sexta-feira, 22 de outubro de 2010
AINDA A MOSTRA SOBRE GRACIA NASI E OUTROS JUDEUS PORTUGUESES
Informação recebida da Biblioteca Geral relativa à mostra sobre Grácia Nasi (1510-1569) e outros judeus portugueses:
11. SERMÕES que pregarão os doctos ingenios do K.[all] K.[ados] de Talmud Torah, desta cidade de Amsterdam, no alegre estreamento, e publica celebridade da esnoga que se consagrou a Deos, para caza de oração, cuja entrada se festejou em Sabath Nahamù anno 5435. Em Amsterdam : Em caza & a custa de David de Castro Tartaz, 5435 [i.e. 1675] V.T.-19-6-20
Compilação de sermões que foram pregados sobre Kall Kados de Talmud Torah quando foi inaugurada a Sinagoga de Amesterdão. Selomoh de Oliveira, filho de David de Israel de Oliveira, foi professor e orador em muitas instituições de beneficência em Amesterdão e mais tarde Haham (rabino) da comunidade israelita portuguesa. Morreu a 23 de Maio de 1708. O sermão, lido aquando da inauguração da Sinagoga da comunidade portuguesa de Amesterdão, é da sua autoria. Foi impresso por David Castro Tartaz, impressor notável que fundou uma tipografia em Amesterdão que funcionou entre 1660 a 1695. Publicou textos rabínicos, incluindo livros de orações em hebreu, castelhano e português.
12. CEREMONIES et coutumes religieuses de tous les peuples du monde. Representées par des figures dessinées de la main de Bernard Picard, avec une explication historique, & quelques dissertations curieuses ... A Amsterdam : chez J. F. Bernard, 1723-[1737]. 1-8-24-542/543
12-A. BÍBLIA. A.T. Pentateuco. Humas de Parasioth y Aftharoth. Traduzido palabra por palabra de la verdad hebraica en español. Amsterdam : impresso nuevamente em caza de Imanuel Benveniste, 5403 [i. e. 1643] V.T.-20-8-21
Menasseh ben Israel nasceu em Lisboa em 1604, foi para Amesterdão com o pai, Joseph ben Israel, ainda muito jovem, e morre em Amesterdão em 1657. Na cidade holandesa funda a primeira tipografia hebraica, da qual sairão muitas obras impressas em hebraico e espanhol. Bem Israel foi um notável impressor editor em Amesterdão, onde fundou uma tipografia que funcionou entre 1640 e 1660. Aí trabalharam impressores de renome como Judah Gumpel e Samuel Levi. Dos seus prelos saíram vários livros de orações e uma valiosa edição do Talmude em hebraico. As suas obras teológicas, apologéticas e históricas, escritas em castelhano e português, latim e hebraico, foram muito apreciadas. A importância que estas obras alcançaram ficou a dever-se à influência deste impressor. A obra Humas de Parasioth y Aftharoth, tradução do Pentateuco, foi a primeira a ser impressa em castelhano por Menasseh bem Israel.
12-B. LEMOS, Maximiano, 1860-1923. Zacuto Lusitano : a sua vida e a sua obra. Porto : Eduardo Tavares Martins, editor, 1909. 9-(4)-13-2-28
13. NETO, David, 1654-1728 Noticias reconditas y posthumas del procedimiento delas inquisiciones de España y Portugal con sus presos ... por un anonimo. Villa Franca [i.e. Londres] : [s.n.], 1722. V.T.-15-9-34
14. BARRIOS, Miguel de, 1635-1701 Coro de las musas. En Brusselas : de la imprenta de Baltazar Vivien, 1672. 4-1-2-3
Miguel Barrios ou Daniel Levi de Barrios nasceu em Espanha cerca de 1625. Em 1659 parte para Itália (Livorno) e assume publicamente o judaísmo. Entre 1662 e 1674 vive em Bruxelas até se fixar em Amesterdão. Morreu em 1701, tendo sido sepultado no cemitério dos judeus portugueses em Amesterdão. Poeta, lírico e dramaturgo escreveu Coro de las Musas, que dedica a D. Francisco Manuel de Melo. As cidades de Amesterdão, Veneza e Ferrara são elogiadas na sua poesia.
14-A.TASSO, Torquato, 1544-1595 Rime, et prose ... : parte prima di nouo reviste, & corrette, con aggiunta di quanto manca nell'altre editioni. In Ferrara : Ad instanza di Giulio Vassallini, 1583. RB-6-10
15. GUARINI, Battista, 1538-1612 El pastor fido. Traducido de italiano en metro español, y illustrado com reflexiones [por Isabel Correa]. Amberez : por Henrico y Cornelio Verdussen, 1694. 4-2-3-24
Isabel Correa ou (Rebecca) viveu em Bruxelas, Antuérpia e Amesterdão. Foi amiga de Miguel de Barrios, a quem elogia a obra Coro de las musas num soneto. D. Manuel de Belmonte ou Ishac Nuñez Belmonte era filho de Jacob Israel Belmonte, natural da ilha da Madeira, que foi o fundador da primeira Comunidade Israelita portuguesa em Amesterdão. Manuel Belmonte fundou em 1676 a Academia poética de Silibundos e em 1685 a Academia dos Floridos em Amesterdão, da qual D. Isabel Correa era membro, motivo pelo qual lhe dedica a obra.
16. CEBÀ, Ansaldo, 1565-1623 La Reina Esther d'Ansaldo Cebà. In Genova : appresso Giuseppe Pavoni, 1615. 1-3-14-404
Ansaldo Cebà, monge genovês, cuja obra mais conhecida é o poema épico La Reina Ester que esteve na base de uma vasta correspondência trocada ao longo de quatro anos com a poetisa Sara Coppio Sullam, sobre a controvérsia religiosa. A intenção do autor é a conversão de Sara à religião cristã, propondo uma rainha Esther cristã. O monge viu em Sara uma oportunidade de a converter ao Cristianismo, sugerindo-lhe a leitura de textos sagrados. Nunca o conseguiu, uma vez que a poetisa tinha ideias muito claras sobre a sua religião. A poetisa de origem judia, que nasceu em Veneza em finais do século XVI, viu em Esther um modelo de mulher judia, verdadeira heroína e exemplo a seguir. O entusiasmo pelo poema heróico de Cebà reside na força que emana a sua protagonista com a qual provavelmente se identificava.
17. DELGADO, João Pinto, 1580-1653 Poema dela reyna Ester : lamentationes del propheta Ieremias : hisória de Rut, y varias poesias. Roven : Dauid du Petit Val, 1627. R-18-14
João Pinto Delgado ou Moseh Pinto Delgado Judeu português que nasceu em Portimão ou Tavira em 1580 e morreu em Amesterdão em 1563. Em 1600 parte com a família para Lisboa, onde toma contacto com as obras dos poetas castelhanos Jorge Manrique, Garcilaso e Luis de Léon. Em 1624 parte para Ruão para se juntar aos seus pais – o pai era um importante membro da comunidade judaica portuguesa em França - que entretanto tinham fugido à Inquisição. É em Ruão que, em 1627, publica a colecção de poemas que o viria a tornar famoso. A família de Delgado parte para Antuérpia e, logo a seguir, para Amesterdão onde, dada a tolerância religiosa holandesa, passa a praticar o judaísmo de forma aberta, pela primeira vez adoptando o nome de Moseh ou Moisés Pinto Delgado. Entre 1636 e 1640 torna-se um dos sete governadores do seminário religioso Talmud Torá de Amesterdão. Na sua obra poética inspira-se frequentemente na Bíblia, por histórias que relatam o poder de Deus para resgatar o povo de Israel em tempos de perseguições e sofrimento como o demonstram as narrativas de Ester que adoptava na sua poesia. Nas Lamentaciones del profeta Ieremias refere as tragédias da história de Israel. O poeta português cultivou longe do seu país a poesia, sendo considerado um dos maiores expoentes da poesia cripto-judaica do século XVII.
18. LEÃO, Hebreu, ca. 1465-1523. Leonis Hebraei ... De amore dialogi tres ... Venetiis : apud Franciscum Senensem, 1564. R-1-31
Jehuda Leon Abravanel é também conhecido por Leão Hebreu ou Medigo. O seu pai, Yshac Abravanel, foi tesoureiro de D. Afonso V, rei de Portugal e, logo após a morte do rei foi obrigado a deixar o país e, privado dos seus bens e fortuna vai para Madrid onde fica alguns anos. Expulso de Espanha vai para Itália (Nápoles) ao serviço do rei D. Fernando. Leão de Hebreu, que morre em Veneza em 1535, viu-se constrangido ao exílio, de onde deixa marca na cultura europeia. Escreveu em italiano uma obra filosófica Dialoghi di amore que foi traduzida duas vezes em francês, em hebreu e três vezes em espanhol.
19. ENRÍQUEZ GÓMEZ, Antonio, 1600-1663 La torre de Babilonia : primera parte ... Por Antonio Henriquez Gomez ... En Ruan : por Laurens Maurry, 1649. V.T.-19-6-16
Antonio Enríquez Gómez, também conhecido como Enrique Enriquez de Paz, filho de Diego Enriquez Villanueva, nasceu em Segóvia em finais do século XVII. Estudou filosofia e em particular história da literatura. Este autor foi poeta, lírico, épico e dramático. Aos 20 anos abraça a carreira militar e rapidamente foi promovido a capitão. Perseguido pela Inquisição, que o acusa de judaísmo e queima a sua efígie (retrato) em Sevilha em 1660, refugia-se em França, Bordéus e Ruão, onde publica muitas das suas obras. Morre em 1662 na Holanda.
21. LEÃO, Manuel de, fl. 1688 Triumpho lusitano aplauzos festivos sumptuosidades regias nos Augustos desposorios do inclito Dom Pedro segundo com ... Maria Sophia-Isabel de Babiera monarchas de Portugal : Rellataõse as grandezas, narraõse as entradas referemse as festividades que se celebraõ na insigne cidade e corte de Lisboa, desde 11 de Agosto athe 25 de Outubro de 1687... Em Brusselas : [s.n.], 1688. V.T.-9-6-7
Manuel de Leão nasceu em Leiria e morreu em Amesterdão. A obra é dedicada a Jerónimo Nunes da Costa ou Moseh Curiel, como era conhecido entre os judeus radicados em Amesterdão. Nasceu em Florença em 1620 e era o filho mais velho de Duarte Nunes da Costa, cristão-novo nascido em Lisboa de onde saiu para Itália em 1609, fugindo às perseguições da Inquisição. Jerónimo Nunes da Costa foi diplomata e agente de Portugal em Antuérpia considerado uma das figuras mais proeminentes da comunidade judaica portuguesa em Amesterdão nos finais do século XVII. Possuidor de uma enorme riqueza e líder da nação portuguesa, nome pelo qual eram conhecidos os homens de negócios, gozava de grande prestígio entre os judeus em Amesterdão devido às suas doações e contributos em favor da comunidade.
22- ORTELIUS, Abraham, 1527-1598 Theatrum orbis terrarum. Opus nunc denuo ab ipso Auctore recognitum, multisquè locis castigatum, & quamplurimis novis tabulis atquè commentariis auctum. [Antuerpiae : Ex officina Plantiniana, 1595] J.F.-59-3-1
Salónica é, no século XVI, a cidade do Mediterrâneo com maior número de judeus e um dos centros judaicos mais importantes do mundo tal como Ragusa (actual Dubrovnick) e Split. Na base da procura deste destino estava, citando Esther Mucznick, … o rumor, que corria de comunidade em comunidade de que no Império Otomano reinava a tolerância religiosa e que esta acolhia os judeus com agrado e benevolência (…) um outro mundo de esperança se abria a Turquia era simultaneamente o vestíbulo e o pórtico que conduziam à Terra Prometida.
23- BARTOLOCCI, Giulio, 1613-1687 Bibliotheca magna Rabbinica de scriptores, & scriptis hebraicis, ordine alphabetico hebraicè, & latine digestis ... Romae : ex Typographia Sacrae Congregationis de Propaganda Fide, 1675-1693. S.P.-Ad-7-7/10
24- ROTH, Cecil, 1899-1970 The House of Nasi : Doña Gracia. New York : Greenwood Press, [1969]. 6-23-20-132
25- ROTH, Cecil, idem The House of Nasi : the Duke of Naxos. New York : Greenwood Press, [1948]. 6-23-20-128
26- MUCZNIK, Esther Grácia Nasi : a judia portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino. Lisboa : Esfera dos Livros, 2010.
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4 comentários:
Quem se oferece para continuar?
Mulheres como Grácia mereciam
da gente portuguesa uma homenagem
pelas provas que deram de coragem
sempre que perseguidas se sentiam!
JCN
Segunda quadra:
Quantas delas por obra de sentença
de iníquo, incontornável tribunal
tiveram de sair de Portugal,
no coração levando a sua crença!
Concluindo:
Outras ficando por amor ao solo
onde seus filhos, netos e bisnetos
terão sem duvida embalado ao colo,
as vidas arriscaram muitas vezes
fazendo frente aos múltiplos decretos
dos vários soberanos portugueses!
JOÃO DE CASTRO NUNES
JUDEUS DE PORTUGAL
À memória do Prof. Joaquim de Carvalho
Judeus de Portugal... são diferentes
dos restantes judeus do mundo inteiro:
estatura meã, condescendentes,
eis parte do retrato verdadeiro!
Fazendo de Espinosa um bom padrão,
cabelos pretos e feições morenos,
são-lhes comuns, em termos de expressão,
as maneiras contidas e serenas.
Modestos no viver e no trajar,
hábitos são que sempre mantiveram
mesmo depois de terem de emigrar.
No seio das nações, regra geral,
humanisticamente se impuseram
ou não fossem... judeus de Portugal!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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