para formar o futuro!”
Sem pôr em causa ou, sequer, tentar beliscar, ainda que ao de leve, a opinião de Louis Pauwels (“Le Matin des Magiciens”) de que “o homem para estar presente necessita de se transformar em contemporâneo do futuro”, o texto de Mário Vargas Llosa, por mim transcrito neste blogue, “Pensar como um macaco” (01/05/20111), não deve ser entendido como um ataque às novas tecnologias. Apenas legitima o grande e respeitoso amor do seu autor pela beleza da frase e pela força da palavra escrita que não devem ser prostituídas pela linguagem dos SMS, das redes sociais e dos próprios políticos.
É exemplo disso, a resposta de Mário Vargas Llosa (ele próprio político candidato à presidência do Peru, em 1990) à entrevista do jornalista argentino Jorge Halperin quando lhe é feita a pergunta : “O que faz um escritor com as palavras quando as usa como políticas?" Resposta de Vargas Llosa: “Para um escritor, a linguagem é seu bem mais precioso. É uma relação que envolve enorme cuidado, respeito, quase uma reverência religiosa. Ela é trabalhada de maneira muito pessoal porque é através dela que criamos nossa identidade como escritor. Já para o político, a linguagem é apenas um instrumento. Como ele quer chegar ao maior número de pessoas, ele a simplifica e a repete. Por isso, em política, é irresistível o uso de estereótipos, clichês, estribilhos, tudo o que em literatura significa palavra morta.” Para Llosa, portanto, o verdadeiro inimigo da língua reside em todo o atentado que possa ser feito naquilo que distingue o homem dos outros animais : a palavra oral e escrita! Palavras bem ditas e bem escritas, porque sujeitas a padrões de uma exigente Gramática.
Só quem nunca teve alunos universitários a não conseguirem articular uma simples ideia de improviso, a redigirem dois pensamentos seguidos ou a serem incapazes de interpretar um pequeno texto que saia da linguagem do dia a dia ou do esotérico jargão desportivo, é que não alcança, em toda as sua extensão, o problema dos verdadeiros crimes que se cometem na oralidade escrita ou falada, questão pertinente levantada por Vargas Llosa, com a autoridade de um "Prémio Nobel da Literatura", sem a despreocupação de uma questão de lana caprina por defender com a dureza da sua convicção pessoal que “os jovens que abreviam palavras nas redes sociais e nos SMS pensam como macacos”.
Aliás, tempos houve em Portugal, a partir do meio da década de 70 do século passado, em que uns tantos professores para a "frentex" e uns tantos teóricos do ensino defendiam: desde que o professor decifre o que o aluno quer escrever nada mais devia ser exigido. Por outro lado, o corrector de textos dos computadores da nossa utilização diária tomou para si o papel que a falta de ditados das antigas escolas do ensino primário criou e sustenta. O diabo está no que respeita às palavras manuscritas…
A factura deste laxismo que se andou a cometer, e continua a cometer, no ensino da Língua Portuguesa faz com que muitos alunos não consigam resolver problemas de Matemática que estão ao alcance dos seus conhecimentos da matéria, mas que erram por deficiente interpretação dos respectivos enunciados. É esta geração de futuros políticos que continuamos a formar e que perpetua e dá consistência à geração de 80, criticada por António José Saraiva, tido por Eduardo Lourenço “como uma referência chave da cultura portuguesa”. Escreveu António José Saraiva: “No Parlamento mais valia que os senhores deputados em vez de dizerem asneiras, dormissem”.
Aqui, sim, as mensagens por SMS que os deputados trocam entre si ou com o exterior fazem a obra benemérita de os despertar da sua sonolência por estarem sentados a fazerem a digestão do almoço e, simultaneamente, obrigados ao desumano sacrifício de terem de ouvir despertos, para no final aplaudirem, as asneiras léxicas dos seus pares no uso da palavra tribunícia em que, com raras excepções, o brilho de uma peça oratória do século passado de José Estêvão é substituída, nos nossos dias, pelo apregoar repetitivo das virtudes da banha da cobra.
Mas a televisão, ela própria, se faz palco da asneira sem nexo e sem concordância gramatical e da palavra de péssima sonoridade dos seus apresentantes que tão depressa apresentam programas de carácter popular e/ou recreativo como se atrevem a fazer entrevistas de carácter político, científico ou cultural com a bóia de salvação do auricular em contacto directo com a “régie” que os orienta nas perguntas a fazer. Que distante e saudosos tempos da rádio em que o improviso, a cultura geral e a dicção dos locutores era o cartão de apresentação de quem lançava a voz bem timbrada através das “ondas do éter”!
“Seria possível, numa regressão da riqueza léxica, a humanidade continuar a orgulhar-se do espólio literário dos seus grandes prosadores e não menores poetas do passado se o seu acervo tivesse chegado, por exemplo, aos escaparates das livrarias ou às biblioteca actuais em escrita abreviada dos SMS?
Seria ingratidão para com os milhões de anos de evolução que deram ao homem a posição bípede libertando-lhe as mãos para a manipulação de objectos, mas sem lhe desvendar, até hoje, os segredo ocultos numa “caixa negra”, na linguagem poética de Charles Sherrington (detentor do "Prémio Nobel de Fisiologia", 1932), um “tear mágico” que encerra os segredos da massa cinzenta do homo sapiens sapiens. Anos mais tarde, em finais de 70 do século passado, David Krech, figura respeitada no estudo das neurociências confessa, com humildade, que “a neurofisiologia encontra-se num sótão escuro procurando um gato escuro sem a certeza de ele lá estar; seu único indício são leves ruídos que parecem miados”.
Mas, por seu turno, os computadores, com o seu incomensurável poder de armazenamento de informação, não estão (ainda?) capacitados para substituirem a emoção e sentimentos - que, segundo António Damásio, “constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito desde há milénios como alma ou espírito humano” -, com trunfos que o levam a um jogo ganho à partida. É este o drama de um mistério com que se debate a nossa era e que só o devir se encarregará de desdramatizar ou não! Mas, como nos ensina Eric Hoffer, “a única forma de prever o futuro é ter poder para formar o futuro!”
3 comentários:
Pegando na citação final:
Eric Hoffer, “a única forma de prever o futuro é ter poder para formar o futuro!”
Acho que estes vídeos são imperdíveis de tão pertinentes que são:
http://www.youtube.com/view_play_list?p=9AEE26FBFF69BF1D
A review of this article on The Portuguese Review.
Desde que o homem existe e que tem consciência do seu pouco tempo são muitos os desafios de sua permanência, de suas fantasias e seu grito de liberdade, - Viva a vida!
Tal valor consiste, não deixar escapar pelas mãos, todo desejo em se perpetuar...
Arrastado pela intranqüila corrente da vida, é destinado uma transformação contínua, sendo pelo fluir do tempo, uma molécula entre milhões, espicaçada por essa intuição de imortalidade. Pretende deixar um vestígio definitivo da passagem, um rastro do seu “EU”.
É nessa linguagem que nos fala o impulso dos homens primitivos, separados por nós por um abismo de milênios. Há muito tempo, suas ações perderam o significado, é incompreensível o sentido do que marcaram aquelas gerações feito poeira, mas ainda entendemos que nos falam do desejo de se conservar, de eternizar e insinuar dentro da vida de outras gerações como hálito do que representaram. E, não é muito difícil conservar uma verdade dentro de nós. Então, a miséria e o tormento começam com a dúvida do futuro e reconheço também, como heróica essa sinceridade de Mario Vargas Llosa.
A vergonha, o pudor, é, portanto nosso maior inimigo por nos induzir e representar, não tal qual somos, mas como queremos que nos figurem. Pois, sem grande coragem não se marcha avante. Entre abismos, de línguas vão mergulhando esquecimentos, equívocos, mentiras, até chegar na derradeira solidão, talvez este desencontro, defina o contemporâneo.
Que heróica paciência e segurança de si próprio não precisa um homem, antes de poder pronunciar com autoridade - Conheci meu coração! Como é penosa a volta, como é difícil emergir das profundezas do próprio ser para o mundo exterior, quando a noção do que é o melhor da expressão, corre riscos de perder-se. No entanto, desatento o povo que cai em tal tentação de já não pode fazer a descrição de si mesmo. Ou, pelo menos, por expressão a defesa de seus gestos.
Interessante que toda confissão exagerada sempre se esconde uma fraqueza! Sempre alguma coisa, misteriosa num pudor que induz ao homem exteriorizar o mais repugnante do seu ser, o que pudera ser ridículo ou o temor do sarcástico.
E nos dias de hoje, pedir sinceridade absoluta é tão insensato, como pedir justiça completa, liberdade inteira. Como ser tão fiel à realidade de nossos desejos, de nossas satisfações dentro da imperfeição humana?
A arte somente a arte, retrata a fidelidade de todos os sentidos ou, de nossas vontades, a verdadeira semelhança entre a cara e coroa do mesmo lado, compondo a miséria de uma juventude desajeitada, empobrecida pelo rigor de seus complexos.
Realmente Entendo Mário Vargas Llosa. Sem a arte o que é o homem?
Pássaros que não voarão, e sem asas o chão é o seu destino.
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