quarta-feira, 4 de maio de 2011

Resposta a um comentário ao meu post "O Homem Contemporâneo do Futuro"

“Ao colocar a vasta questão: o que faz com que o homem seja homem? Verifico que há a sua cultura, por um lado e o seu genoma por outro, é claro. Mas quais são os limites genéticos da cultura? Qual é o seu bloco Genético? Não sabemos nada sobre isso. E é pena, porque este é o problema mais apaixonante, o mais fundamental que há” (Jacques Monod, Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina/1965).

A minha entrada no maravilhoso mundo computacional chegou tardiamente com a minha condição de sexagenário em vésperas de septuagenário. Daí, na minha qualidade de uma espécie de bota-de-elástico em quase divórcio (mesmo sem um matrimónio anterior) das novas tecnologias informáticas, continuo a procurar na minha modesta biblioteca pessoal água para matar a minha sede de conhecimento.

Curiosamente, foi ainda estudante do ensino superior (1952) que tomei conhecimento da Cibernética e da “mutação” do seu significado através de milénios. Assim, na minha curiosidade (não aquela “curiosidade que mata o gato”), vim a descobrir que cibernética significava para Platão (427-348 a.C.) “a arte de conduzir um navio” e para Ampére (1843) “o estudo dos meios de governo das sociedades”, cabendo a Wiener (1948) ir desencantá-la das coisas com a poeira dos tempos para nomear o “antigo governo de uma máquina com certa autonomia e capacidade de iniciativa e sua aplicação ao estudo do sistema nervoso”.

Quando escrevi o meu despretensioso post, “O homem contemporâneo do futuro” (31/05/2011), nunca me passou pela cabeça ser confrontado com as teorias sobre a linguagem saídas da pena de psiquiatras, psicólogos, psicanalistas, linguistas, cientistas sociais, etc., para não me sentir um anão rezingão entre gigantes da razão. Por isso, foi com a humildade, aqui confessada, que li o artigo da Net ”The Language Instinct”, de Steven Pinker, que me foi aconselhado com a pouco simpática citação que me sentou no banco dos réus sem ter a meu lado Vargas Llosa com o seu pequeno artigo, “Pensar como um macaco”. Foi esta a citação: “Do the really good students never use abbreviations and creative uses of spelling when writing an SMS? Using alternative spellings always imply the person is ignorant of standard spellings? An intelligent speaker isn’t able to use and understand alternative spellings, just as anyone can understand different accents (and use different accents, in fact)? So, if I use “SMS-lingo” in my SMS (and not in my exams), am I sinning against the Religion of Language?” Aceitei e tive a sua leitura como mais uma tese sobre uma controversa temática que está longe de encontrar o desfecho de uma síntese consensual.

Mas não me ative a uma única leitura na Net de um reputado psicólogo e linguista da Universidade de Harvard: Steven Pinker. Desloquei-me às prateleiras em que se alinham os meus livros, para leitura e releitura, em busca do livro “Jean Piaget e Noam Chomsky debatem TEORIAS DA LINGUAGEM – TEORIAS DA APRENDIZAGEM” (O Saber da Filosofia, edições 70, s/d, 513 p.p.). Versa ele um único debate científico havido entre os defensores da epistemologia genética e da linguística generativa , realizado entre 10 e13 de Outubro de 1975, na abadia de Royaumont. Debate com a participação de antropólogos, psicólogos, linguistas, biólogos, geneticistas celulares,etc., em número de duas dezenas e meia. Dessa participação realço o nome de Jean-Pierre Changeux (por uma questão de ser um leitor compulsivo da sua vasta e valiosa obra), de que transcrevo o início da introdução da sua comunicação, intitulada “Determinismo genético e epigénese das redes de neurónio: existe um compromisso biológico possível entre Chomsky e Piaget?”. Reza esse início: “É uma situação difícil para um neurobiólogo apresentar factos e interpretações que emanam do seu próprio campo de pesquisa no contexto de um encontro entre Chomsky e Piaget. Estes dois eminentes cientistas consagraram anos de trabalho aos dois comportamentos mais complexos e mais elaborados do homem: o conhecimento e a linguagem . Sendo a minha experiência neste domínio praticamente negligenciável, limitarei a minha exposição a alguns exemplos que dizem respeito à neurobiollogia do sistema nervoso periférico nos vertebrados” (p. 267). Abreviando razões, as teses académica entre o inatismo e o construtivismo, com as suas inúmeras teses e antíteses está longe de chegar a uma desejável síntese.

Antes de terminar este meu texto, - cujo seu comentário agradeço por me dedicar a atenção e a oportunidade de uma pequena gota de água doce num mare magnum salgado de nomes ilustres que se fizeram, e continuam a fazer, arrojados mareantes duma tormentosa viagem sem fim à vista -, quero deixar bem claro que me referi, apenas, ao caso de alunos que utilizam a escrita abreviada dos SMS nas provas escritas escolares por serem incapazes de separá-la da escrita que obedece a uma ortografia e a uma gramática correctas. Ou seja, por outro lado, em que o (ab)uso dos correctores de texto suprimem uma falha que pode levar a simples manuscritos de algumas simples linhas chumbarem no antigo exame da 4.ª classe com erro palavra sim, palavra não . Ter o meu modesto post como o atrevimento do sapateiro que vai além da chinela pintada por Aples é injustiça que julgo não merecer.

E digo porquê: graças a Deus, ainda tenho a noção das minha limitações que não busca respaldo num pousar constante em artigos da Net. Aliás, para mim, consulta muito limitada por ser um analfabeto funcional numa rede de comunicações em que os mail's chegam às mais distantes paragens do globo num simples abrir e fechar de olhos quando as cartas do correio, ainda poucos anos atrás, demoravam dias ou meses a chegarem ao seu destino. Isto sem falar em tempos centenários da malaposta!

Aqui, sim, enviando e e recebendo mails diários, sinto-me como peixe dentro de água! Aqui, sim, sou um homem desta era informática! Aqui, sim, sou "o homem contemporâneo do futuro", a arrastar os pés trôpegos, que a idade vai consentindo, no íngreme e árduo caminho das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação. Aqui, sim, desafio a vox populi que nos quer convencer que "burro velho não aprende Línguas"!

4 comentários:

The Portuguese Reader disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
The Portuguese Reader disse...

Thanks for the answer! New reply at
The Portuguese Reader

E agora para algo con pateta mente diferencial disse...

é uma forma de passar o tempo

e o pilha galinhas alemão que saqueou as várias tróias

aprendeu a maioria das línguas que falava dos 50 aos 60

logo só leva um atraso de uma década

Rui Baptista disse...

Só hoje tomei conhecimento do seu amável comentário, que agradeço.

Na verdade, deve interpretar-se a comparação feita por Vargas Llosa (de um retrocesso na maneira de pensar da juventude escravizada, escravizada, repito, às novas tecnologias) na perspectiva de um escritor laureado com o Nobel preocupado com o facto da "linguagem" dos SMS poder desvirtuar o prazer da boa escrita e da boa leitura que é intemporal e sem fronteiras.

Sem querer entrar em exageros de desvirtuar o papel importantíssimo das novos tecnologias de informação, o próprio ensino do Português tem contribuído para o facilitismo em dar aos alunos sinopses das obras dos grandes autores. Lá virá o tempo em que bastará dar ao aluno dos títulos dos livros de Eça e dos sonetos de Camões.

Por outro lado, receio bem que ao perguntar-se a um jovem qual foi o 1.º rei de Portugal ele tenha que ir consultar (ou investigar, como agora se diz a torto e a direito?) o Google. Aliás, o próprio Norbert Wiener, não hesitou em escrever que “para um escritor vale mais o cérebro do que um computador”.

Cordiais cumprimentos.

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